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1. O QUILOMBO E AS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O DESENVOLVIMENTO

1.2 Políticas públicas para as comunidades quilombolas

1.2.2 O Sistema de monitoramento e o Programa Brasil Quilombola

O Sistema de Monitoramento de Políticas de Promoção da Igualdade Racial- SMPPIR é uma ferramenta construída pela SEPPIR em parceria com a Fundação Ford, o Programa das Nações Unida (PNUD), o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), Fundação Cultural Palmares (FCP).

Em um primeiro momento o sistema tem a função de agrupar dados oriundos do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome (MDS), Ministério do

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Desenvolvimento Agrário (MDA), Fundação Cultural Palmares (FCP), Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA).

Os órgãos fornecem informações para alimentação do sistema, no qual permite o monitoramento e a disponibilidade das informações para a alimentação do banco de dados, considerando sempre os eixos temáticos e as variáveis detalhadas.

O Sistema de Monitoramento parte da premissa de que só é possível monitorar as entregas do governo por meio de uma integração das bases de dados Federais e Estaduais relacionados a populaçãp quilombola, com a criação de Identificadores Únicos para cada comunidade e para cada Território11.

Segue um exemplo de extração resumida de variáveis do banco de dados do sistema: “As comunidades são identificadas por meio do ID (Identificador), a partir da definição de ID, realizada pela SEPPIR em conjunto a FCP e ao INCRA”. No qual foi possível agregar as comunidades autodeclaradas do CadÚnico em um mesmo ID, é importante a identificação com o CadÚnico é a partir deste esforço, que será possível retirar de forma ágil e automatizada os dados consistentes da base do CadÚnico das comunidades cujos habitantes se auto-declararam pertencente a um seguimento de povos e comunidades tradicionais ou a população quilombola.

Os avanços e desafios ao longo dos 13 anos de execução do PBQ revela que é importante criar outras interfaces, portanto parcerias e estratégias de atuação são consideradas no sentido de consolidar informações qualificadas para que o público quilombola seja visível mediante a implementação das políticas.

Dizer onde estão e como estão os quilombolas é desafiador ao sistema, que além de subsidiar a elaboração de novas políticas, tem também, a expertise de quando e como foi atendida a população quilombola desse País. Neste sentido, o Estado adota ao longo desses anos estratégias de atuação nas comunidades, no qual a dimensão da vulnerabilidade e a situação de extrema pobreza, onde 70% são beneficiários do Programa Bolsa Família.(PBF)

Até novembro de 2015 o CadÚnico identificou 121.881 mil famílias quilombolas, das quais 69%, estão localizadas na região nordeste e 12% na região norte, onde há maior concentração de comunidades quilombolas identificadas. (MDS, 2015).

Através da Busca Ativa, no âmbito do CadÚnico é possível identificar em 2015 o aumento de 28% de quilombolas inscritos, que possibilita o acesso a outros programas do Governo Federal, mencionados na tabela 2:

11 Território é todo aquele perímetro de área oficializado, seja pelo INCRA (a partir do RTID) ou

pela titulação dos institutos de terra estaduais ou, ainda titulado pela FCP até 2003. Hoje são 262 territórios com perímetro de área, que contemplam 446 comunidades quilombolas.

43 Tabela 2: Programas e ações em implementação

PROGRAMA/AÇÃO ÓRGÃO

Programa de Habitação e Vias de Acesso MC

Água Para Todos MDS

Saneamento Básico FUNASA

Luz para Todos MME

Selo Quilombos do Brasil SEPPIR/MDA

Emissão da Declaração de Aptidão ao PRONAF MDA

Programa de Aquisição de Alimentos- PAA MDA/CONAB

Programa de Cisterna MDS

Programa Nacional de Alimentação Escolar FNDE/MEC Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da

Atenção Básica (PMAQ) MS

Programa Mais Médico MS

Regularização Fundiária INCRA/MDA

Certificação FCP/MINC

Fonte: Elaborado pela autora a partir do Guia de Políticas para comunidades quilombolas.

Dentre outros programas que desenvolvem ações com o recorte da transversalidade para o atendimento das comunidades quilombolas, é inegável que há necessidade do aprimoramento das políticas Públicas, no qual desafia a criação de estratégias de atuação que venha fortalecer o PBQ no sentido de garantir os direitos e promover a cidadania.

Diante disso, é possível apontar como política agregadora para o desenvolvimento social e econômico das comunidades quilombolas um conjunto de ações intergovernamentais que dialogam para além do acesso, mas que viabilize a apropriação das comunidades sobre o uso sustentável do seu território.

Assim, a orientação para a atuação é incrementar a luta pela garantia do direito a terra e pela viabilização de projetos de desenvolvimento sustentável das comunidades, considerando como fundamental: a preservação dos costumes, da cultura e da tradição entre gerações das populações quilombolas; apropriação da política pública que levem em consideração a organização pré-existente das comunidades de quilombo, tais como o uso comum da terra e dos recursos naturais, sua história e cultura em harmonia com o meio ambiente; o zelo pela garantia dos direitos das crianças e adolescentes como continuadores da cultura e da tradição quilombolas; o enfrentamento de toda e qualquer discriminação racial e de gênero, de qualquer forma de intolerância religiosa e de violência contras as mulheres. (RIBEIRO, 2014, p: 277 -278).

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É nessa perspectiva, que o conjunto de ações do programa se compromete a dialogar, que de certo contribui de forma significativa para o aprimoramento e a interlocução das comunidades com o Estado, no qual permite a construção d estratégias de atuação conjunta no combate à pobreza e no acesso aos direitos constituídos.

Sem duvidas, há avanços nas políticas públicas direcionadas para esse público, mas ainda há grande resistência do Estado em trabalhar a flexibilidade do acesso a essas comunidades, que em sua maioria estão sujeitas à tutela institucional.

Diante disso, Melo (2010) afirma que, mesmo com a ampliação das ações destinadas paras as comunidades quilombolas, há um risco de se formar guetos, na medida em que as políticas estruturantes fazem parte do projeto de Desenvolvimento Nacional e podem se eximir de considerar e contemplar tais populações, que vão se estruturadas a partir da identificação e do seu auto reconhecimento.

Na nossa compreensão, a própria estrutura do Estado brasileiro tem sido em grande medida impermeável às comunidades quilombolas. Apesar do enfoque das políticas nas comunidades negra rurais, o que representa um avanço, não houve flexibilização dos procedimentos de implementação de ações governamentais, as quais não podem ser cumpridas por populações historicamente alijada do curso dos processos nacionais. (MELO, 2010, p: 84).

À medida que busca relacionar as dificuldades de execução das políticas públicas, tende haver um desentendimento e incoerência na implementação das ações a partir da política pública construída e estruturada para o público quilombola, no qual a apropriação das comunidades estão relacionadas ao direito constituído.

Entende-se o desafio posto ao PBQ, no sentido do aprimoramento entre as ações pensadas e articuladas no qual o conhecimento tradicional associado ao processo de inclusão dessa população.

Ao analisar a articulação das políticas de desenvolvimento e inclusão social das comunidades quilombolas aponta-se no programa, metas e diretrizes criadas para o combate a pobreza que se correlacionam com infinitas ações de inclusão social e sustentabilidade dos povos que secularmente se mantém e defendem seus territórios.

Diante disso, nos desafiamos a refletir a partir do PBQ, as relações possíveis de políticas participativas envolvendo a atividade do turismo como uma ação de inclusão social, para além da questão econômica, essa relação pode vir a ser um instrumento que possibilita a comunidade pensar a partir do acesso às políticas públicas e à sustentabilidade social e econômica do território.

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2. O LUGAR DO TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO CONCEITO E NOS