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Sessão: bandejas de experimentação

4.4 A JORNADA DIÁRIA DAS CRIANÇAS E PROFESSORAS

4.4.5 Sessão: bandejas de experimentação

Antes de iniciar a observação da sessão, a pesquisadora conversa com uma das professoras referências, a mesma que propôs a sessão, visto que a outra se encontrava no pátio com as crianças. Questiona como se dá o andamento dessa proposta, o sentido para as crianças e o que é possível de compreendermos, enquanto adultos educadores, no que se refere aos processos e aprendizagens de meninos e meninas. Ela responde: “aqui é possível verificar conceitos matemáticos, físicos, comunicação, interação, jogo simbólico”.

Então, podemos definir as Bandejas como um momento no qual as crianças, em um espaço de tempo, com materiais contáveis (contínuos) e não contáveis (descontínuos), com intencionalidade e previamente organizado, realizam ações com vistas a nomear os fenômenos matemáticos e físicos que vão ocorrendo. Nesse brincar, a criança tenta compreender o resultado de suas ações e as consequências das mesmas na interação com os materiais. Para o professor, uma oportunidade singular de perceber na individualidade de cada criança os processos de pesquisa que pertencem a ela, bem como a evolução do mesmo (GALLINA et al., 2018, p. 109).

Nas seções a seguir serão apresentadas, minuciosamente, as diferentes etapas que compõe uma sessão das bandejas de experimentação, desde sua organização até o seu término.

4.4.5.1 A organização da sessão (8h50min)

Antecipadamente, a professora que irá conduzir esse momento prepara o ambiente, ou seja, organiza o espaço onde será realizada a sessão – um lugar neutro, sem muitas interferências visuais, auditivas ou qualquer outra coisa que possa tirar a atenção daquele momento. Na escola, o espaço utilizado é o refeitório do berçário. Do mesmo modo, seleciona os materiais, contáveis e não contáveis. Nessa sessão, os elementos não contáveis foram a farinha de trigo e os feijões.

Figura 12 – A organização da sessão

Fonte: acervo da autora (2018)

Foram utilizados instrumentos de apoio, ou contenedores, que dialogavam com este material, tais como, funil, peneira, potes, escorredor e escumadeira. Os elementos contáveis foram pedras coloridas, mesas de pizza18 e tampinhas. Foram

utilizadas bandejas de plástico e de papelão (caixas de ovo), com divisórias. Os utensílios de apoio foram pegadores, colheres, conchas e medidores.

4.4.5.2 Iniciando a sessão: o convite e a apresentação da consigna (9h30min)

Nesse momento, a professora convida um grupo de crianças que estavam no “pátio grande”, para brincarem nas bandejas de experimentação. Ressalta-se que, enquanto uma educadora organizava a sessão, a outra permanecia com todo o grupo no “pátio grande”. As crianças pareciam animadas e já habituadas com a proposta, visto que ocorre semanalmente, seguindo até o local indicado.

Figura 13 – Apresentação da consigna

Fonte: acervo da autora (2018)

As professoras trabalham sempre com o mesmo agrupamento, pois isso, segundo elas, ajuda a pensar sobre as ações de pesquisa das crianças através dos materiais disponibilizados, além de facilitar a reflexão sobre essas mesmas ações. Desse modo, há uma continuidade, a qual permite conhecer e acompanhar seu grupo de meninos e meninas.

Antes de iniciar a sessão, a professora faz algumas combinações com as crianças, denominada de consigna. Para Gallina et al. (2018, p. 117):

A consigna é uma conversa inicial com o grupo escolhido para participar da sessão, sendo uma fala breve, clara e afirmativa. Inicia-se sempre com um convite ao brincar e, após, é realizada a combinação de manter o material na mesa, sem comer, reforçando que os materiais são de todos e que podem brincar com tudo. Nesse momento, a professora tem o cuidado de não utilizar frases negativas e de não fazer longos discursos.

As crianças começam a participar da sessão. Encaminham-se para as mesas repletas de materiais e iniciam suas explorações e possíveis descobertas. Miguel interessa-se pelas tampinhas plásticas, as quais, primeiramente, observa e, em seguida, coloca, em uma bandeja com divisórias, uma tampinha para cada espaço da bandeja. Segue compenetrado nessa atividade até completar todos os espaços da

bandeja. Passado esse momento, dirige-se à mesa dos materiais não contáveis e, lá, interessa-se pela farinha, feijões e por um funil. Traz esses elementos para outra mesa e lá inicia novas explorações. É importante ressaltar que há um momento anterior de planejamento das sessões, bem como uma ficha de registro individual, as quais serão explicadas mais adiante, nas análises de dados da presente pesquisa.

Miguel mistura os feijões com as pedras coloridas e as coloca no funil, juntamente com a farinha de trigo. Dá pequenas batidinhas no objeto, com o intuito de descobrir o que passaria pelo funil. Com o cenho franzido e o olhar inquiridor, percebe que somente a farinha passou pelo funil. Bate mais forte e sacode o objeto, mas as pedrinhas e feijões não passam pelo pequeno espaço. Retira os materiais do funil e coloca-os novamente, realizando o mesmo procedimento. Percebe que as pedrinhas e feijões não passariam pelo funil e, com um movimento negativo com a cabeça, inicia outras explorações.

Assim como Miguel, cada criança, a partir de suas curiosidades, se interessa pelos materiais disponibilizados, realizando experiências, construindo hipóteses e teorias19. Ao mesmo tempo, a postura da educadora é a de observar e realizar

apontamentos que julga ser significativos. Segundo Gallina et al. (2018, p. 124): O professor observador registra momentos relevantes em instrumento próprio destacando as ações de cada criança, bem como suas hipóteses matemáticas e físicas verbalizadas ou executadas. Além disso, também faz registros fotográficos e de vídeo.

Quanto às ações das crianças, referenciam que:

[...] as ações das crianças são efetivadas para comprovar hipóteses. Geralmente se direcionam a um determinado material com uma intenção prévia, por vezes não tão clara para o adulto. Algumas explorações são percebidas pela forma como insistem junto ao grupo, entre elas o formar e desenformar, fracionar, fabricar, transportar, pressionar. Essas são ações repetidas pelas crianças como se estivessem fazendo sempre a mesma ação, mas isso nos parece apenas em um primeiro momento, pois se nos atentarmos, perceberemos que mesmo sendo a mesma ação, as crianças utilizam materiais diferentes e, assim, vão reafirmando suas hipóteses (GALLINA et al., 2018, p. 124-125).

19 No livro As cem linguagens da criança, no cap. 13, nomeado de “A Pedagogia da escuta: a perspectiva da escuta em Reggio Emília”, Carla Rinaldi nos fala sobre a capacidade das crianças criarem suas próprias teorias, na busca de explicações que a satisfaçam a sua vontade de saber.

Figura 14 – Entre experimentação, investigação e formulação de hipóteses

Fonte: acervo da autora (2018)

4.4.5.3 Término da sessão (9h50min)

A professora avisa que a brincadeira está acabando. Reserva mais alguns minutos para que as crianças possam concluir suas investigações e, somente após,

solicita que ajudem a guardar os materiais. As crianças auxiliam nesse momento, pois organizar os materiais e guardá-los faz parte da proposta. Inclusive, levam alguns utensílios até a lavanderia, para serem higienizados pelas “tias”, assim chamadas carinhosamente as funcionárias dos serviços gerais.

Posteriormente, seguem correndo para a pracinha, enquanto a professora continua guardando o restante dos materiais e reorganizando o ambiente. As crianças seguem na pracinha até às 10h20min, quando as professoras avisam que se aproxima a hora do almoço. O fato de elas avisarem com alguns minutos de antecedência permite que as crianças possam finalizar suas brincadeiras com tranquilidade, guardarem os brinquedos e se prepararem para o momento da alimentação.