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3. O uso de abordagens computacionais no apoio à saúde

3.1. SnowWorld

O tratamento de pessoas que sofreram queimaduras severas é considerado um dos procedimentos mais doloridos que existem (HOFFMAN et al., 2011). Poucos ferimentos causam tanta dor e requerem tanto cuidado. Para evitar infecções e promover a cura, os curativos têm que ser trocados e as feridas devem ser higienizadas diariamente. Estes procedimentos geralmente se repetem durante semanas e até meses. “Durante os procedimentos, tecidos de pele morta são removidos, anti-sépticos são aplicados e um novo curativo é feito sobre a ferida” (HOFFMAN et al., 2011).

Segundo Hoffman et al. (2011), o tratamento para pessoas com queimaduras não acaba durante a internação, prolonga-se com sessões de fisioterapia. As partes do corpo humano mais atingidas por queimaduras são as mãos, onde existem junções vulneráveis. Muitas pessoas perdem o controle sobre os dedos, não conseguindo segurar objetos ou digitar no computador. Queimaduras que atingem junções, como cotovelo, dedos, ombros ou joelhos necessitam, então, de recuperação com fisioterapia.

É um desafio para profissionais de saúde minimizar a dor e o sofrimento causados pelos procedimentos descritos acima: troca de curativo e fisioterapia. Pessoas que sofreram queimaduras graves enfrentam dores excessivas durante a longa recuperação, o que pode comprometer o tratamento. Médicos e enfermeiras acabam por recorrer ao uso de morfina e opióides para minimizar a dor durante os procedimentos (HOFFMAN et al., 2006). Embora sejam medicamentos fortes para inibição da dor, muitas vezes não são o suficiente. Ademais, existem três motivos que desencorajam o uso destes medicamentos: o primeiro são os efeitos colaterais (em geral: náusea e constipação); o segundo é a tolerância criada pelo organismo devido a repetidas doses dessas substâncias; o terceiro é a necessidade de elaborar novas formas de redução de dor não-farmacológica, visando diminuir prescrições abusivas que podem ocasionar dependência física (HOFFMAN et al., 2006; HOFFMAN et al., 2011).

Muitos estudos interdisciplinares foram realizados com o intuito de minimizar a dor. Dentre as tentativas estão a hipnose e a música que não atingiram alto grau de eficiência.

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Um grupo se dedicou ao estudo do uso de tecnologias computacionais para colaborar com a minimização da dor desses pacientes. A técnica selecionada foi a imersão em realidade virtual (immersive virtual reality) (HOFFMAN et al., 2006). Esta técnica retira o paciente do “mundo real”. São utilizados um capacete e um fone de ouvido. O capacete bloqueia a visão do paciente que não enxerga a sala do hospital em que se encontra. A imagem é substituída por um mundo virtual que é exibido por telas de computadores e lentes acopladas no capacete. Os fones de ouvido são utilizados para bloquear o barulho do hospital, emitindo um som relaxante (HOFFMAN et al., 2011). O objetivo é fazer com que o indivíduo se sinta no mundo virtual. Enquanto isso os procedimentos de cuidado ao paciente são realizados. Ao invés do paciente relembrar cognitivamente da dor, ele está mergulhado num prazeroso mundo virtual.

O primeiro software de realidade virtual desenvolvido para o fim acima descrito foi o SnowWorld. Foi desenvolvido em 1996 por Hunter Hoffman e David Patterson. O primeiro é pesquisador de realidade virtual do Laboratório de Tecnologia em Interface Humana da Universidade de Washington com foco em cognição humana e atenção. O segundo estuda técnicas psicológicas (ex.: hipnose) para redução de dor em pacientes vítimas de queimaduras no Harborview Burn Center em Seatle.

O SnowWorld foi desenvolvido na Universidade de Washington no HITLab em colaboração com o Harborview Burn Cente, tendo sido o primeiro mundo virtual projetado para reduzir a dor. Pacientes relatam que durante os procedimentos de cuidado que recebem de médicos ou enfermeiras tendem a relembrar do episódio em que sofreram as queimaduras, ou seja, relembrar da sensação de calor e imagem do fogo. O mundo virtual se passa em ambientes de temperaturas baixas como rios congelados, cânions e cachoeiras de neves. Os personagens do jogo são pinguins, bolas de neves, iglus, robôs e homens da neve. Ao contrário de jogos de reabilitação física onde pacientes têm de ficar em movimento, no SnowWorld, os pacientes têm de fazer o mínimo possível de movimento. O paciente pode interagir com o jogo através de movimentos com o mouse ou movimentos na cabeça (devido ao uso do capacete).

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O mesmo sinal de dor pode ser sentido de forma leve, moderada ou grave, a intensidade vai depender do que o paciente está pensando e para que está voltada a sua atenção. A imersão no mundo virtual tem o objetivo de mergulhar o paciente num ambiente gerado por computador e atraí-los para outro mundo. O paciente então utilizará muitos de seus recursos de atenção, deixando livre apenas uma porção da atenção para receber os sinais de dor. Um paciente atento conscientemente, foca toda sua atenção no cuidado que está recebendo e, em consequência, na dor. A intenção do SnowWorld é focar a atenção do paciente no mundo virtual para que a atenção disponível para os sinais de dor seja a mínima possível (HOFFMAN et al., 2011)..

“Um estudo realizado em onze pacientes mostrou que o jogo conseguiu minimizar a dor causada pelas queimaduras em até 35% a 50% dos casos” (HOFFMAN et al., 2011). Porém, não ficou clara de que maneira o jogo ajuda na diminuição da sensação de dor do paciente. Não se sabe se o paciente se sente imerso no frio e presente no ambiente gelado. Ou também se a diversão proporcionada pelo jogo influi em sua percepção de dor. A Figura 2, mostra uma das telas do mundo virtual (a exibição das imagens foram gentilmente autorizadas pelo autor Hunter Hoffman):

Figura 2: Do lado esquerdo, um paciente sendo tratado imerso no mundo virtual. No lado direito, imagens do que o paciente vê.

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É importante ressaltar que o SnowWorld pode ser utilizado durante a troca de curativos e nas sessões de fisioterapia. Em alguns casos onde as queimaduras são mais severas e a dor mais intensa, a imersão em realidade virtual conseguiu minimizar a dor, porém ainda é necessário utilizar analgésicos em doses menores e menos frequentes. A subseção que se segue apresenta o jogo educativo Packy & Marlon, construído para auxiliar o tratamento de crianças com diabetes.

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