• Nenhum resultado encontrado

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Sexualidade

4.1.2 Sexualidade e desejo sexual de adolescentes: representações sobre

A maioria dos adolescentes se diz interessada em parcerias heterossexuais (E1, SF; E2, SF; E4, SF; E5, SF; E6, SM; E7, SF; E8, SF; E9, SF; E10, SM; E12, SM; E14, SF; E15, SM; E16, SF; E17, SF; E18, SF; E19, SF; E20, SF; E21, SF; E22, SF; E24, SF; E25, SF; E26, SF; E27, SF; E28, SF), mas, de modo geral, mostram-se mais abertos a questões relacionadas ao gênero e às distintas opções sexuais, apesar de haver estereótipos machistas como os apontados na categoria anterior.

Foi relatada nas entrevistas, nas duas escolas onde esse estudo foi realizado, a presença de adolescentes que se consideram homossexuais e que afirmaram conviver de forma igualitária com os demais adolescentes e funcionários da escola.

A interpretação das narrativas dos participantes do estudo mostrou representações sobre possibilidades de relações sexuais com pessoas do mesmo sexo, como apresentado nas afirmativas:

Eu sou muito aberto, muito aberto assim com essa questão. Eu... o corpo fala. É... Eu acho que a gente não deve se prender em gênero. Sexualidade eu nunca tive problema, sempre fui aberto. Sempre me envolvi com todos (E3, SM).

Eu não tenho preconceito nenhum contra as pessoas que são homossexuais, eu, mesmo eu sendo evangélica, eu não tenho nada contra, sabe? Você tem que ser feliz com o que você gosta. É isso que acho. Eu não tenho preconceito, eu tenho muitos amigos homossexuais, eu converso com eles demais, bissexual então, acho que se você está feliz com isso, ótimo! É só fazer as coisas com consciência, entendeu? Só tem que ser feliz do jeito que você quer ser feliz, isso que eu acho (E20, SF).

Eu acho demais! Meu tio é gay e eu adoro ele. Adoro as gays, adoro as monas, amo. Eu acho muito retardado esse preconceito que esse povo tem com homossexual. O quê que tem, gente? Deixa ele ir lá ficar com homem, deixa ela ir lá ficar com mulher, está te afetando em alguma coisa? Não está. Você acha errado? Não faz, só isso, deixa a pessoa ser feliz (E18, SF).

A gente não pode prender a cabeça em homofobia. A gente não pode prender isso. Machismo, não! Nunca! (E3, SM).

É possível verificar, por meio desses relatos, que os adolescentes se apresentam mais abertos às questões relacionadas à igualdade de gênero e

para aquelas que envolvem a homossexualidade, provavelmente devido a mudanças que vem acontecendo na sociedade em favor da diversidade sexual e de gênero.

Historicamente, pode-se afirmar que qualquer discussão sobre igualdade de gênero e homossexualismo encontrava grandes barreiras na sociedade. Nota-se que a aceitação e o espaço que mulheres e homossexuais foram ganhando são frutos de muita luta e de um longo caminho percorrido, mas que ainda precisa avançar (MOLINA, 2011).

Desde os primórdios que o lugar da mulher foi se transformando nas sociedades. Na modernidade, passou-se de uma mulher que era a responsável exclusiva das tarefas domésticas e cuidados com os filhos para a mulher que trabalha fora de casa, que produz e que, muitas vezes, é a única responsável pelo sustento da família (ROSALDO, 1979). Contudo, ainda há um longo caminho a ser percorrido, visto que em algumas situações as mulheres ainda recebem menores salários que os homens, mesmo desenvolvendo as mesmas atividades; ainda são as principais responsáveis pelas atividades domésticas, mesmo tendo uma jornada de trabalho fora de casa; e, em muitas sociedades, ainda são privadas de diversos direitos (COSTA, 2014).

Nesse sentido, pode-se afirmar que as representações sobre gênero e homossexualidade se modificam de acordo com o meio no qual os adolescentes estão inseridos. O modo como os adolescentes vivem e percebem o mundo tem relação com aspectos culturais, acesso aos bens sociais, crenças religiosas e o relacionamento com a família e os amigos. A diversidade de culturas presentes em nossa sociedade intervém e influencia os adolescentes, de acordo com os processos de convivência social. Ao observarem as diversidades, sejam elas sociais, culturais, sexuais, econômicas, entre outras, farão escolhas e agirão socialmente, mais ou menos dentro das normas instituídas (LÉVI-STRAUSS, 2006).

Adolescentes que se assumiram homossexuais relataram dificuldades para exporem sua sexualidade ou serem aceitos pela família.

Olha, minha mãe não sabe não [do relacionamento com outra menina], mas a mãe dela e o pai dela sabem, por isso que eu não tenho um bom relacionamento com

minha mãe. Às vezes, eu penso em tentar falar com ela, mas eu não tenho essa liberdade de chegar e falar com ela, igual eu tenho com minha tia, que já sabe. Com ela eu tenho liberdade, sabe? Quando chegar uma hora eu falo com minha mãe, um dia quem sabe. (E11, SF).

Quando minha mãe soube [do namoro com outra menina], nossa, foi a morte pra minha mãe, e ela disse: “porque eu não aceito, que você veio mulher...”, mas eu gosto de outra mulher. Aí, no começo foi muito difícil... Complicado é, porque o preconceito maior vem de dentro de casa, que é de onde você precisava de um apoio e tem gente que não aceita você. Tendo apoio de dentro de casa pra você enfrentar o mundo lá fora é muito mais fácil. Agora quando tem preconceito de dentro de casa é muito mais complicado (E13, SF).

Os adolescentes entrevistados relatam que inicialmente sentem dificuldades em se abrir para a família. Geralmente, conseguem conversar mais com os amigos. Apesar disto, acreditam que as mães e pais sabem de sua orientação sexual, mantendo uma conivência de silêncio de ambos os lados, para não ter de explicitar sofrimentos. Porém, quando há alguma abertura para conversar sobre sexualidade com a família, se sentem um pouco mais à vontade com a mãe ou algum tio ou tia, devido à liberdade que esses adolescentes sentem para conversar com essas pessoas, além de as considerarem mais capazes de guardar segredo que os demais membros da família.

Esses achados estão de acordo com resultados de estudo de caso realizado por Bento e Matão (2012), no qual o entrevistado somente contou para mãe sobre sua homossexualidade porque foi por ela questionado, mas percebeu que após a revelação, a preocupação e medo de sua mãe aumentaram.

Os adolescentes da presente investigação que decidem contar sobre sua homossexualidade para seus familiares ainda estão sujeitos a não aceitação por parte da família, que pode ficar preocupada, com medo do novo

e até mesmo com reações preconceituosas, devido ao estigma, imaginado e esperado (GOFFMAN, 1988), que acompanha a homossexualidade. Os adolescentes consideram que o pior do preconceito é quando este ocorre dentro de sua própria casa, um local onde eles deveriam ser acolhidos e respeitados (FIG. 5).

Apesar das mudanças na sociedade, ainda é grande o preconceito com as pessoas que apresentam opção sexual diferente do heterossexual. Quando esse preconceito vem da família, muitas vezes está relacionado a crenças ou ao próprio medo de como a sociedade em geral trata os homossexuais (SILVA et al., 2015). Porém, a falta de apoio dentro de casa pode aumentar o risco de violência contra o adolescente e, em alguns casos, a própria família ser o agente agressor. Os adolescentes homossexuais estão sujeitos ao preconceito e a sofrerem com a violência de forma física, verbal, sexual e psicológica, o que pode gerar alterações em sua saúde, além de aumentar o risco para o autoextermínio (NATARELLI et al., 2015).

Contudo, quando a família aceita a opção sexual do adolescente e o acolhe, os laços afetivos tendem a serem mais fortes, gerando segurança para esse jovem (COSTA; MACHADO; WAGNER, 2015).

Adolescentes

Heterossexua

Maior parte

dos

Dizem

respeitar e

Adolescentes

Homossexuai

Família

Vivência

igualitária

Amigos

Abertura

para

Silênci

o para

não

FIGURA 05 – Relação entre adolescentes e homossexualidade Fonte: entrevistas com adolescentes, dados coletados pelo autor, 2016.