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CAPÍTULO 2 – O LÍDER SINDICAL

2.2. O novo Sindicalismo

Entender o significado do chamado “novo sindicalismo” implica compreendê- lo além das condições dadas como o desenvolvimento urbano e industrial de uma região metropolitana bem como a acentuação do sistema de acumulação capitalista ou a situação econômica do chamado “milagre brasileiro” com suas conseqüências. Maria Hermínia T. Almeida (1975) já detectara que estas determinações estruturais por si só não explicam o que aconteceu com o sindicalismo brasileiro a partir da década de 70. 46 É preciso, portanto, entender a transição ocorrida na instituição sindical a partir de suas configurações anteriores, e como propõe Eder Sader (1995), tomando a atividade sindical enquanto matriz discursiva em crise decorrente de “um descolamento com seu público” que abre espaço para novas elaborações no sentido de reatar as relações com este público através de novas vias, novos discursos.

Para Eder Sader (1988, p. 143):

Os sujeitos não são livres para produzir seus discursos e nem podem inventar na hora seus sistemas de comunicação. Eles recorrem a matrizes discursivas constituídas e, em primeiro lugar, à matriz da própria cultura instituída, reproduzida através de uma pluralidade de agências sociais. Mas encontramos na sociedade agências que, embora participando da cultura instituída (condição para que haja comunicação social), expressam práticas de resistência e projetos de ruptura. Constituem novas formas de agenciamento social, que abrem espaço para a elaboração de experiências até então silenciadas ou interpretadas de outro modo.

É o que ocorre com o movimento sindical paulistano a partir de 1975, quando aparece como lugar novo de reelaboração de significados, de agenciamento, de interação com a realidade, de assimilação do cotidiano, apresentando como potencialidade tanto a consistência interna das suas lideranças quanto à abertura

46

 A autora define a nova corrente sindical como “algo próximo ao ‘sindicalismo de negócios’ norte- americano, de característica combativa, implantado na empresa, apolítico e preparado tecnicamente para enfrentar os problemas de seus representados. Tal definição não coaduna com o que aconteceu em São Bernardo. A contribuição desta autora é relevante muito mais ao conduzir nossa atenção para especificidades que vão além das condições estruturais dadas. Ver: “O Sindicato no Brasil: novos problemas, velhas estruturas”. De Maria Hermínia T. Almeida. In: Revista Debate e Crítica. São Paulo Ed. Hucitec. Julho, n.06. 1975.  

para a incorporação do novo, daquilo que era indizível e, portanto não havia categorias para isso. (SADER, 1988).

A emergência dessa transição deve-se ainda a decadência desta instituição enquanto representante das reivindicações operárias quando teve sua principal função, a demanda por dissídios coletivos para cada categoria que reivindicava melhores índices de reajuste salarial, completamente desarticulada pela Lei 4725 de 1969 que versa sobre a política salarial, imposta pelo regime militar. 47 Com tais repressões sobre a atividade sindical, esta foi se reduzindo ao simples exercício de funções assistencialistas.

Os Sindicatos do Estado de São Paulo não dispunham de aproximação ou espaço de diálogo com o governo desde sua instituição. Numa relação expressivamente hierarquizante, os dirigentes sindicais encaminhavam suas reivindicações, sob forma de documento, através da Federação dos Metalúrgicos do Estado de São Paulo ou pleiteavam uma audiência presidencial impossível de ser alcançada até 1970, quando depois de meses de negociações esta ocorre com o Presidente Médici e que ao seu término, pouco acrescentou a condição do operariado paulista. Esta situação permanece por anos diante a impotência e acomodação de dirigentes sindicais cientes das limitações impostas desde a criação da estrutura sindical no país 48. (SADER, 1988).

Contudo, em algumas categorias aconteceram conflitos fabris localizados pressionando os próprios sindicatos. Estudos apontam para dois tipos de reações das bases. 49 A primeira, operacionalizada pelos metalúrgicos de São Paulo, capital, na qual os trabalhadores se mobilizaram contra a acomodação dos dirigentes, e a outra aconteceu em São Bernardo onde os próprios diretores sindicais absorveram das bases suas inquietações e insatisfações e efetivaram uma “transformação de dentro” alterando a prática sindical. E é exatamente desta corrente sindical

47 A Lei determinava que os reajustes só poderiam se efetivar em intervalo maior que um ano e estes

seriam determinados com base no “salário real médio” dos 24 meses anteriores, com o acréscimo de uma taxa que corresponderia ao ‘aumento da produtividade nacional’ no ano anterior, sendo todos estes dados e cálculos fornecidos pelo governo. Ver em: “O sindicalismo no Brasil: novos problemas, velhas estruturas” de Maria Hermínia T. Almeida (1975). 

48 O aparato sindical do país foi criado no Estado Novo com limites restritos que permitia poucos

recursos dentro dos limites impostos. Ver em: “Sindicato e Estado” de A. Simões (1966). 

49  Ver em: “O sindicalismo no Brasil: novos problemas, velhas estruturas” de Maria Hermínia T.

Almeida (1975); e “O resgate da dignidade – Greve metalúrgica e subjetividade operária” de Laís Wendel Abramo (1999). 

renovadora que surge a fissura, ou como definiu Eder Sader (1988), “o projeto de ruptura” com a organização sindical vigente. Essa corrente minoritária constituiu o chamado “sindicalismo autêntico” ou “novo sindicalismo” e tinha como objetivo se recuperar enquanto entidade e assumir as lutas e reivindicações de seus representados.

À frente deste projeto de renovação estavam líderes e diretores do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André, sob a direção de Benedito Marcílio; do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco, tendo como presidente Henos Amorina; do Sindicato dos Metalúrgicos de Santos, um representante de militância comunista, Marcelo Gatto, posteriormente substituído por Arnaldo Gonçalves; do Sindicato dos Petroleiros em Paulínia, os diretores presididos por Jacó Bittar; e compondo este grupo, o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema, diretoria mais atuante, representada a princípio por Paulo Vidal e a partir de 1975, tendo como Presidente Luiz Inácio da Silva, da diretoria executiva desde 1972 e que deu continuidade a gestão de Paulo Vidal, mas direcionando as atividades para um trabalho de base de caráter mais combativo sempre absorvendo ou esvaziando a oposição. (SADER, 1988).

O trabalho destes dirigentes, todos situados em grandes indústrias modernas, concentrou esforços na difícil tarefa de coordenar movimentos advindos da base, de maneira a canalizar estas pressões e conflitos pelo interior do aparelho sindical, reelaborando inclusive as práticas e ideais da própria diretoria. A questão mais problemática enfrentada por este grupo era acatar as solicitações dos trabalhadores e manter a atuação do movimento dentro da legalidade sem perder a confiabilidade de seus representados. (SADER, 1988).

Embora os dirigentes do chamado “grupo dos autênticos” seja referência para este período de ruptura, foi na verdade no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema, onde a transição se processou de forma mais intensa, 50 e Luiz Inácio da Silva, o Lula, que tremeu ao ler seu primeiro discurso, que se alfabetizou aos 10 anos de idade e enfrentou todas as adversidades mencionadas alhures, que esteve a frente deste processo, num trabalho capaz de transformar esta entidade numa agência forte de organização e mobilização dos

trabalhadores em defesa de seus direitos numa época de transição política, mas na qual vigorava ainda a repressão do regime militar.

Um episódio emblemático do início deste processo de transição foi o I Congresso dos Trabalhadores das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de São Bernardo do Campo e Diadema, realizado mais especificamente de seis a oito de setembro de 1974, por ocasião dos últimos meses de gestão do diretor Paulo Vidal. O Congresso reuniu aproximadamente 250 trabalhadores e teve como finalidade a “formulação de orientações que correspondessem às especificidades da categoria” (SADER, 1988, p. 293). A partir de conferências, foram elucidadas as questões referentes à legislação trabalhista e as condições efetivas de trabalho dos diretores sindicais. Ao fim do congresso, os participantes deliberaram e aprovaram a “Declaração de São Bernardo do Campo”, documento que constituiu uma espécie de plataforma programática com os objetivos a serem assumidos pela prática sindical distinguindo o que seria o “novo sindicalismo”.

A “Declaração de São Bernardo” anunciava uma postura mais combativa perante a situação econômica das empresas multinacionais que aumentavam gradativamente suas produções e suas taxas de lucros “graças à alta produtividade do trabalho dos seus operários” que por sua vez, viviam em condições precárias de vida e de trabalho. Conforme Eder Sader (1988, p. 295), o documento evidenciava também a “vontade de romper as amarras que impediam a luta operária, sediada nas indústrias mais modernas de beneficiar-se de sua força específica para conquistar novos direitos”, confirmando como objetivo destes sindicalistas, a busca pela liberdade sindical. (SADER, 1988).

Em 1975 Lula assume como diretor geral do sindicato de São Bernardo, numa chapa sem oposição e num momento em que Paulo Vidal já encontrava resistência e oposição dentro da própria diretoria. É possível afirmar que o movimento desencadeado por este novo grupo de diretores foi marcado pelo enfrentamento às autoridades, mas este aconteceu, a princípio, de forma planejada por seus expoentes que tiveram a sensatez e a capacidade para descobrir lacunas e meios de atuação dentro da legalidade. A contraposição às autoridades de maneira mais efetiva e enérgica só veio acontecer depois de o movimento angariar forças junto às bases de forma organizada. A expressão a nível nacional do movimento aconteceu como resultado de um trabalho contínuo e de longo prazo, como veremos em detalhes mais adiante, mas já desde seu início anunciava o sentimento que regeria a

atuação daqueles dirigentes sindicais, como pode ser percebido no discurso de posse de Luiz Inácio da Silva:

De um lado vemos o homem esmagado pelo Estado, escravizado pela ideologia marxista, tolhido nos seus mais comezinhos ideais de liberdade [...] E no reverso da situação, encontramos o homem escravizado pelo poder econômico, explorado por outros homens, privados da dignidade que o trabalho proporciona, tangidos pela febre do lucro, jungidos ao ritmo louco da produção, condicionados por leis bonitas, mas inaplicáveis, equiparados às máquinas e ferramentas. [...] E nesta hora, quando é fácil e lucrativo tecer louvores à situação estabelecida, cientes de nossas limitações e da pouca ressonância da nossa voz, queremos proclamar em alto e bom som que as estruturas devem estar a serviço do homem. Que os donos do poder em todo o mundo estão querendo provar o acerto de suas teorias com o sacrifício e miséria, a submissão e a escravidão de milhões de criaturas humanas que constroem riquezas e não participam delas, que erguem palácios e moram em casebres, que constroem máquinas e motores sofisticados e andam a pé, que possibilitaram o progresso da ciência e o avanço tecnológico e morrem nas filas do INPS, que ergueram metrópoles e vivem em favelas. 51

É possível elencar neste discurso questões pontuais que caracterizam o movimento e o imaginário dos atores envolvidos. Primeiro, fica evidente o sentido de um compromisso de luta, da concepção do trabalhador como sujeito importante do processo de produção e merecedor deste espaço de luta por seus direitos, processo no qual o sindicato se apresenta como órgão responsável por defender os interesses dos trabalhadores. Em segundo lugar, verifica-se um deslocamento de significados, no qual o discurso de conciliação vai cedendo lugar ao de contestação. Em terceiro lugar e não menos importante, verifica-se a relação com o cotidiano dos trabalhadores, de maneira que os fatos e a situação individual destes sujeitos compõem os “lugares-comuns” capazes de instituir a classe. Característica que vai de encontro à descrição de Emir Sader (1987, p. 13) sobre os movimentos populares urbanos naquela época, que “têm tornado manifesta uma identidade que se caracteriza a partir da construção coletiva de uma noção de direitos, que,

51 O discurso de posse fora redigido pelo advogado do sindicato, Maurício Soares de Almeida.

relacionada diretamente com a ampliação do espaço de cidadania, dá lugar ao reconhecimento público das carências.” 52

Em outros trechos de seu discurso de posse, Lula anuncia como prioridades, um “amplo e coordenado trabalho de base”; a criação de cursos de capacitação sindical e debates com especialistas sobre os “grandes problemas que afetam a classe”. 53 É ele quem relata também as primeiras modificações no discurso dos diretores sindicais, quando a noção de um sindicato com funções assistenciais passa a ser substituída pela idéia clara de uma entidade centrada na função básica de representante dos interesses diretos dos trabalhadores:

Em 1975, quando eu tava no sindicato, parou com esse negócio de assistência médica e colônia de férias. Nós dizíamos: “olha, entra no sindicato porque isto aqui é um órgão de defesa dos interesses dos trabalhadores. Sabe, tem que entrar aqui como um guerreiro, não como um cara que vai usufruir a assistência médica, ou alguma coisa que o sindicato oferece. (PARANÁ, 2002, p. 99).

É importante pontuar, contudo, que os benefícios assistenciais insistentemente proclamados até então, se fez, sobretudo na pretensão de atrair novos sindicalizados (DANTAS JR., 1981). Mesmo assim, a partir da “Declaração de São Bernardo”, os serviços assistenciais são revistos em detrimento dos novos objetivos assumidos. 54

Uma vez estabelecida as bases para uma nova prática sindical esta entidade precisou dispor de uma capacidade de agenciamento, uma vez que vigorava a desmobilização dos trabalhadores e a descrença na instituição como órgão representante de seus interesses dado o histórico do sindicalismo brasileiro. Sader (1988, p. 278) destaca que a imagem do sindicato para alguns operários estava relacionada ao prédio, ao edifício, à sede sindical, tendo os dirigentes como

52 Sobre os estudos a respeito dos movimentos sociais urbanos, ver em: “Movimentos sociais na

transição democrática” de Emir Sader (1987). 

53 Ver na íntegra o discurso de posse do sindicato de São Bernardo nos anexos desta tese. 

54 Os espaços destinados as ações de caráter assistencialista como o posto de abastecimento foi

substituído por uma escola profissional, enquanto o departamento jurídico foi ampliado e reforçado com a contratação de mais 3 advogados, sendo um deles, o Almir Pazzianoto, designado exclusivamente como assessor para as convenções e questões de dissídios coletivos. Ver em: “O resgate da dignidade (a greve de 1978 em São Bernardo), dissertação de mestrado, USP, de Lais Abramo (1986). 

“burocratas de escritórios”; para outros, aqueles com menor grau de instrução e conhecimento, sindicalismo significava comunismo; havia ainda os que consideravam uma atividade inútil; enquanto a grande maioria percebia na instituição uma postura de submissão ao Estado, vendo seus dirigentes como “traidores da própria classe”.

Desta forma foi necessário um trabalho intenso para sua recuperação enquanto entidade vazia em detrimento de um descolamento com seu público. Para isto foi necessário reelaborar a identidade do sindicato e conscientizar o trabalhador de sua responsabilidade e participação direta nas ações e decisões sindicais.

De acordo com a vasta bibliografia existente e registros documentais 55, é possível elencar as principais medidas favoráveis à mobilização da categoria, sendo estas: a) a forma de comunicação sindical com a produção e distribuição regular de boletins informativos como o jornal Tribuna Metalúrgica e com as modificações na linguagem e formato dos textos deste periódico quando necessário; b) o trabalho de porta de fábrica com as investidas para aumentar o número de sindicalizados; c) as assembléias constantes como forma de trazer o trabalhador para o sindicato e para o cerne da discussão; d) a postura combativa nas negociações judiciais e nas campanhas de reposição salarial; e porque não, e) a projeção de uma liderança forte simbolicamente representada na pessoa de Lula, que ao longo de sua atuação, foi reconhecido carismaticamente pela categoria.

2.2.1. A Comunicação Sindical

O trabalho desta diretoria acenou no sentido de envolver os trabalhadores metalúrgicos de forma efetiva na luta por seus próprios direitos. Neste sentido, dentre as medidas adotadas, é inquestionável a importância e eficácia da comunicação sindical da época. Por vezes repensada tanto em seu conteúdo quanto na forma de abordagem ao seu público, a imprensa sindical mostrou versatilidade e potencial criativo, inegáveis e cruciais a sua conservação perante a falta de liberdade de expressão imposta pelo regime militar.

55 (ALMEIDA, 1975); (FENELON (org.), 1980); (DANTAS JR., 1981); (BETTO, 1989); (BARBEIRO,

1989); (SADER, 1988); (PARANÁ, 2002); (DÍAZ, 2004); (TAPAJÓS, 1982); (HIRSZMAN, 1992); (SALES, 2004); (COUTINHO, 2004). 

Os boletins informativos entregues esporadicamente nas portas das fábricas foram substituídos pelo jornal “Tribuna Metalúrgica” 56, de circulação mensal, com a finalidade de atrair a atenção e angariar a mobilização dos operários. Na edição de número dois, por exemplo, o leitor é instigado, a partir de seu próprio pensamento, a elaborar o ‘tipo ideal’ de sindicato, bem como o perfil do trabalhador sindicalizado:

Como você se sente diante do seu sindicato? Está satisfeito? Acha que seu sindicato não presta? Ou você é daqueles que dizem que a firma lhe dá tudo que precisa [...] a você que está satisfeito, nós perguntamos: satisfeito com o quê? Você é daqueles que ficou sócio por causa da assistência médica, dentária, por causa da farmácia e do posto de abastecimento? Ou você tem cumprido seu dever, promovendo a união da classe e participando da luta? A você que vive dizendo que o sindicato não presta, nós perguntamos: E você presta? No dia em que todos os trabalhadores prestarem o sindicato vai prestar também, porque o sindicato não é apenas o prédio ou sua diretoria, mas a união de todos para defesa de nossos interesses.

Percebe-se, neste caso, uma transferência de responsabilidades, ou melhor, a idéia de emergência de uma co-participação entre o aparelho sindical e seus representados. Para Lula, “só tinha sentido fazer sindicalismo passando um pouco mais de responsabilidade para a classe trabalhadora” 57. A mobilização do operariado só seria possível a partir de sua conscientização. Para isto, o trabalho se fez intenso no intuito de angariar cada vez mais sindicalizados. O jornal do sindicato trazia informações sobre os benefícios e serviços oferecidos pelo sindicato, publicava resultados de embates judiciais, textos informativos sobre a legislação trabalhista, sobre os direitos dos trabalhadores bem como prestações de conta das ações da diretoria.

Contudo, quando se tratava de questões como a política salarial vigente e a conduta das autoridades políticas, o discurso da Tribuna em suas primeiras publicações era conduzido pela diplomacia e respeito às leis estabelecidas, com

56 A Tribuna Metalúrgica surge em julho de 1971, durante a direção sindical de Paulo Vidal, com o

objetivo de “dialogar com os trabalhadores”, seu primeiro redator foi o jornalista Antônio Carlos Félix Nunes que produziu o periódico durante 11 anos. Outros nomes importantes compõem a história deste informativo, que tem mais de 70 anos de atuação. Porém vale ressaltar o trabalho de Antônio Carlos pelo período de atuação de maior efervescência e inferência nas formas de comunicação entre a instituição sindical e seu público. 

57 Depoimento de Lula à Lais Wendel Abramo (1987). Ver: ABRAMO, Laís Wendel. O resgate da

apelos de caráter solícito, como pode ser percebido no primeiro exemplar do periódico:

Está na Lei que os sindicatos são órgãos de colaboração com o Governo. Na verdade, nenhuma entidade sindical de trabalhadores tem fugido ao reconhecimento desse conceito, ao desenvolver suas atividades visando a defesa dos interesses da categoria profissional que representa. A bem dizer, tal disposição legal é cumprida ao pé da letra pelos sindicatos de trabalhadores. Quem a descumpre, quase sempre, é o próprio Governo, ao emitir leis e regulamentos sem consulta aos trabalhadores, sem aceitar sugestões e, numa palavra, sem admitir a colaboração dos Sindicatos prevista pela própria Lei; lei que as autoridades, zelosamente, invocam para fazer valer suas determinações. [...]. Não somos contrários às leis e decretos, mas desejaríamos que eles não fossem o que aí está. Por isso, sempre defendemos, a título de colaboração com o Governo, uma série de medidas para modificar essas leis e decretos injustos.

Para Laís Abramo (1986) este tipo de colocação está associada a idéia de dignidade que por sua vez se constituiria enquanto noção de merecimento por parte dos trabalhadores, merecimento este referente aos serviços prestados ao avanço econômico do país e das grandes empresas. Mas em sua análise sobre a Tribuna Metalúrgica, a autora destaca a evolução do discurso sindical no sentido de uma ruptura e afirma que apesar do periódico não contestar diretamente a legitimidade do governo, essa condição de conciliação e solicitude vai diminuindo ao longo dos anos. É exatamente neste período de transformação dos conteúdos da comunicação sindical que surgem novas estratégias discursivas.

Ora, a Tribuna Metalúrgica destinava-se a um público, em sua maioria, sem o

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