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CAPÍTULO 2 GRAMÁTICA SISTÊMICO-FUNCIONAL

2.4.2 Sistema de MODO

A linguagem se realiza também em elementos que viabilizam a interação. Esses elementos pertencem ao sistema de Modo, isto é, os componentes da oração que desempenham a metafunção interpessoal (FUZER; CABRAL, 2010).

Dessa forma, o sistema de MODO está vinculado à natureza das operações que são geridas no diálogo. Halliday e Matthiessen (2014) explicam a existência de dois papéis de interação que podem cruzar com dois valores. Para tanto, nos papéis da interação, o enunciador pode dar ou solicitar valores que podem estar relacionados à informações ou bens e serviços.

Nesse sentido, a negociação de informações se dá por meio de proposições; declaração quando no papel de dar uma informação, pergunta quando no papel de solicitar uma informação. Já a negociação de bens e serviços se dá por meio de propostas; oferta, quando no papel de dar um bem/serviço, comando, quando no papel de solicitar um bem/serviço.

A execução desses papéis e trocas de valores são cumpridas por três modos oracionais, a saber: declarativos, interrogativos e imperativos (HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2014). Conforme Fuzer e Cabral (2010), as orações declarativas podem ser do tipo exclamativas ou não-exclamativas; já as interrogativas podem requerer uma posição de aceitação ou rejeição do interlocutor, bem como essas orações podem solicitar uma informação específica; por fim, as orações imperativas são aquelas em que o processo verbal imprime uma relação de ordem sobre o interlocutor.

As orações de Modo declarativo realizam as declarações. As orações de Modo interrogativo podem realizar tanto perguntas quanto ofertas. As orações no Modo imperativo, por sua vez, realizam os comandos. A síntese da relação entre os papéis desempenhados na interação, os respectivos valores que podem ser negociados, sua forma de manifestação, bem como, o modo oracional é apresentada na Figura 3.

Figura 3: Síntese da relação entre papel, valor, forma de negociação e modo oracional

Fonte: Elaboração com base em Halliday e Matthiessen (2014)

Observando a oração como troca em sua composição linguística, é possível notar a presença de dois elementos fundamentais conforme Halliday e Matthiessen: Modo e Resíduo. O resíduo pode ser composto por um predicador, adjunto ou complemento. Sendo que o primeiro tem por função delimitar o tempo secundário do processo e os segundo e terceiro têm função de complementar o sentido da oração (FUZER; CABRAL, 2010).

O Modo, por sua vez, é composto por dois elementos: o Sujeito e o Finito. A título de ilustração, pode-se observar essa disposição aplicada à estrutura do fragmento um, conforme apresentado pelo quadro três:

Quadro 3: Composição de Modo e Resíduo na oração do fragmento um

[Nós] chegamos às ruinas de um governo

Sujeito Finito [Presente do

indicativo]

Complemento

Modo Resíduo

Fonte: elaboração própria

Na oração, o Sujeito será a instância que ganha responsabilidade sobre a proposição ou proposta, isto é, responsável pelo funcionamento da oração enquanto evento interativo (HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2014)

Segundo Halliday e Matthiessen (2014) o princípio da responsabilidade é mais facilmente verificável na negociação por meio de ofertas e comandos, nas quais se tende a especificar o endereçamento ao sujeito que assumirá a proposta. No caso da negociação de informações em declarações, o sujeito também é responsabilizado, mas desta vez, pela validade da proposição (HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2014).

O Finito estabelece a finitude temporal e modal da oração. Como explicam Halliday e Matthiessen (2014) uma forma de se colocar uma proposição em diálogo é marcá-la no aqui e

no agora do discurso, seja pela referência temporal, seja pela referência de julgamento autoral que se realiza. Tal referência temporal é marcada gramaticalmente pelo tempo primário, enquanto a referência de julgamento autoral é marcada pela modalidade (HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2014).

O tempo primário da oração equivale ao passado, presente ou futuro em relação ao momento do discurso (HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2014). Esse componente pode ser realizado por um operador verbal, como é o caso do operador vai, na expressão: vai acontecer; ou pode estar integrado ao processo como em: acontecerá. Esse segundo caso é possível verificar no fragmento um, apresentado no quadro três, em que o finito que determina o tempo presente não é propriamente o processo chegar, mas a desinência verbal integrada ao processo. Já a modalidade opera em relação a outro sistema denominado polaridade. O sistema de polaridade refere-se à oscilação entre os polos positivo ou negativo pelos quais as proposições ou propostas podem transitar. No entremeio do referido sistema há o sistema de modalidade, que correspondem a níveis intermediários de julgamento que podem estar mais próximos ou mais distantes de um polo ou de outro.

Para tanto, as modalidades se dividem em dois tipos: modalização, que realiza a troca de informações, em termos de usualidade e obrigatoriedade; e modulação, que realiza a troca de bens e serviços, em termos de obrigação e inclinação (HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2014).

Partindo da proximidade ao polo positivo à proximidade ao polo negativo, a modalização, em termos de probabilidade, pode passar pelo que é certo, provável ou possível; bem como, em termos de usualidade, pode passar pelo que acontece sempre, usualmente ou às vezes. Com o mesmo vetor, a modulação, em termos de obrigação, pode variar entre o que é necessário, aceitável ou permitido, tal como, em termos de inclinação, pode passar pelo que é determinado, desejoso ou inclinado (HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2014; FUZER; CABRAL, 2010).

A Figura 4 apresenta a seguir a síntese do sistema de modalidade operando em relação ao sistema de polaridade:

Figura 4: Representação do sistema de polaridade e modalidade

Fonte: Elaboração com base em Halliday e Matthiessen (2014) e Fuzer e Cabral (2010).

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