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SOBRE A (IM)POSSIBILIDADE DE TRADUÇÃO DAS EIs

III: OLHARES SOBRE A ÁGUA

III.1. SOBRE A (IM)POSSIBILIDADE DE TRADUÇÃO DAS EIs

Neste capítulo começamos por fazer uma reflexão sobre as dificuldades enfrentadas na procura de traduções idiomáticas, seguida de uma recolha de idiomatismos em português e em italiano subordinados à temática da Água, ponto de partida para uma proposta de correspondências interlínguas (italiano-português).

A nossa abordagem centra-se no lugar das expressões idiomáticas no ensino de uma língua estrangeira onde a tradução não é sugerida como um método de ensino mas, ao invés, e dentro da abordagem comunicativa, como um dos recursos, sobre o qual pode fazer sentido reflectir, em função de contextos de ensino-aprendizagem e públicos-alvo específicos, bem como de objectivos a definir entre docente(s) e aprendente(s). Tendo em consideração as características peculiares das expressões idiomáticas, sobre as quais, pela sua complexidade, nos debruçámos no primeiro capítulo, sublinhamos que as EIs se enquadram num ensino multidisciplinar, ou seja, “surgem como o confluente privilegiado onde se cruzam vários campos do saber – a linguística, a psicolinguística, a sociolinguística, a antropologia, os estudos culturais, entre outras.”1

No contexto de uma língua estrangeira, a inserção das expressões idiomáticas como objecto de estudo, de acordo com a autora Guilhermina Jorge, afigura-se uma mais-valia para a dimensão sócio-cultural do ensino da língua e para a valorização dos seus aprendentes:

“Uma LE, ou muito simplesmente uma língua, materna ou estrangeira, seria o lugar ideal para inserir a linguagem figurativa como meio de ensino, como um dos objectos desse ensino, facultando ao aprendente uma percepção menos formal e abstracta do objecto que é a língua. Do nosso ponto de vista, a inserção da fraseologia no estudo das línguas vivas traria, decerto, ao ensino uma componente mais dinâmica, uma compreensão mais profunda das relações entre os homens e a sociedade. Ser capaz de compreender e produzir estruturas idiomáticas de uma língua pressupõe estabelecer com essa língua uma relação mais profunda, uma apropriação mais eficaz e duradoura, uma projecção mais criativa. Ultrapassar o formalismo do ensino e o formalismo da

1 JORGE, Guilhermina – As expressões idiomáticas da língua materna à língua estrangeira, uma

aprendizagem constitui um passo importante, e a fraseologia pode sugerir algumas estratégias pedagógicas e ser um instrumento de análise susceptível de oferecer algumas respostas para um novo posicionamento no espaço da aula de língua”2.

Tendo em consideração as dificuldades inerentes ao objecto de estudo enunciado, e reflectindo sobre os desafios na procura de correspondências idiomáticas interlínguas, alguns autores chegam a referir-se à eventual impossibilidade de traduções idiomáticas, uma vez que “o uso de uma expressão idiomática (EI) pelo falante de uma língua é muito comum e é impossível de definir ao certo se a equivalente numa língua estrangeira é idêntica à usada na nossa língua, tanto no que se refere ao significado, quanto à precisão da frequência e do nível de linguagem” 3.

Pensar sobre a possibilidade de tradução implica, em primeiro lugar, conhecer o objecto a ser traduzido, “tanto em relação ao seu papel no sistema linguístico (no caso, a expressão idiomática) quanto em relação ao seu significado”4. Para o aprendente de uma língua estrangeira, o primeiro grande passo para a tradução de uma EI consiste, deste modo, em identificar a expressão como um idiomatismo. A título de exemplo, “procurar uma agulha na gaveta tem apenas um sentido denotativo, ao passo que a EI procurar uma agulha no palheiro é conotativa e cristalizada com o sentido de procurar algo difícil de ser encontrado”5.

Para além do primeiro passo que consiste na identificação da expressão idiomática, para que se possa apresentar uma proposta de tradução adequada, é necessário partir da premissa de que o processo de tradução não consiste numa mera transferência de significados literais interlínguas (a chamada “tradução literal”). Para a autora Chantal Bouchard, na sua reflexão sobre o problema da tradução das expressões idiomáticas, “O que torna mais difícil a tradução dessas expressões, é principalmente o facto de possuírem de certo modo dois níveis de sentido: o primeiro, o sentido literal, isto é, a adição do sentido dos elementos; e o segundo, a carga metafórica ou a conotação particular ligadas, de modo mais ou menos fixo, a essas expressões”6.

2 JORGE, Guilhermina – As expressões idiomáticas da língua materna à língua estrangeira, uma

análise comparativa, p. 195.

3

XATARA, Cláudia; RIVA, Huelinton; HELENA, Tatiana – As dificuldades na tradução de

idiomatismos, p. 183.

4 XATARA, Cláudia; RIVA, Huelinton; HELENA, Tatiana – As dificuldades na tradução de

idiomatismos, p. 185.

5 XATARA, Cláudia; RIVA, Huelinton; HELENA, Tatiana – As dificuldades na tradução de

idiomatismos, p. 185.

6 JORGE, Guilhermina (coord.) – Tradutor Dilacerado: reflexões de autores franceses

As principais soluções para a tradução das expressões idiomáticas, segundo o autor Georges Misri7, podem ser reduzidas a quatro alternativas:

“ 1) tradução por equivalente preexistente;

2) tradução baseada numa equivalência de situação; 3) tradução palavra por palavra, com nota;

4) tradução por equivalente preexistente, com nota”8.

As soluções apresentadas, com exclusão da terceira opção, assentam no princípio da equivalência. Na possibilidade de se encontrar um equivalente directo entre a língua de partida e a língua de chegada, esta solução afigura-se a mais simples. No que concerne à terceira alternativa, a possibilidade de uma tradução literal não é uma opção consensual:

“A tradução palavra por palavra pode levantar obstáculos à compreensão e, embora essa lacuna possa ser colmatada pelo recurso à nota de rodapé, a leitura de tal tradução torna-se incómoda, o que faz com que esse tipo de tradução apenas seja conveniente em determinados casos como, por exemplo, nos casos em que a tradução se destina a especialistas que desejam obter informações sobre os modos de expressão da língua de partida”9.

Se optarmos por situar a tradução ao nível do discurso, e não ao nível restrito da língua, os defensores da teoria interpretativa apresentam uma abordagem centrada nas componentes comunicativas, ou seja, na “carga comunicativa, representando tudo o que considerado pertinente do ponto de vista tradutológico, deve ressurgir no texto de chegada, porque a sua ausência resultaria num afastamento, mais ou menos importante, entre os efeitos produzidos nos receptores do original e os produzidos nos receptores da tradução”10.

Se tivermos em consideração que as línguas não utilizam necessariamente as mesmas imagens para se exprimirem nos campos idiomáticos, teremos que optar por nos contentarmos muitas vezes com uma perda parcial, ou até total, do sentido literal, privilegiando o sentido metafórico. Neste domínio, entra a teoria do sentido que

7 O autor fez uma pesquisa sobre as componentes comunicativas dominantes nas expressões identificadas no original árabe das Mil e Uma Noites, cujo corpus de estudo serviu de base para a sua tese de doutoramento.

8 JORGE, Guilhermina (coord.) – Tradutor Dilacerado: reflexões de autores franceses

contemporâneos sobre a tradução, p. 120.

9

JORGE, Guilhermina (coord.) – Tradutor Dilacerado: reflexões de autores franceses

contemporâneos sobre a tradução, p. 120.

10 JORGE, Guilhermina (coord.) – Tradutor Dilacerado: reflexões de autores franceses

“subtrai o estudo do processo tradutológico à esfera da linguística para fazer dele um campo de investigação autónomo”11, onde um dos pressupostos fundamentais é “a existência de uma situação de comunicação, cuja mensagem, em parte consignada no texto, constitui o seu principal objectivo”12.

Outro fundamento da teoria do sentido assenta na compreensão do enunciado à luz do contexto situacional, pois “na comunicação quotidiana as palavras não dizem tudo e devem ser interpretadas em função do contexto situacional que, só por si, permite preencher os vazios e eliminar as ambiguidades, tornando unívoco o que na língua é polissémico”13. A autora Fortunato Israel, nos seus estudos sobre a tradução literária e a teoria do sentido, conclui que “Tendo em conta que o sentido é o objecto a captar e a transferir e que o abandono das formas iniciais não introduz alteração ao conteúdo, a teoria interpretativa conduz à rejeição, em tradução, da literalidade mais atenta à organização do que ao discurso”14.

Para o nosso presente estudo, na busca de correspondências idiomáticas (entre a língua italiana e a língua portuguesa) subordinadas à temática da Água, procurámos evidenciar a importância do sentido metafórico em detrimento da tradução literal. Por não existir uma Teoria geral da tradução, mas várias teorias da tradução, a nossa proposta é apenas uma sugestão que poderá servir de ponto de partida para o trabalho das EIs em contexto interlínguas, no âmbito do ensino de PLE. Por entrarmos nos domínios da tradução, tal como afirma a autora Guilhermina Jorge, temos em consideração que “traduzir é correr riscos, traduzir é arriscar. E quando se trata de expressões idiomáticas, esses riscos aumentam”15, uma vez que “também não existe uma solução única para a tradução das expressões idiomáticas16”. No entanto, concordamos que “A tradução deve ser encarada como interacção. Traduzir é estabelecer um contacto, que está em interacção com outros contactos”17, estabelecendo diálogos entre línguas e culturas.

11 JORGE, Guilhermina (coord.) – Tradutor Dilacerado: reflexões de autores franceses

contemporâneos sobre a tradução, p. 69.

12

JORGE, Guilhermina (coord.) – Tradutor Dilacerado: reflexões de autores franceses

contemporâneos sobre a tradução, p. 70.

13 JORGE, Guilhermina (coord.) – Tradutor Dilacerado: reflexões de autores franceses

contemporâneos sobre a tradução, p. 71.

14

JORGE, Guilhermina (coord.) – Tradutor Dilacerado: reflexões de autores franceses

contemporâneos sobre a tradução, p. 76.

15 JORGE; Guilhermina – Algumas reflexões em torno das expressões idiomáticas enquanto

elementos que participam na construção de uma identidade cultural, p. 221.

16 JORGE; Guilhermina – Despedir-se à francesa/filer à l’anglaise: reflexões em torno da

tradutologia das construções frásicas na perspectiva interlínguas, p. 39.

17 JORGE; Guilhermina – Algumas reflexões em torno das expressões idiomáticas enquanto

O nosso objectivo prende-se com uma chamada de atenção para as dificuldades enfrentadas por parte dos docentes de PLE, face a uma escassez de recursos no domínio das EIs, aliada à necessidade de suprir as dificuldades dos aprendentes (muitos deles intérpretes e tradutores). Perante um objecto de estudo, em torno do qual a literatura não apresenta consenso, as dificuldades acrescem ao introduzirmos a variável das línguas estrangeiras:

“- dificuldades de reconhecimento (a EI pode confundir-se com frases não idiomáticas);

- dificuldades de interpretação (o sentido literal pode preceder o sentido idiomático e substituir esse);

- dificuldades de produção (o falante pode sentir dificuldade em reutilizar a expressão num contexto”18.

Apesar de nos depararmos com problemas emergentes em torno da tradução das EIs, verificamos que existe uma plataforma consensual na premissa de que o processo não pode ser encarado como um acto de mera transferência de significados:

“No processo tradutório de uma unidade lexical complexa, parece importante que o tradutor entenda o processo não como um ato de transferência de significados, mas assumir o papel de leitor e, consequentemente, as implicações concernentes ao processo de leitura. Para isso, são fundamentais as seguintes observações:

a) o processo tradutório é uma leitura;

b) cada leitura é uma construção de significados e é dependente do leitor; c) é preciso ter conhecimentos culturais que sustentem tal leitura; d) a reescritura do processo tradutório;

e) esses processos são produzidos por um viés da linguagem ou do leitor.”19

As diferentes leituras inerentes ao processo de tradução das expressões idiomáticas permitem um diálogo intercultural, uma vez que os idiomatismos veiculam representações sobre os povos, onde os traços culturais são por vezes reflexo de estereótipos, sobre os quais vale a pena reflectir, de forma a poderem ser repensados, no espaço da sala de aula de PLE: “De um ponto de vista cultural é pertinente observar a maneira como as duas línguas cristalizam preconceitos sobre pessoas de outras culturas”20.

18

JORGE; Guilhermina – Despedir-se à francesa/filer à l’anglaise: reflexões em torno da

tradutologia das construções frásicas na perspectiva interlínguas, p. 40.

19 DAVEL, Alzira – A (Im)possibilidade de Tradução das Expressões Cristalizadas, p. 3-4.

20 MARQUES, Isabel; TELETIN, Andreea – Quando os portugueses se vêem gregos ou a questão

A quase inexistência de materiais bilingues específicos no domínio das expressões idiomáticas também constitui uma dificuldade adicional para o processo de tradução. Os dicionários monolingues, por sua vez, funcionam como dicionários alfabéticos, desvalorizando a dimensão discursiva, e carecendo de contextualização das expressões.

Relativamente ao tratamento dado às expressões idiomáticas em dicionários bilingues (de italiano-português), as autoras Dária Gonçalves e Marilei Sabino na sua reflexão sobre os Desafios enfrentados para obter o domínio das expressões

idiomáticas italianas, referem a inexistência de equivalentes idiomáticos ou a falta de

equivalentes adequados, considerando que “Em boa parte dos dicionários bilingues, muitas expressões não são registadas”21 e “Os dicionários bilingues, por vezes, apresentam apenas uma definição ou uma explicação da expressão idiomática e não o seu equivalente na língua de chegada”22.

Perante a lacuna no mercado editorial relativamente a dicionários bilingues que contemplem as expressões idiomáticas (portuguesas e italianas), é importante reflectir sobre propostas de tradução neste domínio pois as especificidades de cada uma das línguas, apesar das semelhanças entre si, constituem um desafio por vezes insuperável:

“As línguas neolatinas, por serem línguas irmãs, apresentam inúmeras semelhanças entre si, quer do ponto de vista morfológico, sintático, semântico e também pragmático. Essas semelhanças, todavia, nem sempre representam um auxílio para os aprendizes, uma vez que frequentemente funcionam como verdadeiras armadilhas para eles. Além disso, dadas as peculiaridades linguísticas inerentes a cada um idioma, em particular, a busca de equivalentes (...) na outra língua, muitas vezes torna-se impossível23”.

As autoras Dária Gonçalves e Marilei Sabino, no âmbito do ensino- aprendizagem da tradução, apresentam uma proposta de análise destas expressões, utilizando uma perspectiva contrastiva (português-italiano), e classificando as EIs em três ordens de relação: relação de igualdade, relação de semelhança e relação de diferença.

21 GONÇALVES, Dária; SABINO, Marilei – Desafios enfrentados para obter o domínio das

expressões idiomáticas italianas, p. 63. 22

GONÇALVES, Dária; SABINO, Marilei – Desafios enfrentados para obter o domínio das

expressões idiomáticas italianas, p. 64.

23 GONÇALVES, Dária; SABINO, Marilei – Desafios enfrentados para obter o domínio das

Relativamente à relação de igualdade, passamos a indicar algumas das expressões cujos signos motivadores das metáforas são idênticas nas duas línguas:

“Alzare o Abbassare la cresta / Levantar ou baixar a crista Prendere un calcio / Levar um coice

Piangere lacrime di coccodrillo / Chorar lágrimas de crocodilo Stare come cane e gatto / Estar como cão e gato

Fare l’avvocato del diavolo / Ser o advogado do diabo

Cercare un ago nel pagliaio / Procurar uma agulha no palheiro Fare il diavolo a quattro / Fazer o diabo a quatro

Uccidere la gallina dalle uova d’oro / Matar a galinha dos ovos de ouro Non ficcare il naso negli altrui affari / Não meter o nariz em assunto alheio”24

No que concerne às expressões cujos signos motivadores das metáforas são

parecidos (ou semelhantes) nas duas línguas, as autoras Gonçalves e Sabino

apresentam alguns exemplos:

“Mangiare quanto un grillo/ Comer como um passarinho Schizzare fuoco dagli occhi / Soltar fogo pelas ventas Essere una faccia di bronzo / Ser um cara de pau Correre un gelo per le ossa / Subir um frio pela espinha Essere in una botte di ferro / Estar numa redoma de vidro Non avere né capo né coda / Não ter pés nem cabeça

Prendere due piccioni con una fava / Matar dois coelhos com uma (só) cajadada”25

Neste território de idiomaticidade, deparamo-nos ainda com expressões cujos

signos motivadores das metáforas são diferentes entre as duas línguas:

“Dormire come un ghiro/ Dormir como uma pedra Prendere fischi per fiaschi / Confundir alhos com bugalhos

24 GONÇALVES, Dária; SABINO, Marilei – Desafios enfrentados para obter o domínio das

expressões idiomáticas italianas, p. 68.

25 GONÇALVES, Dária; SABINO, Marilei – Desafios enfrentados para obter o domínio das

Vendere lucciole per lanterne / Vender gato por lebre Essere in un affare d’oro / Ser um negócio da China

Essere magro come un osso/chiodo/un’acciuga / Ser magro como um palito”26 A análise contrastiva das expressões proposta pelas autoras não sugere, de modo nenhum, que os aprendentes devam aprendê-las em bloco ou memorizá-las:

“Se fosse assim, essa estratégia, ao invés de simplificar a difícil tarefa daqueles que almejam obter o domínio das expressões idiomáticas, acabaria, indubitavelmente, tornando-a muito mais árdua e penosa.

Assim sendo, o objectivo desta análise contrastiva foi alertar o aprendiz sobre as igualdades, semelhanças, diferenças e falta de equivalências (...) de modo que, de posse desses instrumentos e baseado nas suas experiências de aprender, o aprendiz consiga valer-se de estratégias próprias para que possa minimizar os seus esforços, quando a sua meta é obter o domínio das expressões idiomáticas da língua estrangeira”27.

A referida proposta de análise contrastiva das expressões idiomáticas, apesar da relevância e contribuição para o aprofundamento do objecto de estudo selecionado, apresenta dois inconvenientes no contexto do ensino de PLE, especificamente: o conceito pouco claro de “signo motivador de metáfora” usado pelas autoras na designação das tipologias de relações e a escolha do critério morfossintático como factor determinante para a sua classificação. De facto, a autora Liliane Santos, ao tecer Algumas reflexões em torno do ensino da tradução: o caso

das expressões idiomáticas, faz uma reflexão crítica sobre esta proposta:

“Embora interessante (...) apresenta, pelo menos dois inconvenientes. O primeiro deles é a não definição do conceito de signo motivador de metáfora e a não definição de critérios seguros para a sua determinação.

Neste sentido, o conceito de signo motivador de metáfora parece ser bastante semelhante à noção (utilizada por muitos autores) de palavra-chave.

O segundo inconveniente da proposta de Gonçalves e Sabino está relacionado à própria ideia de utilizar critérios morfossintáticos para a classificação das EI (...) embora o critério semântico-discursivo esteja subjacente à noção de signo motivador da metáfora e à noção de equivalência ”28.

26 GONÇALVES, Dária; SABINO, Marilei – Desafios enfrentados para obter o domínio das

expressões idiomáticas italianas, p. 70.

27 GONÇALVES, Dária; SABINO, Marilei – Desafios enfrentados para obter o domínio das

expressões idiomáticas italianas, p. 73-74.

28 TEIXEIRA, Madalena; SILVA, Inês; SANTOS, Leonor – Novos Desafios no Ensino do Português, p. 31.

Partindo do princípio que o ensino das EIs deve privilegiar aspectos semânticos, pragmáticos e discursivos, Liliane Santos apresenta as seguintes sugestões:

“que elas sejam sistematicamente postas em relação com as suas situações e condições de uso. Em outros termos, a pergunta não é tanto o que significa a EI x ou como se constitui a EI x, mas, antes, em que situações se usa a EI x? Evidentemente, também é importante levar em consideração a modalidade oral/escrita da língua, o registo, formal ou informal (assim como as diferentes combinações possíveis entre modalidade e registo), além disso, no caso da língua portuguesa, da variante, europeia ou brasileira – quer o português seja a língua de partida, quer seja a língua de chegada”29.

A classificação das EIs, na sua relação interlínguas, feita em função das suas condições de uso, permite que possam começar a ser introduzidas desde os níveis de iniciação referidos no QECR:

“Essa classificação (...) permite pensar numa metodologia de ensino da sua tradução em quatro etapas: em primeiro lugar, é possível trabalhar desde os níveis iniciais (A1 e A2 do QECR, por exemplo), as EI idênticas (aquelas que têm uma correspondência exata).

Em segundo lugar, nos níveis intermédios inferiores (A2-B1 do QECR), é possível trabalhar as EI parafraseáveis (aquelas que compartilham as condições de uso). Em terceiro lugar, é possível trabalhar nos níveis intermediários superiores (B1-C1 do QECR), as EI recuperáveis (aquelas que não têm correspondência)”30.

De modo a facilitar a inclusão das expressões idiomáticas ao longo das várias etapas do ensino de uma língua estrangeira, qualquer esforço no sentido de caracterizar as expressões idiomáticas “segundo a sua transparência e/ou opacidade”31, contribui para uma aprendizagem mais eficaz.

No nosso estudo, a preferência que atribuímos ao termo correspondência em

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