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Capítulo 5 – Apresentação e Discussão dos Resultados

5.1. Simulação Analítica

A utilização de um modelo analítico simples possibilitou estimar o aumento da temperatura no material devido exclusivamente ao calor gerado por efeito de Joule, sem considerar o calor gerado por atrito inerente ao processo. Este modelo baseia-se na Equação fundamental da calorimetria e tem por base as seguintes simplificações: 1) O aumento da temperatura devido ao efeito de Joule ocorre sob condições adiabáticas, ou seja, são desprezadas as perdas de calor com o meio envolvente; 2) O processo ocorre em regime estacionário; 3) a passagem para o material de toda a corrente elétrica 𝐼 [𝐴] que fui no circuito é feita apenas através do diâmetro do shoulder que corresponde, neste tipo de configuração de junta sobreposta, a um diâmetro equivalente do shoulder.

Tendo presentes estas três simplificações anteriormente descritas, considera-se que todo o calor gerado por efeito de Joule, é responsável pelo aumento da temperatura no volume que se encontra abaixo da área do shoulder. Como uma das simplificações é considerar que o volume ocupado pela passagem da corrente é feita num material homogéneo, e no caso do estudo apresentado nesta dissertação existem dois tipos de materiais com resistividades elétricas muito diferentes na zona por onde fluí a corrente, considera-se o diâmetro equivalente do shoulder, que corresponde ao diâmetro real do shoulder retirando-lhe a área que a fita de Ni-Ti ocupa neste volume.

A Equação 5.1 [64] exprime o aumento da temperatura no material apenas devido ao efeito de Joule provocado pela passagem de corrente elétrica.

∆𝑇 =

𝜋162 𝜌 .𝐶𝜌𝑒𝑝 1𝑣 31 𝑒𝑞

𝐼

2 (5.1)

sendo:

Parâmetros referentes ao material{𝜌𝑒− 𝑅𝑒𝑠𝑖𝑠𝑡𝑖𝑣𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑒𝑙é𝑡𝑟𝑖𝑐𝑎𝜌 − 𝐷𝑒𝑛𝑠𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝐶𝑃− 𝐶𝑎𝑙𝑜𝑟 𝐸𝑠𝑝𝑒𝑐í𝑓𝑖𝑐𝑜

; Parâmetro referente à SFL: 𝑣 - Velocidade de avanço da ferramenta;

Parâmetro geométrico da ferramenta: Øeq - Diâmetro equivalente do shoulder;

Parâmetro elétrico: 𝐼 - Intensidade de corrente elétrica.

Analisando a Equação 5.1, relativamente à geometria do shoulder, quanto menor for o seu diâmetro, maior será a temperatura alcançada no material. Outra conclusão retirada desta mesma Equação é o facto de o aumento da temperatura ser tanto maior quanto menor for a velocidade de avanço linear da ferramenta e maior a intensidade de corrente que atravessa o material.

Para a obtenção dos resultados foi necessário usar as propriedades da liga de alumínio da série 1100 e da fita de NiTi-N, tanto na fase Martensítica como na Austenítica, que se apresentam na Tabela 5.1.

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Tabela 5.1 - Propriedades da liga de alumínio da série 1100 e da fita de NiTi-N quando se encontra Austenítica ou Matensítica [14] [67]. Material ρ [Kg/m3] 𝝈 𝐞[%IACS] Cp [J/Kg.˚C] Tfusão [˚C] AA1100 2710 57 900 643 - 655 NiTi-N [Martensite] 6045 3,448 322 1310 NiTi-N [Austenite] 6045 1,703 322 1310

Os valores do diâmetro equivalente do shoulder e o intervalo de valores de intensidade de corrente utilizado para esta simulação, foram escolhidos de acordo com os que foram usados durante os ensaios experimentais nas diferentes amostras produzidas.

Nesta simulação teve-se em conta, à posteriori da Equação 5.1, a diminuição da condutividade elétrica (σe) com o aumento da temperatura, para o caso do alumínio, uma vez que teoricamente para

uma temperatura de 300˚C (aproximadamente a temperatura envolvida no processo convencional de SFL) a condutividade deste material cai para cerca de 25%IACS, aproximadamente metade do valor que apresenta à temperatura ambiente. Deste modo, no modelo considerou-se o dobro do valor da resistividade elétrica teórica. Outro fator multiplicativo que também foi tido em conta no modelo, relativamente à resistividade elétrica do alumínio, é a existência de quatro resistências de contacto, devido à configuração do material compósito entre: a ferramenta e a superfície do alumínio (resistência de contacto variável devido ao movimento rotacional da ferramenta); a chapa superior e a zona superior do reforço; a zona inferior do reforço e a chapa inferior; e a chapa inferior e a base de suporte. Portanto, tomou-se em consideração que o valor de cada resistência de contacto é igual à resistividade do material, ou seja, corresponde a quatro vezes o valor da resistividade elétrica do material à temperatura ambiente.

No Gráfico 5.1 apresentam-se os resultados da simulação analítica realizada, evidenciando o aumento da temperatura em função da corrente imposta para os diferentes materiais considerados e apresentados na Tabela 5.1. Neste Gráfico a velocidade e o diâmetro equivalente do shoulder foram considerados constantes, com 𝑣 = 71 𝑚𝑚/ min e Øeq = 15,11 mm.

Gráfico 5.1 - Curvas do aumento de temperatura em função da corrente para os materiais utilizados durante o processo de SFLACE.

41 No caso do AA1100, os resultados apresentados no Gráfico são muito baixos. Por exemplo, no caso de se impor uma corrente de 600A o incremento de temperatura no material, devido apenas ao calor gerado por efeito de joule, é cerca de 30˚C. E se considerarmos o máximo da corrente, 1000 A, o incremento de temperatura não é mais que 90ºC. Ora, estes resultados comparados com a experiencia sensorial que se foi ganhando no decorrer dos ensaios do processo de SFLACE, diz-nos que estes resultados estão um pouco desfasados da realidade, ou seja, durante os ensaios o circuito elétrico que é constituído praticamente por componentes de cobre (muito bom condutor elétrico), aquecia atingindo temperaturas da ordem dos 70 - 80ºC e portanto, sendo um circuito fechado, a temperatura do material não pode fugir muito a esta realidade. Assim sendo, é espectável que para uma corrente de 600 A o incremento de temperatura obtido para o AA1100 seja da ordem dos 50ºC.

Perante estes resultados, é de sublinhar que este modelo constituí uma aproximação muito simplista relativamente à realidade, isto porque há condições e fatores que não são tomados em conta, e por isso mesmo é normal que os valores simulados estejam um pouco abaixo do que se verifica experimentalmente. Pode-se, portanto, afirmar que este modelo apenas pretende ser uma aproximação grosseira à realidade, mas que mostra que os materiais em questão nunca vão atingir o ponto de fusão mesmo com o máximo de corrente aplicada.

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