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Sexo, gênero, sexualidades e representações do amor

Acompanhar a construção de imagens do feminino na obra de Andrade é também uma forma de compreender como operam as representações e práticas inscritas nos discursos da e sobre a sociedade paulista da época, isto é, “como operam saberes e poderem instituidores das relações de gênero e, ao mesmo tempo, também, por elas instituídos”50. Ao perceber o texto como expressão e construção de corpos e comportamentos femininos, segundo modelos de conduta e de mulher informados pelo padrão de cultura ocidental, cristão, pautado na direção de uma expectativa de progresso, modernidade e civilização, recorremos à historiadora Diva Muniz. Ela observa que nos discursos, representações e saberes “aparecem incorporados referenciais que apontam para a masculinidade e a feminilidade como posições de sujeito e para o caráter múltiplo e multifacetado das relações sociais”51.

Dona Laura e Elza são personagens que representam duas mulheres, uma brasileira e outra alemã, em torno de localizações de gênero, nacionalidade e classe, no romance que trata da sociedade paulista, mais especificamente na instituição familiar. O romance expõe relações que nos remetem a valores que exprimem diferentes religiões, condutas, visões de mundo no interior da família da elite paulista, revelando concepções de educação, comportamento, sexo e sexualidade, e principalmente tensões correntes e um padrão de família “moderna” que o autor quer comunicar. Embora ambas sejam reconhecidas pelo sexo e/ou gênero feminino, elas têm papéis e experiências bem diferentes na trama e são

50 MUNIZ, Diva do Couto. Um toque de gênero: História e Educação em Minas Gerais (1835-1892).

Brasília: Finatec/EdUnB,2003, Introdução.

essas características que as definem como mulheres, embora de diferentes procedências e características que nos interessam analisar.

Sobre as duas mulheres, e suas diferentes imagens e atuações, é possível estabelecer comparações significativas. Muniz cita Alejandro Carson para mostrar que “apesar de viverem sob uma lógica opressiva comum – a de gênero -, não compartilham (...) ‘a mesma experiência de opressão, uma vez que a classe a qual pertencem determina essa vivência tanto em nível material como no imaginário”52.

Não apenas a classe social, mas também o próprio status. Elza é solteira, alemã, ou seja, de procedência européia, e representa os costumes europeus, considerados educados e modernos. Laura é brasileira, mãe, protetora, preocupada com a educação dos filhos. Assim, buscando compreender como se construíram as relações de gênero e as constituições de sujeitos/identidades sociais, é possível observar, à luz do texto literário, a operação dos valores, gestos de consentimento e/ou de transgressão, formas peculiares de agir, ser e existir naquela sociedade, papéis sociais prescritos, re-escritos ou dissonantes, mais ou menos tradicionais. Nos pequenos gestos cotidianos, é possível ler especificidades daquela formação social, daquele momento histórico, das lutas políticas que a obra possibilita pensar e imaginar e, particularmente o desenho de diferenças que se contornam no texto e exibem a sociedade na ficção do autor.

Fazendo essa reflexão sobre a obra de Mario de Andrade, percebemos que seu discurso crítico faz com que os leitores possam refletir sobre aquela sociedade e que a moral e “bons costumes” da família patriarcal brasileira estão ali descritos, ou representados. Qual a posição social desses sujeitos que habitam a família, que demonstram diferentes atitudes, concepções morais, gestos - e juntos representam a família e a sociedade brasileira?

Instiga-nos a questão da personagem Elza, com tantos dons e habilidades para ser uma senhora distinta, aspirante a pertencer à classe dominante, como o autor a coloca como

52 CARSON, Alejandro C., Entrelaçando consensos: reflexões sobre a dimensão social da identidade de

gênero da mulher. In: Cadernos Pagu. Campinas/Unicamp/NEG, n.4, 1995, p.202. Apud MUNIZ, Diva do Couto Gontijo. Op.cit. Introdução.

objeto do desejo masculino, em uma relação que não poderá ser realizada concretamente, ou que não terá um desdobramento naquela sociedade? Não podemos esquecer que ela trazia consigo um grande desejo – do casamento -, mas serve na família para introduzir o varão na vida sexual, embora na trama pareça apaixonar-se pelo rapaz a quem devia apenas ensinar o amor. Ela se sente traindo a outra mulher, Laura, a quem gostaria de esclarecer seu papel naquela família e pretende justificar o que reconhece como uma “profissão” e uma escolha séria. E, desde o primeiro momento, quer que a respeitem naquela função, tal como observamos a seguir:

(...) É preciso avisá-la. Não me agradaria ser tomada por aventureira, sou séria. E tenho 35 anos, senhor. Certamente não irei se sua esposa não souber o que vou fazer lá. Tenho a profissão que uma fraqueza me permitiu exercer, nada mais nada menos. É uma profissão.53

Elza estava consciente e, embora considerasse uma “fraqueza”, queria esclarecer à esposa sobre o motivo que a mantinha no interior da casa, convivendo com aquela família. Mario de Andrade retrata através desta obra a vida, os costumes, hábitos e regras postas por uma sociedade que na década de 20 vive a efervescência de uma suposta modernidade, que se contradiz com costumes e hábitos que perduram até os nossos dias. O padrão de mulher recatada, que serve para mãe e esposa, ainda era bem distinto do padrão de mulher que pudesse exercer a sexualidade sem o compromisso do casamento.

Os modelos de mulher contornados no romance permitem, portanto, proceder à análise das identidades sociais com base na categoria gênero, ou seja, perceber homens e mulheres em relação na cultura, para além de uma

(...) essência biológica pré-determinada, anterior à História, mas como identidade construída social e culturalmente no jogo das relações sociais e sexuais, pelas práticas disciplinadoras dos discursos / saberes instituintes.54

53 ANDRADE, Mário de. Op.cit., p.19.

54 RAGO, Margareth. Epistemologia feminista, gênero e história. In: PEDRO, Joana Maria e GROSSI,

Como ponto de partida desse romance, Andrade busca retratar uma família brasileira tradicional de São Paulo na década de vinte, mas a narrativa mostra contradições existentes nessa sociedade. Aquela família que encena um padrão de família burguesa traz o a dominação inquestionável do patriarca que provê e comanda os acontecimentos, a mãe procriadora e as filhas que se exercitam para se tornarem boas donas de casa e também procriadoras da família e da nação brasileira. O filho que também é educado para tornar-se o patriarca do futuro, civilizado, precisa conhecer os negócios, mas antes precisa ter competência para o sexo, que garante também a dominação da família que ele for construir. A alemã que, educada com outros valores, poderá instruí-lo, enquanto aparentemente, para justificar sua permanência no seio daquela família, também ministra aulas de línguas, piano, e dos modos europeus, imprimindo à família brasileira comportamentos civilizados, ou distintivos, considerados europeus, por isso superiores. Na figura da mãe e das filhas meninas, paira o ideal católico de pureza, cuja imagem central é a Virgem Maria, referência para o comportamento de mulher pura e a educação assexuada. Como assinala Rago,

(...) identificada à religiosa ou mesmo considerada como santa, à imagem de Maria, a mãe será totalmente dessexualizada e purificada, ainda mais que, ao contrário, a mulher sensual, pecadora, e principalmente a prostituta, será associada à figura do mal, do pecado e de Eva, razão da perdição do homem.55

Assim, entre a “santa assexuada mas mãe, que deu origem ao homem salvador da humanidade que padece no paraíso do lar (...)” e a “pecadora diabólica, que atrai para as seduções infernais do submundo os jovens e maridos insatisfeitos”56, o romance constrói e a outra mulher, Elza, a estrangeira. A arte de amar na literatura de Andrade e na “nova” família paulista era, portanto, um serviço contratado a uma mulher européia, para não se servir do serviço prestado pelas nacionais (ou até mesmo estrangeiras do ramo da prostituição), cujos corpos e experiências estavam condenados pelos discursos da medicina higiênica, como mulheres responsáveis por moléstias sexualmente transmissíveis que se espraiavam e que o Estado e a família “moderna” queria controlar. Por ser uma família rica

55RAGO, Margareth. Do Cabaré ao Lar. A Utopia da Cidade Disciplinar. Brasil 1890-1930. 3ª. ed. Rio de

Janeiro: Paz e Terra, 1985. p.129

e moderna, era possível pensar que o patriarca estava preocupado como a saúde do único filho varão e pretendia prover sua iniciação em termos mais “civilizados” ou “higiênicos”.

É de se perceber que era uma alternativa de serviço prestado às famílias ricas que se preocupavam em controlar até mesmo a vida amorosa/sexual dos filhos, temendo também que um início não controlado pelos pais pudesse atrapalhar o futuro desses. Na narrativa, o pai cita os perigos para sua futura família, sua moral burguesa e sobretudo seu patrimônio, caso Carlos passasse a “descobrir o amor com qualquer uma”.

(...) você sabe: hoje esses mocinhos... é tão perigoso. Podem cair nas mãos de alguma exploradora! A cidade é uma invasão de aventureiras agora! Como nunca teve! COMO NUNCA TEVE, Laura... Depois isso de principiar... é tão perigoso! Você compreende: uma pessoa especial evita muitas coisas. E viciadas! Não é só bebidas, não! Hoje não tem mulher-da-vida que não seja eterômana, usam morfina... E os moços imitam! Depois as doenças!57

Percebemos que famílias tradicionais naquela época sentiam-se no dever de proteger o futuro dos filhos e para isso eram utilizados todos os recursos disponíveis que as elites julgavam necessário, um exemplo disso é o trecho citado acima. Parece que o importante seria colocar uma pessoa especial dentro do seio familiar que não interferisse na vida privada deles, mas que ao mesmo tempo pudesse resolver o “problema” de Carlos, ou melhor, de seu pai.

De um lado, a mãe de família, que tem a imagem associada à pureza da Virgem Maria, por outro lado, a profissional do amor que, para a família moderna aparece como alternativa de elite em relação à “necessidade” de se promover a educação sexual masculina. Para as meninas, educação significava aprender prendas do lar, aprender sobre o comando da casa e algumas noções de etiqueta, não se tratando sequer do termo sexualidade no cotidiano do lar. Rago atenta para a maneira pela qual o discurso burguês, ao estabelecer uma rígida linha de demarcação entre os sexos, dessexualiza a mulher.

(...) Assim, na representação santificada da mãe-esposa-dona-de-casa, ordeira e higiênica, o aspecto sexual só aparece se associado à idéia de procriação. O direito ao prazer no ato sexual é reservado ao homem, enquanto que a mulher deve manter sua castidade mesmo depois de casada.

Fraulein carrega com ela o receio de que Laura a enxergasse como uma aventureira,

ou seja, não queria estar identificada com a “pecadora diabólica”. Tampouco tinha valores que a identificava com a santa-esposa-mãe. Isso dá espaço para se perceber que ela sentia importância em manter uma imagem para os outros, e também para si mesma, de que ela era diferente das mulheres que se vendiam em bares ou locais próprios à prostituição. É visível nela, portanto, apesar da moral diferente da católica, alguma estranheza em relação àquela sociedade e até mesmo algum preconceito em relação à sua função naquela casa, em razão dos valores circulantes naquela sociedade, o que a faz querer justificá-la para os outros e para si mesma.

Em tempos de criação, renovação de costumes na direção de hábitos considerados civilizados observa-se que a sociedade brasileira cresce e as elites produzem um discurso modernista, mas ao mesmo tempo, a família tenta manter a qualquer custo hábitos, alguns deles em segredo, costumes que estão arraigados e que predominam em papéis fixos e hierarquizados na família. Evidencia-se também a educação no interior do lar para reproduzir tais papéis, ou seja, um processo educacional doméstico que passa de pai para filhos. A imagem de mulher brasileira seria modelada com base em uma desvalorização fundamental, como observa Margareth Rago, no trecho a seguir:

(...) Certamente, a construção de um modelo de mulher simbolizado pela mãe devotada e inteira sacrifício, implicou sua completa desvalorização profissional, política e intelectual. Esta desvalorização parece imersa porque parte do pressuposto de que a mulher em si não é nada, de que deve esquecer-se deliberadamente de si mesma e realizar-se através dos êxitos dos filhos e do marido.58

As imagens de mulher – mãe brasileira, solteira estrangeira, filhas –, e homem - pai e filho -, que Mario de Andrade representa em sua obra são reveladoras de identidades e

relações e, assim, ele quer mostrar as contradições de uma sociedade que mantém seus costumes e, ao mesmo tempo, pretende alterá-los. O romance configura um padrão de família em meio a contradições que exibem a sociedade, para abordar relações, questões ou tensões sociais.

O pai contratou a estrangeira para iniciar sexualmente o filho e orquestrou a encenação doméstica que escondia seu intento. O cotidiano do lar parecia harmônico, os papéis da família, em relação às relações de parentesco, gênero e idade, pareciam funcionar em plena normalidade e naturalidade. É ele mesmo que entra no quarto de Elza para se deparar com a cena que ele mesmo criara, mas, naquele momento, para encerrar uma trama que, para ele, devia chegar ao fim. O flagrante é descrito na cena abaixo, em que o pai desempenha o papel que exibe seu poder também por meio do fingimento ou ambigüidade, e coloca ponto final do relacionamento dos dois. Na cena, Carlos está no quarto de Fräulein:

(...) Abra! Meu Deus! Entra Sousa Costa. -Que está fazendo aqui, diga!

- Nada, papai...

Flébil, flébil, nem se ouvia. Sousa Costa acreditou que era um grande artista dramático. Voltou-se pra Fräulein. Por lembranças românticas franziu a testa. Ela não tem a culpa.

De pé agora, relampeando em nítida franqueza, heróico.

- O senhor tenha a bondade, mas é de ir já pro seu quarto! Já vou também! Carlos baixou a cabeça, partiu.59

Esse trecho nos permite pensar nas diversas contradições que o texto apresenta, pois, em certo momento, Carlos ao ver seu pai ali se sente todo desprotegido como se ainda estivesse no mundo infantil. O impacto do susto foi tão forte que ele não conseguia se explicar, mas tentou tirar a amada daquela situação.

O jogo de sedução e profissionalismo esconde a dura realidade naquele quarto, o pai finge ter um sentimento de indignação diante da cena, parece desvendar um segredo que era somente do casal. Mas, na verdade, o próprio pai para proteger o filho trama toda aquela cena.

Por outro lado Sousa Costa é um modelo daquela sociedade tradicional, de hábitos e costumes patriarcais, androcêntricos, ou seja, centrados no masculino, ao ver o ato sexual como algo importante para a vida do homem. Nessa perspectiva podemos pensar os valores que informam as noções sobre sexo, as desigualdades sociais de gênero, em noções que circulam na sociedade e identificam um determinado processo histórico e cultural.

Quando o pai coloca a questão de que o filho não poderá ter uma vida conjugal com qualquer mulher, entendemos que naquele estrato social, existem mulheres para o casamento e outras somente para diversão, isto na concepção dele e dos homens e mulheres daquela classe e lugar social. O ato sexual é uma prática governada pelos homens que dela se servem para procriar, mas também como uma necessidade essencialmente masculina, que resulta em momento prazeroso que alivia as tensões do dia-a-dia.

Fräulein tem uma imagem romântica do que é o ato sexual. Ela não trata essa

iniciação sexual de Carlos como algo simples e vago, mas com dedicação e amor “elevado”, “sincero”. Diferente de Sousa Costa, para ela o sexo ou amor pode ser compartilhado entre o casal, por isso pode ser ensinado a Carlos. Essa concepção de amor é revelada no trecho em que ela expõe a sua versão, a seguir:

(...) e o amor não é só o que o senhor Sousa Costa pensa. Vim ensinar o amor como deve ser. Isso é que eu pretendo, pretendia ensinar pra Carlos. O amor sincero, elevado, cheio de senso prático, sem loucuras.60

Era um outro modelo de mulher, diferente, mas nem tanto, estrangeira, aparentemente de personalidade forte, racional, desprendida de certa forma de emoções, representando sujeitos que parecem ser donos de seus destinos, embora para isso muitas

vezes tivessem que pagar um preço alto, já que para estar nesta condição e ter certa liberdade de escolha numa sociedade patriarcal, seria preciso não estar submetida às regras desta sociedade e nesse momento um dos modos de fazê-lo era colocando-se à margem dessa sociedade.

São pontos importantes para pensarmos nessa contradição, que aparece na obra, mas não podemos deixar de pensar na perspectiva de que Fraulein apresenta ideais parecidos com Laura, naquele desejo de voltar a sua terra natal para casar-se com o homem dos sonhos, e a possibilidade de ter seu próprio lar na Alemanha. Aqui, no Brasil, a possibilidade dela encontrar o que pensava ser o “homem ideal”, talvez fosse bastante pequena, porque essa sociedade da década de 20, mesmo com todo processo de transformação tanto na parte intelectual quanto financeira, continuava-se a cultivar hábitos e costumes talvez mais conservadores. A questão da moral, segundo essas elites, era bem valorizada e diferente, os sujeitos sociais simplesmente eram aquilo que conseguiam ter financeiramente e aparentavam ser, além de reproduzi-lo para essa sociedade dominante.

A história explicita ambigüidades na sociedade e a configuração de uma família, de lugares de homens e mulheres, em diferentes faixas etárias, em uma determinada classe social, em um Brasil que tenta se desvencilhar de hábitos arraigados, identificados com o atraso. Uma elite que busca novos conhecimentos, modelos, um novo padrão de família, identificado com a burguesia, embora não queira dissolver a configuração política do sexo, do gênero, confirmando a localização inferior da existência social da identidade feminina. Nesse sentido, atenta Tânia Navarro Swain,

(...) a apropriação das mulheres pelos homens é âncora nas condições de imaginação sexual, pois são todas, em princípio, corpos disponíveis e desfrutáveis por definição, já que os papéis atribuídos socialmente às mulheres passam pela sedução, casamento, procriação, prostituição. 61

Esse trecho nos mostra claramente que:

61 SWAIN, Tânia Navarro. Entre a vida e a morte, o sexo. In: A Construção dos Corpos. Perspectivas

Entre as configurações da lógica binária, podemos enxergar outra dicotomia, na ambivalência em que a mulher é representada: de um lado as ingênuas esposas e filhas que devem ser “governadas” e cuidadas, de outro as “espertas interesseiras” que podem se aproveitar de um rapaz inocente e acabar por destruir-lhe o futuro. E, num outro local, não dentro, mas à margem da sociedade, aparece Fraulein que era aceita dentro de tal sociedade, pelas mulheres, como professora de línguas e de piano, pelo patriarca como professora de sexo, ou seja, para prestar um serviço que não caberia às mulheres pertencentes à mesma classe, nem às prostitutas que também sugerem as ruas insalubres, a cidade suja, o país atrasado, descontrolado das prescrições higiênicas.

A submissão da mulher aparece, portanto, imersa, produzida e produtora desse processo histórico, ou seja, construído pela e na nossa sociedade. Aparece como valor significativo nos nossos costumes. Nos modos de vidas que adquirimos ao longo das nossas experiências e que hoje, sob a perspectiva da história, podem ser percebidos em nossa sociedade. Então diante de um trecho da obra, é possível salientar essa idéia de submissão e de outros valores que surgem para nos remeter à análise das relações representações sociais e de poder, em que homens e mulheres dessa sociedade estão inseridos, como em uma encenação literária que é também política, social, cultural, além de histórica.

Talvez seja interessante pensarmos no relacionamento afetivo entre Fraulein e Carlos, em um primeiro momento, e talvez todo tempo essa relação não existisse como um “amor livre”, digamos assim, até, porque ela foi contratada por Souza Costa para realizar o trabalho de iniciação sexual do rapaz. Para aquela sociedade o homem deveria iniciar suas atividades sexuais cedo, por ser um varão, diferentemente do que acontecia com as mulheres que não podem fazer escolhas de suas vidas muitos menos em relação a assuntos dessa natureza.

Fräulein, diante da sociedade mantinha sua visão de mundo, seus valores, e, de

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