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3 SUPREMACIA DA CONSTITUIÇÃO

3.2 SIMETRIA CONSTITUCIONAL

A simetria constitucional tem por objetivo assegurar o princípio da supremacia da Constituição diante das Constituições dos Estados-Membros.

Segundo Mafra Filho (2005) é “o princípio federativo que exige uma relação simétrica entre os institutos jurídicos da Constituição Federal e as Constituições dos Estados- Membros”.

Desta forma, definir o significado da palavra “simetria” nos ajudará a compreender o que vem a ser essa relação simétrica que deve existir entre as Constituições Estaduais e a Constituição Federal.

Conforme o dicionário, a palavra simetria significa a “correspondência, em grandeza, forma e posição relativa de partes situadas em lados opostos de uma linha ou plano

médio, ou, ainda, que se acham distribuídas em volta de um centro ou eixo; harmonia resultante de certas combinações e proporções regulares. Remete à igualdade, à semelhança entre fatos”. Significa que “As Constituições Estaduais e a Lei Orgânica do Distrito Federal se subordinam à Constituição Federal e com ela devem similitude (princípio da simetria), ou seja, devem guardar semelhança em relação à Carta Magna” (SIMETRIA, 2011, grifo nosso).

Portanto, a simetria constitucional exige que a Constituição dos Estados- Membros, enquanto poder constituinte decorrente, derivado do poder constituinte originário, deve agir segundo as regras básicas traçadas por este, ou pelo menos não contrariar nada que por ele foi firmado na Constituição Federal (BESTER, 2005, p. 196).

Cabe considerar que o poder constituinte originário, o poder constituinte derivado e o poder constituinte decorrente, embora disciplinem matéria de âmbito constitucional, estão em níveis diferentes.

Nesse quadro, o poder constituinte originário, é aquele que dá origem à nova ordem constitucional, que edita uma nova Constituição podendo substituir a anterior. Por ser um poder originário, é chamado de inicial, no sentido de que não se funda noutro, sendo que dele derivam todos os demais poderes, e nenhum poder existe acima dele, nem de fato, nem de direito. Também é ilimitado e incondicionado, primeiro, por não estar atrelado aos direitos e valores consagrados pela Constituição que ainda vigora, e segundo, porque não se subordina a qualquer regra, tampouco tem fórmula prefixada para sua manifestação, assim, quando se reúne, cria suas próprias regras de funcionamento (BESTER, 2005, p. 193-194).

Noutra via, o poder constituinte derivado, é um poder reformador, porque nada constitui, mas é constituído pelo poder constituinte originário, sendo que deste retira a força e a legitimidade para reformar a Constituição Federal, podendo realizar via revisão ou via de emendas. Portanto, é subordinado e condicionado, ou seja, só pode agir pelas formas fixadas, nas condições postas, não podendo ultrapassar os limites impostos para a sua atuação na própria Constituição Federal (BESTER, 2005, p. 195-196).

Já o poder constituinte decorrente, é constituinte e constituído. Primeiro porque constitui as constituições dos Estados-Membros, cria uma ordem jurídica estadual, segundo, porque deriva do poder constituinte originário, e consequentemente, deve agir segundo as regras básicas traçadas pela ordem jurídica instituída por este, ou pelo menos não violar o que por ele foi firmado na Constituição Federal (BESTER, 2005, p. 196).

Nesta esteira, “em face da supremacia das normas, material e formalmente constitucionais, as leis ordinárias, a elas devem se conformar. Trata-se de uma consequência da soberania do poder constituinte, frente aos poderes constituídos” (LIMA, 1983, p. 81).

Oportuno se torna a contribuição de Gisela Maria Bester (2005, p. 380, grifo nosso) ao mencionar sobre o parâmetro para a realização do controle de constitucionalidade, que deve sempre ser a Constituição de um país.

O importante a ser gravado é que o padrão de constitucionalidade de qualquer norma dentro de um ordenamento jurídico é sempre dado pela norma mais importante, mais alta, mais suprema, mais fundamental desse ordenamento, e esta norma é, invariavelmente, a Constituição, entendida como Lei Fundamental, como norma das normas. A Constituição é, assim, a própria norma parâmetro, que deverá prevalecer no conflito que necessariamente se instaura entre si e qualquer outra norma que a antagoniza. Tanto faz se nas federações os Estados-membros tenham suas constituições estaduais e em seu âmbito instituam sistemas estaduais de controle de constitucionalidade, o parâmetro último, ou indireto, será sempre o do texto constitucional federal, até porque, as constituições estaduais, por uma regra que se chama princípio da simetria constitucional, não só não podem destoar de nada do que é posto pela Constituição Federal como ainda têm que repetir algumas cláusulas desta praticamente ipsis litteris.

Neste passo, a Constituição Federal assegura aos Estados-Membros autonomia, que se materializa na capacidade de auto-organização, autolegislação, autogoverno e autoadministração, prescritos nos artigos 18, 25 a 28 da CF/88 (SILVA, 2001, p. 592).

Porém, trataremos neste trabalho, da sua autonomia organizacional, que exprime o artigo 25 da CF/88: “Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, observados os princípios desta Constituição” (BRASIL, CF, 2011, grifo nosso).

Está, portanto explícito na regra que grifamos o princípio da simetria constitucional, da limitação imposta pelo poder constituinte originário, aos Estados-Membros. Ou como nos explica Bester (2005, p. 196), “[...] regras da Constituição Federal que devem necessariamente ser repetidas ipsis litteris nas Constituições estaduais, adaptando-se apenas os nomes dos órgãos, cargos e instituições, pois sem elas seria impossível dar-se organização aos estados-federados. São as chamadas normas de reprodução [...]”.

José Afonso da Silva (2001, p. 595, grifo no original) a respeito dessas normas de reprodução obrigatória, a serem observadas pelo poder constituinte estadual, afirma que podem ser considerados em dois grupos: a) os princípios constitucionais sensíveis; b) os

princípios constitucionais estabelecidos.

Os princípios constitucionais sensíveis são aqueles enumerados no art. 34, VII, que dizem respeito à forma republicana; sistema representativo e regime democrático; direitos da pessoa humana; autonomia municipal; e a prestação de contas da administração pública, direta e indireta (SILVA, 2001, p. 596).

Porém, são os princípios constitucionais estabelecidos, que limitam a autonomia organizatória dos Estados em prol da conformidade com a Constituição, que José Afonso da Silva (2001, p. 597), subdivide em dois tipos de regras: umas de natureza vedatória e outras, mandatórias.

As limitações vedatórias são normas de proibição, aquelas que vedam explicitamente os Estados de adotarem determinados atos ou procedimentos. Já as limitações de natureza mandatórias, são as que dizem respeito à observância dos princípios constitucionais, pois que de maneira explícita e direta, a Carta Magna determina aos Estados cumprirem suas regras, conforme prescrito (SILVA, 2001, p. 597).

Em outras palavras, LEONCY (2007, p. 25-26) afirma:

Em casos tais, o poder constituinte decorrente limita-se a transpor as normas da Constituição Federal sobre uma dada matéria, de modo a também torná-la normas constitucionais estaduais, formal ou materialmente idênticas àquelas, dando origem, assim, as chamadas normas constitucionais estaduais de reprodução, ou simplesmente, normas de reprodução.

Por esta razão, compreendemos que a finalidade do princípio da simetria constitucional, é resguardar a supremacia da Constituição Federal perante os Estados- federados, com o fim de proteger a ordem jurídica do Estado Democrático de Direito.