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1.2 Sistema de Informação em Saúde

1.2.2 Sistemas de Informação em Enfermagem

Na sequência da abordagem que realizamos à problemática da informação, percebemos a importância que os SIE estabelecem neste contexto. Dado o aumento crescente do volume de informação produzida pelos enfermeiros, a sua gestão eficaz só é possível quando suportada por sistemas que lhe assegurem a informação necessária para o desejado desenvolvimento de suas atividades (Sousa, 2006).

Segundo (Sousa, 2006: 42) a introdução dos SIE, constitui uma mais valia, na medida em que:

“podem servir de suporte legal nos cuidados de enfermagem prestados (documentação legal); dar visibilidade aos contributos dos cuidados de enfermagem no contexto dos cuidados de saúde, no- meadamente para os ganhos em saúde das populações; facilitar a gestão e formação; promover a investigação e promover a continuidade nos cuidados”.

É de destacar que vários estudos internacionais apoiam esta perspetiva e ainda acrescentam novas possibilidades, tais como: reduzir o tempo de documentação e registo clínico; propiciar o desenvolvimento e a melhoria do raciocínio e julgamento clínicos; aumento na agilidade de encontrar a informação pretendida e a manutenção ou acréscimo de qualidade do cuidado direto (Koch, 2007; Häyrinen et al., 2010; Ammenwerth et al., 2011). É neste sentido que, otimizar os SIE e o fluxo de informação nas instituições de saúde, precisa ser encarado como estratégia fundamental para a melhoria da qualidade dos cuidados prestados aos cidadãos (PORTUGAL. Ministério da Saúde; ACSS, 2009).

Perante a realidade exposta, os Sistemas de Informação em Enfermagem podem aprimorar, organizar e fortalecer o cuidado de Enfermagem, fornecendo em tempo real todo e qualquer dado que o enfermeiro necessita para o desenvolvimento de suas ações (Peterlini & Zagonel, 2006; Barra & Sasso, 2011).

Contudo, Mota (2010) refere que a implementação e reengenharia dos SI nos serviços de saúde, não têm sido conduzidos, da melhor forma, e que devem ser consideradas algumas contingências, como por exem- plo, os problemas como a falta de interoperabilidade6, que podem influenciar seriamente a continuidade dos cuidados e, conseqüentemente a qualidade dos mesmos. A mesma autora acrescenta ainda que, procurar soluções de partilha de dados, é um desafio de primeira linha, tendo em conta a relevância da informação produzida para a continuidade dos cuidados.

Com efeito, Azevedo (2010) no seu estudo sublinha que grande parte das “ilhas de informação”7, devem-se a SI adquiridos sem uma política de integração dos sistemas, originando dificuldades de inter-relação entre os diversos SI existentes no contexto de saúde, o que pode colocar em causa a perceptibilidade da sua utilidade pelos seus utilizadores e condicionar em larga medida a eficiência no tratamento da informação daí resultante.

De facto, Sousa (2006) refere que a maior parte das unidades de saúde em Portugal possui, por motivos históricos, um conjunto de “ilhas” de SI que foram sendo adquiridos à medida das necessidades, mas sem que existisse uma estratégia ou políticas de integração dos SI. Por este motivo, é frequente verificar nos atuais SI das unidades de saúde grandes sinais de falta de interoperabilidade entre os sistemas existentes (recentes ou não) e deficiente integração dos sistemas informáticos nos processos.

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Interoperabilidade é interpretada como a coerência e adequada conectividade entre os diversos subsistemas de informação e aplicações informáticas(PORTUGAL. Observatório Português dos Sistemas de Saúde [OPSS], 2009c)

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Ilhas de Informação: Diversas fontes de dados, residentes em plataformas díspares e isoladas, utilizando tecnologias de imple- mentação e armazenamento distintas, que obrigam a um esforço suplementar para alcançar a agregação satisfatória da informação útil à comunidade prestadora de serviços de saúde (Sousa, 2006: 36).

É de realçar que se encontra na literatura vários exemplos que ilustram as dificuldades sentidas na gestão da informação que resulta dos cuidados de enfermagem (Poissant et al., 2005; Mota, 2010). Na opi- nião de Marin e colaboradores (2001: 4), além da falta de interoperabilidade, “o fator chave para a deficiente utilização dos dados na geração de informação está na falta de mecanismos de transformação dos dados em informação que a tornem disponível em formatos que seja facilmente compreendida pelas pessoas certas, no momento certo”. Por sua vez, Sousa (2005: 21) afirma que “(...) a falta de critérios sobre o que registar, (...) traduz redundância de informação numas áreas e escassa ou inexistente em outras, não refletindo a realidade do desempenho dos enfermeiros”.

Uma revisão sistemática realizada por Jefferies, Johnson e Griffiths (2010) a nível internacional con- sensualiza que a documentação (registos) do processo de enfermagem devem cumprir alguns requisitos, tais como, a apresentação da informação de modo lógico e sequencial (ciclo: identificação, diagnóstico, interven- ção, resultado e reavaliação); deve refletir o juízo clínico do enfermeiro; utilizar linguagem classificada, num vocabulário que padronize os termos clínicos da prática assistencial; e não menos importante, cumprir os requisitos legais, explicando o porquê das decisões tomadas acerca dos cuidados.

Em Portugal, a Ordem dos Enfermeiros (2007) tem procurado através de um conjunto de iniciativas, estimular quer os responsáveis pelas organizações e os profissionais, quer as empresas do setor a desen- volverem sistemas informáticos que possam suportar os SIE, tendo para tal sido publicadas um conjunto de normas que orientem seu desenvolvimento, nomeadamente os “Sistema de Informação em Enfermagem – Princípios básicos da arquitetura e principais requisitos técnico-funcionais – versão Abril de 2007” e “Resumo Mínimo de Dados e Core de Indicadores de Enfermagem” (OE, 2007).

De acordo com o documento sobre as categorias de conteúdos e principais requisitos técnico-funcionais, a OE (2007) definiu algumas as regras que a seguir se sumarizam: a) Diagnósticos de enfermagem, inter- venções e resultados (onde o domínio das intervenções iniciadas pela prescrição do enfermeiro, constituí a essência do modelo do SIE); b) Aspetos centrais do SIE, nomeadamente:

• A CIPE® como referencial de linguagem no SIE;

• A possibilidade de parametrização dos conteúdos por unidade de cuidados; • A articulação entre a linguagem natural e linguagem classificada;

• A organização das intervenções de enfermagem a implementar;

• A integridade referencial entre: diagnósticos, status, intervenções e dados de observação e vigilância do cliente;

• A capacidade de resposta a resumo mínimo de dados de enfermagem;

A inclusão da CIPE® para a descrição de cuidados é particularmente relevante no que respeita aos diagnósti- cos, às intervenções e aos resultados de enfermagem – por ser uma terminologia de referência e um sistema

unificador entre as diferentes linguagens classificadas de enfermagem, concorre para a necessária partilha de significados essenciais na geração de sínteses informativas capazes de promover a gestão da informação (Azevedo, 2010). O que permitirá, no tempo, a comparação de dados, a obtenção de indicadores de qualidade, a investigação e a fundamentação para a tomada de decisão política (OE, 2009).

É neste sentido que deve ser dada atenção para os princípios de adequação e pertinência dos SIE, os quais apontam para a “necessária” e “indispensável” partilha dos dados em função dos objetivos e cuidados de enfermagem a prestar (OE, 2007: 6).

Neste contexto, Sousa (2005) admite que a estrutura de partilha de informação de enfermagem pode proporcionar uma maior integração dos níveis de cuidado, tornando as comunicações mais efetivas; maior acessibilidade aos cuidados, traduzindo em uma diminuição do tempo de espera para a obtenção de cuidados de enfermagem apropriados e maior qualidade dos cuidados, pois a articulação vai induzir maior eficiência no funcionamento do sistema e contribui para um aumento dos conhecimentos dos profissionais envolvidos, devido à partilha de informação.

Desta forma o desenvolvimento de uma estrutura de partilha de informação e a articulação dos SIE interinstitucionais deve ter como objetivo fundamental melhorar de modo significativo e através da continuidade dos cuidados, o acesso e a qualidade dos cuidados de enfermagem (OE, 2007).

Ao apostar na informatização e intercomunicabilidade dos SIE, pretende-se viabilizar uma maior circu- lação e partilha de informação, com uma maior redução do tempo de acesso aos cuidados de enfermagem.