• Nenhum resultado encontrado

5. A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DIANTE DA NECESSIDADE DE

5.2. Contratação direta através da inexigibilidade de licitação

5.2.2. Serviços Técnicos Profissionais Especializados

Conforme entendimento do ilustre administrativista Justen Filho, serviço

“[...] para fins da Lei, pode ser conceituado como a prestação por pessoa física ou jurídica de esforço humano (físico-intelectual) produtor de utilidade (material ou

60 JUSTEN FILHO, Marçal. Obra citada, p. 347.

imaterial), sem vínculo empregatício, com emprego ou não de materiais, com ajuda ou não de maquinário. Serviço é a prestação que satisfaz uma obrigação de fazer”.61

Diferentemente dos conceitos de “obras” e “compras”, em que há a idéia da existência de um objeto material, nos serviços isso pode ou não acontecer. Nem sempre um serviço produz um objeto material, geralmente o resultado são objetos imateriais, frutos do esforço intelectual humano. Nesses casos, é muito mais difícil selecionar de forma objetiva qual proposta levará a um resultado melhor para satisfazer a necessidade pública. A avaliação do custo-benefício de um serviço é muito mais complexa do que a avaliação feita de forma objetiva nas contratações de compras ou obras.

A Lei de Licitações autoriza a contratação direta de serviços técnicos, desde que observados três requisitos: objeto singular, notória especialização e que a prestação seja um serviço técnico profissional especializado.

Os serviços técnicos a que se refere o artigo 25, inciso II, refletem a atuação pessoal de um ser humano, que transforma conhecimento técnico-teórico em resultados práticos. Refletem a habilidade subjetiva de cada prestador de serviço, sendo que cada qual desenvolverá atuação peculiar, produto de sua criatividade. O que a Administração procura, então, é a atuação pessoal de um prestador de serviço que traga a melhor e mais apta solução, a fim de satisfazer o interesse sob tutela estatal.

O dispositivo acima mencionado vincula-se diretamente com o artigo 13 do mesmo diploma legal, pois é ele que dispõe sobre essa modalidade especial de serviço, denominado de “serviços técnicos profissionais especializados”, e traz rol que inclui a categoria dos serviços advocatícios, compreendendo o patrocínio de causas de natureza judiciais ou administrativas em favor dos entes públicos, exarar parecer ou ainda prestar assessoria ou consultoria, conforme rezam os inciso II, III e V do referido dispositivo legal.

Convém analisarmos brevemente os termos utilizados pelo legislador para conceituar tais serviços, segundo a doutrina de Marçal Justen Filho 62. Diz o autor que serviço técnico é assim considerado quando o seu executor aplicar um conhecimento teórico, através de sua habilidade pessoal, para promover uma

61 JUSTEN FILHO, Marçal. Obra citada, p. 164.

62 JUSTEN FILHO, Marçal. Idem, p. 165.

alteração no universo físico ou social, gerando uma utilidade concreta. A noção de técnica vincula-se, então, a dois aspectos inter-relacionados: a transposição para a vida prática de um conhecimento teórico e a exigência de uma habilidade individual, relacionada com potenciais personalíssimos.

Num passo seguinte, diz que o serviço técnico é profissional quando sua atividade apresentar objeto e regras próprios, exigindo uma habilitação específica para sua prestação. É objeto de uma profissão e o prestador deve possuir habilidades indispensáveis ao exercício da atividade. Ou seja, nem todos os serviços técnicos são também profissionais.

Finalmente, como exige a Lei, os serviços técnicos profissionais devem ser especializados. Para a doutrina em apreço, a especialização significa a capacitação maior que a usual para o exercício de uma atividade. É produzida pelo domínio de conhecimentos restritos, que ultrapassam os da média dos profissionais de determinada área. O especialista, portanto, é aquele prestador de serviço técnico profissional que dispõe de uma capacitação diferenciada, permitindo-lhe solucionar problemas e dificuldades complexas.

Percebe-se, dessa maneira, que o dispositivo traz um conceito complexo, o qual é composto pela conjugação dos critérios supra analisados. Em suma, Hely Lopes Meirelles define serviços técnicos profissionais especializados como aqueles

“prestados por quem, além da habilitação técnica e profissional – exigida para os serviços técnicos profissionais em geral –, aprofundou-se nos estudos, no exercício da profissão, na pesquisa científica, ou através de cursos de pós-graduação ou de estágios de aperfeiçoamento”. 63

Embora o serviço advocatício esteja arrolado no artigo 13 como sendo um serviço técnico profissional especializado, portanto, preenchendo um dos requisitos exigidos no artigo 25, deve-se ter especial atenção com relação aos demais pressupostos.

Nesse diapasão, vejamos o que o ilustre doutrinador Celso Antônio Bandeira de Mello nos diz sobre o tema:

Em face do inciso II do art. 13 (contratação de profissional de notória especialização), pode-se propor a seguinte indagação: basta que o serviço esteja arrolado entre os previstos no art. 13 e que o profissional ou empresa sejam notoriamente especializados para que se configure a

63 MEIRELLES, Hely Lopes. Obra citada, p. 288.

inexigibilidade da licitação, ou é necessário algo mais, isto é, que nele sobreleve a importância de sua natureza singular?

Parece-nos certo que, para compor-se a inexigibilidade concernente as serviços arrolados no art. 13, cumpre tratar-se de serviço cuja singularidade seja relevante para a Administração (e que o contratado possua notória especialização). Se assim não fosse, inexistiria razão para a lei haver mencionado ‘de natureza singular’, logo após a referência feita aos serviços arrolados no art. 13.

Se o serviço pretendido for banal, corriqueiro, singelo, e, por isto, irrelevante que seja prestado por ‘A’ ou por ‘B’, não haveria razão alguma para postergar-se o instituto da licitação. Pois é claro que a singularidade só terá ressonância para o tema na medida em que seja necessária, isto é, em que por força dela caiba esperar melhor satisfação do interesse administrativo a ser provido.

Veja-se: o patrocínio de uma causa em juízo está arrolado entre os serviços técnico-especializados previstos no art. 13. Entretanto, para mover simples execuções fiscais a Administração não terá necessidade alguma de contratar – e diretamente – um profissional de notória especialização. Seria um absurdo se o fizesse. Assim também, haverá perícias, avaliações ou projetos de tal modo singelos e às vezes até mesmo padronizados que, ou não haveria espaço para ingresso de componente pessoal do autor, ou manifestar-se-ia em aspectos irrelevantes e por isto incapazes de interferir com o resultado do serviço.64 Conforme depreende-se da grandiosa lição de Bandeira de Mello, seria imprudente afirmar que, pelo simples fato do serviço estar arrolado no art. 13, ele tenha natureza singular. Tal qual acontece com os serviços advocatícios; é manifesto que nem todos os serviços prestados por profissionais da área jurídica têm esse predicado, conforme será exposto adiante.

Documentos relacionados