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4 ESPAÇOS LIVRES DO BAIRRO BURITIS 107 4.1 PARQUE MUNICIPAL AGGEO PIO SOBRINHO

3.3 MEIO ANTRÓPICO

3.3.3 Sinopse histórica: parques urbanos

Na Europa, os parques surgiram da urgência social de atender às necessidades das massas urbanas da metrópole do século XIX, na era industrial. Segundo Magnoli (2006, p. 201),

4 “Health is a state of complete physical, mental and social well-being and not merely the absence of disease or

em 1789, em Munique, foram propostos parques para recreação pública. A Coroa Britânica, em 1898, implantou o St. James Park e o Regent’s Park especificamente para a utilização da população.

Na América do Norte, em Nova York, em 1858, Frederick Law Olmsted e Calvert Vaux, vencem o concurso para projetar o primeiro grande parque público ajardinado da América, o Central Park. Juntamente com outros reformadores socialmente conscientes, eles entendem que a criação de um grande parque público iria melhorar a saúde pública e contribuir grandemente para a formação de uma sociedade civil. Imediatamente, o sucesso do Central Park promoveu o movimento parque urbano, um dos grandes marcos da democracia da América do século XIX (CENTRAL PARK CONSERVANCY, 2015).

Já no Brasil, eles eram cópias dos padrões anglo-franceses, criados pelas elites emergentes que controlavam a nova nação. Entre os séculos XVI ao XVIII, nem mesmo Salvador e Rio de Janeiro, primeira e segunda capitais, respectivamente, não passavam de aglomerações pouco expressivas, simples entrepostos Portugal-Colônia. Nenhuma delas tinha o porte das cidades europeias (rede urbana expressiva, população ou área). A partir de 1796, deu início no Brasil a criação dos Jardins Botânicos, centros de pesquisa da flora tropical para propiciar bases de intercâmbio de plantas úteis à economia portuguesa. Alguns desapareceram no século XIX com a diminuição do interesse pela pesquisa enquanto outros se transformaram em parques, às vezes com função mista (MACEDO; SAKATA, 2002).

No século XIX houve maior estruturação do Brasil, especialmente após a vinda da família real portuguesa em 1808. E o Rio de Janeiro, como capital em 1822, passa pelas transformações urbanas mais rápidas, recebendo seus três primeiros parques:

 Passeio Público (Figura 29), 1783: É o mais antigo parque público do Brasil, marco do início do tratamento paisagístico em áreas públicas. Foi projetado pelo mestre Valentim da Fonseca e Silva com traçado geométrico, inspirado no desenho do jardim clássico francês e construído em área alagadiça.

 Campo de Santana, 1873: Primeiro parque público do Segundo Império, foi cenário de importantes festas oficiais no Império e da Proclamação da República. Projetado por Auguste François Marie Glaziou, segundo padrão de projeto anglo- francês com teor romântico, como os parques e jardins modernos de Paris.  Jardim Botânico, 1808: criado como Jardim da Aclimação por Dom João VI para

cultivo de especiarias trazidas das Índias Orientais. Nele houve a fusão das duas vertentes projetuais da época: mistura o traçado romântico com os grandes eixos

clássicos como a alameda das palmeiras imperiais, sua maior referência espacial (MACEDO; SAKATA, 2002).

Figura 29 - O Passeio Público, por Alfredo Martinet, 1847

Fonte: Segawa (1996).

No século XVIII há a importação de modelos em voga no exterior. A primeira atitude é a civilizatória com a planificação de um espaço público que contém a natureza controlada e ordenada a partir da racionalidade do homem. Outra atitude é o Cientificismo, ou seja, o desejo de catalogar espécies, conhecer o que rodeia (SEGAWA, 1996).

Os primeiros parques públicos eram grandes e destinados ao lazer contemplativo. Prevalecia naquela época, a cópia dos padrões anglo-franceses, os espaços públicos, a arquitetura, a música, a moda, o teatro, a literatura e as instituições públicas. A nova aristocracia, trajada com vestuário à francesa e imitando os hábitos parisienses, utilizava os parques para a flânerie, caminhando suavemente num cenário concebido como uma “Arcádia tropicalizada”, numa paisagem alheia à realidade do entorno. As plantas nativas eram misturadas a outras europeias, asiáticas e africanas nesse cenário. O final século XIX e o início século XX são um marco de consolidação da nova fase de urbanização, sendo as velhas estruturas coloniais alteradas para dar origem a prédios e ruas adequados a novos padrões de produção, vida e cultura (MACEDO; SAKATA, 2002).

O parque ricamente elaborado e decorado torna-se um elemento urbano comum. Ele é um grande cenário, modernidade importada, alheio às necessidades sociais da época. São referências desse período: a beira-mar carioca, no Rio de Janeiro; o sistema boulevard de parques para São Paulo (Parque Dom Pedro II e Parque Anhangabaú, ambos projetados segundo a escola anglo-francesa de paisagismo, Parque Siqueira Campos ou Trianon, um dos poucos exemplares que incorporou a mata nativa como elemento cênico na reforma em 1918); em Belém, o Parque Municipal (1903), projetado por Paul Villon, durante o ciclo da borracha, com influência clássica e geométrica do início do século, Parque do Museu Emílio Goeldi e Parque Rodrigues Alves (MACEDO; SAKATA, 2002).

Segundo Macedo e Sakata (2002), no Brasil, o século XX foi marcado pelo crescimento urbano intenso, num processo em contínua expansão. Mas até na primeira metade do século, as cidades expandiram-se, de modo não contínuo, sempre dotadas de vazios urbanos. A população, por sua vez, usufruía de outros espaços, como terreiros e várzeas. Os parques eram vistos como desnecessários enquanto equipamentos para o lazer imediato e cotidiano da população. As riquezas naturais (águas, matas, praias, várzeas, fundos de vale, rios e riachos) ofereciam inúmeras possibilidades para o lazer popular. Dessa forma, os vazios urbanos foram os antecessores das áreas de lazer urbano formais. Já na segunda metade do século XX, com a evolução das cidades, o valor dos parques urbanos cresceu à medida que diminuiu a disponibilidade dos vazios urbanos. A estrutura morfológica dos parques desse período é simplificada. São abandonados os objetos pitorescos e a composição romântica. A vegetação nativa ainda existente nas áreas em urbanização é reaproveitada como elemento da composição da paisagem. Surgem parques que privilegiam o caminhar lento e restrito por entre trilhas de antigos bosques.