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2.3 A EXPANSÃO DO COMERCIO VAREJISTA MODERNO NA ZONA NORTE DE NATAL

2.3.1 Shopping Centers

O shopping center consiste em um centro comercial que, conforme explica Pintaudi (1987), permite a reunião em um ou mais prédios contíguos, das mais variadas lojas de vendas a varejo, que divergem entre si pelos tipos de mercadorias que comercializam e/ou pela sua natureza (lojas especializadas, lojas de departamentos, supermercados, etc.).

Para Bienenstein (2009), o surgimento e a proliferação do shopping center transcorreu no bojo da concentração espacial do capital, dessa maneira ele explica que a incorporação encadeada de inovações nos modos de troca, principalmente a

partir do século XIX, correspondeu à progressiva mudança nas formas de organização, métodos e técnicas de produzir.

Conforme a complexidade do setor terciário, em especial, o comércio, cresceu e se consolidou, as condições e formas de consumo foram ampliadas. Hoje, podemos dizer que, os shopping centers são os grandes centros comerciais, os quais traduzem a expressão e concretização de uma forma de comércio que une todas as características do varejo moderno, num único lugar, centralizando a maior quantidade possível de estabelecimentos de comércio e prestação de serviços para atender uma parcela, cada vez maior da população.

Nessa perspectiva, entendemos que esse tipo de estabelecimento comercial está, intimamente, envolvido no processo de organização e (re)organização do espaço urbano de uma cidade. Nascimento (2003), em seu trabalho sobre os shopping centers como elementos de (re)produção urbana em Natal, explica que a inserção do shopping no contexto urbano das cidades remete a transformações no espaço porque estão atrelados a questões importantes, como desenvolvimento urbano, construção do espaço, reprodução do capital e modernidade.

Esse tipo de equipamento comercial segue uma tendência mundial, apesar de se adequar às exigências e culturas econômicas do local onde se instalam. Normalmente, como são grandes obras arquitetônicas, elas demandam um amplo espaço para se instalarem, buscam geralmente áreas urbanizadas ou áreas que ligam centros urbanos importantes.

No Brasil, segundo Pintaudi (1987), embora o primeiro shopping center – Shopping Iguatemi – tenha sido construído e inaugurado em São Paulo, no dia 27 de novembro de 1966, somente na década de 1980, é que ocorre uma grande expansão desse tipo de equipamento do comércio moderno.

Em Natal, o primeiro shopping a entrar em funcionamento foi o Natal Shopping, em 1992, em Lagoa Nova. A instalação desse shopping impulsionou o segmento, trazendo um número considerável de equipamentos desse porte e com a mesma proposta de funcionamento em diversas áreas da cidade. Nos anos seguintes, pequenos centros comerciais como o CCAB Sul e CCAB Norte são inaugurados. Depois outros shoppings, como o Cidade Jardim, o Praia Shopping, o Via Direta, SeaWay, Portugal Center, Lagoa Center, Shopping 10, Dunnas Shopping etc., se instalaram ao longo da cidade.

Dentre os shoppings que entraram em funcionamento no decorrer da história de Natal, destacamos o Midway Mall, que foi inaugurado em março de 2005, entre as avenidas Salgado Filho e Bernardo Vieira, numa localização privilegiada enquanto espaço de fluxos de veículos e circulação de pessoas. Este shopping é hoje o maior do Estado e um dos maiores da Região Nordeste em área construída (com 231.000m2), além de ser um dos mais freqüentados pela população de Natal, devido ao fácil acesso (fluidez de veículos e transporte proveniente de todas as partes da cidade), oferta de estacionamento gratuito, entre outros itens de comodidade e praticidade que o estabelecimento oferece.

No caso específico da Zona Norte, ressaltamos que até novembro de 2007, nenhum shopping havia se instalado na Zona Norte da cidade. Apesar de ser um centro comercial que busca descentralizar as atividades terciárias da cidade, promovendo maior comodidade ao consumidor, o estabelecimento desse tipo de comércio em algumas áreas, por anos ajudou no processo de “segregação” e rótulo empregado à Zona Norte – espaço dormitório. Por isso a instalação e funcionamento de um grande centro comercial como um shopping center nessa área merecem atenção.

O Natal Norte Shopping foi inaugurado em 27 de novembro de 2007 e em 15 de outubro de 2008, o Shopping Estação é inaugurado, ambos na Av. João Medeiros Filho, um em frente ao outro.

Consideramos que assim como os shopping centers, outras formas do varejo moderno são muito recorrentes e tem objetivos e propostas semelhantes, sendo até mais antigas. Esses estabelecimentos, que estudaremos em seguida, são da mesma forma, tão importantes quanto os shoppings no processo de construção e organização especial das cidades.

2.3.2 Hipermercados

Os hipermercados são estabelecimentos de grande porte, possuem uma área variante entre 8.000m2 e 20.000m2 e trabalham com uma ampla oferta de itens, ou seja, são lojas que oferecem grande variedade de produtos, que vão desde alimentos até áudio/vídeo, livraria, eletrodoméstico, vestuário, produtos de

decoração, autopeças, móveis, etc., apresentando, ainda, uma área complementar de lojas (DANTAS, 2007a).

Segundo Dantas (2007a) o hipermercado é uma criação européia da década de 1960 e foi criado num período de concentração do capital comercial nas mãos de grandes grupos econômicos. Como a construção e instalação desse tipo de comércio exigem grandes espaços vazios, podemos dizer que eles provocaram (e ainda provocam) muitas transformações na organização interna das cidades.

Para que essas grandes superfícies (os hipermercados) sejam implantadas, faz-se necessário a presença de grandes espaços (que ainda são encontrados em alguns pontos da cidade, no caso, na Zona Norte) bem localizados (acessível ao consumidor), porque ocupam grandes áreas e agregam uma concentração de diferentes tipos de serviços destinados a atender à demanda do mercado. Martins Jr. (1999, p. 07) caracteriza os hipermercados para que entendamos um pouco do funcionamento e da extensão dessas superfícies:

Os hipermercados ocupam grandes áreas, além disso, devemos destacar o planejamento deste tipo de empreendimento, pois ocorre a agregação de outras funções, criando um espaço não só para o consumo de mercadorias, mas também para atividades ligadas ao lazer. Os hipermercados apresentam ainda uma maior flexibilidade no horário de atendimentos e, também, uma diversificação na oferta de produtos e serviços [...], o que serve como estratégia para atrair maior número de consumidores. Portanto, a organização deste espaço parte de alguns princípios, tais como: área de vendas num único nível, facilidade de acesso, amplo estacionamento, grandes depósitos, além da já citada flexibilidade no horário de atendimento.

Esses grandes estabelecimentos de concentração de serviços têm como objetivo abarcar o maior número possível de serviços em seu espaço, para melhor atender ao sistema capitalista, porque induz o consumidor a consumir mais.

Dessa maneira, os hipermercados passam a ser implantados no espaço urbano das cidades brasileiras a partir de 1974, localizados nas vias marginais dos rios Tietê e Pinheiros, e seu período de expansão ocorreu a partir de 1986 (PINTAUDI, 2005). Devido ao seu caráter de distribuição de bens em geral, essa forma de comércio é gerida principalmente por redes de atuação internacional.

Em Natal, o primeiro hipermercado instalado foi o Hiper Bompreço, em 1982, que continua em funcionamento, hoje, com duas lojas na cidade. A instalação deste estabelecimento no Bairro Lagoa Nova, na década de 1980, voltou o olhar dos empresários para a expansão do comércio neste espaço. Em março de 2004, o

Hiper bompreço foi vendido para o grupo norte-americano Walmart, que atualmente comanda dois hipermercados (Hiper bompreço), dois supermercados (Bompreço) e um clube de compras (Sam‟s Clube) que atua na venda de produtos no atacado para pequenos e médios comerciantes.

O outro grupo importante é o Carrefour (multinacional francesa) que inaugurou duas lojas na cidade, uma delas em 1997 ao lado do Natal Shopping e a outra em 2006, dentro do Natal Norte Shopping; além dessas lojas, o grupo também é dono da Rede Atacadão (trabalha com a venda atacado-varejista) que possui duas lojas na cidade, a primeira loja (da referida Rede) a entrar em funcionamento que está localizada na BR-101, e a outra inaugurada em 2008, na Avenida João Medeiros Filho, Zona Norte da cidade.

Há também o hipermercado Extra, do grupo Pão de Açúcar que possui duas lojas em funcionamento na capital, uma delas (a primeira, em Natal, inaugurada em 2005) no interior do maior shopping da capital, o Midway Mall e a outra localizada na Av. Engenheiro Roberto Freire.

Seguindo essa perspectiva de grande oferta de produtos, veremos a seguir, os supermercados que, assim como os hipermercados, trabalham com produtos voltados diretamente para o consumidor.

2.3.3 Supermercados

Em seu texto sobre a cidade e as formas de comércio, Pintaudi (2005), lembra que, nas décadas de 1940 e 1950 o comércio no Brasil passa por uma expansão. Esse crescimento foi fruto de uma política de industrialização desenvolvida na década de 1940, que permitiu a implantação do capital e da empresa estrangeira. Nesse contexto, em 1953, surge o primeiro supermercado na cidade de São Paulo. Criação norte-americana, o advento do supermercado foi importante porque se mostrou eficiente no tocante ao rápido abastecimento das cidades que cresciam rapidamente. Por isso, com o passar dos anos esses estabelecimentos se expandiram por toda a “a metrópole e para além dela” (PINTAUDI, 2005, p. 151).

É interessante comentar que o supermercado foi uma evolução da forma tradicional de comércio encontrada nas mercearias, nos mercadinhos e nas feiras livre, pois trouxe consigo a proposta de auto-atendimento.

Os supermercados são estabelecimentos, que tem tamanho variado, atingindo até 5.000m2, e trabalham numa escala menor de vendas, propondo-se a vender, principalmente, produtos alimentícios, de higiene e de limpeza.

A expansão dos supermercados não aconteceu somente a nível mundial, assim como citado anteriormente, essa forma de comércio encontrou espaço propício para crescimento também a nível nacional, principalmente em países subdesenvolvidos como o Brasil. Assim sendo, para melhor exemplificação, Santos (2004, p. 87) discute essa expansão dos supermercados nos países subdesenvolvidos, ressaltando que:

As grandes lojas e os supermercados representam um fenômeno em expansão nos países subdesenvolvidos. Sua existência está ligada à possibilidade de uma demanda mais numerosa e mais diversificada, assim como às possibilidade de pagamento em dinheiro líquido ou segundo as formas burocráticas de crédito, tais como cartões de crédito instituídos pelos bancos ou sistemas de crédito particulares a certas firmas comerciais. As relações são impessoais nesse gênero de supercomércio.

Conforme podemos analisar na citação de Santos, as facilidades de consumo trazidas por tais estabelecimentos, impulsionaram sua efetivação e expansão no cenário econômico dos países subdesenvolvidos, assim como, no Brasil. E, uma das evoluções que permitiram ao cliente um relacionamento diferenciado, de auto-atendimento, foi a introdução do cartão de crédito mediante essa nova forma de comércio.

De acordo com Dantas (2007a) o grande sucesso do supermercado se deve ao avanço na técnica de venda para o consumidor, mediante a adoção do sistema de auto-serviço, possibilitando a aproximação entre o consumidor e o produto desejado. O grande objetivo para o qual essa forma de comércio foi criada resida na distribuição da produção industrial para a população de uma maneira mais rápida e prática, facilitando e incentivando um maior consumo.

Sendo assim, entendemos que, de uma maneira geral o supermercado significou a concentração financeira e territorial, concentrando, em um único local, a comercialização de produtos anteriormente dispersos no espaço. Além disso,

conforme explica Pintaudi (2005) a expansão desses estabelecimentos, também está ligada à introdução das geladeiras nas residências, e à maior aquisição e circulação de automóveis na cidade. A geladeira proporcionava a estocagem de produtos perecíveis por um tempo maior; já o automóvel facilitou o acesso à lugares mais distantes, ampliando o raio territorial de alcance. Desse modo, compreendemos que vários foram os fatores que contribuíram para a expansão desse tipo de comércio no contexto urbano das cidades.

Em Natal, a primeira rede de supermercados a se instalar foi a Rede Nordestão: sua primeira loja foi inaugurada, no bairro Alecrim, ainda 1972, seguidas da instalação de mais três lojas na mesma década, conforme podemos ver no primeiro capítulo dessa pesquisa. No decorrer dos anos, vários grupos tentaram se firmar nesse segmento, mas poucos resistiram à chegada dos Hipermercados, que trouxeram uma forte pressão para a economia da cidade, fato que levou supermercados importantes na história da cidade a abrirem falência. Dentre os supermercados de imponência que se instalaram na cidade, antes do crescimento dos hipermercados, tivemos o Hiper São José (BR-101), o Superete Queiroz e outros que já não existem mais. Tais estabelecimentos não resistiram a forte concorrência imposta pelos hipermercados.

A solução encontrada pelos donos de pequenos supermercados para sobreviver ao impacto causado pelos grandes estabelecimentos foi formar cooperativas, como é o caso da Rede Mais, composta pela parceria dos chamados “mercadinhos” como Super Show, Bom Dia, Serve Bem, Compre Bem e outros.

É interessante registrar que somente a Rede Nordestão se mantém forte nesse segmento comercial, com 07 lojas em pleno funcionamento, bem localizadas, e atendendo grande parte da população da cidade.

Com o crescimento da Zona Norte, o primeiro supermercado a entrar em funcionamento foi a loja de Santa Catarina da Rede Nordestão, em 1981, depois veio a loja de Igapó em 1990. Hoje, é possível encontrar vários mercadinhos e supermercados de pequenos grupos, como o Super Show, a Rede Mais, Parceiros da Economia, mas o grande referencial desse tipo de empreendimento continua a ser o Nordestão, que além das lojas que hoje funcionam na Zona Norte, tem projetos para instalação de mais duas lojas, que entrarão em construção até o final de 2011 em locais de grande circulação da referida área. Um dos locais visados pelo Nordestão é a Av. Pompéia, que atualmente apresenta uma intensa atividade

comercial voltada para o “popular”, todavia, apresenta-se como um espaço em expansão bastante visado pela população consumidora da Zona Norte e, consequentemente, pelos empresários do ramo varejista.

A concentração de produtos para venda, e oferta de serviços dos supermercados é proveniente da expansão do comércio voltado para um consumo mais facilitado e menos burocrático, que visa atrair, cada vez mais, a população das cidades. É como se o comércio estivesse constantemente em transformação e evolução, buscando atender as necessidades de reprodução do capital. A seguir, trataremos das lojas especializadas, lojas de departamentos e megalojas que também, representam uma evolução, no que se refere à influência do processo capitalista.