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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 1 DIAGNÓSTICO

4.3. RESULTADOS DO CHECK LIST

4.5.1 Sistema fixo de gases

O uso do sistema fixo de gases, embora não seja frequente no Brasil, se comparado aos demais existentes, pode ser uma opção de combate de incêndio viável para edificações com acervos de grande valor e importância. Por não ser corrosivo, e não conduzir eletricidade, é apropriado para locais que contam com materiais elétricos e tecnológicos, atuando nos incêndios de classe A, B e C. Por ser um gás, o ambiente permanece limpo após a sua inserção, permitindo, logo após a ventilação do ambiente, uma rápida retomada das atividades no local. O mesmo não ocorre com os agentes de extinção, como a água ou o pó químico, que deixam vestígios e ainda podem degradar os acervos e os ornamentos (SEITO, 2008). Contudo, sabe-se que o custo, nesse sistema, é mais elevado em relação aos citados.

Muitos estados, em suas instruções normativas, abordam e consideram o sistema fixo de gases, recomendado pela instrução técnica IT 40 (CBPMSP, 2011) para aplicações em museus e em edificações históricas. Esse sistema é composto por vasos de pressão (cilindros),

195 tubulação, difusores de gás, detectores de incêndio e de alarme. Na presença de um foco de incêndio, este é captado pelo detector que envia um recado à base de controle. O alarme é acionado para que as pessoas sejam retiradas do local, enquanto os gases são liberados, saindo dos vasos de pressão, passando pela tubulação, até chegar aos difusores de gás. Na Figura 92, segue o esquema de funcionamento do sistema.

Figura 92: Sistema fixo de extinção por agente gasoso

Fonte: (SILVA, 2010).

A elaboração adequada de um projeto para o sistema fixo de gases parte do conhecimento e do entendimento do ambiente em questão, que deve apropriar-se da “[...] catalogação dos combustíveis presentes, do potencial de inflamabilidade, da arquitetura do ambiente e das atividades ali exercidas” (SILVA, 2014). No projeto são calculados ou previstos a quantidade de carga necessária para extinção, o número e a distribuição dos difusores, o diâmetro das tubulações e o tempo máximo de descarga do gás. Com vistas à segurança das pessoas, o tempo mínimo de espera para a liberação do gás também é proposto, permitindo a saída das pessoas antes do contato com o mesmo.

Os agentes gasosos de uso permitido para novos projetos são divididos em duas classes: o dióxido de carbono (CO2) e os agentes

limpos.

a) O dióxido de carbono, popularmente conhecido pelo seu uso em cargas de extintores portáteis, também é utilizado nos sistemas fixos

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de gases, sendo este um dos primeiros gases a serem empregados. Ele tem, como mecanismo de ação, o abafamento pela retirada do comburente (oxigênio) do ambiente. Na ausência de um dos quatro elementos essenciais para a combustão, esta não ocorre. Efetivamente, um ambiente com volumes de, no máximo, 12 a 10% de oxigênio, não consegue desenvolver o processo de combustão, que é o propósito do gás (SILVA, 2014).

O sistema é indicado para locais com grande quantidade de material combustível sólido (como madeiras, papéis, etc.), com risco elétrico e com a presença de produtos inflamáveis. Para o cálculo de sua concentração mínima, consideram-se os materiais combustíveis presentes no local.

b) Agentes limpos – na busca por alternativas substitutas para os gases halogênicos, proibidos nos novos projetos pelos danos causados ao meio ambiente, foram desenvolvidos estudos e pesquisas que chegaram à proposição dos agentes limpos. Estes apresentam como compromisso a não destruição da camada de ozônio, sendo divididos em dois grupos: gases inertes e gases ativos.

Os agentes limpos inertes são compostos por nitrogênio e argônio, conhecidos comercialmente pelo nome de Argone, Argonite e Inegen. Atuam de forma semelhante ao dióxido de carbono, por abafamento, necessitando, assim, reduzir o oxigênio do ambiente e uma grande concentração de gás. Já os agentes limpos ativos agem de forma semelhante aos gases halogênicos, interrompendo a reação em cadeia e retirando a energia térmica no processo de combustão. Como não necessitam eliminar o oxigênio do ambiente, suas concentrações são reduzidas, mas ainda maiores que os gases halogênicos. Integram o grupo o Fluoroketone e o Hepta-fluor-propano, conhecidos no comércio por NOVEC1230 e FM-200 (SEITO, 2008), respectivamente.

Ao se analisar as duas classes do sistema fixo de gases, percebe- se que o dióxido de carbono, apesar de ter um custo menor em relação aos outros, geralmente visto com bons olhos pelos administradores e órgãos públicos, requer grandes concentrações para ser eficiente, assim como o gás inerte. Dependendo da área, demanda um grande número de cilindros e, consequentemente, um espaço proporcional para esse armazenamento, além de um maior tempo de descarga. No caso das edificações históricas, o custo financeiro entre os diferentes gases não pode ser um fator relevante na escolha, já que a proteção e a preservação do patrimônio devem estar acima de todo o restante.

197 Abaixo, na Figura 93 um comparativo entre o espaço ocupado pelos cilindros de diferentes tipos de gases.

Figura 93: Sistema fixo de extinção por agente gasoso

Fonte: (SILVA, 2010).

Na prática, a recomendação feita pela IT40 – Edificações históricas, museus e instituições culturais com acervos museológicos (CBPMSP, 2011) – deve ser observada com atenção, já que a inserção do sistema fixo de gases para as edificações históricas pode intervir de forma agressiva no patrimônio, seja no armazenamento dos cilindros, seja nas tubulações ou instalação dos equipamentos.

Além disso, para a eficiência do sistema, é necessário o confinamento da área para que o gás não se disperse e o ambiente seja inundado pelo mesmo. Segundo a IN 16, “[...] ambientes que não tenham atmosfera controlada deverão possuir dispositivos para o fechamento automático das portas, janelas, dumpers, etc., para garantir a saturação do compartimento inundado” (CBMSC, 2014, p. 5). Essa configuração nem sempre reflete a realidade das edificações históricas brasileiras, sendo que acréscimos como esquadria ou mecanismos de vedação, geralmente não são viáveis.

Todavia, salienta-se que a recomendação feita pela IT 40 pode ser bastante válida e relevante para aquelas instituições novas ou existentes que não apresentam restrições quanto às alterações físicas.

Uma preocupação com o uso do sistema fixo de gases, principalmente aqueles que agem por abafamento, relaciona-se à segurança da população, especialmente quando há um grande número de pessoas concentradas (como na igreja), ou então, um caminho longo a ser percorrido até a saída.

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Isso porque, após um determinado tempo, o gás é liberado no ambiente, e concentrações inferiores a 18% de oxigênio não são adequadas à permanência das pessoas, pois níveis abaixo de 12% podem levar à asfixia (SILVA, 2014). Como forma de precaução e de segurança, o projeto deve contar com uma sinalização informativa, alarmes e um tempo mínimo para o início da descarga, calculado em função do tempo de saída da população.

Um dos aspectos que também deveriam ser observados na escolha do sistema de extinção de incêndio é a sua contribuição ou não para a preservação do meio ambiente. Hoje, mesmo que os gases halogênicos sejam usados com restrição e sua emissão tenha praticamente cessado, seus efeitos de destruição à camada de ozônio ainda permanecem, tendo uma longa vida na atmosfera.

No ano de 2015, a United Nations Environment Programme (UNEP) realizou uma síntese do relatório de 2014 do Protocolo de Montreal. Nele, relata-se a estabilização do ozônio estratosférico; a perspectiva da camada de ozônio ser recuperada até 2050/2060; e de seus impactos na saúde (câncer, catarata, etc.), que deverão permanecer por mais 20 anos após essa recuperação. Tal resultado comprova os benefícios contínuos do Protocolo de Montreal. Contudo, o documento alerta sobre o efeito de gases como os hidroclorofluorcarbonos (HCFC) e os hidrofluorcarbonetos (HFC), que agravam o aquecimento global e o efeito estufa, sendo este último usado como substituto dos clorofluorcarbonetos (CFC) e dos HCFC (UNEP, 2015).

Gases ativos utilizados na extinção de incêndio também podem apresentar elevado potencial de aquecimento global (GWP), parâmetro que mede o impacto de um gás de efeito estufa no aquecimento global por meio de um comparativo com o dióxido de carbono e a capacidade destes reterem calor na atmosfera. Diante dessa informação e do alerta apresentado pela UNEP sobre o ponto de vista ambiental, esperam-se novas pesquisas e o desenvolvimento de sistemas de gases ainda menos nocivos ao meio ambiente. Com isso, há a tendência de os primeiros gases, com o passar do tempo, serem substituídos diante de alternativas mais benéficas aos seres humanos e à natureza.

Cabe ressaltar que, dos gases ativos, um deles se difere e se destaca dos demais por ter um baixo GWP e tempo reduzido na atmosfera, sem deixar de contar com os benefícios que esse grupo apresenta. O gás FK-5-1-12 (conhecido comercialmente por Novec 1230), no momento, exclusivo de uma única empresa, poderá ser, futuramente, uma das alternativas para a resolução dessa questão, assim

199 como os gases inertes que apresentam também GWP próximos ou iguais a zero, mas que têm a desvantagem de ocupar maior espaço físico com o armazenamento dos cilindros (SILVA, 2010).

O sistema de gases fixos, apesar de se mostrar um excelente agente extintor para as edificações em geral, não seria um equipamento recomendável e viável para a maioria das construções históricas, como o museu e a igreja. O sistema implicaria na instalação de toda uma rede de tubulações, acomodação de detectores e difusores, além de um espaço para o armazenamento dos cilindros. Ações que provocariam alterações arquitetônicas.

O armazenamento desses gases em equipamentos portáteis seria uma opção, mas inferior ao sistema fixo, já que o acionamento não seria automático, e sim, dependente da ação humana. Para edificações que permanecem fechadas no período noturno e não apresentam vigilantes brigadistas, essa solução não seria a mais adequada.

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