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SIMPLES NACIONAL:

No documento 10 anos do Simples Nacional (páginas 73-76)

FUNDAMENTAÇÃO

DO “CRESCER

SEM MEDO”

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Mestre em economia pela Escola de Pós-graduação em Economia da Fundação Getulio Vargas, formou-se em economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Atualmente, é coordenador de projetos da FGV Projetos. Também na FGV, foi chefe do Centro de Estudos de Empresas do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE). Trabalhou como consultor sênior da Projeta Consultoria Financeira.

Sergio Gustavo da Costa

Coordenador de Projetos da FGV Projetos

TIGO

Formado em direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. É co- ordenador de projetos da FGV Projetos, especialista na área de tributos.

Felipe França Schöntag

Coordenador de Projetos da FGV Projetos

O artigo explica as principais mudanças apresentadas pela Lei Com- plementar nº 155/2016 com o intuito de reestruturar as características do Simples Nacional que dificultavam, ou ao menos desestimulavam, o crescimento das micro e pequenas empresas no Brasil. Além de apre- sentar os gargalos identificados quando há aumento representativo de receita bruta, mudança de tributação para o Lucro Presumido e cobrança de alíquotas mais altas em serviços intelectuais, os autores apontam as soluções incorporadas pela nova legislação.

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INTRODUÇÃO

Em 27 de outubro de 2016, foi sancionada

a Lei Complementar no 155/2016 estabele-

cendo modificações à Lei Complementar no

123/2006, a Lei Geral da Micro e Pequena Empresa, visando a reorganizar e a simplificar a metodologia de apuração do imposto devi- do pelas micro e pequenas empresas optantes pelo Simples Nacional.

O conjunto de medidas foi denominado “Crescer sem Medo”, refletindo o objetivo de mitigar características presentes na estrutura do Simples Nacional que tendiam a inibir es- forços de crescimento por parte das empresas. O diagnóstico que fundamentou os principais aprimoramentos realizados identificou a ne- cessidade de promover mudanças em quatro características do Simples Nacional, referentes aos aumentos mais expressivos entre as faixas de receita bruta, à estrutura em progressão aritmética de tais faixas, à passagem para a tributação de Lucro Presumido e às atividades consideradas intelectuais, conforme será de- monstrado a seguir.

RESSALTOS ENTRE AS FAIXAS DE RECEITA BRUTA

Em linhas gerais, a tributação no Simples Na- cional era feita com a aplicação de uma alí- quota, determinada com base na receita bruta anual (dos últimos doze meses) sobre a receita bruta mensal. As alíquotas estavam associadas a 20 faixas de receita bruta anual, cada uma com amplitude de R$ 180 mil. Quanto maior a faixa, maior a alíquota e, além disso, o au- mento da tributação incidia sobre toda a Re- ceita Bruta do mês e não apenas sobre a receita

bruta que excedia determinada faixa. O Gráfi- co 1 ilustra a tributação aplicada às empresas dos setores de comércio, indústria e serviços optantes pelo Simples Nacional.

O Gráfico 1 evidencia aumentos mais signifi- cativos da carga tributária, também chamados de ressaltos, entre as primeiras quatro faixas e entre as faixas 5 e 6, 8 e 9, 10 e 11 e 15 e 16. A existência dos ressaltos fica mais evidente nos dados do Gráfico 2, que apresenta a taxa de aumento da carga tributária entre as faixas de receita bruta anual para empresas dos seto- res de comércio, indústria e serviços optantes pelo Simples Nacional.

Em determinados casos, o aumento de recei- ta bruta anual poderia acarretar redução do lucro. Por exemplo, uma empresa comercial cuja receita média nos últimos 12 meses tives- se sido de R$ 14.600, R$ 175.200 por ano, situando-se na primeira faixa de receita bruta anual, estava sujeita à carga tributária de 4%. Nessa situação, o aumento da receita bruta mensal para R$ 19.400 no 13º mês colocaria a empresa no limite da primeira faixa. A tri- butação no 14º mês, admitida a receita de R$ 19.400, seria de R$ 776 (4% x 19.400). Caso essa empresa tivesse tido um pouco mais de su- cesso e a receita bruta no 13º mês fosse de R$ 19.500, a empresa passaria a ser tributada na segunda faixa, com carga tributária de 5,47%. Nessa hipótese, o recolhimento no 14º mês passaria a R$ 1.066,65 (5,47% x 19.500). Ou seja, o aumento de receita bruta de R$ 100 im- plicaria pagar R$ 290,65 a mais em impostos.

GRÁFICO 1 TRIBUTAÇÃO DAS EMPRESAS NO SIMPLES NACIONAL, POR FAIXA DE RECEITA BRUTA

GRÁFICO 2 AUMENTO DE CARGA TRIBUTÁRIA ENTRE AS FAIXAS DE RECEITA BRUTA DO SIMPLES NACIONAL

Fonte: Lei Complementar nº 123/2006. Elaboração própria.

Obs.: Os serviços se referem ao Anexo III da Lei Complementar nº 123/2006.

Fonte: Lei Complementar nº 123/2006. Elaboração própria.

Obs.: Os serviços se referem ao Anexo III da Lei Complementar nº 123/2006.

FAIXA DE RECEITA BRUTA ANUAL

COMÉRCIO INDÚSTRIA SERVIÇOS 6% 0% 16% 10% 4% 8% 2% 20% 18% 12% 14%

CARGA TRIBUTÁRIA MÉDIA

2

1 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20

FAIXA DE RECEITA BRUTA ANUAL 15% 0% 35% 25% 10% 20% 5% 40% 30% A UMENT O D A CARGA TRIBUTÁRIA 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20

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ESTRUTURA EM PROGRESSÃO ARITMÉTICA DAS FAIXAS DE RECEITA BRUTA DO SIMPLES NACIONAL

Como mencionado anteriormente, as alíquo- tas do Simples Nacional estavam associadas a 20 faixas de receita bruta anual de amplitude igual a R$ 180 mil, de modo que o crescimen- to das faixas se dava segundo uma progressão aritmética.

Conforme evidenciado no Gráfico 3, essa es- trutura implicava que a taxa de crescimento necessária para a mudança de faixa de receita bruta anual, e de carga tributária, era decres- cente. Em outras palavras, quanto maior o faturamento da empresa, mais rápido ela iria mudar de faixa de receita bruta anual e ser ex- posta a aumentos da carga tributária.

Para passar da segunda para a terceira faixa, uma empresa que estivesse no limite inferior da segunda faixa precisaria aumentar sua re- ceita bruta anual em 100%, ou seja de R$ 180.000,01 para R$ 360.000,01. Se estivesse na vigésima faixa, um crescimento de 5,3% em sua receita bruta, ou seja, de R$ 3.420.000,01 para R$ 3.600.000,00 já acarretaria a saída do Simples Nacional.

RESSALTO NA PASSAGEM PARA O LUCRO PRESUMIDO (“MORTE SÚBITA”)

O Gráfico 4 apresenta estimativas evidencian- do que, além dos ressaltos entre as faixas de receita bruta anual das tabelas do Simples Nacional, tam- bém ocorria um ressalto significativo nos casos em que, ultrapassado o limite máximo de receita bruta anual para permanência no Simples Nacional (R$ 3,6 millhões), a empresa passasse para o regime tri- butário do Lucro Presumido. Esse significativo au- mento da carga tributária foi apelidado de “morte súbita”, embora não signifique, necessariamente, a inviabilização da empresa.

Vale notar que foram consideradas estimati- vas da carga tributária associada ao regime do Lucro Presumido, uma vez que esse cálcu- lo requer a assunção de um conjunto de pre- missas quanto à carga tributária dos diversos impostos, principalmente no que se refere ao Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) e ao Imposto Sobre Serviços (ISS).

SERVIÇOS INTELECTUAIS

No contexto da Lei Complementar no 123/2006, um conjunto de atividades classificadas como intelectuais de natureza técnica, científica, des- portiva, artística ou cultural estava sujeito às maiores alíquotas. A lógica subjacente é que esses serviços englobariam, em grande medida, empresas criadas por profissionais autônomos. Sem entrar no mérito dessa questão, uma necessidade de aprimoramento identificada, também atrelada ao objetivo de mitigar entra- ves ao crescimento das empresas, foi permitir que empresas que atuem nessas atividades, mas apresentem uma relação folha salarial/ receita bruta significativa possam se beneficiar de alíquotas mais favorecidas.

ESSE SIGNIFICATIVO

No documento 10 anos do Simples Nacional (páginas 73-76)

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