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Capítulo 4 ATERRAMENTO DE REDES

4.2 Tipos de Aterramento para Sistemas de Média Tensão da

4.2.1 Sistema Não Aterrado ou com Neutro Isolado

São sistemas que operam sem uma conexão intencional entre os condutores do sistema e a terra [34]. Porém, em todo sistema prático, existe uma conexão através da capacitância de acoplamento, que é distribuída ao longo do sistema. Considerando-se que existem capacitâncias de cada fase para a terra, bem como das fases entre si, um sistema isolado pode ser representado pela Figura 16.

Figura 16 - Sistema com Neutro Isolado.

A maior influência no comportamento do sistema é exercida pelas capacitâncias das fases em relação à terra. Se as fases forem perfeitamente transpostas, as tensões fase-terra para as três fases têm valores iguais e deslocadas entre si de 120°. Consequentemente, não existe diferença de potencial entre o ponto neutro do transformador da subestação alimentadora e o ponto neutro das capacitâncias do sistema. Desde que o neutro das capacitâncias esteja no potencial de terra, o ponto neutro do transformador também está no potencial de terra. Se, no entanto, uma das fases for colocada em contato com a terra, ocorre um deslocamento das outras duas fases em relação a ela, ocasionando, nestas fases, tensões iguais ou maiores que as tensões fase-fase, como mostrado na Figura 17. Nestes casos, o nível da corrente de falha é muito baixo, logo os danos aos equipamentos são mínimos; e não é necessariamente essencial que a área afetada seja isolada rapidamente. Esta é uma vantagem deste sistema, que às vezes é utilizado em plantas industriais, onde uma continuidade elevada do serviço é muito importante, pois pode minimizar interrupções nos caros processos de produção.

Figura 17 - Deslocamento da tensão para uma falha fase-terra em um sistema isolado.

É possível visualizar as correntes para terra nas condições de operação normal e de contingência na Figura 18. Pode-se observar que a corrente no ponto de defeito é soma das correntes Ib + Ic , sendo que essas correntes sofrem um

acréscimo de √3.

Duas vantagens principais são atribuídas aos sistemas isolados:

- A primeira é operacional, pois a primeira falta à terra em um sistema faz com que flua somente uma corrente pequena à terra, devido as capacitâncias, assim o sistema pode ser operado com a presença desta falta à terra, o que melhora sua continuidade.

- O segundo é econômico, pois nenhuma despesa é requerida com aterramento dos equipamentos ou condutores de aterramento do sistema. Entretanto, os sistemas isolados são sujeitos as sobretensões transitórias elevadas, destrutivas e, conseqüentemente, apresentam sempre perigo ao equipamento e ao pessoal. Assim, geralmente não são recomendados.

Para estes sistemas os dois fatores principais que limitam a magnitude da corrente de falta à terra são a resistência de falta e a capacitância fase-terra de seqüência-zero. Uma vez que o triângulo de tensões não é, relativamente, afetado, esses sistemas podem permanecer operacionais durante faltas sustentadas de baixa magnitude.

É importante citar que apesar deste sistema apresentar a possibilidade de operar mesmo na presença de uma falta à terra, ele pode ocasionar a evolução do defeitos, devido a ocorrência de sobretensão nas outras fases. Quando se adota este tipo de aterramento visando a operação sustentada com uma falta à terra, deve- se redimensionar toda a isolação e equipamentos da rede, tais como isoladores, pára-raios, transformador,etc.

A auto-extinção de faltas à terra nas linhas aéreas não aterradas é possível para valores baixos da corrente de falta à terra. Para magnitudes maiores da corrente de falta, as faltas têm uma menor probabilidade de se auto-extinguirem na passagem pelo zero natural da corrente de falta devido à interação entre os valores de ionização do meio e a tensão transitória de restabelecimento. Posteriormente, é discutido como um sistema com aterramento ressonante amortece a elevação da tensão de restabelecimento, aumentando, dessa forma, a probabilidade de provocar a auto-extinção da falta à terra.

A corrente que flui através do ponto de falta para uma falta à terra é devida as capacitâncias distribuídas do sistema, que em condições normais de operação se equilibram e se anulam. Já quando há um defeito para à terra, há a criação de um novo caminho para as correntes que são agora desequilibradas e circulam pelo ponto de falta. A magnitude dessas correntes influencia diretamente a capacidade de auto-extinção da corrente de defeito. A capacitância do sistema depende de diversos fatores, sendo os mais preponderantes o nível de tensão do sistema e o comprimento dos ramais. Deste modo, a corrente capacitiva pode alcançar altas magnitudes, sendo praticamente impossível sua extinção. Mesmo para baixos níveis de correntes, a extinção dos arcos de correntes não é fácil, pois devido a característica predominantemente capacitiva da corrente no momento de sua passagem pelo zero, que é o momento em que normalmente os arcos se extinguem, a tensão se encontra em seu maior valor (pico da tensão). Assim o arco tende a re- iniciar, como é possível ver na Figura 19.

Figura 19 – Re-ignição do Arco Voltaico.

Esse fenômeno é agravado no caso de faltas intermitentes, ou seja, onde há a extinção e re-ignição da corrente de arco. Devido às características capacitivas da corrente, a cada meio ciclo, no pico da tensão o arco re-inicia. Tal fenômeno pode gerar tensões transitórias de altas magnitudes, pois esse efeito é semelhante ao que ocorre em chaveamento de capacitores, podendo ocorrer uma multiplicação da

tensão devido à incapacidade do sistema em descarregar sua tensão através das capacitâncias. As Figura 20 e Figura 21 mostram esse fenômeno.

Figura 20 – Decaimento da Tensão nas Capacitâncias do Sistema.

Figura 21 – Fenômeno de Sobretensões Transitórias em Faltas Intermitentes

Figura 22 – Múltiplas Reignições do Arco.

Um ponto a salientar, é que na ocorrência de uma fase entrar em contato com a terra, a corrente para terra no ponto de contato não é expressiva, em conseqüência disso, o esquema tradicional de proteção contra defeitos fase-terra com atuação baseada em correntes torna-se ineficaz. Assim, faz-se necessário a aplicação de outros métodos de detecção de falta para terra.

Os relés de tensão de seqüência-zero [19], ou trifásica, podem detectar faltas à terra nos sistemas não aterrados. Este método de detecção de faltas não é seletivo e requer isolação ou desligamento seqüencial dos alimentadores para determinar o alimentador sob defeito. Um elemento direcional de terra sensível é a alternativa típica [19]. Esses elementos respondem à componente em quadratura da corrente de seqüência-zero em relação à tensão de seqüência-zero.