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2. Apresentação e Avaliação do Aluno acompanhado

2.2 Avaliação do Aluno

2.2.4 Situação Social

Evidentemente, os estudos não são a única vertente de uma vida escolar. É geralmente reconhecido que a nossa vida social começa sobretudo na escola. Viver a escola possibilita aos muito jovens a convivência com outros da mesma idade e com adultos, neste caso,

professores. Neste período da vida, os jovens fazem amizades que, no futuro, poderão ser muito importantes para a sua vida; trata-se de um período crucial de vivências e experiências, um dos mais importantes e decisivos inícios de integração na sociedade.

No caso de Hualu, um jovem chinês que imigrou para uma sociedade ocidental, é inevitável que a sua transferência para a escola de Prado o tenha obrigado a uma série de mudanças significativas; enfrentando seguramente mais desafios e dificuldades do que qualquer outro estudante português. Hualu encontra-se numa fase de crescimento, tanto físico como psicológico, crucial no desenvolvimento da personalidade; a vida socializada que tem que reconstruir terá uma grande influência na pessoa que será no futuro.

2.2.4.1 As Amizades (ou ausência delas)

A imigração de Hualu não significou apenas o início de uma nova vida, mas também o distanciamento das amizades que ele tem na China. Depois da conversa com Hualu, fiquei a saber que ele mantém contactos com os seus amigos chineses, sobretudo através do QQ - um programa que permite falar com outras pessoas através de conversas instantâneas pela Internet. Mas devido às diferenças de fuso horário, neste caso sete horas entre Portugal e a China, ele só pode entrar em contacto praticamente aos fins-de-semana.

Apesar de Hualu não falar praticamente nada de português, consegue manter uma relação amigável com os seus colegas portugueses. Os meninos da sua turma são cordiais e simpáticos, sempre disponíveis para o ajudar. Durante os intervalos, enquanto eu ensinava português ao Hualu, havia sempre alguns alunos em redor a tentar corrigir a nossa pronúncia. Eles também ajudaram sempre os professores a perceber o que eu estava a tentar dizer, quando eu tinha dificuldades em exprimir-me.

O carinho e a paciência dos seus colegas têm facilitado a integração de Hualu na turma. No momento em que comecei a estagiar, Hualu conseguira já uma posição confortável na sua vida escolar. Há colegas que o acompanham no caminho para a escola. Ele tem o seu próprio grupo quando precisa fazer trabalhos em conjunto. Os seus colegas

emprestam-lhe ainda os seus cadernos, quando precisa completar os seus apontamentos. Com ajuda do tradutor do Google e do uso de gestos, ele até consegue fazer algumas interações sozinho. Mas devo dizer que estas são interações bastante básicas, brincadeiras simples ou perguntas que apenas precisam como resposta um “sim” ou “não”.

A meu ver, na vida de Hualu falta uma coisa importantíssima para a sua integração no meio escolar: amigos. Falo dos amigos com quem se pode partilhar pensamentos e sentimentos. Na sua situação particular, apesar dos colegas demonstrarem muita vontade de se aproximarem dele, ainda é impossível ao Hualu ter uma comunicação profunda com os jovens portugueses da sua idade, o que o mantém espiritualmente isolado. Assim, estudar a língua portuguesa é de facto importante para Hualu.

2.2.4.2 Os desafios que os docentes enfrentam

Os docentes são uma vertente essencial no desenvolvimento social dos estudantes. Também com aqueles os alunos têm de desenvolver uma relação social, respeitando o seu papel orientador e hierarquicamente superior no seu processo de, por assim dizer, socialização.

Infelizmente, no processo da adaptação de Hualu, a ajuda que os professores conseguiram prestar foi limitada. Esta constatação não implica um juízo negativo sobre qualquer falta de cuidado ou atenção, no que diz respeito a Hualu. Antes pelo contrário, durante o meu estágio recebi sempre grande apoio dos professores de diferentes disciplinas. Foram profissionais atenciosos, tentando ao máximo facilitar o meu trabalho e, de vez em quando, tendo o cuidado e a atenção de falar comigo para acompanhar a situação do aluno.

O problema residiu sobremaneira na especificidade do caso Hualu. As professoras que o acompanharam, pelo que pude observar, são profissionais excelentes e experientes. Mas, objetivamente, devido sobretudo às diferenças do contexto educativo, no início, não lhes foi fácil conhecer a situação e dificuldades do adolescente.

importância. Como já referi, no início Hualu não falava português nem inglês. A única língua que dominava era a sua língua materna, o que, obviamente, não servia de muito. O primo de Hualu podia ajudar, mas também tinha as suas próprias aulas e obrigações, não era possível ficar sempre a seu lado. Aliás, para uma criança do pré-primário haveria sempre conteúdos para os quais não tinha a menor das competências. Ou seja, o problema linguístico e comunicacional foi muito real, e ainda é, embora neste momento já um pouco mitigado. Os professores só podiam transmitir uma quantidade limitada de informações e indicações durante as aulas e, dado que o rapaz é tímido por natureza, quase não balbuciava mais que um “sim” ou “não”.

Este facto inspirou-me. O meu trabalho não deveria restringir-se somente às aulas, seria também necessário prestar auxílio na comunicação quotidiana entre Hualu e os outros. Coube-me construir uma ponte, com a minha competência em português, pouca seja ela, entre Hualu e o seu novo contexto vivencial, existencial, ou seja, torná-lo mais acessível e compreendido aos e pelos seus colegas e professores.