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SITUAÇÕES DE RISCO EM ÁREAS URBANAS

Cenários sobre o uso e mudanças de uso na terra

1.5. SITUAÇÕES DE RISCO EM ÁREAS URBANAS

No que concerne à APP ao longo e ao redor de corpos d’água e em áreas com declives acentuados, a observação empírica, suportada por estudos científicos (ACKERMAN, 2010; AUGUSTO FILHO, 2001; FARAH, 2003; RODRIGUES e LEITÃO FILHO, 2000; ZUCCO et al., 2011), indica que de- vem ser estabelecidos parâmetros para áreas urbanas e ocupações humanas de forma específica para evitar desastres naturais e preservar a vida. Como princípio geral, todos os vales de cabeceiras de drenagem deveriam ser alvos de restrições acentuadas de uso e priorizadas como áreas de reservas de biodiversidade, de estocagem de águas e de estabilização das encostas.

Os recentes desastres impulsionados pelas chuvas extremas na região serrana do estado do Rio de Janeiro corroboram esta afirmativa na medida em que, dentre as centenas de escorregamentos mapeados pelo GEOHECO-IGEO/UFRJ no município de Friburgo (COELHO NETTO et al., 2011), mais de 50% ocorreram na porção superior das encostas, incluindo o que seria classificado como topo de morros ou zona de cumeada.

Esses estudos apontam ainda que as cicatrizes de deslizamentos estavam em grande parte associadas com áreas cobertas por vegetação de gramíneas, além de formações arbustivas e florestas degradadas. Frente ao caráter extremo das chuvas detonadoras dos escorregamentos, também as áreas com florestas mais conservadas foram atingidas, um processo natural do metabolismo da paisagem em relevos acidentados. Porém, a escala de ocorrência neste caso demonstra o efeito amplificador da degradação da vegetação natural sobre a frequência de tais eventos.

Estudos anteriores no Maciço da Tijuca (COELHO NETTO et al., 2007; OLIVEIRA et al., 1996) já indicavam que, entre mais de 100 escorregamentos na vertente montanhosa de Jacarepaguá, apenas 14% ocorreram em áreas sob floresta conservada, enquanto que 43% ocorreram em áreas sob gramíneas e 42% em áreas sob floresta degradada.

Ainda na comparação com aqueles estudos, vale ressaltar que as chuvas de 1996 foram tão intensas quan- to as chuvas recentes da região serrana do Rio de Janeiro, embora, no primeiro caso, tenham sido muito localizadas apenas sobre a zona de topos e cumeada, enquanto que os desastres mais recentes espraiaram sobre uma área de maior extensão.

Os eventos ora mencionados apontam que, se por um lado as encostas ultrapassaram seus respectivos li- miares de resistência frente à alta intensidade das chuvas detonadoras, por outro, ficou evidente que a pre- sença e conservação da Floresta Atlântica de Encosta, nas condições de relevo montanhoso, favoreceram

largamente a mitigação dos efeitos desastrosos dos eventos extremos de chuvas. Os estudos mostram, portanto, que a conservação e reabilitação funcional das florestas nestas áreas de topos de morros e zonas de cumeadas devem ser consideradas prioritárias.

1.5.1. Proteção contra inundações e enchentes

Em áreas urbanas, a ocupação de várzeas e planícies de inundação natural dos cursos d’água e das áreas no entorno dos lagos e lagoas naturais e artificiais tem sido uma das principais causas de desastres naturais, ocasionando mortalidade, morbidade em centenas a milhares de vítimas todos os anos, perdas econômi- cas de vulto em infraestrutura, residências, edifícios etc. As inundações são grandemente amplificadas em função da impermeabilização das áreas urbanas.

Usualmente, no caso dos desastres naturais, as populações pobres são as mais vulneráveis e atingidas. Isso justifica a manutenção de vegetação natural na maior parte das várzeas na forma de APP em áreas urbanas ou, mais genericamente, áreas destinadas à ocupação humana, para servirem como anteparo natural às inundações e enchentes dos cursos d’água e de lagos e lagoas naturais e artificiais. Funcionariam, assim, como zonas de tamponamento e amortecimento das águas quando extravasam os leitos naturais. Em função das enormes variações da extensão da planície de inundação para diferentes relevos e regimes hidrológicos, uma faixa fixa em função da largura dos cursos d’água seria menos efetiva. Para áreas urba- nas, as APPs ripárias devem cobrir um limite razoável da planície de inundação – definida hidrologica- mente pela inundação com período de recorrência de 100 anos. Deve-se, assim, buscar definir uma área menor, chamada de passagem da inundação, como aquela onde não se deve ocupar.

Essa zona tem um critério técnico de definição que depende das condições hidráulicas e hidrológicas lo- cais. A faixa de passagem pode, por exemplo, representar o limite alcançado por inundação com período de recorrência entre 10 e 20 anos, podendo ser pequena ou larga, dependendo da topografia. Definir tal parâmetro requer conhecimento sobre o regime hidráulico e hidrológico do curso d’água, lago ou lagoa natural ou artificial e a topografia da planície de inundação.

Entretanto, é provável que esse conhecimento exista para cursos d’água atravessando áreas urbanas. Para rios com barragens de prevenção de inundações, onde estas não ocorrem, os parâmetros de APP seriam os mesmos para áreas não urbanas, assim como para os casos em que a topografia faz com que a faixa de passagem de inundação seja menor do que os limites de APP para áreas não urbanas.

1.5.2. Proteção contra deslizamentos e escorregamentos de massa

em encostas

Em áreas urbanas para fins de ocupação humana, o limite máximo aceitável para uso de encostas para residências, edificações ou usos similares de assentamento humano deve ser aquele para o qual o risco de deslizamentos ou escorregamento de massa é minimizado. De modo geral, o risco torna-se muito grande para declividades acima de 25 graus em áreas de encosta das cidades brasileiras, embora haja outros parâ- metros geológicos que controlem a susceptibilidade a estes tipos de desastres naturais.

Em áreas que necessariamente irão perder a vegetação natural em função da ocupação, declividades acima desse limite representam grande risco de virem a sofrer repetidos processos de deslizamentos de massa em encostas, como tem sido o caso no país, ano após ano, resultado em centenas a milhares de mortes e vítimas.

Dessa maneira, os limites de declividade inseridos para áreas rurais onde as encostas abriguem ativida- des agrícolas e pecuárias não são válidos para ocupações humanas em áreas urbanas. Seguindo a mesma lógica, áreas de topo de morro muito próximas a aclives acentuados devem permanecer com vegetação natural em função do risco de deslizamentos ou escorregamentos de massa.

2. CONTRIBUIÇÕES PARA O APERFEIÇOAMENTO DA