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4.3 As comunidades

4.3.6 Situação fundiária

Em 28,6% das comunidades, encontrou-se entrevistados que não possuíam nenhum documento fundiário. O documento fundiário mais freqüente nas famílias das comunidades visitadas é a Licença de Ocupação do INCRA (27% dos casos), seguido pelo Título Definitivo/Escritura (25%), contrato de concessão de uso expedido pelo CNPT/IBAMA (16%), declaração de posse ou declaração de ocupação expedido pelo INCRA (16%), cadastro de ocupação ou de posse do INCRA (9%) e Licença de Ocupação do TERRAP (7%) (Tabela 08).

Uma minoria possui o contrato de concessão de uso do INCRA e declaração de ocupação ou posse do CNPT/IBAMA (5,4% cada), carta de anuência, CPCV-TERRAP, documento de compra e venda, título de ocupação do INCRA e título de posse do INCRA (1,8% cada).

Praticamente os únicos documentos que são expedidos hoje a pequenos proprietários posseiros em áreas da União são o contrato de concessão de uso e o título definitivo, dependendo da demarcação das terras ter sido ou não realizada. Outras dificuldades também são encontradas pelos proprietários na obtenção do título definitivo, como a falta de documentos pessoais, principalmente o CPF4.

Já os beneficiários de programas de reforma agrária recebem um título de reforma agrária que para efeito de licenciamento ambiental para o manejo florestal já é suficiente, já que o IBAMA reconhece para fins de aprovação do plano de manejo todos os documentos reconhecidos e concedidos pelo INCRA. Ainda segundo o técnico do INCRA, a prioridade atual do órgão é a reforma agrária, mais exatamente a etapa de desapropriação de áreas, seguida da regularização fundiária, principalmente dos pequenos proprietários (até 100 ha). Em áreas privadas, o governo tende a não legitimar a posse, a menos que haja desapropriação para fins de reforma agrária5.

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Antonio Carlos Cruz, INCRA. Comunicação pessoal, 2000

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Tabela 8. freqüência dos diferentes documentos fundiários encontrados.

Documento Fundiário N° de Comunidades

nenhum 28,6% (16)

licença de ocupação/INCRA6 26,8% (15)

título definitivo7 25,0% (14)

contrato de concessão de uso/CNPT8 16% (9) declaração de ocupaçao/posse INCRA9 16% (9)

cadastro de ocupação/posse INCRA10 8,9% (5) licença de ocupação/TERRAP 7,1% (4)

contrato de concessão de uso/INCRA 5,4% (3) declaração de ocupaçao/posse CNPT 5,4% (3)

carta de anuência11 1,8% (1)

CPCV/TERRAP12 1,8% (1)

documento de compra e venda13 1,8% (1)

título de ocupação/INCRA14 1,8% (1)

título de posse/INCRA15 1,8% (1)

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A Lei federal 6383, de dezembro de 1976, dispõe sobre o processo discriminatório de Terras Devolutas da União, legitimando a posse de áreas familiares até 100 ha através da Licença de Ocupação,

intransferível e inegociável pelo prazo mínimo de 4 anos. Findo este prazo, o ocupante tem preferência na aquisição do lote pelo valor histórico da terra nua, desde que satisfeitos os requisitos de morada

permanente na área, cultura efetiva pelo prazo mínimo de 1 ano e não possuir outro imóvel rural. A Lei assegura também acesso a financiamentos de instituições integrantes do Sistema Nacional de Crédito Rural. Caracteriza a justa posse de terras, sendo necessária a demarcação das áreas para que os ocupantes adquiram o título definitivo.

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Título que torna o possuidor proprietário legal da terra

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O Decreto Lei 98.897/90 reza que, a exploração extrativista fica regulada por Contrato de Concessão Real de Uso, concedida a associação ou cooperativa extrativista. O direito real de uso da terra será, ainda, concedido gratuitamente (Art.4°, § 1°).

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Documentos cedidos pelo INCRA em áreas públicas/devolutas para posseiros, que deveriam preencher certos requisitos, como vocação à agricultura, para obter um título definitivo. Caso os posseiros quisessem adquirir financiamento, o órgão expedia uma Carta de Anuência (José Benatti. Comunicação pessoal, 2000).

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Cadastro de ocupantes de terras públicas e devolutas feito por órgão fundiário para medidas posteriores de regularização. Segundo (Incra, comunicação pessoal), sua aquisição é feita mediante uma simples declaração do ocupante, que o torna passível da cobrança do ITR, embora não lhe ceda o domínio ou propriedade sobre a terra (José Benatti. IPAM. Comunicação pessoal, 2000. Antonio Carlos Cruz. INCRA. Comunicação pessoal, 2000).

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Documento fornecido pelo órgão fundiário reconhecendo a posse da área por determinado lavrador.

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Contrato Provisório de Compra e Venda. Durante o processo de regularização fundiária junto ao TERRAP, é realizado durante determinado período o pagamento da terra. Finda a quitação, é interesse do proprietário solicitar a demarcação de suas terras, para a obtenção do título definitivo. As despesas topográficas e de mão de obra do processo de demarcação correm por conta do proprietário (Mauro Montoril, SEAF. Comunicação pessoal, 2000).

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Documento possessório de transação comercial entre um posseiro e outro, podendo até ter sido firmado em cartório. Entretanto, a terra não é legitimada neste processo, não havendo um direito real (domínio) do ocupante sobre a terra (José Benatti, IPAM. Comunicação pessoal, 2000)

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Título de terra não definitivo entregue a trabalhador rural.

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Aproximadamente 21% dos entrevistados estão na região de várzea e não possuem nenhum documento. Se estas famílias estiverem locadas em terras de marinha (ver 7.2), a regularização fundiária poderá ser realizada apenas pela Delegacia do Patrimônio da União (DPU), que expedirá um contrato de concessão de uso aos ocupantes, que por sua vez deverão pagar pelo seu uso. Os posseiros nestas áreas jamais poderão se tornar legítimos proprietários das terras.

Existem dúvidas hoje a respeito de quais documentos fundiários podem ser considerados como comprovantes da justa posse de pequenas extensões de terras (até 100 ha). A Instrução Normativa 06 do IBAMA, de 28/12/1998, que dispõe sobre a exploração e o manejo florestal em escala empresarial na região amazônica, lista os documentos que caracterizam justa posse de terra para áreas acima de 500 ha. Entre eles, estão: (i) a licença de ocupação; (ii) o título definitivo; (iii) a carta de anuência; (iv) o contrato de concessão de uso de terras públicas e de domínio de terras públicas; (v) a concessão de direito real de uso, e (vi) o título de domínio(ver 7.2).

No caso do manejo florestal comunitário, o IBAMA reconhece todos os títulos expedidos ou reconhecidos pelo INCRA dando a posse, propriedade ou direito de uso ao cidadão que solicita a aprovação do plano de manejo florestal comunitário, desde que a área total do empreendimento não ultrapasse 500 ha por família envolvida no projeto.

Um importante ponto a ser analisado pelo Governo do Estado é a falta de interesse dos ocupantes de pequenas áreas em regularizá-las. Se não há o interesse ou mesmo a possibilidade de obter financiamentos ou acessar novos mercados a regularização acaba sendo pouco interessante16.

Um dos fatores que colaboram para esta situação é a obrigatoriedade do pagamento das terras pelos ocupantes no processo de regularização. A Instrução Normativa Incra 41/2000 reza que, “no caso de legitimação de posse, o valor cobrado será definido em tabela de acordo com o valor histórico do imóvel”. Em terras do programa de reforma agrária, este valor será “pago em prestações anuais com prazo de

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José Benatti. IPAM. Comunicação pessoal, 2000.; Antonio Carlos Cruz. INCRA. Comunicação pessoal, 2000

amortização de até 20 anos, incluída a carência de 3 anos, incidindo correção monetária a partir da data da emissão do título até a data do pagamento”.

Além disso, freqüentemente as famílias ocupantes possuem áreas maiores do que as contempladas em seus documentos fundiários. No processo de demarcação, estas famílias perdem parte das áreas onde possuem efetivamente a posse, que poderão ser cedidas a outras famílias. Do ponto de vista cultural, a relação fundiária histórica do país foi baseada na posse de terra. Técnicos do INCRA reconhecem que é pequena a probabilidade de posseiros em terras públicas virem a perder as suas áreas, o que só ocorreria oficialmente mediante desapropriação17.

Com o incentivo ao manejo florestal, as famílias detentoras das terras poderiam se motivar também a procurar a legalização de suas áreas, já que a posse legal da terra é exigida pelo IBAMA. O manejo florestal ao mesmo tempo que representa mais uma fonte de renda para as famílias pode também representar a viabilização econômica do pagamento dessas terras, que acontece depois da legalização. O governo poderia ganhar duplamente com isso, através da produção comercial e da regularização fundiária do Estado.

Para as comunidades visitadas a melhor opção seria o Manejo Florestal em Pequena Escala e não o Comunitário. O manejo florestal comunitário possui características muito particulares, como a principal que é a posse comum da terra ou da área a ser manejada. No caso do Amapá as comunidades já estão explorando, de forma comunitária ou não, a floresta na propriedade de cada família.

Para o Amapá o melhor seria o desenvolvimento de atividades de Manejo Florestal em Pequena Escala com Serrarias Comunitárias. Este modelo pode ser implantado com maior facilidade já que não implica na negociação, sempre desgastante, da cessão de áreas particulares para a exploração em comum. As famílias continuariam soberanas em suas propriedades, e as atividades de exploração poderiam ser realizadas por cada proprietário, sendo comum somente os equipamentos.

No caso de famílias que não possuem área para o manejo, poderiam ser devidamente treinadas em técnicas de manejo e serraria, podendo assim fornecer serviços

para as famílias que não possuem pessoal suficiente ou não desejam realizar essas atividades. As Serrarias Comunitárias e os equipamentos para a exploração florestal, poderiam ser financiadas pelo governo para uma dada comunidade, e seriam o fator comunitário em torno da atividade florestal.

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