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Sistemas de Custeio na Atividade Agrícola

CAPÍTULO II – REVISÃO DE LITERATURA

2.2. Sistemas de Custeio na Atividade Agrícola

O setor da agricultura tem características muito próprias e uma complexidade que dificultam a comparação com outros setores, nomeadamente o industrial em que as tarefas são repetidas ao longo do tempo de forma idêntica (Di Domenico e Lima, 1995). Calado e Calado (2008) referem que “a apuração de custos no agro negócio apresenta uma de suas maiores dificuldades de implantação e desenvolvimento devido à necessidade de rigor no controlo dos seus elementos de forma a obter uma correta apropriação dos custos de cada produto”. A importância do modelo de custeio aplicado à atividade agrícola é assim maior nas organizações mais complexas devido à dificuldade em obter informação adequada para cada produto.

A complexidade associada ao negócio agrícola justifica, pelo menos em parte, a falta de consenso relativamente ao sistema de custeio mais adequado para calcular o custo de produção dos vários objetos de custeio. Boa parte da argumentação desfavorável à adoção de sistemas mais complexos assenta na perceção que os custos de implementação destes métodos não compensam os eventuais benefícios. No entanto, sendo um negócio tão sensível é importante valorizar os instrumentos que podem trazer vantagens competitivas ao nível do controlo de gestão.

Silva et al. (2006) defendem que a adoção de um modelo tradicional de custeio no setor agrícola apresenta limitações uma vez que pode originar imputações incorretas devido à inexistência de informação de campo relativa às operações. Este estudo refere que, ao contrário das empresas agrícolas com um aparelho produtivo reduzido e pouca complexidade, a adoção de métodos tradicionais nas explorações agrícolas mais complexas pode ser perigosa. De facto, a produção de informação enviesada ao nível

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dos custos pode comprometer particularmente as decisões de longo prazo uma vez que as análises de curto prazo são muitas vezes baseadas em custos variáveis. No entanto, Silva et al. (2006) sublinham que “… para a generalidade das empresas agrícolas, o método das secções gera informação mais do que suficiente para a gestão, sobretudo se tomarmos em linha de conta a elevada exigência de recursos associada ao método ABC.”

Sampaio et al. (2011) concordam que o método ABC não tem qualquer benefício de utilização quando comparado com os métodos tradicionais no caso específico da agricultura devido à sua complexidade e grau de detalhe. No entanto, admitem que mesmo que a empresa agrícola não aplique este método na totalidade, pode sempre utilizar alguns dos seus critérios de forma a complementar outras metodologias.

“Neste caso, o que se concluiu é que, não há a necessidade de utilização do método ABC, levando em consideração fatores como, o nível de detalhamento e complexidade do método. Além disso, o método ABC é um instrumento utilizado com o intuito de minimizar as distorções referentes aos custos e despesas indiretas, o que pelo ponto de vista apresentado, ocorre em poucos momentos, não sendo dessa forma, uma vantagem significativa nesse contexto.”

Existem no entanto diversos estudos que defendem o interesse da adoção do método ABC no caso particular do setor agrícola. Amaro (2006) defende que, apesar do acréscimo de complexidade deste método em comparação com os métodos tradicionais, o método ABC deve ser utilizado como modelo de custeio no setor vitivinícola. Este estudo sublinha que o método ABC apresenta claras vantagens tanto a nível da especialização da informação, como ao nível da gestão estratégica de custos e gestão de atividades. Por outro lado, considera que este modelo tem uma grande potencialidade, e que não pode ser considerado apenas como uma ferramenta de valorização de stocks, motivo pelo qual propõe a divisão dos custos em fixos e variáveis de modo a apoiar a tomada de decisão e a gestão do desempenho.

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Gómez e Morini (2006) também argumentam a favor da utilização do método ABC no setor vitivinícola devido à produção de informação com grande detalhe e muito mais rica para a gestão destas empresas quando comparado com os métodos tradicionais. A flexibilidade deste modelo de custo possibilita ainda uma fácil adaptação às necessidades de informação das empresas deste ramo de atividade. Contreras e Mac Cawley (2006) corroboram da importância do método ABC no setor vitivinícola e sublinham que a imputação de custos indiretos com base em critérios de volume efetuada pelos métodos tradicionais distorce a informação gerada pelo método de custeio. A implementação do método ABC permitirá uma melhor relação dos custos com os produtos permitindo um melhor controlo e redução dos mesmos. Este modelo, ao imputar os custos de acordo com o nível de intensidade de utilização das atividades, permite identificar claramente os objetos de custeio que consomem um maior nível de recursos. O método ABC permite ainda relacionar os custos com as suas causas, o que representa uma mais-valia para o planeamento, apoio à decisão e para a fixação de preços.

Zakic e Borovic (2013) afirmam que as vantagens de implementação do método ABC nas empresas agrícolas dependem da dimensão das empresas e do peso dos custos indiretos na estrutura de custos da empresa. De facto, a escolha do método de custeio a implementar nas empresas agrícolas depende de vários fatores internos e não existe consenso na literatura acerca deste tema. No entanto, os escassos estudos existentes neste domínio parecem apontar para a importância do método ABC no setor agrícola conforme consta na Tabela 2.5.

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Tabela 2.5: Sistemas de Custeio na Atividade Agrícola

Autor Modelo de Custeio

Selecionado Estudo realizado Motivos apresentados

Gera informação relevante para a gestão

Relação custo/benefício associada ao método ABC

Método ABC demasiado complexo e detalhado

Método ABC não trás benefícios de informação quando comparado com métodos tradicionais

Acréscimo de complexidade do Método ABC face ao método tradicional compensado pelas vantagens da sua implementação

Método ABC proporciona vantagens a nível da especialização da informação, da gestão estratégica de custos e gestão de atividades

Método ABC apresenta caracteristicas mais flexiveis quando comparado com modelos tradicionais

Método ABC proporciona um nível de detalhe muito rico do ponto de vista de gestão

Métodos tradicionais, ao imputar custos indiretos com base em volume, distorcem os resultados obtidos

Métdo ABC permite uma melhor relação dos custos com os produtos permitindo um melhor controlo e redução dos mesmos

Método ABC permite relacionar os custos com as suas causas

Método ABC imputa os custos de acordo com o nível de intensidade de utilização das atividades

Método ABC representa uma mais valia para o planeamento e para o apoio à decisão

Na escolha da aplicação do método ABC nas empresas agrícolas é importante ter em conta o tamanho da empresa e o peso dos custos indiretos.

Manual técnico de controlo de gestão agrícola

Aplicação do método ABC na produção de grãos

Aplicação do método ABC no setor vitivinícola

Aplicação do método ABC no setor vitivinícola

Aplicação do método ABC no setor vitivinícola

A agricultura e o desenvolvimento rural Gómez e Morini (2006) Método ABC Contreras H. e Mac Cawley A. (2006) Método ABC Zakic e Borovic (2013)

Método das Secções Homogéneas Silva et al.

(2006)

Sampaio et al.

(2011) Modelo Tradicional

Amaro (2006) Método ABC

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