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A crise do sistema carcerário brasileiro, decorrente do aumento do número de prisões e da escassez de investimento no setor, acendeu a luz para iniciativas que, de um lado, atendem à inércia governamental quanto a suas funções indelegáveis, mas que se mostra resistente a realizar com eficiência; e, de outro, atendem aos interesses de um modelo político-econômico, pois delegam para a iniciativa privada, mediante remuneração paga pelo próprio Estado, serviços que ele deveria oferecer. Observa-se a dificuldade estatal em manter um sistema prisional compatível com as finalidades para as quais foi instituído (SILVA, 2015).

Um dos grandes problemas enfrentados pelo Brasil já há muito tempo diz respeito à superlotação dos presídios, os quais não possuem estrutura física para acomodar todos os presos de forma regular, fazendo com que eles dividam celas com várias outras pessoas, em quantidade superior à suportada (FREITAS; ANTUNES; MARCONI, 2017).

O sistema prisional brasileiro sofreu várias modificações ao longo dos anos. A legislação foi alterada para atender às exigências de estabilidade do poder (SANTOS, 2018a).

O Quadro. 3 apresenta a cronologia do sistema penal brasileiro no período de 1769 a 1988.

Quadro 3 - Cronologia do sistema penal brasileiro (1769-1988)

Data/Período Legislação Características

1769 Carta Regia do Brasil

Determinou a construção da primeira prisão brasileira, a Casa de Correção do Rio de Janeiro, conhecida como “Complexo Frei Caneca”.

1824 Constituição Federal

Início da reforma do sistema punitivo, banindo as penas de açoite, tortura e outras penas cruéis e determinando que as cadeias deveriam ser seguras, limpas e bem arejadas, conter diversas casas para a separação dos réus, conforme a circunstâncias e a natureza dos seus crimes. A abolição das penas cruéis não foi plena, já que os escravos ainda estavam sujeitos a elas.

1828 -

A Lei Imperial determinou que uma comissão visitasse prisões civis, militares e eclesiásticas para informar sobre seu estado e melhoramentos necessários. Este trabalho resultou em relatórios de suma importância para a questão prisional do País, mostrando a realidade lastimável desses estabelecimentos. O primeiro relatório da cidade de São Paulo, datado de abril de 1829, já tratava de problemas como falta de espaço para os presos e convivência entre condenados e aqueles que ainda aguardavam julgamento.

1890 Código Penal

Aboliu as penas de morte, penas perpétuas, açoite e as galés e previa quatro tipos de prisão: célula; reclusão em fortalezas, praças de guerra ou estabelecimentos militares, destinada aos crimes políticos; prisão com trabalho, cumprida em penitenciárias agrícolas, para esse fim destinadas, ou em presídios militares; e disciplinar, cumprida em estabelecimentos especiais para menores de 21 anos. Uma inovação deste Código foi estabelecer limite de anos para as penas.

1940

Código Penal – Decreto-Lei

2.848

Terceiro código da história do Brasil e o mais longo em vigência.

1956 -

Conclusão da Casa de Detenção de São Paulo. Conhecida como “Carandiru”, era o maior presídio da América Latina, abrigando 8.200 presos (tinha capacidade para 6.000).

Data/Período Legislação Características

1969 Decreto–Lei 1.004

Foi proposta a substituição do Código Penal, mas, devido às críticas, ele foi modificado substancialmente pela Lei 6.016, de 1973. Apesar de vários adiamentos para o começo de sua vigência, foi revogado pela Lei 6.578, de 1878.

1980 -

Após o fracasso de uma grande revisão no sistema penal, em 1980, foi instituída uma comissão para elaborar um anteprojeto de lei de reforma da Parte Geral do Código Penal de 1940.

1984

Lei 7210 – Lei de Execução

das Penas

Regulamentou a classificação e individualização das penas, com ideias mínimas para tratamento do apenado, procurando resguardar seus direitos e estabelecendo seus deveres. 1988 Constituição da República Federativa do Brasil

Incorporação de várias matérias estabelecidas, preocupando-se principalmente, com o princípio da humanidade, ou seja, com a Dignidade da Pessoa Humana, e demais fundamentos trazidos pelo art. 5º desta Carta, como, proibição da tortura e respeito à integridade física e moral, o que significa, inexoravelmente, um avanço no sistema democrático Brasileiro

Fonte: Santos (2018a).

A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5º, inciso XLVIII, declara que a pena de prisão deverá ser cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado (RODRIGUES, 2013).

As ações que buscam trazer a ideia de ressocialização de presos procuram reduzir os níveis de reincidência, ajudando na consequente recuperação de detentos, por meio de medidas que auxiliem em sua educação, em sua capacitação profissional e na busca da conscientização psicológica e social. Na prática, o que é verificado é o constante temor da penalização, do isolamento da sociedade e do estigma de não ser humano (SANTOS, 2018a).

De acordo com Rabelo e Viegas (2011), ao longo do tempo, é possível observar que os presídios brasileiros não cumprem sua função primordial de ressocializar o detento para o retorno ao convívio em sociedade. Nos últimos anos, é notória a crise do sistema prisional, que sofre de superlotação, falta de atendimento à saúde, falta

de recuperação dos egressos e crescimento constante da criminalidade, tudo isso aliado à falta de interesse do Estado em investir no aumento do número de vagas no sistema prisional brasileiro.

Dados de 13 de setembro de 2018 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) mostram que o sistema prisional brasileiro possui 2.632 estabelecimentos prisionais, 411.878 vagas, 677.720 presos e um déficit de 265.842 vagas (CNJ, 2018).

Pernambuco é o estado que apresenta o maior déficit de vagas no sistema prisional, com 200,88%, seguido de Roraima, com 134,05%, Distrito Federal, com 120,77%, e Amapá, com 102,87%. Minas Gerais aparece na décima posição, com um déficit de 81,15% de vagas (CNJ, 2018).