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Sistematização e análise dos dados

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CAPÍTULO 3 – TRAÇADO METODOLÓGICO

3.6 Sistematização e análise dos dados

Durante o processo de pesquisa os dados foram sistematizados e submetidos a uma análise de inspiração fenomenológica, por meio da qual se buscou elaborar categorias que expressassem significados/interpretações das situações vividas.

Como iremos analisar uma situação vivida por um grupo de professores, cada um com seu mundo, com suas vivências, torna-se necessário refletirmos sobre o conceito de mundo-vida, entendendo como o modo de sermos no espaço e no tempo, como vivemos e convivemos com os humanos e não humanos, um mundo que é vida, “onde estamos umbilicalmente ligados, nutrindo-o e sendo por ele nutrido” (BICUDO, 2011).

A pesquisa realizada fenomenologicamente não pode deter-se às descrições do fenômeno vivido, torna-se necessária que seja compreendida, analisada e interpretada, visto que a mesma é realizada mediante a diversas expressões da linguagem, sendo necessário portanto, compreender o sentido e o significado apontado na descrição.

Nesta vertente Van Manen (1990), afirma que:

Fenomenologia é, por um lado, descrição do vivido na qualidade da experiência vivida e, por outro, descrição do significado das expressões da experiência vivida. Os dois tipos de expressão parecem um tanto diferentes, no sentido que a primeira é uma descrição imediata do mundo-vida enquanto vivido, enquanto o segundo é uma descrição intermediada(ou mediada) do mundo-vida enquanto expressado em forma simbólica. (VAN MANEN, 1990, p. 25)

A fenomenologia busca transcender os sentidos e os significados que não se dão em si, mas que vão se constituindo ao longo do processo e se mostrando de diferentes modos, conforme o olhar e na temporalidade histórica. É este o desafio deste trabalho ao lançar mão desta abordagem para melhor compreender as questões ambientais.

Segundo Gadamer (1999, p. 441), “[...] compreender significa, primariamente, sentir-se inserido na coisa, e somente secundariamente destacar e compreender a opinião do outro como tal”. Nesse sentido, a Hermenêutica emerge com a perspectiva do interpretar, do apontar novos sentidos, novas compreensões, sugere uma abertura do ser, que vai ao encontro do outro buscando compreender o que está posto, de forma a tirar suas próprias conclusões, que secundariamente e superficialmente podemos chamar de interpretação. Para Gadamer (1999, p. 402), “quem lê , lê a partir de determinadas expectativas e na perspectiva de um sentido determinado”.

Neste escopo, a literatura atenta para a necessidade de afastamento e ou estranhamento do intérprete, no sentido de desacomodar-se, estranhar o seu lugar e sentir-se desafiado a compreender a opinião do outro, fazer este caminho de ir e vir do conhecimento, construindo novos saberes.

O pensamento hermenêutico está interligado à necessidade da compreensão do todo a partir do individual e o individual a partir do todo. Nesta perspectiva da compreensão do todo para as partes e vice-versa o conceito primário da hermenêutica nos incita abertura, prospecção, estar receptivo as ideias dos outros, mas sem esquecermos, nossos conceitos, ideias, preconceitos, cultura e base intelectual, para assim podermos tentar compreender o objeto que nos é desconhecido.

Gadamer (1999, p. 459) aponta ainda que: A interpretação não é um ato posterior e oportunamente complementar à compreensão, porém compreender é sempre interpretar, e, por conseguinte, a interpretação é a forma explícita da compreensão.

Ao ansiarmos por um novo modelo mental e social que seja capaz de projetar o ser para fora de si, no qual o indivíduo consiga colocar-se no lugar do outro, buscando compreender o outro, o que pensa poderá formar esta nova consciência, que precisa ser construída, pensada e repensada, de forma a atingir e abranger a coletividade como um todo.

É nesta perspectiva, de um novo olhar, de uma nova compressão das partes para o todo, que surge o encontro da hermenêutica com as questões ambientais, de forma que emerjam novos significados, com pretensão de uma mudança individual do ser para com o meio ambiente e a posteriori uma nova consciência coletiva, vislumbrando o entendimento da complexidade da crise ambiental.

Diante do exposto percebemos que dialogando expomos nossa essência e ganhamos mais consciência de nós mesmos, de nossas fragilidades e fortalezas, virtudes e limitações, o que queremos e com o que não concordamos, encontrando nosso lugar na sociedade, que nada mais é do que a expressão da nossa identidade. O diálogo pode ser uma porta de entrada para a formação das conexões necessárias à construção não somente de uma identidade, mas de uma consciência e responsabilidade planetárias, que não constituem um produto pronto e acabado. Elas são sempre o resultado de um movimento constante de avaliação e reavaliação da nossa postura perante o mundo.

O processo de análise iniciou com as análises ideográficas, ou seja, dos textos tomados individualmente das narrativas e entrevistas transcritas, para as nomotéticas, que indicam a norma, ou seja, o que se mostra comum aos diferentes textos narrativos (BICUDO, 2011).

Para uma melhor compreensão detalharemos o processo de análise citado acima: A análise ideográfica corresponde o emprego de ideogramas, ou seja de expressões, de ideias por meio de símbolos, para tanto, torna-se necessário que o pesquisador mergulhe nas descrições dos sujeitos, na sua individualidade, realizando leituras exaustivas dos depoimentos, destacando unidades de sentido, elaborando unidades de significado e do discurso articulado, dando prosseguimento, então, à análise nomotética realizando-se as reduções que transcendem o aspecto

individual da análise ideográfica, onde o pesquisador estará atento às convergências e divergências articuladas, onde através de evidências ou insights, partirá para a compreensão do fenômeno interrogado, num movimento do pensar, abstraindo, comparando, articulando, reunindo e separando aspectos, para poder expressar o compreendido pela linguagem, quando obtemos a clareza e a dúvida (BICUDO, 2011).

De acordo com Gil (2010, p.139) baseado no modelo proposto por Colaizzi, (1978) a análise fenomenológica deverá proceder conforme as etapas abaixo:

1. Leitura da descrição dos textos de cada participante – com o objetivo de obter a visão do todo;

2. Extração das assertivas significativas – no intuito de dispor de uma relação de declarações significativas de cada protocolo ;

3. Formulação de significados – elaboração dos significados de cada declaração;

4. Organização de significados em conjuntos de temas – categorização dos temas;

5. Integração dos resultados numa descrição exaustiva- descrição detalhada e analítica dos significados e ideias emergentes;

6. Elaboração da estrutura essencial do fenômeno – síntese na íntegra de todos os aspectos.

Podemos identificar no modelo acima como análise ideográfica as etapas 1, 2, 3, 4 e como análise nomotética as etapas 5 e 6. O investigador deve estar atento a estes momentos de análise e procedimentos indicados, sendo que não é imperativo uma sequência linear e hierárquica, mas primando pelo movimento do pensar.

Soma-se à análise dos textos, a análise da observação participante vivenciada pela pesquisadora, a qual deverá compor a compreensão do fenômeno investigado como detalharemos a seguir.

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