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Sistema límbico e emoções

No documento irmanevestallmannsaar (páginas 48-51)

4.1 RESPOSTA ORGÂNICA AO ESTRESSE

4.1.1 Sistema límbico e emoções

O sistema límbico foi descrito por James Papez em 1937. O circuito de Papez consiste do hipocampo, do fórnice, dos corpos mamilares, do núcleo anterior do tálamo e do giro do cíngulo. Posteriormente, seus limites expandiram-se, englobando a amígdala, o septo, o cérebro basal anterior, o nucleus accumbens e o córtex orbitofrontal. Esse esquema responde pelo processamento emocional, embora ainda sejam desconhecidas as ações de cada um dos componentes e mesmo se um dado surto de impulsos neurais atinge toda a via. O hipocampo, localizado na área basal do lobo temporal, é a formação límbica mais bem estudada, funcionando como área de associação, por manter ligações com o córtex, tálamo e hipotálamo e como área funcional, pela multiplicidade de afetos e sensações que para aí são direcionadas, tais como as gustativas, olfativas, viscerais, sexuais, visuais e auditivas (Sadock & Sadock; 2007, Mello Filho, 2002).

A amígdala cerebral, estrutura localizada nas porções anteriores dos lobos temporais, é uma região importante para a compreensão dos processos emocionais. Ela regula o funcionamento do hipotálamo em conexões bidirecionais, integra os estímulos internos e externos, influindo sobre o comportamento humano em relação ao meio, avalia situações de perigo e aciona os mecanismos de luta ou fuga (Sadock & Sadock, 2007, Mello Filho, 2002; Pinheiro, 1992).

Segundo Guyton e Hall (2006), a amígdala recebe sinais neuronais de todas as regiões do córtex límbico e, especialmente, das áreas associativas visuais e auditivas. Em sentido oposto, também transmite sinais de volta para essas mesmas áreas corticais, para o hipocampo, para o septo, para o tálamo, e, sobretudo, para o hipotálamo. Por fazer inúmeras conexões, a amígdala é considerada “a janela” por meio da qual o sistema límbico vê o lugar da pessoa no mundo.

A estimulação da amígdala, tendo por mediador o hipotálamo, causa os seguintes efeitos no organismo: a) aumento ou diminuição da pressão arterial; b) aumento ou diminuição da frequência cardíaca; c) aumento ou diminuição da motilidade e da secreção gastrintestinal; d) defecação e micção; e) dilatação pupilar, raramente constrição; f) piloereção e g) secreção de diversos hormônios da hipófise anterior, em especial, de gonadotropinas e corticotropina (Guyton & Hall, 2006).

Outros efeitos, também mediados pelo hipotálamo na estimulação da amígdala, podem produzir diversos tipos de movimentos involuntários. Esses movimentos incluem movimentos

tônicos, tais como de elevação da cabeça ou curvatura do corpo; movimentos em círculo; ocasionalmente, movimentos clônicos rítmicos; e diferentes tipos de movimentos associados à olfação e à ingestão de alimento, como os de lamber, mastigar e engolir (Guyton & Hall, 2006).

A excitação de outras regiões amigdalianas pode produzir atividades sexuais que incluem ereção, movimentos copulatórios, ejaculação, ovulação, atividade uterina e parto prematuro (Guyton & Hall, 2006).

Notadamente, a estimulação de determinados núcleos amigdalianos pode provocar padrões de raiva, de fuga, de punição ou de medo, semelhante ao produzido pela estimulação hipotalâmica. E a estimulação de outros núcleos pode provocar reações de recompensa e de prazer (Guyton & Hall, 2006).

Sadock e Sadock (2007) também relacionaram a amígdala com as vivências emocionais:

A informação dos sentidos primários é entretecida com os instintos internos, como a fome e a sede, para dar significado emocional às experiências sensoriais. Esta estrutura [a amígdala] pode intermediar respostas de medo aprendido, como na ansiedade e no pânico, e pode direcionar a expressão de certas emoções, ao produzir um afeto particular (p. 103).

A amígdala, bem como outras estruturas do Sistema Nervoso Central, ao se relacionar com as emoções estabelece profundas e intrincadas conexões no desempenho de suas funções, como demonstraram Sadock e Sadock (2007):

Dados neuroanatômicos sugerem que a amígdala exerce uma influência poderosa sobre o córtex, ao estimular ou suprimir a atividade cortical, maior do que a que o córtex exerce sobre ela. Vias das estações retransmissoras do tálamo enviam separadamente dados sensoriais para a amígdala e para o córtex, mas o efeito subsequente da amígdala sobre o córtex é a mais potente das duas conexões recíprocas. Em contraste, tem sido relatado que lesões da amígdala fazem a ablação da capacidade de se distinguir medo de raiva nas vozes e nas expressões faciais de outros indivíduos. Pessoas com tais lesões podem ter preservada a capacidade de reconhecer felicidade, tristeza ou desgosto (p. 103).

Considerando que as emoções se derivam de instintos e necessidades básicas, tais como alimentação, sexo, reprodução, prazer, dor, medo e agressão, compartilhadas por todos os seres humanos e também pelos animais, Sadock e Sadock (2007) afirmaram que:

As bases neuroanatômicas desses instintos parecem estar centradas no sistema límbico. Emoções distintivamente humanas, como a afeição, o orgulho, a culpa, a piedade, a inveja, e o ressentimento, são amplamente apreendidas e com mais probabilidade representadas no córtex. A regulação dos instintos parece necessitar do córtex frontal intacto. A inter-relação complexa entre as emoções, contudo, está muito além da compreeensão dos neuroanatomistas funcionais (p. 102).

Particularmente evocada nas situações de medo, a amígdala centraliza, recebe e distribui os estímulos que provocarão as reações de defesa frente a essa emoção. Portanto, pensamentos e sentimentos, entre eles o medo, são capazes de desencadear diversos processos, conforme afirmou Pinheiro (1992):

Assim, aquilo que a (sic) nível dos sentimentos é medo, raiva, dor, tristeza, alegria... no corpo, correlatamente, se expressa: (i) por modificações do tônus muscular liso através de espasmos ou relaxamento dos músculos; (ii) no sistema glandular, através do aumento ou diminuição na secreção de hormônios; e (iii) no sistema circulatório através do aumento ou diminuição da irrigação sanguínea. Isto ocorre mediado e regulado pelo sistema límbico. E assim tem-se medo, raiva, dor, tristeza, alegria... e correlatamente, diarreia, prisão de ventre, dispineia (“respiração pesada”), taquicardia, empachamento, náuseas, azia e muitos outros sintomas (p. 63).

Guyton e Hall (2006) ressaltaram que a amígdala aparenta ser a área de conhecimento comportamental atuando no estado semiconsciente, projetando para o sistema límbico o estado atual do indivíduo, tanto relacionado a seu ambiente quanto a seus pensamentos, e ajudando a organizar a resposta comportamental mais adequada a cada situação.

Portanto, “o sistema límbico parece sediar as áreas de associação emocional, que dirigem o hipotálamo para expressar os componentes motores e endócrinos do estado emocional” (Sadock & Sadock, 2007, p. 103), relacionando-se também com o sistema imunológico. Destacar-se-á, neste estudo, a via de ligação entre os sistemas neurológico,

endocrinológico e imunológico, por estar também envolvida diretamente no circuito das emoções.

No documento irmanevestallmannsaar (páginas 48-51)