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CAPÍTULO 1 – ABORDAGEM METODOLÓGICA

1.1. Sobre a Pesquisa Documental – breves considerações

A escolha por um determinado método de pesquisa e pela técnica ou instrumentos apropriados à consecução dos objetivos da investigação, em face de um dado objeto, dá-se por questões não somente objetivas, mas também por aquelas referentes a aspectos epistemológicos que servem como definidores do conhecimento que se pretende construir. No presente caso, a opção pela pesquisa documental como técnica de análise dos dados coligidos, justifica-se por sua adequação aos objetivos propostos neste trabalho de tese, qual seja: a análise das políticas públicas de avaliação das universidades brasileiras a partir de um contexto histórico e sociocultural, que se vai amoldando às demandas do desenvolvimento do capitalismo em sua fase flexível e as decorrências desse momento predominante para a educação superior, na tentativa de ampliar o entendimento sobre o tema em questão.

Assim, a abordagem da presente investigação alinha-se às pesquisas qualitativas de caráter exploratório, pois debruça-se sobre um objeto não passível, em nosso entendimento,

de recorrência à métrica das quantificações, dos dados estatísticos, senão á busca por apontar pressuposições, intencionalidades, racionalidades e significados que orientaram, historicamente, os documentos legais referentes à avaliação da educação superior brasileira.

Quanto ao procedimento técnico e aos instrumentos para coleta e análise de dados, elegeu-se à análise documental. Assim, valendo-se das ―fontes de papel‖ (GIL,2009, p.43) como principal objeto de análise, a pesquisa foi conduzida através do acesso a material bibliográfico (artigos, dissertações, teses, livros) e a documentos oficiais nos quais se encontram formuladas as políticas nacionais de avaliação do ensino universitário brasileiro.

Cabe aqui considerar que apesar de ser pouco explorada e considerada no meio acadêmico, particularmente no Brasil, a pesquisa e análise documental são reconhecidas como importantes técnicas metodológicas para ampliar o conhecimento e a compreensão sobre objetos que demandam um resgate de sua contextualização histórica e social. Nesse sentido, analisar a produção de documentos implica também em interrogar sobre o modo como estes foram elaborados, constituídos, revelando-lhes os discursos que condensam, as ideologias que lhes são subjacentes, os jogos políticos e de poder que os contornam, pois o documento, seja de que tipo for, é resultado de forças que se entrecruzam e que apresentam efeitos de práticas concretas. Assim, a pesquisa documental auxilia na problematização de práticas sociais, desnaturalizando-as e rompendo com possíveis cristalizações em torno das mesmas. Nesse sentido, corroboramos o pensamento de Le Goff quando afirma que:

O documento não é qualquer coisa que fica por conta do passado, é um produto da sociedade que o fabricou segundo as relações de força que aí detinham o poder. [...] O documento não é inócuo. É, antes de mais nada, o resultado de uma montagem, consciente ou inconsciente, da história, da época, da sociedade que o produziram, mas também das épocas sucessivas

durante as quais continuou a viver, talvez esquecido, durante as quais continuou a ser manipulado, ainda que pelo silêncio (1999, p. 519).

Em sua construção, os documentos são marcados por tensões, por disputas, por regras de produção e de circulação que não são imparciais e articulam-se a poderes que os autorizam ou desautorizam, que os legitimam ou deslegitimam segundo os interesses disputados e, portanto, inserem-se em relações de pertencimento social e orientações político-ideológicas determinadas, com prescrições normalizadoras que orientam modos de viver, de pensar e de sentir (CELLARD, 2008).

A palavra documento, cujo correspondente latino é documentum, significa aquilo que ensina, que serve de exemplo. Para Cellard (2008) embora não seja tarefa fácil determinar-lhe um conceito os documentos podem ser definidos, em termos metodológicos, como materiais escritos ou não (vídeos, fotografias, músicas etc) que possam ser utilizados como fonte de informação em prol da compreensão de fatos e relações que proporcionam o reconhecimento do contexto histórico-social de determinadas ações, reconstruindo situações específicas e seus antecedentes.

Nesse sentido, a análise documental pode ser conceituada como um conjunto de operações metodológicas no intuito de descrever, representar e interpretar os conteúdos de textos-fonte de uma forma unificada e sistematizada com vistas a produzir novos conhecimentos, criar novas formas de compreender um dado fenômeno e dar a conhecer os movimentos dinâmicos que apontam as tendências a partir das quais estes tem sido desenvolvidos (SÁ-SILVA & ALMEIDA, 2009).

Assim, pode-se dizer que a pesquisa documental é aquela em que os dados obtidos são estritamente provenientes de documentos, com o objetivo de

extrair informações neles contidas, a fim de compreender um fenômeno. O método utilizado para analisar os documentos chama-se de ―método de análise documental‖. A pesquisa documental é um procedimento que se utiliza de métodos e técnicas para a apreensão, compreensão e análise de documentos dos mais variados tipos. Ainda, uma pesquisa é caracterizada como documental quando essa for a única abordagem qualitativa, sendo usada como método autônomo (KRIPKA, SCHELLER & BONOTTO, 2015, p. 244).

Na escolha dos documentos a serem analisados, o pesquisador deve manter o seu foco não apenas nos conteúdos a serem extraído dos mesmos, mas à correspondência que se faz entre o problema, hipóteses e objetivos de sua investigação com as fontes documentais escolhidas. De acordo com Cellard (2008), além de cumprir essa importante observação, o pesquisador deve considerar se os documentos selecionados cumprem com os critérios seguintes: (a) autenticidade e genuinidade; (b) se são fontes primárias ou secundárias; (c) credibilidade ou exatidão (se não contém erros ou distorções) e (d) representatividade e significação. Para o autor, sendo impossível transformar um documento já existente, devendo o pesquisador aceitá-lo tal como ele se apresenta, torna-se essencial avaliar criticamente a documentação que se pretende analisar, constituindo-se essa crítica como a fase preliminar de toda análise documental. Em seguida, propõe que sejam obedecidos os seguintes passos metodológicos que constituirão a análise propriamente dita: (1) descrição do documento; (2) contextualização; (3) autoria; (4) autenticidade, confiabilidade e natureza do texto; (5) descrição dos conceitos-chave e (6) interpretação. Para garantir que o rigor esteja presente neste processo, adverte:

Uma pessoa que deseje empreender uma pesquisa documental deve, com o objetivo de constituir um corpus satisfatório, esgotar todas as pistas capazes

de lhe fornecer informações interessantes. Se nossos predecessores deixaram vestígios documentais, eles raramente o fizeram com vistas a possibilitar uma reconstrução posterior. A experiência pessoal, a consulta a trabalhos de outros pesquisadores que se debruçaram sobre objetos de estudos análogos, bem como a iniciativa e a imaginação, também integram adequadamente a constituição desse corpus. (...) De resto, a flexibilidade é também rigor: o exame minucioso de alguns documentos abre, às vezes, inúmeros caminhos de pesquisa e leva à formulação de interpretações novas, ou mesmo à modificação de alguns pressupostos iniciais (CELLARD, 2008, p. 298).

Na pesquisa da qual apresentamos aqui os resultados analisamos os documentos (seguindo a técnica proposta por Cellard, 2008), nos quais se definem os processos de avaliação da educação superior e do trabalho docente na graduação, coadunados com a análise histórica dos produzidos desde o final dos anos 80, quando se iniciam discussões sistemáticas sobre a necessidade de criação de sistemas avaliativos da educação superior brasileira, até o presente momento, quando os processos avaliativos tornam-se mais afinados com as demandas da produtividade, da competitividade e da qualidade, em suas definições lexicais do neoliberalismo. Cabe a ressalva de que serão aludidas informações sobre o período precedente ao aqui estipulado, que remontam a discussões e ações esporádicas sobre processos avaliativos a partir dos anos de 1960.

Em termos práticos, o corpus de dados da presente pesquisa será constituído a partir dos seguintes documentos:

 Relatório do Programa de Avaliação da Reforma Universitária – PARU ( 1980)

 Relatório da Comissão Nacional para Reformulação da Educação Superior – CNRES (1985);  Relatório do Grupo Executivo para Reformulação da Educação Superior – GERES (1986);

 Relatório do Programa de Avaliação Institucional das Universidades Brasileiras – PAIUB ( 1993);