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Resultados da análise de dados em SPSS

3) Situação de violência

É importante relembrar que este tipo de população em estudo compreende algumas características particulares, entre as quais muitas vezes encontramos o sofrimento ou o ter sido testemunha directa ou indirectamente, de uma

situação de violência, tendo alguns deles fugido pelo facto de serem vítimas de perseguições, torturas, guerras ou

144 pode ser transmitida através dos inquéritos. De qualquer modo, o relacionamento dos refugiados com a equipa de investigação e as contínuas aproximações que se têm levado a cabo ao longo do processo de trabalho de campo, permitem uma contextualização dos dados aqui apresentados.

Do total dos casos, 44% manifesta ter passado por uma situação de violência no seu país de origem, 28% declara não ter vivido essa experiência e 28% não responde a esta questão, quer por desconhecimento quer por não querer responder. Destes 44% que representam 22 indivíduos, 18 são homens e 4 são mulheres. Dos 22 indivíduos que passaram por situações de violência, todos referem ter sentido medo perante esta situação, mas só 12 deles gostariam de falar com alguém sobre este assunto.

Gráfico 7 – Testemunha de situação de violência

22 14 7 0 5 10 15 20 25 Sim Não NS/NR 4) Atendimentos

Com respeito aos atendimentos realizados durante o funcionamento do gabinete de saúde no Centro, podemos afirmar que no total houve 245 atendimentos, equivalendo a uma média de 49 atendimentos por mês. A maioria dos indivíduos atendidos foi do sexo masculino, representando 77,5% dos atendimentos realizados. Todos os indivíduos inqueridos (50 casos) foram atendidos pelo menos uma vez no gabinete de saúde, onde foram avaliados os seus principais indicadores clínicos, como: altura, peso, massa corporal, tensão arterial, frequência cardíaca, temperatura e glicemia.

Gráfico 8 – Evolução dos atendimentos por género

0 10 20 30 40 50 60 70

Abril Maio Junho Julho Setembro Total Masculino Feminino

No gráfico podemos constatar a evolução dos atendimentos, tanto por género como pelo tipo de atendimento. No mês de Abril, quando se iniciou este estudo, fora realizado 48 atendimentos (41 homens e 7 mulheres) estas visitas foram aumentando até ao mês de Junho para logo diminuir até Setembro.

E importante referir que os atendimentos reduziram porque os grupos são flutuantes, ou seja o grupo de refugiados de Junho não era o mesmo de Setembro, apenas alguns mantinham contacto.

145 Relativamente ao tipo de atendimento, como era esperado, os atendimentos de 1ª vez diminuem ao longo do período de tempo, enquanto os atendimentos de continuidade aumentam para logo diminuir no final do período. Adicionalmente, realizou-se ao longo do período de funcionamento do gabinete, um total de 16 encaminhamentos, a maioria dos quais para o Centro de Saúde da Bobadela, um caso para o Hospital de Curry Cabral e outro para o Centro de Diagnóstico Pneumológico.

Gráfico 9 – Evolução dos atendimentos por tipo

0 10 20 30 40 50 60

Abril Maio Junho Julho Setembro 1ª vez Continuidade

Os atendimentos realizados no gabinete de saúde, trataram vários motivos, sendo alguns deles mais frequentes. Para além das recomendações e encaminhamentos feitos pelas profissionais de saúde, foi ainda dado, durante as visitas dos utentes, apoio de carácter emocional, principalmente às mulheres.

A seguir sintetizam-se alguns dos motivos principais dos atendimentos realizados:

Motivos recorrentes

Avaliação dos sinais vitais (peso, índice de massa corporal, frequência cardíaca, temperatura) Controle mensal dos sinais vitais

Orientação sobre alimentação / dieta balanceada (menos sal nas comidas, sobretudo nos utentes que apresentaram tensão arterial alta)

Prestação de apoio emocional Rastreios de hipertensão arterial Problemas cardíacos (arritmias) Cefaleias / Cefaleias intensas

Motivos específicos

Lesões descamativas na cabeça

Encaminhamento para avaliação oftalmológica e odontológica (menores) Cefaleias e desequilíbrios ligeiros

Apresentação de eritema extenso no abdómen

Acompanhamento de doenças como no caso de tiróide e quistos mamários Problemas gástricos

RX e TAC de perna direita que revela lesão traumática calcificada Preparação para o parto e acompanhamento de gravidez Tosse Alergias Problemas urinários Inflamação no joelho Dor de garganta Pele descamática

Nódulo inguinal com inflamação Baixo peso

Fístula

Infecção latente de TP Náuseas e vómitos

Queixas e dores abdominais e lombares Rinites

146 No final abordaram-se aspectos relacionados com as expectativas e o futuro destes refugiados ou requerentes de asilo. A maioria deles refere gostar de estar em Portugal e que pretende viver aqui no futuro, procurar trabalho e constituir uma família, havendo alguns que referem o desejo de estudar.

De uma forma geral, referiram que procuram uma vida melhor, mais calma e segura, embora existam alguns casos que referem que desejam voltar ao seu país quando a situação mudar, principalmente para rever a família que lá ficou.

Concluindo a presente análise, podemos afirmar que dentro desta população de refugiados e requerentes de asilo existe uma grande diversidade de nacionalidades, religiões e profissões o que influencia, e muitas vezes dificulta, a convivência no Centro de Acolhimento.

Em geral, as mulheres vêm acompanhadas e os homens chegam sozinhos. Em termos gerais, as mulheres referem mais sintomas que os homens e mostram-se mais abertas para falar sobre a sua saúde.

No que se refere ao acesso a serviços de saúde nos países de origem, é referido que muitas vezes os mesmos são caros obrigando as pessoas com poucos recursos económicos a optarem por outras alternativas como auto- medicar-se, ir à farmácia, ir ao curandeiro ou recorrer à medicina alternativa.

Os aspectos mais interessantes destas histórias de vida encontram-se muitas vezes nos próprios relatos dos refugiados, onde se pode observar a fragilidade da sua saúde emocional. Muitas vezes, o simples facto de ser refugiado, conduz a uma situação de vulnerabilidade acrescentada em muitos casos pela dificuldade em exprimir os seus sintomas, por questões de idioma, por ter sofrido uma situação de violência no passado que os leva a ter medo e desconfiança das pessoas, por não ter ido anteriormente a uma consulta médica (por falta de dinheiro) e inclusive por ter “vergonha” de manifestar sintomas de doenças com medo de ser marginalizado pelo resto do grupo. Sem dúvida que cada história é diferente, mas em todas elas encontramos um denominador comum, a presença de situações de violência e perseguição, nomeadamente, tortura, escravatura, morte de familiares, prisão, perseguição religiosa, política, étnica, prostituição e terrorismo.

Em relação ao futuro, e em termos gerais, podemos afirmar que aquele tende a ser encarado de uma forma positiva, verificando-se algum optimismo com respeito ao futuro em Portugal para a maioria destes refugiados. É neste país que pretendem trabalhar, continuar a viver em busca de uma vida melhor, com tranquilidade e segurança.

Projecto financiado pelo Fundo Europeu para os Refugiados (FER)

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