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5.3 – Situação actual das relações económicas entre Portugal e Galiza

A cooperação entre a Galiza e o Norte de Portugal deve ser reconhecida como um reencontro entre duas comunidades historicamente ligadas e geograficamente contíguas. O intercâmbio frequente de galegos e portugueses neste espaço regional, revela interesses mútuos neste espaço em diferentes domínio, resultando numa maior aproximação e na necessidade de se promover um bom relacionamento entre ambos. Esta união responde aos ímpetos da convergência europeia e necessidade de responder aos desafios impostos nas várias áreas do conhecimento, inovação e competitividade. Desta forma, procura-se criar um contrapeso às tendências de desenvolvimento centradas nos grandes centros como Madrid, Lisboa e Barcelona.

O Secretário de Estado do Desenvolvimento Regional, Rui Nuno Baleiras, considera que a “Galiza e Norte de Portugal iniciaram há já bastante tempo uma trajectória, a muitos títulos exemplar, de cooperação de vizinhança que a política regional da EU hoje intitula de cooperação territorial transfronteiriça”. No entanto, continua a ser necessário investir em acções de desenvolvimento regional, “que transformem os obstáculos transfronteiriços em oportunidades de progresso para todos”. Apesar dos “efeitos de barreira”, inerentes à existência de uma fronteira política, estarem cada vez mais esbatidos, subsistem problemas específicos das áreas transfronteiriças que ainda não foram ultrapassados. Esta situação criou um “novo desígnio para a cooperação transfronteiriça”, representado na designação, Cooperação

Transfronteiriça de Segunda Geração. Um dos elementos-chave desta nova

fase de cooperação transfronteiriça é a criação das AECT – Agrupamento

Europeu de Cooperação Territorial – “novo instrumento jurídico para a

cooperação territorial no âmbito da União Europeia, que se consubstancia na possibilidade de criação de entidades públicas, dotadas de personalidade jurídica própria, com o objectivo de facilitar e promover a cooperação territorial entre os seus membros, tendo em vista reforçar a coesão económica e social (e doravante territorial, quando o Tratado de Lisboa entrar em vigor)” 43

A grande inovação da AECT consiste, por exemplo, em dar a possibilidade à população residente nos espaços fronteiriços de usufruir de bens, serviços e equipamentos existentes em ambos os lados. Por exemplo, dar a possibilidade a um residente de Chaves de usufruir de um serviço médico da área fronteiriça espanhola, se isso lhe fosse mais conveniente, estabelecendo-se protocolos relativos ao pagamento de taxas moderadoras e à

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 Intervençao de Rui Nuno Baleiras no VIII Plenário da Comunidade de Trabalho Galiza‐Norte de  Portugal e transferência da Presidência da Galiza para a Região Norte, realizado em Santiago de  Compostela, a 22 de Setembro de 2008. 

apresentação das despesas para obter o reembolso da Segurança Social, entre outros aspectos. Este projecto, que está já a ser considerado, permitirá contornar os embaraços que a população que reside fora dos grandes centros urbanos enfrenta.

Na opinião de Xavier Vence, os principais problemas inerentes à cooperação entre Portugal e Galiza prendem-se como facto de ambas se apresentarem como, “economias subdesenvolvidas, cun tecido produtivo e un comércio pouco diversificados; o mesmo acontece co peso das inércias e as rotinas de carácter social ou cultural que leva os nosos empresários a pensar mais no mercado español que no portugués; outro freo importante é efeito ainda forte da dependéncia institucional e política de Madrid, asi como a contrapartida recíproca da parte portuguesa, que tanta importáncia teñen, por exemplo, nas compras públicas, nos contratos do Estado, na orientación do sistema financeiro, etc” (VENCE, 2000, p.6).

Este economista acrescenta que para potenciar o relacionamento entre Portugal e Galiza era necessário passar da retórica à prática, bem como um distanciamento da postura de Madrid, no relacionamento com Portugal. Xavier Vence afirma que, “a Xunta de Galicia deberia deixar de relacionar-se com Portugal cunha mentalidade rexional, subsidiária das estratéxias deseñadas desde Madrid nas suas relacións co país veciño, marcadas por unha notábel arrogância tanto do governo como do capital españois. Esa complicidade coa arrogância española o que fai é que da parte portuguesa se alimenten contra Galiza e ñois. E isso non nos favorece en absoluto. Galiza teria muito que gañar indo muito máis «por libre» nas relacións com Portugal”. Vence considera ainda que a Galiza não deve centrar a sua estratégia de cooperação com Portugal apenas com a Região Norte, mas sim “repensar globalmente as relacións con Portugal como un todo” (Idem, p. 8).

Rui Almas, director do Centro de Negócios do AICEP em Espanha,considera o facto de a Galiza se apresentar como a segunda comunidade com maior número de empresas com capital português, depois de Madrid é um indicador de que, a cooperação entre Portugal e Galiza está no bom caminho. Contudo, defende que, existe um potencial para este relacionamento ir mais longe, sendo, para tal, necessário definir estratégias para potenciar o volume de negócios, como a definição de planos conjuntos de abordagem a mercados terceiros, onde existam interesses comuns. O estreitamento das relações entre Portugal e Galiza pode ser potenciado através de algumas iniciativas, como por exemplo: a “maior proximidade e interacção dos empresários da euro-região, com a representação AICEP/IAPMEI, em Vigo, e que está à disposição das empresas portuguesas interessadas em realizarem negócios na Galiza e das empresas galegas que procuram sócios em Portugal”; o reforço das acções de informação e de promoção dirigidas a empresários, relativamente às oportunidades de negócio e às potencialidades

da euro-região; “maior divulgação dos casos de sucesso empresariais, em resultado da associação de empresas da Galiza e do Norte de Portugal e continuar a estreitar as relações entre as associações empresariais e os centros tecnológicos da euro-região.”44

Uma das grandes dificuldades actuais ao actual relacionamento entre Norte de Portugal e Galiza ultrapassa os problemas culturais ou políticos e centra-se na questão económica. A Galiza tem vindo a revelar um grande crescimento económico, ao contrário da região Norte, que deve urgentemente colocar-se dentro do eixo de convergência definido pela União Europeia. Actualmente, no que respeita ao PIB per capita de ambas as regiões verifica-se que a região Norte de Portugal se situa apenas nos 61% da média europeia, enquanto a Galiza já atingiu os 80%, o que a coloca muito perto da linha de convergência, princípio pelo qual se determina a distribuição dos fundos comunitários.

Na Conferência sobre Cooperação Transfronteiriça de Segunda Geração, realizada em Guimarães, em Fevereiro de 2009, Ana Teresa Lehmann, Vice-Presidente da CCDR-N, fez um balanço das iniciativas realizadas, ao nível da cooperação Galiza-Norte de Portugal, no âmbito do INTERREG IIIA, no período 2000-2006, cujo objectivo determinado foi: a “promoção do desenvolvimento regional integrado entre regiões”. Segundo o balanço provisório, foram aplicados € 171,7 M no Norte de Portugal, em projectos aprovados. Os 232 projectos, no total, encontravam-se divididos em cinco Eixos Prioritários:

1- Dotação de infra-estruturas, ordenamento e desenvolvimento rural no espaço transfronteiriço;

2- Valorização, promoção e conservação do ambiente e recursos patrimoniais e naturais.

3- Desenvolvimento socio-económico e promoção da empregabilidade.

4- Fomento de cooperação e integração social e institucional. 5- Assistência Técnica

Fonte: LEHMANN, 2009, p. 8.

Vejamos alguns exemplos de iniciativas co-financiadas, nesta fase de cooperação transfronteiriça:

1- Criação de uma plataforma de desenvolvimento tecnológico para o sector automóvel.

2- MR INOV – Rede de Centros Tecnológicos Galiza-Norte de Portugal.

3- EPROGANOP – Espaços Protegidos da Galiza e Norte de Portugal.

4- Ambiente 21 – Implementação das Agendas 21 nas cidades do Eixo Atlântico.

5- Despoluição, Conservação e Valorização das bacias dos rios fronteiriços.

6- Miliária/Prisma – Programa de Inserção Social para menores. 7- Provolgapor – Programação de Voluntariado.

8- Formação Profissional Transfronteiriça para desempregados da Galiza e Norte de Portugal.

Fonte: Idem, p. 9.

O actual Programa Estratégico de Cooperação Transfronteiriça Galiza- Norte de Portugal (2007-2013), concentra as suas prioridades no sector dos transportes e acessibilidade, a cooperação no âmbito do mar, o aumento do potencial e competitividade das PME’s, o sector do ambiente e desenvolvimento urbano sustentável e, finalmente, a cooperação e integração social e institucional.

O actual Programa procura estabelecer as condições ao nível territorial, institucional e de cooperação básicas, para que a Galiza e o Norte de Portugal se tornem em “instrumento para potenciar a competitividade” desta Euro- região, apresentada, aqui, como um espaço de fortes complementaridades, qu surgiu com a necessidade de dar coerência e resposta a esta área transfronteiriça, onde se localiza um importante capital humano, económico, tecnológico e empresarial. Projecta-se, assim, a criação de um espaço de cooperação transnacional, inter-regional e transfronteiriço, onde se integrem as particularidades de ambas as regiões e os seus marcos políticos e institucionais. Ao mesmo tempo, valoriza-se a competitividade e os atractivos do território em comum, promovendo a colaboração ao nível das instituições e o aumento da coesão social e institucional. O objectivo global para o período 2007-2013 é, pois, “converter a Euro-região Galiza-Norte de Portugal num território atractivo para viver, investir e trabalhar”. A concretização destes objectivos implica que haja um bom relacionamento entre Portugal e Espanha, que em conjunto procuram desenvolver “políticas e projectos de investimentos

em ambas regiões a favor da convergencia com as respectivas realidades nacionais e com a zona ibérica, considerando a natural articulação sócio- económica manifestada” (COMUNIDADE DE TRABALHO GALIZA-NORTE DE PORTUGAL, 2007, pp. 31- 32)

No que diz respeito ao financiamento, o Plano Estratégico de Cooperação Transfronteiriça Galiza-Norte de Portugal (2007-2013) coordena- se com o Programa de Cooperação Transfronteiriça Espanha – Portugal (POCTEP), para o mesmo período de programação. O custo total subvencionável destinado ao POCTEP (2007-2013) é de € 354 M., aproximadamente. A grande fatia do financiamento provém do fundo europeu FEDER, que contribui com um total de € 267 405 976 M., ao qual se junta uma Participação Pública Nacional no valor de € 86 618 564 M. No caso específico da Euro-região Galiza – Norte de Portugal, o seu plano financeiro, que se insere no contexto do POCTEP, inclui também recursos provenientes dos fundos europeus, em complemento com uma participação financeira, proveniente de ambas as administrações, atingindo um total de € 96 954 577 M.

Vejamos agora qual é o peso da cooperação económica da Euro-região Galiza-Norte de Portugal, no contexto da cooperação económica ao nível peninsular. Segundo as estatísticas de 2008, a Espanha continua a ser o parceiro económico mais importante de Portugal, ocupando o primeiro lugar, tanto nas nossas importações (30,8%), como nas exportações (27,2%). Esta situação tem-se mantido estável, pelo menos nos últimos 5 anos, mantendo-se a tendência para uma balança comercial deficitária para Portugal. A partir de Espanha, não se verifica a mesma situação, sendo Portugal o terceiro destino das exportações espanholas, como uma quota de 8,4% das expedições e apenas 9ª nas importações deste País, com uma quota de 3,3%. Relativamente ao Investimento Directo de Portugal no Estrangeiro (IDPE), Espanha é o segundo destino dos nosso investimentos, ficando atrás da Holanda, captando 15,9% do total de € 10 098 M do IDPE, em 2008. Espanha foi em 2008 o terceiro maior investidor em Portugal, tendo ascendido os seus investimentos aos € 4 042 862, de um total bruto de € 31 985 M, representando cerca 13,6% de Investimento Directo Estrangeiro em Portugal (IDEP), no ano de 2008.

Os gráficos, que irei apresentar na páginas que se seguem, permitem- nos perceber qual o peso de cada Comunidade Autónoma espanhola nos nossos fluxos comerciais e qual o lugar que a Galiza ocupa nessas transacções. Procuro ainda comparar as trocas comerciais entre Portugal e Espanha, ao nível das restantes comunidades fronteiriças, ou seja, Galiza, Castela e Leão, Andaluzia e Extremadura. No final da apresentação de todos os gráficos, irei expor as respectivas conclusões.

0,00% 5,00% 10,00% 15,00% 20,00% 25,00%

Catalunha Galiza Madrid Andaluzia Com. Valenciana

Principais Trocas Comerciais de Espanha com Portugal - 2008

Exportação Importação

Principais Trocas Comerciais de Espanha com Portugal (Unidade: Milhões de Euros)

Exportações Importações Galiza 2 439 M 2 107 M Catalunha 4 003 M 1 478 M Madrid 2 727 M 1 529 M Andaluzia 1 487 M 903 M Comunidade Valenciana 1 053 M 623 M

Valor total das trocas comerciais de Portugal com todas as Comunidades Autónomas. 16 545 M 9 216 M Dados: ICEX45 45 Fonte: AICEP, 2009, p. 21.

Dados: AICEP46

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Peso da Galiza nas Exportações de Espanha