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5. LINGUAGEM – DISCURSO E INTERPRETAÇÃO SOCIAL

6.2 SOB UMA ÓTICA FEMINISTA

É impossível falar da história das mulheres, sem considerar a contextualização do feminismo. Segundo Tilly (1994), a história das mulheres se diferencia das outras histórias porque envolve diretamente a política. Para a autora, a história das mulheres é diretamente a história de um movimento social, visto que foi escrita, majoritariamente, por feministas.

A esperança por um mundo com menos opressão, seja ela qual for, é a principal característica do feminismo.

O feminismo ressurge num momento histórico em que outros movimentos de libertação denunciam a existência de formas de opressão que não se limitam ao econômico. Saindo de seu isolamento, rompendo seu silêncio, movimentos negros, de minorias étnicas, ecologistas, homossexuais, se organizam em torno de sua especificidade e se completam na busca da superação das desigualdades sociais (ALVES; PITANGUY, 1981, p. 7).

O feminismo propõe um projeto de sociedade alternativa, baseada em uma transformação profunda, priorizando os princípios de igualdade, que vão de encontro aos ideais patriarcais, presentes atualmente na sociedade - onde o homem ainda é visto como um ser superior. O movimento reúne um conjunto de discursos e práticas que dão prioridade à luta das mulheres para denunciar a desigualdade de gênero (DESCARRIES, 2002). Para Cott (1987, p. 4-5), o feminismo possui três componentes principais:

1. a defesa da igualdade dos sexos ou oposição à hierarquia dos sexos; 2. o reconhecimento de que a "condição das mulheres é construída socialmente, [...] historicamente determinada pelos usos sociais.";3. a identificação com as mulheres enquanto grupo social e o apoio a elas.

Mesmo que as defesas dos movimentos sejam plurais e não busquem uma única pauta, as pautas feministas ganharam força com o passar do tempo. Desde sempre considerado um movimento político, provoca pressão no Estado, gerando diálogos necessários sobre a condição das mulheres e o interesse da população feminina. (VALENTE, 2000 in MIRANDA, 2009)

Também é perceptível o interesse de cada vez mais mulheres acerca do movimento. Com o aumento na acessibilidade às informações, as mulheres seguem empenhadas em conhecerem a história das mulheres e se conscientizarem em relação à opressão vivida (CASTELLS, 1999). Mesmo com uma ideologia voltada ao conhecimento, tanto de mulheres

quanto de homens, no entanto, o termo feminista ainda pode ser considerado negativo para uma parte da população.

Ser feminista significaria ser amarga. Principalmente, em relação ao relacionamento com os homens. A palavra “feminista” tem um peso negativo: a feminista odeia os homens, odeia sutiã, odeia a cultura africana, acha que as mulheres devem mandar nos homens; ela não se pinta, não se depila, está sempre zangada, não tem senso de humor, não usa desodorante (ADICHIE, 2015, p. 15).

Sempre marcado por esse caráter político-revolucionário, seu início não possui um consenso. No geral, acredita-se que o movimento surgiu com a Primeira Onda Feminista, nas últimas décadas do século XIX, com as sufragetes - mulheres participantes da burguesia que buscavam direito ao voto. Alves e Pitanguy (1981, p. 14-15), contudo, afirmam que o feminismo surgiu muito antes de sua popularização e nomeação. As autoras acreditam que, desde 195 d.C., já existiam movimentações diretamente ligadas à igualdade entre sexos - posição que retoma o preconceito e ironia acerca das demandas femininas.

No Brasil, a luta feminista também iniciou por meio da busca pelo direito ao voto. Outras demandas tratadas ainda na Primeira Onda brasileira, envolviam a relação de trabalho das mulheres, principalmente em fábricas (PINTO, 2003). O movimento passou por um momento de enfraquecimento geral, sendo retomado, principalmente, na década de 1960, após o lançamento de livros, que são utilizados até hoje, como instrução para as feministas, como O Segundo Sexo, de Simone de Beauvoir, e A Mística Feminina, de Betty Friedan. (PINTO, 2010). Essa retomada foi considerada a Segunda Onda Feminista, na qual as principais construções sobre gênero vistas neste capítulo foram teorizadas.

Durante a Ditadura Militar, os movimentos não enfraqueceram, mas passaram diretamente pelo filtro da censura. Somente com a volta da democracia, as políticas de direito das mulheres foram retomadas, agora tendo um âmbito muito mais amplo e social.

Com a redemocratização dos anos 1980, o feminismo no Brasil entra em uma fase de grande efervescência na luta pelos direitos das mulheres: há inúmeros grupos e coletivos em todas as regiões tratando de uma gama muito ampla de temas – violência, sexualidade, direito ao trabalho, igualdade no casamento, direito à terra, direito à saúde materno-infantil, luta contra o racismo, opções sexuais. Estes grupos organizavam-se, algumas vezes, muito próximos dos movimentos populares de mulheres, que estavam nos bairros pobres e favelas, lutando por educação, saneamento, habitação e saúde, fortemente influenciados pelas Comunidades Eclesiais de Base da Igreja Católica. Este encontro foi muito importante para os dois lados: o movimento feminista brasileiro, apesar de ter origens na classe média intelectualizada, teve uma interface com as classes populares, o que provocou novas percepções, discursos e ações em ambos os lados. (PINTO, 2010, p.17)

Com o passar do tempo, o movimento passou a agregar pautas que pudessem contemplar outras camadas da sociedade, discutindo desde os números da violência, a diferenciação salarial, o papel dos pais na criação dos filhos e a sexualidade. O movimento ganhou ainda mais força após a década de 1990, na chamada Terceira Onda Feminista, na qual se luta contra todos os tipos de opressão. Apesar disso, o feminismo ainda precisa ser debatido nos grupos sociais, visto que essa pauta ainda é confundida com uma dominação feminina. Também é preciso destacar que, apesar da evolução de algumas pautas, sobre a realidade feminina, muitas das reivindicações continuam as mesmas criadas em 1980.

Com o passar dos anos, a produção acadêmica foi ganhando uma nomenclatura própria, chamada Estudos Feministas. As chamadas ‘militantes’ levaram suas questões para as escolas e universidades, “[...] ‘contaminando’ o seu fazer intelectual com a paixão política” (LOURO, 2004, p. 16). A partir do que foi apresentado, essa monografia só está sendo proposta, devido ao conhecimento de história das mulheres descoberta exatamente pelo feminismo. A necessidade por igualdade, em todos os âmbitos, ainda precisa ser debatida e, mais do que isso, aponta para novas políticas de valorização da mulher na sociedade.

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