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1. INTRODUÇÃO

3.2. Sistemas de previsão e alerta de inundação

As medidas de controle das inundações devem ser baseadas no estabelecimento de uma melhor convivência do ser humano com estes eventos. Estas medidas têm como objetivo reduzir os danos causados nas áreas urbanas e à população atingida.

Dentre as medidas existentes, e usualmente aplicadas em regiões com esta problemática, tem-se uma subdivisão em função de sua natureza, sendo denominadas de medidas estruturais e não estruturais. A primeira refere-se as medidas de cunho estrutural, normalmente concebidas com a introdução de obras hidráulicas, como construção de diques, bacias de contenção, que causam ou não modificações no rio (TUCCI et al., 2009).

A segunda medida consiste em ações que buscam reduzir as consequências das inundações, por meio da implantação de normas, regulamentações e programas. Portanto, são medidas preventivas e, geralmente, são eficazes, tendo custos mais baixos para implantação e um horizonte de atuação longo (CANHOLI, 2005). Neste sentido, inclui-se a implantação de sistemas de previsão e alerta de inundações.

Os sistemas de previsão e alerta possuem uma estrutura elaborada para reduzir os riscos à vida, por isso muitos países, atualmente, operam algum tipo de sistema. Estes incluem em sua estrutura sistemas de detecção da chuva, modelos de previsão de inundação dos rios, sistemas de difusão do alerta e procedimentos de emergência (SENE, 2008).

O objetivo dos sistemas de previsão de inundação é evitar o fator surpresa à população, o que possibilita e facilita a realização de ações preventivas, como o isolamento e retirada de pessoas de áreas sujeitas às inundações, cuja atividade possui estreita relação com a Defesa Civil (TUCCI, 2007).

Sene (2008) descreve minunciosamente cada seguimento dos sistemas de previsão e alerta. Os avisos de inundação podem ser realizados com base na observação de variáveis meteorológicas e condições dos rios a montante, porém, às vezes, em função da evolução da inundação em curto tempo, torna-se difícil a realização da mesma com uma antecipação adequada.

Assim, os modelos de previsão de inundações podem auxiliar no aumento do horizonte de previsão e, consequentemente, de alerta. Estes, normalmente, baseiam-se em observações do nível dos rios e da precipitação na área da bacia de drenagem, mas as informações do volume previsto de precipitações, a partir de modelos atmosféricos, podem ser utilizadas para ampliar ainda mais o horizonte da previsão.

Um sistema de previsão deve conter uma rede de monitoramento das precipitações e dos níveis dos rios, com coleta das informações em vários pontos da bacia hidrográfica. Essas observações auxiliam na realização de modelagens matemáticas com vistas à previsão dos níveis de inundação e os locais que podem ser atingidos (SANTOS et al., 2001; FRANK; PINHEIRO, 2003).

Conclui-se, então, que para o estabelecimento de um sistema com este propósito é necessário ter o monitoramento em tempo real das variáveis hidrológica em diversos pontos, e um modelo de previsão. Apesar da carência de dados hidrológicos em grande parte do país e das limitações existentes, os sistemas de previsão e alerta ainda são medidas não estruturais que trazem muitos benefícios à população.

Em função do panorama já apresentado sobre a ocorrência e impactos dos desastres naturais no Brasil, em 2011 foi criado o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (CEMADEN), para suporte ao Sistema Nacional de Monitoramento de Alertas de Desastres Naturais; sendo vinculado ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação. Este tem como objetivo desenvolver, testar e implementar um sistema de previsão de ocorrência de desastres naturais em áreas suscetíveis de todo o Brasil, tendo como estratégia o estabelecimento de parcerias com instituições estaduais e federais (CEMADEN, 2015).

O CEMADEN conta com uma rede de observação composta por radares, pluviômetros automáticos e semiautomáticos e estações hidrológicas, entre outros equipamentos (BRASIL, 2015); monitorando atualmente 888 municípios, 24 h por dia, sendo 39 do estado do RS. Constatada a necessidade, emite alerta para o

Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres (CENAD) (CEMADEN, 2015).

No ano de 2012 passou a vigorar a Lei nº 12.608 (BRASIL, 2012b), a qual institui a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil (PNPDEC) e dispõe sobre o Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil (SINPDEC), autorizando a criação de sistema de informações e monitoramento de desastres mais localizados.

Esta lei veio a suprir a lacuna existente, incentivando a adoção de medidas para à redução dos riscos de desastres. Conforme o Art. 3º “A PNPDEC abrange as ações de prevenção, mitigação, preparação, resposta e recuperação voltadas à proteção e defesa civil” e “deve integrar as políticas de ordenamento territorial, desenvolvimento urbano, meio ambiente, gestão de recursos hídricos [...] tendo em vista a promoção do desenvolvimento sustentável”.

São incentivadas e designadas ações aos estados e municípios, tendo em vista o mapeamento das áreas vulneráveis e implantação de redes de monitoramento meteorológico, hidrológico e geológico e sistemas de alertas:

Fica autorizada a criação de sistema de informações de monitoramento de desastres, em ambiente informatizado [...] visando ao oferecimento de informações atualizadas para prevenção, mitigação, alerta, resposta e recuperação em situações de desastre em todo o território nacional (BRASIL, 2012b, art. 13).

Isto “motivou” a ampliação de ações com estes objetivos, o que inclui o desenvolvimento de sistemas de previsão e alerta e redes de monitoramento, voltadas às inundações. No RS, atendendo às exigências, está sendo criado o Sistema de Monitoramento e Alerta de Desastres (SMAD), cujo projeto consiste na implantação de monitoramento e alerta de desastres para a Defesa Civil e órgãos competentes na gestão de risco, e à gestão ambiental dos recursos naturais. Este sistema visa orientar sobre os eventos críticos, como inundações e estiagens.

Como primeiro passo para tal, o Departamento de Recursos Hídricos (DRH), da Secretaria do Meio Ambiente do Estado do Rio Grande do Sul (SEMA), estabeleceu a criação de uma sala de situação, que monitora e analisa os recursos hídricos. Esta pretende disponibilizar diversas informações, destacando-se: boletins sobre as situações dos principais rios e bacias hidrográficas (cotas); previsão de precipitação; e dados diretos das estações de monitoramento (cotas e precipitação) (SMAD, 2014).

3.2.1. Exemplos de sistemas de previsão e alerta

Os sistemas de previsão e alerta de inundações podem ser implantados em nível local, regional ou nacional. De forma nacional, todas as informações, quanto ao monitoramento hidrológico e previsão, devem estar interligadas. Com este caráter de operação, podem ser citados os sistemas dos Estados Unidos da América (EUA) e da Índia.

Nos EUA, o Advanced Hydrologic Prediction Service (AHPS) gerencia um conjunto de produtos sobre previsão para o país, que exibem a magnitude e a incerteza de ocorrência de enchentes ou secas com antecedência de horas, dias e meses. Este serviço disponibiliza as informações da extensa rede de monitoramento e das previsões em forma de mapas, servindo com o uma ótima ferramenta para os gestores. A previsão é realizada por modelos hidrológicos, e abrange quase 4.000 locais, a partir da compilação de uma ampla variedade de dados, tais como estações de observações, satélites geoestacionários (APHS, 2014), entre outros.

Na Índia, o Central Water Commission (CWC) opera a ampla rede de monitoramento hidrológico do país e realiza previsões inundações para quase todas as bacias hidrográficas propensas a estes fenômenos. Esta instituição também disponibiliza as informações da rede de monitoramento em mapas, enquanto as previsões são apresentadas em boletins com 12 a 48 horas de antecedência, intensificados nos períodos dos eventos críticos (CWC, 2014).

No contexto brasileiro, um sistema semelhante é inexistente. Quanto à rede de monitoramento hidrológico do país, as informações são gerenciadas pela Agência Nacional de Águas (ANA), e disponibilizadas de forma online pelo Sistema de Informações Hidrológicas (Hidroweb ou SNIRH). Em relação a sistemas de previsão e alerta, ações de forma isolada vêm ocorrendo, em nível regional e local.

Citam-se alguns sistemas de alerta e prevenção de inundações em operação no Brasil, classificando-os por estado: Minas Gerais e Belo Horizonte: Sistema de Alerta da Bacia Rio Doce (CASTILHO, 2002); Rio de Janeiro: Sistema de Alerta de Cheias das estações monitoradas no Rio de Janeiro, sobretudo bacia hidrográfica do rio Paraíba do Sul (INEA, 2014); São Paulo: Sistema de Alerta às Inundações de São Paulo - SAISP (TOMINAGA; SANTORO; AMARAL, 2009); Santa Catarina: Sistema de Alerta de Cheias da Bacia do Itajaí (FRANK; PINHEIRO, 2003).

Todos estes possuem uma rede de monitoramento e, a partir dos dados observados, realizam previsões aplicando modelos hidrológicos, com inclusão da previsão da chuva, disponibilizando as informações de forma online a partir de mapas, tabelas e boletins informativos.

3.3. REQUISITOS MÍNIMOS PARA AS REDES DE MONITORAMENTO EM

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