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Sistema geral das proibições

No documento Cláusulas contratuais gerais (páginas 73-75)

4. Génese do instituto das cláusulas abusivas

4.3. Sistema geral das proibições

De acordo com António Menezes Cordeiro “Os abusos que tal estado de coisas

potência são evidentes. Os particulares que se limitem a aderir às cláusulas têm, logo à partida, uma escassa liberdade para o fazer. As cláusulas contratuais gerais ocorrem, com frequência, em espaços de monopólios ou de oligopólios, difundindo-se, mesmo fora delas, a áreas generalizadas. De seguida, eles conhecem mal – ou não conhecem de todo – as cláusulas a que aderem.”234

Logo, o sistema legal das cláusulas proibidas vem-se traduzir num princípio geral de controlo, que se observa no art. 15º e 16 da LCCG, e no catálogo de cláusulas proibidas, que se encontram no art. 17º a 22º da LCCG.

O princípio geral de controlo das cláusulas proibidas assenta na boa-fé, como também na ponderação dos valores fundamentais do direito, relativamente à situação a considerar, segundo o art. 16º da LCCG.235

Seria impossível controlar as cláusulas proibidas, baseado apenas em normas gerais, daí ter surgido o catálogo de cláusulas proibidas, que enuncia as cláusulas abusivas e vedadas, de forma a concretizar melhor esta proteção jurídica e fatual.

O art. 15º da LCCG contém o princípio geral sobre as cláusulas contratuais gerais proibidas, sendo completado com a contrariedade da boa-fé, art. 16º da LCCG, sendo estas distinguidas em absolutamente ou relativamente proibidas.

A boa-fé vem se colocar no centro da valoração do conteúdo das cláusulas contratuais gerais, distinguindo-se em boa-fé objetiva e a subjetiva.236

Oliveira Ascensão237 enuncia que “A boa-fé subjetiva representaria de qualquer modo

um estado de espírito: seja de dimensão psicológica, na boa-fé psicológica, seja de dimensão valorativa, na boa-fé ética, em que se pergunta se o agente conhecia ou deveria conhecer.

234 CORDEIRO, António Menezes – Manual de direito comercial. I Volume, Almedina, 2001, p. 396 e 397. 235 “Firma-se a boa-fé como princípio geral orientador das cláusulas contratuais gerais. Consagrada

amplamente pela nossa lei civil básica, a boa-fé assume um sentido duplo: ora significa a consciência ou convicção justificada do sujeito de ter um comportamento conforme o direito – a boa-fé subjetiva – ora, traduz uma regra de conduta – a boa-fé objetiva. Podem indicar-se, com apoio do código Civil, respetivamente, os exemplos paradigmáticos a boa-fé possessória (art. 1260º, n.º1) e da boa-fé no cumprimento das obrigações (art. 762º, n.2).” COSTA, Mário Júlio de Almeida; Cordeiro, António Menezes - Cláusulas contratuais gerais. Anotação ao Decreto-Lei n.º 446/85, de 25 de Outubro. Coimbra, Almedina, 1986, p. 38 e 39.

236 De acordo com, ASCENSÃO, J. Oliveira - Cláusulas contratuais gerais, cláusulas abusivas e boa-fé. Revista da Ordem dos Advogados, Ano 60, II, Lisboa, 2000, p.587.

237 “A valoração das cláusulas contratuais gerais nada tem que ver com uma boa-fé subjetiva. Concorda-se por

isso que só pode estar em causa uma boa-fé objetiva.” ASCENSÃO, J. Oliveira - Cláusulas contratuais gerais, cláusulas abusivas e boa-fé. Revista da Ordem dos Advogados, Ano 60, II, Lisboa, 2000, p.587.

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(…) A boa-fé objetiva é uma boa-fé normativa. Traduz-se em normas de conduta, quer permitindo formulá-las para além de previsões legais ou cláusulas contratuais, quer condenando tipos de exercício, como os comportamentos contraditórios, que violem uma noção objetiva de boa-fé.”238

Com as cláusulas proibidas não se quer condenar o exercício de direito, mas sim a validade da cláusula em si, independente de qualquer exercício.

Decidiu-se que a cláusula da boa-fé, que é explanada ao longo do presente estudo, é a cláusula geral que vem amparar o controlo das cláusulas contratuais gerais.

Portanto, a boa-fé tornou-se o critério base da proibição, quando o mesmo se encontra contrariado, ou seja, quando exista um desrespeito à exigência de boa-fé, um desequilíbrio significativo e um desrespeito a esta exigência, que venha assim permitir determinar que a cláusula é abusiva.239

A concretização do critério geral da boa-fé encontra-se tipificada através do art. 16º da LCCG, através de dois vetores: a confiança, que se baseia na ponderação da confiança suscitada nas partes pelas cláusulas contratuais gerais, no âmbito do processo de formação do contrato; e o tipo de contrato utilizado, que consiste no objetivo das partes no contexto negocial.240

“A concretização da boa-fé, também qualificada de preenchimento com valorações,

realiza-se em cada caso. Ao “operador jurídico” fica uma margem lata de decisão, que não deve, contudo, ser entendida como arbítrio: a decisão segundo a boa-fé surge no termo de um processo de realização do direito, dotado de justificação e suscetível de controlo.”241

As tarefas de concretização da boa-fé são flexíveis, no entanto, não se deve ultrapassar o limite de precisão, que é indispensável para a tomada de decisões.

O limite provém da remissão de valores fundamentais do direito, que são relevantes para a tomada de decisão em casos concretos, logo, a decisão deve obedecer aos ditames do dogma jurídico, não havendo hipótese ao arbítrio.

Assim, “…uma cláusula será contrária à boa-fé se a confiança depositada pela

contraparte contratual naquele que a predispôs for defraudada em virtude de, da análise

238 ASCENSÃO, J. Oliveira - Cláusulas contratuais gerais, cláusulas abusivas e boa-fé. Revista da Ordem dos Advogados, Ano 60, II, Lisboa, 2000, p.582.

239 Segundo, ASCENSÃO, J. Oliveira - Cláusulas contratuais gerais, cláusulas abusivas e boa-fé. Revista da Ordem dos Advogados, Ano 60, II, Lisboa, 2000, p.589.

240 Indo de encontro com, ASCENSÃO, J. Oliveira - Cláusulas contratuais gerais, cláusulas abusivas e boa-fé. Revista da Ordem dos Advogados, Ano 60, II, Lisboa, 2000, p.590 e 591.

241 COSTA, Mário Júlio de Almeida; Cordeiro, António Menezes - Cláusulas contratuais gerais. Anotação ao

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comparativa dos interesses de ambos os contraentes, resultar para o predisponente uma vantagem injustificável.”242

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