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Anexo VIII- Intervenção Comunitária em Ruílhe: os idosos e a animação sociocultural –

14. O que significa ser velho

A velhice no ser humano é ser idoso e com a evolução dos tempos, as suas atribulações: as artroses, as artrites a osteoporose ou a Gota, além de outros males.

O conceito de Terceira Idade foi encarado de maneira diferente ao longo da História da Humanidade. No século XIX as pessoas idosas eram consideradas sábias, alguém que já passou por inúmeras situações e experiências, e que por isso, tinham um conhecimento de vida muito superior a todas as outras gerações.

No século passado, no entanto, uma pessoa idosa não teria que ter aquela que hoje consideramos uma idade muita avançada. Numa altura em que a medicina moderna ainda dava os primeiros passos, em direção à cura de várias doenças, a esperança de vida era em 1800 de 33 anos para o povo e de 44 anos para os burgueses. No entanto passados 50 anos, aproximadamente, já o nível de idades passou de 38 anos para os homens e de 41 para as mulheres.

Assim, quem conseguisse alcançar ou ultrapassar esta meta era visto como um sobrevivente. Ao analisarmos a vida destes avós, uma distinção entre o meio rural e o meio urbano é necessária, e porquê?

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Aos primeiros as dificuldades da pobreza limitava em muito a oportunidade de viver uma velhice descansada e feliz. A maior parte das vezes trabalhavam até morrer.

No ambiente rural, a presença dos idosos em casa dos filhos era comum. Esta realidade era um facto devido à falta de alojamento ou dinheiro para o adquirir, que levava a que os filhos quando se casavam continuassem em casa dos pais.

A avó transformava-se numa figura muito importante no quotidiano de uma família. A ela eram-lhes confiados os netos para que os pais pudessem trabalhar. Não raras as vezes eram a única figura materna que muitos netos conheciam, era ela que permanecia em casa, que lhe mudava as fraldas, que lhes passava os raspanetes ou lhes dava carinho.

Os idosos do meio urbano, que gozavam uma velhice tranquila e abastada, podiam ser simplesmente o “ avozinho” ou a “ avozinha”. Quando se encontravam com os netos cobriam- nos de beijos, empanturravam-nos de doces e ao serão, as histórias eram iluminadas pela lareira.

Contavam os filhos que outrora, que por qualquer razão ou feito, tinham conseguido distinguir-se dos demais.

Em suma, transmitiam saberes que eram apreciados pelos mais novos. As adversidades foram bastantes e a sociedade, ao longo dos tempos, como é óbvio, no século XIX, não criou mecanismos que pudessem conferir dignidade aos últimos anos de vida de uma pessoa idosa. Quando deixavam de produzir, ou seja, quando terminava a sua contribuição para a economia, os “velhos” eram relegados para segundo plano.

No século passado, melhor dizendo, no século XIX, nas classes pobres a idade mais avançada era acompanhada de dificuldades financeiras e de um estado de doença generalizado. O corpo não conseguia resistir aos tratos a que, durante os anos anteriores de vida fira sujeito.

Maus tratos, uma alimentação pobre, trabalho árduo, pouco descanso. E, como o rendimento auferido durante anos era fraco, que nem chegava para fazer face às despesas do dia-a-dia, a classe trabalhadora não conseguia poupar dinheiro para aproveitarem os últimos anos de vida, de uma forma mais ou menos desafogada.

Mas as condições acima referidas não eram generalizadas ao resto da população. Os burgueses tinham a oportunidade de, no final da sua vida, viverem uma velhice tranquila. Aqueles que exerciam profissões liberais, viviam o período de reforma à sua própria custa. A moeda gozava de uma estabilidade considerável, o que permitia viver das poupanças.

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Os que trabalhavam por conta de outrem enfrentavam muito mais dificuldades, uma vez que no século XIX os únicos que beneficiavam do dinheiro de uma pensão de reforma, eram os funcionários de destaque.

Na verdade, a lei de 9 de junho de 1853 estabelecia que os militares, os reformados da administração e os universitários, poderiam receber uma pensão a partir dos 60 anos, desde que tivessem 30 anos de serviço, ou seja, metade da vida a trabalhar para ter direito a uma “velhice” paga.

E como não existisse regra sem exceção, alguns operários podiam beneficiar de reformas, tais como, os que trabalhavam nas manufaturas do estado, nas companhias do caminho-de-ferro ou em alguns grandes estabelecimentos comerciais ou industriais.

Depois ainda havia (a maioria) quem não tinha qualquer plano de apoio. A solidariedade, de familiares ou vizinhos era a única saída. Isso ou o fantasma do asilo, onde as condições de vida e tratamento eram, em regra, insuportáveis.

A velhice não tem, obrigatoriamente, de ser vista como uma fase de vida em que o corpo e a mente se degradam. Apenas se alteram, ganham nonas características. Hoje atingem 65 anos mais indivíduos do que antes graças aos progressos da medicina, à melhoria da alimentação e das condições sociais.

De facto, durante grande parte do século XIX eram tão raros os indivíduos que alcançavam alguma idade ou que se tornavam alvo de veneração e respeito. No final dos anos de novecentos, a velhice é encarada como um problema social. As virtudes que as ouviram, tais como: a paciência, a contemplação e a experiência da vida, não são apreciadas pelas sociedades de hoje, que valorizam maioritariamente o trabalho, a rapidez e a comunicação imediata.

Para que se possa encarar a velhice como um estádio de vida respeitável é necessário quebrar preconceitos e encarar a terceira idade como uma fase natural e bonita da vida, algo tão fundamental como a infância.

De facto, segundo um professor de Psiquiatria da Faculdade de Medicina, o longo período da velhice, contrabalança naturalmente os longos anos de infância.

Na verdade, um idoso tem perspetivas mais amplas e pode abarcar como um todo a evolução e o significado da vida. Daí que são considerados por muitos como ótimos professores. Um dos grandes estigmas ligados à velhice e a perda de capacidades de aprendizagem, ou seja,

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a maior dificuldade em assimilar novos conceitos. O que acontece na verdade é uma evolução natural.

Os investigadores descobriram que, tal como o corpo, a mente precisa de ser estimulada para se mostrar em forma. Ser um idoso se mantiver intelectualmente ativo, não diminui a sua memória e a sua capacidade para resolver problemas.

O que pode acontecer por vezes é sofrer de uma “ sobrecarga de informações”, pois a perda de neurónios que vai tendo lugar durante anos, afeta a memória a curto prazo. Infelizmente falar em terceira idade, é sentir de facto a velhice e é quase sempre fazer referência à doença e à solidão.

Costuma-se dizer que a idade não perdoa, e de facto o corpo das pessoas mais velhas adquire certos “Apêndices”. Com o aumento da idade, verifica-se a perda gradual dos tecidos musculares e da massa óssea. Quando esta é pronunciada, os ossos tornam-se quebradiços e fraturam-se facilmente. No âmbito geral o organismo fica cansado e por isso perde vitalidade e vigor. Nada mais natural.

O processo do envelhecimento pode ser retardado se tiver cuidados alimentares e o hábito de praticar exercício físico. Nestes tempos muitos são já os idosos que praticam ginástica adaptada às suas características de idade.

Para além de fortalecerem o corpo, revigoras-lhes a mente, sendo, portanto, mais que aconselhável. No entanto, o envelhecimento físico não é, talvez na maioria dos casos, o maior problema dos idosos. A solidão, essa sim, pode ser fonte de grandes tristezas.

O mundo anda muito rápido e as pessoas parecem não ter tempo nem disponibilidade para com os mais necessitados. Em muitas sociedades, os idosos são considerados cidadãos de terceira que já deixaram de ser necessários, apenas são fonte de aborrecimentos e trabalhos.

Os lares com boas condições parecem ser o destino da maioria dos avós. São aí “depositados” e esquecidos por grande parte dos familiares. A sua vida social fica limitada ao contacto com os outros idosos e o pessoal da casa. Muitos queixam-se que vivem numa espécie de prisão, uma vez que ficam confinados ao espaço do lar.

Em alguns casos, vêm a público notícias de maus tratos em lares para idosos. Assiste- se, felizmente a uma maior consciencialização por parte das autoridades e da população em geral para a obrigação de tratar aqueles que, em tempos, foram o motor da sociedade.

Em alguns países as pessoas em idade de reforma começam a ter alguns benefícios, principalmente ao nível da saúde e do lazer. Grande parte dos medicamentos é comparticipada

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pelo Estado e são as iniciativas de apoio domiciliário, com vista à diminuição dos casos de internamento.

Convém não esquecer, no entanto, que o grosso dos reformados, pelo menos no nosso país, tenta sobreviver com pensões exíguas, que mal dão para comportar as despesas de saúde e alimentação. Uma coisa é certa, e segundo as leis do universo até agora estabelecidas, tudo o que nasce, cresce e morre.

Será legítimo retomar a lógica natural das coisas?

Não se tornaria a existência humana em beco sem sal, sem gosto.