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3.1 TRABALHO

3.1.4 Setor terciário ou setor de serviço

Para contextualizar a profissão motorista de ônibus no sistema produtivo, traremos alguns apontamentos acerca de sua classificação setorial na perspectiva econômica contemporânea, bem como algumas reflexões do campo sociológico.

A atividade de condutores/as está vinculada ao transporte, que por sua vez compõe o setor de serviços ou setor terciário, referida denominação se dá às atividades econômicas não consideradas atividades industriais ou agrícolas.

Na concepção de Claus Offe (1991) o setor terciário ou setor de serviços é definido por algumas vertentes literárias como ‘um não conceito’ em virtude da negação por parte da economia do trabalho, que o tratam como categoria que concentra os trabalhos residuais, ou seja, aquelas atividades que não são enquadradas no setor primário (extrativista) ou setor secundário (produtivo), mas que ao mesmo tempo são classificados trabalho face ocorrer de forma contratual e remunerada.

Logo que se deixa de lado o plano das atividades, das organizações e das profissões individuais e o trabalho no setor de serviços é tratado globalmente, encontramos – nos casos onde são explicitamente indicadas as características do trabalho em serviços – quase tão somente predicados negativos: o resultado do trabalho em serviços não é material, não pode ser transportado nem armazenado; o trabalho em serviços não é suscetível de racionalização técnica e organizatória ou não é tão suscetível quanto o trabalho produtivo; a sua produtividade não pode ser medida e, por conseguinte, não se pode controlar a sua observância das normas de produtividade; o trabalho no setor de serviços (no sentido da economia política clássica, inclusive a de Marx) não é “produtivo”. (OFFE, 1991, p. 81)

Ricardo Azevedo Silva (2009, p. 01) corrobora a existência de três macro setores (Indústria, Agricultura e Serviços), no que tange ao setor de serviços, o autor indica que “[...] os segmentos do macro setor serviços trata-se de atividades que englobam mais de um ramo

como o turismo que envolve o ramo alojamento e alimentação e os setores de transportes, comércio e aluguéis”.

No que tange ao setor de serviços no cenário econômico brasileiro, para Silva (2009, p. 02)

[...] o macro-setor Serviços vem ganhando participação no Valor Adicionado da economia e, principalmente, no total das ocupações nas últimas décadas dado o profundo reordenamento da economia nacional cujas bases foram solidificadas na década de 1990, na qual ficou mais nítida a recente reestruturação produtiva em curso desde a década de 1980.

Na concepção de Silva (2009) houve evolução na metodologia para classificação setorial das tipologias baseadas na produção: primário – agricultura; secundário – indústria e terciário – serviços.

Não obstante para análise econômica pretendida em sua tese, Silva (2009, p. 32) adota a classificação de Browning & Singelman23 (1978, p. 481 grifo do autor), que classificam:

[...] a atividade econômica em seis categorias: Primário 1) Atividades extrativas (Agropecuária e Mineração); Secundário 2) Atividades Transformativas (Indústria de Transformação, Construção Civil e Serviços de Utilidade Pública); Terciário 3) Serviços às empresas (financeiros, profissionais técnicos ou burocráticos, etc.); 4) Serviços distributivos (transporte, comunicação e comércio: atacadista e varejista exceto restaurantes, lanchonetes, etc); 5) Serviços Pessoais (alimentação, hotéis, lazer, cuidados pessoais, etc.); 6) Serviços Sociais (administração pública, saúde, educação e defesa).

Segundo Silva (2009, p. 33) as dificuldades em se realizar análises econômicas baseadas nos três macro setores, são provenientes da complexidade existente em suas inter- relações setoriais [...] “a necessidade de uma uniformidade metodológica buscada pelas instituições nacionais e internacionais, apesar dos limites, esta tripla divisão ainda resiste como forma de compatibilizar os dados de produto, renda e emprego”.

Na concepção de Offe (1991, p. 39) o setor de serviço é imprescindível para a organização da vida social, vez que:

[...] os serviços estão reflexivamente voltados para a manutenção das estruturas

23

BROWNIG, H. C., SINGELMANN, J. (1978) The transformation of the US Labour Fource: the interaction of industry and occupation. Politics and Society. Springfield: v. 8, n. 3-4, p. 481-509.

formais e das condições culturais, políticas e organizacionais da vida social, eles não são de nenhum modo “prescindíveis”, na medida em que sua geração torne-se impossível segundo a rentabilidade que rege a oferta econômica.

Para Offe (1991) a supressão da prestação de um serviço em virtude de gastos ou dificuldades financeiras orçamentárias, só seria aceitável, mediante a redefinição de alternativas para substituir a referida demanda.

[...] a “demanda” por serviços não pode ser negligenciada apenas por não se expressar através de um consumo monetariamente rentável. Por isto, os serviços não podem sucumbir como mercadorias que se tornaram obsoletas por razões técnico- econômicas. Por sua natureza social, os serviços estão duplamente determinados: pelos critérios econômicos empresariais ou orçamentários (que os geram) e pela sistematicidade da demanda de sustentação do ordenamento. (OFFE, 1991, p. 40)

Alice Itani (1996) também atribui dificuldade na mensuração da rentabilidade de atividades do setor terciário ou de serviços, e utiliza como exemplo o trabalho no transporte em virtude da controversa classificação e nomenclatura entre as diferentes vertentes teóricas que consideram a imaterialidade de seu produto (mobilidade espacial das pessoas) e/ou demais tipos e modos de transporte (demais artefatos).

Destarte, Itani (1996, p. 163) indaga a dificuldade na classificação do serviço prestado pelos/as operadores/as no setor do transporte:

O que fazem esses operadores que, utilizando de sua competência física e mental, aliam conhecimentos e habilidades, para impor sua capacidade de trabalho e assegurar a prestação de um serviço de deslocamento? Pode-se utilizar de artefatos numéricos, tais como o da quantidade de quilometragem rodada para designar um elemento concreto da produção, ou dados de tempo e distância de deslocamento. Da mesma forma, pode-se utilizar da quantidade de passageiros transportados para mostrar o resultado do trabalho de produção desse serviço.

No entanto além de aspectos numéricos que dinamizam a economia e fundamentam os processos de geração de valor na economia, compartilhamos o pensamento de Itani (1996, p. 163) “A esse profissional, atribui-se a responsabilidade de deslocar os cidadãos, de um lugar para outro, em tempo de paz e em tempo de guerra”.

A contextualização do setor de serviços ou setor terciário, vinculado ao setor de transporte, mais precisamente na profissão do/a motorista de ônibus, suscita o grau de relevância da atividade e ao mesmo tempo a falta de reconhecimento aos profissionais, que, por vezes, são negligenciados/as por fatores econômicos em detrimento da qualidade do serviço oferecido pelos/as profissionais aos/as usuários/as do transporte coletivo.

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