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4.6. RECURSOS HÍDRICOS

4.6.2. Sistema Nacional de Gerenciamento dos Recursos Hídricos

A complexidade do gerenciamento dos sistemas hídricos cresce devido à diminuição da disponibilidade dos recursos hídricos e ao aumento da deterioração da qualidade da água nos diferentes sistemas hídricos (rios, lagos, açudes, aqüíferos, estuários e águas costeiras), com maior ocorrência de conflitos no aproveitamento da água (TUCCI e CORDEIRO, 2004). Assim, um aspecto importante da legislação brasileira de recursos hídricos foi a criação de um sistema institucional que possibilite à União, aos estados, aos municípios, aos usuários de recursos hídricos e à sociedade civil de atuar, de forma harmônica e integrada, na resolução

dos conflitos e na definição das regras para o uso da água em nível de bacia hidrográfica. O Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SINGREH) é, portanto, o arcabouço institucional para a gestão descentralizada e compartilhada do uso da água no Brasil, do qual fazem parte o Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH), a Secretaria de Recursos Hídricos (SRH/MMA), a Agência Nacional de Águas (ANA), os Conselhos de Recursos Hídricos dos Estados (CERHs), os órgãos gestores federais, estaduais e municipais, cujas competências se relacionem com a gestão das águas, os Comitês de Bacia e as Agências de Água (Figura 11).

A Lei Federal n° 9.984, de 17 de julho de 2000, dispõe sobre a criação da Agência Nacional de Águas (ANA), entidade de implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos. Algumas de suas atribuições são: planejar e promover ações destinadas a prevenir ou minimizar os efeitos de secas e inundações, no âmbito do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SINGREH), em articulação com o órgão central do Sistema Nacional de Defesa Civil, em apoio a Estados e Municípios, além de organizar, implantar e gerir o Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos. A ANA é vinculada ao Ministério do Meio Ambiente (MMA) que, por meio da Secretaria de Recursos Hídricos (SRH), estabelece política de recursos hídricos e ações como o Plano Nacional de Recursos Hídricos.

Figura 11 - Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SINGREH). Fonte: Modificado de Barth (2002).

O SINGREH tem os seguintes objetivos: coordenar a gestão integrada das águas; arbitrar administrativamente os conflitos relacionados com os recursos hídricos; implementar a Política Nacional de Recursos Hídricos; planejar, regular e controlar o uso, a preservação e a recuperação dos recursos hídricos e promover a cobrança pelo uso dos recursos hídricos. O sistema criado se sobrepõe, mas não se opõe, à estrutura administrativa existente. A lei mantém as competências dos organismos existentes e potencializa sua atuação. Cria somente os organismos necessários à execução das novas atividades, as quais, por terem base territorial diversa da divisão político-administrativa do país, não poderiam ser exercidas pelos organismos existentes, que têm base municipal, estadual ou federal.

Pereira e Johnsson (2005) mencionam que a inovação institucional ocorreu na incorporação da demanda por participação e descentralização da sociedade ante a criação de organismos de tomada de decisão em nível nacional, estadual e de bacia (conselhos e comitês) que passaram a incorporar novos atores (municípios, usuários e organizações civis) ao

processo de gestão. O poder decisório passa a ser compartilhado nos Comitês de Bacia Hidrográfica e nos Conselho Nacional ou Estaduais de Recursos Hídricos.

Com as Agências de Bacia, a tendência é que a descentralização do processo de planejamento e gestão seja mais acentuada, configurando-se na prática, como instituições executivas, ágeis e flexíveis para dar suporte técnico, administrativo e financeiro às deliberações do comitê. Mas a criação de tais agências está estritamente vinculada à implantação da cobrança pelo uso da água, instrumento que no Brasil encontra-se em fase inicial de implantação.

Segundo Pereira e Johnsson (2005) é importante salientar que os comitês de bacia hidrográfica, como órgãos públicos de Estado, constituídos pelos segmentos envolvidos e interessados nas águas da bacia, têm atribuições tal como definido na Lei n° 9.433/1997, não devendo ser confundidas com as atribuições e responsabilidades de Estado de regulação e fiscalização, constitucionalmente definidos. A emissão do ato administrativo da outorga com poderes de polícia, bem como o exercício de sua fiscalização é de competência exclusiva dos órgãos públicos gestores, isto é, da ANA, nos rios de domínio da União, e dos gestores estaduais, nos rios de domínio dos estados da federação. A lei autoriza a delegação às Agências de Água da cobrança pelo uso da água, mas mantém com o poder público o poder de outorgar direitos de uso.

Tucci (2005) analisa os resultados do desenvolvimento dos recursos hídricos e identifica que um dos principais problemas é a falta de ação em áreas estratégicas como gestão de inundações, racionalização da água no meio urbano e rural e, também, a falta de uma visão integrada no gerenciamento dos recursos hídricos urbano. Os principais impactos positivos o autor resume como:

-forte alteração da percepção por parte da sociedade com relação à gestão da água;

-redução da poluição dos rios com a ação junto aos municípios (ainda em escala pequena para o país);

-maior número de pesquisadores e produção de pesquisas no setor;

Tucci (2005) afirma que o desenvolvimento institucional é a condição básica para todo processo de gerenciamento do país. Para o autor, a tendência é que haja um conjunto institucional consolidado, mas com grandes variações regionais, sendo o grau do conflito a condicionante para que os acordos sejam estabelecidos mais rapidamente ou não, pois as discussões podem se estender por mais tempo, sendo úteis do ponto de vista didático, mas não favorecendo o processo de planejamento.

Em sua análise de relatos de diversas experiências na gestão integrada da água, Luchini et al. (2003), apontam uma série de desafios como:

-a ampliação e mudança da base institucional de decisão, pois a adoção da bacia hidrográfica como unidade de planejamento e gestão dos recursos hídricos e a criação de comitês e agências acarretam perda de poder por parte de órgãos públicos pode gerar resistências à efetiva implementação da gestão integrada;

-integração das entidades de recursos hídricos, pois como diretriz básica da lei 9.433/1997 tem-se a integração do planejamento de recursos hídricos com o planejamento das demais prioridades do país e a integração das organizações de recursos hídricos;

-necessidade de sensibilização e mobilização da sociedade;

-viabilidade técnica e financeira dos Sistemas de Informações sobre Recursos Hídricos;

-capacitação.