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Secção II – Modelização do Regime Hidrológico: contribuição para a previsão dos níveis de cheia em

7. A modelação hidrológica: prever o futuro ?

7.3. Aplicação ao caso da Bacia do Rio Águeda

7.3.5. Simulação da cheia de 26 de Janeiro de 2001

7.3.5.1. Pressupostos iniciais

Os meses de Dezembro de 2000 e Janeiro de 2001 caracterizaram-se por fenómenos de precipitação intensa que provocaram diversos episódios de cheias um pouco por toda a bacia hidrográfica do Vouga e na sub-bacia do Águeda em particular. O exemplo atrás analisado, correspondendo a 05 de Janeiro de 2001, repetiu-se com mais intensidade no dia 26 de Janeiro de 2001.

Avaliação, previsão e prevenção do regime de cheias na Bacia do Vouga

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A precipitação ocorrida foi excepcional na região norte e centro do país. O valor diário registado na estação udométrica das Varzielas, entre as 00:00 e as 23:59 foi de 151.60 mm, o que ultrapassa o valor estimado para o período de retorno de 30 anos. Os valores horários encontram-se no gráfico abaixo (7.6) e pode ver-se que foi ultrapassado o valor estabelecido para o limite inferior do Alerta Amarelo de precipitação do Instituto de Meteorologia (10mm/1 hora).

Quanto a registos hidrométricos, foi possível obter informação (através da base de dados do INAG) sobre as estações de Ponte de Águeda, Ribeiro e Ponte Redonda (horas e alturas instantâneas). A estação de ponte de Águeda foi danificada pela cheia, sendo a altura máxima registada 6.62 às 19:50 (cota 11.37 m). Este facto, conjugado com o reduzido grau de confiança que merecem as curvas de vazão, a não disponibilidade de medições de caudal na altura do evento, e com a dificuldade de caracterizar evolução temporal, na sub-região em causa, do fenómeno meteorológico que originou a precipitação (através de um modelo meteorológico adequado) apontam-se desde já como os maiores causadores de incerteza nos resultados gerados pela modelação.

Gráfico 7.5- Registos de cota (a partir das alturas hidrométricas) em Águeda, cheia de 26/01/2001

Evolução da Cota em Ponte de Águeda 26/01/2001 6,00 6,50 7,00 7,50 8,00 8,50 9,00 9,50 10,00 10,50 11,00 11,50 12,00 9:05 10:00 10:55 11:55 12:45 13:45 14:35 15:35 16:35 17:35 18:30 19:20 20:10 21:00 Horas C o ta (m)

Gráfico7.6- Registos de precipitação na estação do Caramulo/Varzielas em 26/01/2001 Precipitação no Caramulo/Varzielas em 26/01/2001 0 2 4 6 8 10 12 14 1:00 4:00 7:00 10:00 13:00 16:00 19:00 22:00 Tempo (h) Pp (mm) Precipitação Nível de alerta IM

Da observação dos gráficos pode verificar-se que o período de mais intensa pluviosidade decorreu entre as 11:00 e as 17:00, atingindo um pico por volta das 14:00. A subida da cota acompanhou a pluviosidade, sendo que a partir das 14:00, foi notória a rapidez da resposta da bacia, com a subida da altura medida (e correspondente cota) a verificar-se a um ritmo muito intenso. Estas observações levam-nos a considerar que os tempos de resposta calculados em função da geometria e fisiografia da bacia (Fórmulas de Torazza e Giandotti) sofrem a interferência de outros factores, tal como já mencionado. Neste caso, acredita-se que o teor de humidade no solo e a intensidade e duração das chuvadas aceleraram a resposta do escoamento à precipitação.

7.3.5.2. Metodologia adoptada

Procurou efectuar–se a modelação da bacia hidrográfica utilizando os dados da cheia de 26 de Janeiro de 2001 para calibrar o modelo hidrológico. Para simplificar os cálculos, atendendo à complexidade da modelação e ao grau de incerteza relativamente aos dados de base, considerou-se apenas uma sub-secção, representada pela Estação Hidrométrica de Ponte de Águeda. Os valores de caudal foram estimados a

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partir das alturas hidrométricas instantâneas, através da curva de vazão. A precipitação utilizada foi a da Estação Udométrica do Caramulo/Varzielas. Para o cálculo, é necessário estabelecer determinados parâmetros, que fazem parte dos componentes necessários à modelação. O programa disponibiliza vários métodos para cada um desses parâmetros. A escolha da metodologia mais adequada constituiu uma dificuldade acrescida, uma vez que havia pouca experiência na matéria, sendo esta a primeira simulação. Assim optou-se por tentar um equilíbrio entre os métodos mais simples e os que se acreditou mais adequados à realidade da bacia, dentro das escolhas possíveis.

Condições iniciais :

− As perdas por absorção foram determinadas através da definição do numero de escoamento (metodologia do US Soil Conservation Service). Este número tem em conta características como o teor de humidade no solo (aqui considerado saturado), tipo de coberto, usos do território e teve em conta as características hidrológicas do solo na bacia do Vouga, obtidas através do Atlas do Ambiente (INAG, 2005).

− O tempo de concentração foi avaliado através das fórmulas de Giandotti e de Torazza, conforme atrás descrito.

− Os dados meteorológicos (precipitação) foram tratados através do método do hidrograma unitário do US Soil Conservation Service

− O modelo da bacia imaginado, muito simples, constituído apenas por uma secção e um posto udométrico, atendeu aos índices determinados atrás, partir das suas características fisiográficas e geométricas.

− A simulação precipitação escoamento foi feita a partir da série cronológica da precipitação obtida em Caramulo/Varzielas no dia 26/01/2006

Processo de Cálculo

Para executar um sequência (simulação a partir de um dado conjunto de informação), o primeiro passo consiste na criação de um projecto (nome e descrição breve). No caso presente, Projecto Águeda.

Em seguida, introduzem-se os dados correspondentes às séries cronológicas de precipitação e ao escoamento e cria-se, a partir das opções existentes, o hidrograma unitário a utilizar na simulação.

Posto isto, é necessário criar um modelo para a bacia e introduzir todos os elementos para a sua caracterização (forma, declive, estruturas hidráulicas, etc..) , criando uma rede hidrográfica e ligando todos os elementos. Neste caso, optou-se por apenas uma secção e um posto udométrico a montante desta: Ponte de Águeda e Varzielas, de modo a simplificar a rede, e também não se considerou a presença das barragens existentes Mais tarde, após a correcção dos resultados e um maior grau de certeza em relação à parametrização do modelo, será possível ir adicionando elementos até chegar a uma bacia mais complexa (e suas sub-bacias) e mais próxima da realidade.

Procede-se em seguida à escolha de um modelo meteorológico apropriado e à especificação das condições da simulação: data e hora de início e de fim e intervalos de tempo (horas, minutos) a simular. Finalmente, com um modelo de bacia, um modelo meteorológico e as especificações, é possível executar uma sequência.

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