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CAPÍTULO III – EDUCAÇÃO NA SAÚDE: UNIVERSIDADE ABERTA DO

3.1 SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) FORMAÇÃO DOS TRABALHADORES DA

O Sistema Único de Saúde – SUS foi criado pela Constituição Federal de 1988, a qual em seu Art. 198 explicita que os serviços e ações públicas serão geridos uma rede regional e hierarquizada, organizada num sistema único a partir da descentralização, atendimento integral preventivo e assistencial, contando com a participação da comunidade. As diretrizes sobre o SUS também tratam de questões de financiamento, fiscalização, avaliação e contratação de funcionários, delimitando o que é da alçada de cada nível de poder dentre os entes federados. Define também as regras que concernem aos serviços de saúde prestados pela inciativa privada e no Artigo 200 estabelece as competências gerais básicas desse sistema de saúde estatal:

I - controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substâncias de interesse para a saúde e participar da produção de medicamentos, equipamentos, imunobiológicos, hemoderivados e outros insumos; II - executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como as de saúde do trabalhador;

III - ordenar a formação de recursos humanos na área de saúde;

IV - participar da formulação da política e da execução das ações de saneamento básico;

V - incrementar em sua área de atuação o desenvolvimento científico e tecnológico;

VI - fiscalizar e inspecionar alimentos, compreendido o controle de seu teor nutricional, bem como bebidas e águas para consumo humano; VII - participar do controle e fiscalização da produção, transporte, guarda e utilização de substâncias e produtos psicoativos, tóxicos e radioativos; VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho (BRASIL, 1988).

A formação de recursos humanos para a saúde esteve em pauta na Constituição de 1988, nas leis 8.080/90 e 8.142/90 e nas Conferências Nacionais de Saúde com ênfase após a 9ª CNS. De acordo com Carvalho, Santos e Campos (2013) a primeira versão da Norma Operacional Básica de Recursos Humanos para o SUS (NOB/RH-SUS) foi elaborada em 1998 e a segunda foi publicada em 2000. Contudo, no início da sua implantação a demanda e a regulamentação de parte dos profissionais do SUS não estavam organizadas, como no caso dos cargos de auxiliar e técnico de saneamento, agentes da vigilância sanitária e de saúde (BRAVO, 2006).

No entanto, desde a criação da Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES) pelo Ministério da Saúde em 2003, instituíram-se diretrizes nacionais para a área de recursos humanos, com estratégias indutoras de investimentos técnicos, políticos e financeiros. A criação desse órgão se baseou nos resultados de uma pesquisa sobre a capacidade gestora de Recursos Humanos para Saúde em Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde de grandes centros urbanos e a capilaridade das políticas setoriais de gestão do trabalho e da educação na saúde. A partir desse momento foram apontados limites, acúmulos e possibilidades para apoiar as esferas subnacionais no Brasil, além de modelos que pudessem ser apropriados por países vizinhos do continente e da comunidade de língua portuguesa (PIERANTONI; VARELLA; SANTOS; FRANÇA; GARCIA, 2008).

A formação dos profissionais nos cursos de saúde no país nesse período tendeu para o modelo centrado no atendimento individual, curativo, especializado e hospitalocêntrico e é esse mesmo trabalhador que vai ser admitido para trabalhar no SUS. Assim, para romper o modelo seria necessário interferir na formação universitária e técnica e na educação permanente do trabalhador do SUS.

Desde a institucionalização do Sistema Único de Saúde (SUS), a partir da Constituição Federal de 1988, a questão do trabalho e da formação tem sido realçada como fundamental, e é a que vem sofrendo o maior processo de desregulamentação dentro da política de reforma do Estado no país [...] várias foram as iniciativas de regulamentar uma política de

formação e desenvolvimento dos trabalhadores da saúde, o que sempre foi determinado pelos momentos institucionais do país (SARRETA, 2009, p. 153).

Para tanto, o Conselho Nacional de Educação aprovou as Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Graduação, que influíram diretamente nos cursos da área da saúde, com o objetivo de substituir os Currículos Mínimos e reformular os cursos de formação superior de graduação, ao estabelecer estratégias para implantar processos de supervisão, avaliação, credenciamento e recredenciamento de instituições e cursos. Houve mudança nas disciplinas obrigatórias, agora voltadas para habilidades e competências, o caráter informativo dos cursos passa a ser substituído pelo formativo, com a perspectiva da educação continuada. As Diretrizes passam a ter um caráter geral, com o intuito de que cada instituição possa elaborar seu próprio projeto pedagógico. Outro ponto de destaque do documento é a atenção ao Art. 43 da LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que determina o estudo das questões nacionais e regionais, no sentido de estimular a prestação de serviços especializados à população (BRASIL, 2008).

A aproximação com os princípios do SUS estão contemplados nas Diretrizes Curriculares dos cursos da área de saúde, quando se estabelece uma conexão, considerada necessária, entre a formação e o sistema de saúde pública. Estas Diretrizes reforçam o aprendizado como um processo permanente que o estudante deve levar para além da academia, na sua atividade profissional.

Contudo, é preciso considerar que a educação em saúde não escapa da tendência da educação, onde de uma maneira geral, existe uma preocupação com o mundo do trabalho, de tal forma que não é possível conceber um profissional público e um privado, mas sim, um profissional da saúde. As novas tecnologias permitiram ampliar vagas acadêmicas inclusive para o campo da saúde, que em muitos casos utilizou o Ensino a Distância (EaD) como ferramenta. As questões da qualidade e do preconceito a essa modalidade de ensino vieram à tona, mas os cursos EaD se consolidaram. No Brasil, a implantação do modelo neoliberal intensificado a partir dos anos 1990 coincide com a implantação do SUS, mas os princípios são opostos, já que o modelo neoliberal prioriza a um papel menor do estado e maior de empresas privadas e o SUS preconiza o atendimento público universal a saúde. Por outro lado, ambos proclamam a descentralização (ANDERSON, 1995). Dessa forma, a área da saúde fica submetida:

[...] à lógica orçamentária, a política social à política econômica, em especial às dotações orçamentárias e, no Brasil, subverte o preceito constitucional. [...] ao invés do direito constitucional impor e orientar a distribuição das verbas orçamentárias, o dever legal passa a ser submetido à disponibilidade de recursos (IAMAMOTO, 2006, p. 188).

A partir daqui trataremos dos programas de educação permanente do SUS, com ênfase no período após a criação da SGTES – Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde responsável pela implantação do objeto específico dessa pesquisa a Universidade Aberta do SUS (UNA-SUS). Abordaremos também breve revisão bibliográfica sobre educação permanente tanto para a área da educação em si como na concepção do SUS.

3.2 AÇÕES E PROGRAMAS DO SUS EM EDUCAÇÃO PARA OS RECURSOS