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PRECIPITAÇÃOTEMPERATURA

91 significativamente mais elevado O mesmo acontece em relação à precipitação, visto que se

verifica uma diminuição acentuada dos desvios médios negativos, sobretudo nos últimos 10 anos.

Tendo por base este estudo comparativo, incidente na região do Porto, parece poder conclui-se que as alterações à escala regional são tão ou mais acentuadas do que as que se estão a verificar à escala nacional e internacional.

Concluiu-se, ainda, que as alterações climáticas verificadas à escala regional, reproduzem um forte padrão de semelhanças com as alterações verificadas nos padrões da circulação atmosférica de mesoescala, aspecto digno de relevo. Este pode ser um óptimo ponto de partida para uma abordagem do tema à escala nacional.

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CONCLUSÃO

Relembrando a Introdução deste estudo, mais concretamente as nossas hipóteses de trabalho e os objectivos a atingir, podemos concluir que os nossos propósitos foram atingidos.

Pensamos que, por modesto que tenha sido, demos um contributo para o conhecimento das alterações climáticas à escala regional pondo em destaque algumas das inter-relações que se podem estabelecer dentro desta problemática.

Procurámos neste trabalho, em primeiro lugar, perceber as alterações que se processaram entre os primeiros 20 anos do século XX e os últimos 20 anos da actualidade em termos climáticos, na região do Porto, e explicar essas alterações com base no estudo das condições atmosféricas relativas aos mesmos períodos. O principal objectivo era estabelecer um nexo de causalidade entre as alterações meteorológicas e as alterações climáticas.

Concluímos que, entre os períodos em estudo e no que se refere aos elementos climáticos, se verificou um conjunto de alterações das quais se destacam:

i. Um aumento significativo da temperatura, acima da média do nosso país.

ii. Esse aumento ocorre ao longo de todo o ano, no entanto, é bastante mais

significativo nos períodos interestacionais, com destaque para Março e Outubro.

iii. Este aumento é mais significativo nos últimos 10/12 anos (a partir de 1995).

iv. O facto atrás mencionado parece confirmar a ideia empírica, que todos temos, de que

agora as estações do ano estão menos definidas.

v. Em termos de variabilidade, esta mantém-se como característica fundamental da

distribuição da temperatura, mas não se verificam alterações de relevo, sobretudo, no que concerne aos valores extremos, isto é, verifica-se uma acentuação dos valores extremos, mas que não se traduzem em alterações muito significativas. No entanto, isto não significa que a hipótese de intensificação da ocorrência de maior n.º de

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vagas de frio e vagas de calor, previstas em muitos estudos de investigação [em

particular o IPCC (1900, 1995, 2001 e 2007)], relativamente ao Sul da Europa, que não possam ocorrer. O que nós concluímos é que esse facto, de momento, não tem ainda grande expressão.

vi. Relativamente à precipitação, não se verificam alterações nos quantitativos

pluviométricos absolutos entre os dois períodos em estudo, denota-se, isso sim, uma alteração no padrão de distribuição mensal.

vii. O Outono e o Verão são agora mais chuvosos, sobretudo, os meses de Outubro e Novembro.

viii. Pelo contrário Fevereiro e Março são mais secos. No início do século XX os meses mais pluviosos decorriam entre Novembro e Fevereiro e no período de 1988-2007, decorrem entre Outubro e Janeiro. Em grande parte estas alterações encontram relação/justificação nas alterações verificadas no comportamento das condições sinópticas.

Relativamente às alterações das situações sinópticas, extraíram-se as seguintes conclusões:

i. Predomínio claro das situações anticiclónicas em ambos os períodos em estudo. No

entanto verificou-se uma diminuição das mesmas. A percentagem de situações anticiclónicas era de 57% em 1900-1919 e no período de 1988-2007 é de 52,9%. Estes valores traduziram-se num aumento das situações de instabilidade atmosférica.

ii. Denota-se uma maior irregularidade nos estados de tempo ao longo do ano. Essa

irregularidade é mais notória no Verão e nos meses de transição estacional.

iii. Relativamente, ainda, às situações depressionárias, verifica-se no período de 1988- 2007, não só um aumento generalizado, sobretudo nas fases de transição estacional (Maio e Junho e Setembro e Outubro) e no Verão, como já referimos, mas, também, uma alteração na sua distribuição ao longo do ano.

iv. Fevereiro e Março registam uma diminuição muito significativa de situações

depressionárias, facto que poderá justificar os aumentos acentuados da temperatura e a redução da precipitação.

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v. Em termos de distribuição das situações anticiclónicas ao longo do ano, verifica-se

uma diminuição, quer do anticiclone Atlântico Misto, quer do Anticiclone Subtropical, comparativamente com o período 1900-1919, sobretudo no Verão, embora, ligeiramente compensada com o aumento das situações de margens anticiclónicas, no mesmo período.

vi. Relativamente à frequência do Anticiclone Subtropical, este era bastante mais

frequente no início do século, do que no período de 1988-2007.

vii. Globalmente, verificam-se oscilações muito expressivas ao longo da média dos vinte

anos dos dois períodos em estudo, quer no que se refere às situações depressionárias, quer anticiclónicas. Regista-se uma alteração, bastante significativa nos padrões de distribuição da média mensal, sobretudo, nos períodos interestacionais e no Verão.

viii. Passamos a ter Verões, em média, menos estáveis e Invernos mais soalheiros, facto

que se intensificou na última década.

ix. Constata-se que há uma acentuação, nos últimos 10 anos, da tendência de alteração

das situações sinópticas verificadas e descritas anteriormente.

x. Ligeiro aumento dos paroxismos climáticos, manifestado sobretudo no aumento da

ocorrência de sequência de dias com temperaturas acima da média nos períodos de Primavera, Verão e Outono e abaixo da média no Inverno (sobretudo Dezembro e Janeiro).

Conclui-se, por fim, que há uma relação muito directa entre as conclusões emanadas do ponto dois – alterações dos elementos climáticos entre os períodos em estudo e as conclusões do ponto três – alterações nas situações sinópticas no mesmo período, facto que permitiu estabelecer uma relação de causalidade entre as duas partes do trabalho.

Findo este trabalho resta dizer, que a opção por este tema de estudo teve motivações pessoais de dois níveis: por um lado a pertinência e actualidade do tema e por outro o gosto que temos, de há muito, pelas Ciências da Terra, nomeadamente pela Climatologia Aplicada. Por isso, fazer este trabalho, pressupôs mais do que um mero exercício académico, implicou prazer e envolvência pelo e durante o processo.

Claro está, que muitos aspectos ficaram aquém das potencialidades teóricas permitidas pelo tema. Por exemplo, se em vez de trabalharmos os primeiros e os últimos vinte anos do

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