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A Legislação sobre drogas no Brasil remonta ao governo Vargas (1938), com o Decreto-Lei de Fiscalização de Entorpecentes Nº. 891/38, posteriormente, incorporado ao código penal no artigo 281, de 1941, já com uma perspectiva criminalizadora do consumo de drogas (GARCIA, 2008). A legislação também sofreu influencias conservadoras de métodos americanizados. Em 1976, no governo Militar, foi instituída a Lei 6.368, a partir do trabalho da Comissão Parlamentar de Inquérito que investigava a morte de duas crianças, no Espírito Santo, vítimas de crime relacionado com drogas. As ações da referida política restringiu-se ao campo jurídico/moral e/ou médico-psiquiátrico.

As iniciativas de articulações político-administrativas durante a década de 70, envolvendo o Ministério da Justiça e o Conselho de Prevenção Antitóxico, do Ministério da Saúde, vão resultar na implantação, do Sistema Nacional de Prevenção, Fiscalização e Repressão, vinculado ao Ministério da Justiça. Nesse contexto, surgiram os conselho antidrogas nos níveis federal, estadual e municipal. Na década de 80, são criados o Sistema Nacional Antidrogas e a Secretaria Nacional Antidrogas (GARCIA, p. 269, 2008).

A legislação atual sobre drogas, vigente no Brasil, foi atualizada em 2006. O Projeto de Lei nº 115/02, do Senado Federal, tornou-se a Lei 11.343/2006, que colocou o País em destaque no cenário internacional nos aspectos relacionados à prevenção, atenção, reinserção social do usuário e os dependentes químicos, bem como ao endurecimento das penas relativas ao tráfico dessas substâncias. (BRASIL, 2010).

Segundo Meirelles (2013), as duas linhas que orientam as políticas públicas sobre drogas no País, ainda tem características repressivas. A autora refere-se à atual política sobre drogas, da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD); bem como à política da Coordenação Nacional de Saúde Mental, Álcool e outras Drogas, do Ministério da Saúde. Deve-se esclarecer, entretanto, que a visão repressiva é incompatível com a política de reinserção social, que procura dar mais uma oportunidade àquele indivíduo que teve a sua vida prejudicada por um uso abusivo de substâncias psicoativas.

O Sistema Nacional de Políticas sobre Drogas (Sisnad), instituído através da Lei 11.343, tem o objetivo de articular, integrar, organizar e coordenar as atividades de prevenção, tratamento e reinserção social de usuários e dependentes de drogas, bem como as de repressão ao tráfico, estando em perfeito alinhamento com a PNAD e com os compromissos internacionais do País.

Os principais avanços desta nova lei, conforme o documento da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, estão na distinção clara e definitiva entre usuários, dependentes químicos e traficantes, bem como em descriminalizar o uso de qualquer tipo de droga, apesar de o porte dessas substâncias continuar caracterizado como crime. No entanto, “[...] usuários e dependentes não estarão mais sujeitos à pena privativa de liberdade, mas, sim, às medidas sócio-educativas aplicadas pelos juizados especiais criminais [...] ” (BRASIL, 2010, p. 27).

O art. 28, do Capítulo III, referente aos crimes e penas, estipula que: Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas: (1) advertência sobre os efeitos das drogas; (2) prestação de serviços à comunidade; (3) medida educativa de comparecimento a programas ou curso educativo. No parágrafo 1º fica estipulado, também, que às mesmas medidas submete-se quem, para seu consumo pessoal, semeia, cultiva ou colhe plantas destinadas à preparação de pequena quantidade de substância ou produto capaz de causar dependência física ou psíquica. Cabe ao Juíz determinar se a droga que está sendo portada é para consumo pessoal. (BRASIL, 2010, P.33).

O texto da referida lei prevê o aumento do tempo de prisão para os traficantes que continuam a serem julgados pelas varas criminais comuns; sendo que a penalidade para esse tipo de transgressão passa de três para cinco anos de detenção. A tipificação do crime de financiamento do tráfico, com penas de 8 a 20 anos de prisão, é mais um ponto a se destacar, no referido documento. Nos seus princípios institucionais, o Sisnad defende os direitos fundamentais da pessoa humana, especialmente quanto à sua autonomia, bem como o respeito às diversidades e especificidades populacionais. O documento reconhece a promoção dos valores éticos, culturais e de cidadania, como fatores de proteção para o uso indevido de drogas.

O referido documento também reconhece a importância da responsabilidade compartilhada entre Estado e sociedade nas suas atividades; a intersetorialidade dos fatores correlacionados ao uso indevido de drogas, com a sua produção não autorizada e o tráfico; a integração de estratégias nacionais e internacionais nos campos da prevenção, reinserção social, de usuários, e de repressão à produção não autorizada e o tráfico de drogas. O documento trata, ainda, de questões relacionadas à articulação entre órgãos do Ministério Público, Legislativo e Judiciário, para cooperação mútua nas atividades do sistema; a importâncias das abordagens interdisciplinares nas atividades de prevenção, reinserção social

de usuários e dependentes de drogas, bem como na repressão ao tráfico; além do equilíbrio entre as atividades a serem desenvolvidas pelo Sisnad e a observância das orientações e normas emanadas do Conselho Nacional Antidrogas.

O Sisnad tem os seguintes objetivos:

(1) Contribuir para a inclusão social do cidadão, visando a torná-lo menos vulnerável a assumir comportamentos de risco para o uso indevido de drogas, seu tráfico ilícito e outros comportamentos correlacionados; (2) promover a construção e a socialização do conhecimento sobre drogas no país; (3) promover a integração entre as políticas de prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas e de repressão a sua produção não autorizada e ao tráfico ilícito e as políticas públicas setoriais dos órgãos do Poder Executivo da União, Distrito Federal, Estados e Municípios; (4) assegurar as condições para a coordenação, a integração e a articulação das atividades de que trata o art. 3º: O Sisnad tem a finalidade de articular, integrar, organizar e coordenar as atividades relacionadas com: a prevenção do uso indevido, a atenção e a reinserção social de usuários e dependentes de drogas; a repressão da produção não autorizada e do tráfico ilícito de drogas [...] (BRASIL, 2010, p. 29/30).

No capítulo II, o referido documento, trata da questão da reinserção social de usuários de álcool e outras drogas. O capítulo inicia, no art. 20, valorizando as atividades que visem à melhoria da qualidade de vida e à redução dos riscos e danos associados ao uso de drogas. No art. 21, está determinado que se constitua atividades de reinserção social do usuário, ou do dependente de drogas e respectivos familiares, aquelas direcionadas para sua integração ou reintegração em redes sociais.

Também consta do documento, no art. 22, que as atividades de atenção e as de reinserção social do usuário e do dependente de drogas e respectivos familiares devem observar os seguintes critérios: (1) respeito ao usuário e ao dependente de drogas, independentemente de quaisquer condições, observados os direitos fundamentais da pessoa humana, os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde e da Política Nacional de Assistência Social; (2) a adoção de estratégias diferenciadas de atenção e reinserção social do usuário e do dependente de drogas e respectivos familiares que considerem as suas peculiaridades socioculturais; (3) definição do projeto terapêutico individualizado, orientado para a inclusão social e para a redução de riscos e de danos sociais e à saúde; (4) atenção ao usuário ou dependente de drogas e aos respectivos familiares, sempre que possível, de forma multidisciplinar e por equipes multiprofissionais; (5) observância das orientações e normas emanadas do Conad; (6) o alinhamento às diretrizes dos órgãos de controle social e de políticas setoriais específicas.

No art. 23, fica determinado que as redes dos serviços de saúde da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios desenvolverão programas de atenção aos usuários e aos dependentes de drogas, respeitadas as diretrizes do Ministério da Saúde e os princípios explicitados no art. 22, da referido Lei, sendo obrigatória a previsão orçamentária adequada. No art. 24, fica determinado que a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão conceder benefícios às instituições privadas que desenvolverem programas de reinserção no mercado de trabalho, do usuário e do dependente de drogas encaminhados por órgão oficial. Diz o documento, no art. 25, que as instituições da sociedade civil, sem fins lucrativos, com atuação nas áreas da atenção à saúde e da assistência social, que atendam usuários ou dependentes de drogas, poderão receber recursos do Funad, condicionados a sua disponibilidade orçamentária e financeira. Por fim, o art. 26, reza que o usuário e o dependente de drogas que, em razão da prática de infração penal, estiver cumprindo pena privada de liberdade ou submetido à medidas de segurança, terão garantidos os serviços de atenção à sua saúde, definidos pelo respectivo sistema penitenciário (BRASIL, 2010, p. 32).

Desta forma, fica patente que a Política Nacional sobre Drogas contempla os usuários de substâncias com políticas na área da reinserção social, que é o objetivo deste trabalho. Em seguida, será abordado o Programa Crack, é possível vencer, que surgiu como iniciativa do Governo Federal em decorrência do aparecimento de uma nova substância entorpecente no País, que causou grande preocupação em nível nacional devido ao seu poder de intoxicação e ação deletéria sobe o organismo humano.