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Capítulo 2 Aspectos Teórico Metodológicos

2.5 Sobre as entrevistas e seu tratamento

Como já foi mencionado, realizamos entrevistas com dez das onze professoras selecionadas para colaborar com este estudo.

A tabela abaixo apresenta informações sobre essas dez entrevistas.

Nome Data Tempo Local

Simone 06/07/2011 29:00 Residência da professora

Érica 24/11/2011 30:10 Escola em que trabalha

Vanilda 29/11/2011 25:00 Escola em que trabalha

Sônia 01/12/2011 29:58 Escola em que trabalha

Cristina 01/12/2011 23:09 Escola em que trabalha

Vanessa 03/03/2012 28:01 Escola em que trabalha

Ângela 05/03/2012 24:00 Residência da professora

Maria Inês 22/03/2012 41:07 Residência da professora

Maria Aparecida 13/09/2012 58:39 FaE/UFMG

Eliane 17/10/2012 29:56 Escola em que trabalha

Para o registro do momento da entrevista, o suporte escolhido por nós foi a gravação em vídeo. Essa escolha se deu para que tivéssemos acesso, além das vozes coletadas na gravação, às imagens das expressões de nossas colaboradoras.

Compartilhamos a consideração de Garnica (2007, p. 53):

Não há um registro definitivo de fatos pois não há fatos; há sempre uma percepção, um modo de comunicar as intenções, um “algo” que se mostra em perspectiva, uma perspectiva (a do falante) que mais frequentemente é compreendida segundo outra perspectiva (a do ouvinte) e as perspectivas, quaisquer que sejam elas, portanto, escapam às tentativas de apreensão quer pela malha da imagem, quer pela do som ou da escrita.

As professoras participantes foram avisadas previamente que as entrevistas seriam filmadas. Foram esclarecidas em relação ao objetivo da filmagem – o de registrar o momento da entrevista com precisão –, e quanto ao nosso pressuposto de que os recursos de áudio e vídeo poderiam contribuir na coleta de informações para o estudo. Foi acordado com as professoras, verbalmente e por sua assinatura, em documento próprio, que somente eu e minha orientadora teríamos acesso às gravações.

Seguindo os procedimentos da metodologia proposta na pesquisa, após a gravação das entrevistas, foi realizada sua degravação ou transcrição, tendo o registro da oralidade coletado em suporte digital sido convertido em um primeiro registro escrito. Como Garnica, Fernandes e Silva (2011, p. 235), consideramos que registros diferentes não são manifestações distintas de uma mesma coisa, e sim coisas distintas, sujeitas a instrumentos distintos de análise. Se a oralidade é o ponto de partida para nossa compreensão, a escrita é nosso ponto de partida para a análise formal.

Como é comum acontecer, as transcrições de nossas entrevistas apresentavam as características da linguagem oral, com repetições de palavras, interrupções de frases, uso de gírias e expressões populares, marcadores conversacionais e vícios de linguagem. Também eram evidentes as lacunas, geradas pelo uso, da parte de nossas colaboradoras, de recursos não verbais de linguagem, como expressões fisionômicas, diferentes entonações, ritmos e gestos.

Ao transcrever oralidades, percebemos que o texto escrito fica difícil de ler, pois a dinâmica da fala é diferente dos modos de construção da escrita. É necessário atribuir significados ao texto produzido, complementando as frases, trocando palavras e expressões conhecidas como vícios de linguagem, mas tudo isso com o cuidado de não comprometer a concepção, o sentido deixado pelo entrevistado.

Após termos realizado as transcrições, iniciamos um novo processo, o de textualização, que funciona como uma editoração do registro escrito obtido pela transcrição da entrevista. Conforme Garnica (2007), é um processo em que o pesquisador se lança sobre o depoimento não mais de modo tão técnico como quando lançou-se à degravação. Esse é o momento em que é dado ao registro escrito da entrevista um tratamento que envolverá negociações com o depoente a fim de que sejam mantidas suas intenções e que ele possa reconhecer-se no texto escrito.

As textualizações, em nossa pesquisa, são concebidas como uma forma de tratar os depoimentos e, sendo assim, constituem uma modalidade de conhecer o objeto pesquisado. Mais do que isso, elas representam, como tem ocorrido nos trabalhos do GHOEM-Grupo de Pesquisa História Oral e Educação Matemática25, o suporte para nossas análises.

À medida que as entrevistas eram concedidas, fomos realizando o trabalho de transcrição, pois, nesse momento, era possível reconstituir mentalmente, com certa facilidade, a cena da entrevista, os momentos que antecederam e sucederam a gravação, as interrupções.

A maioria das entrevistas foi gravada nas escolas das professoras participantes, em horário destinado a planejamento escolar. Em algumas situações, a entrevista foi interrompida pela entrada de algum estudante ou colega na sala, e foi possível observar a professora se distanciando do papel de entrevistada para assumir o papel de professora. O tom de voz e as expressões na dinâmica de conduzir a situação possibilitaram que nos aproximássemos da colaboradora em seu papel de professora, o que certamente repercutirá em nossas análises.

O trabalho de textualização demandou muitas leituras das transcrições e retorno às gravações. Foram momentos de reconstrução das cenas originárias do texto, atribuindo-lhes significados. De acordo com Garnica (2007), há níveis de textualização, e o pesquisador pode optar apenas por excluir do texto da transcrição alguns registros que são próprios da oralidade; além dessa textualização inicial, pode optar por “reordenar o fluxo discursivo do depoente, e essa reordenação pode ser feita temática ou cronologicamente” (p. 54). Segundo o autor, há inúmeras formas de realizar a textualização. Neste trabalho, buscamos, por meio das narrativas das professoras, conhecer as contribuições do LASEB. Com esse propósito, optamos por uma reordenação temática das falas transcritas para elaborar as textualizações. O roteiro de entrevista propunha um fluxo para os depoimentos de acordo com os aspectos que desejávamos que fossem abordados pelas professoras. No entanto, somente quatro professoras quiseram se orientar pelo roteiro e mesmo assim, no decorrer de seus depoimentos, incorporavam outros temas ao que estavam abordando.

A opção por apresentar as narrativas na forma de excertos deve-se ao fato de que, durante a elaboração das textualizações, foram suprimidos do texto da transcrição alguns registros que já haviam sido mencionados ou ainda, em alguns casos, registros de cunho pessoal ou político, que as depoentes solicitaram que não fossem apresentados na tese. Esses registros, embora não tenham sido textualizados, contribuíram para a pesquisa na compreensão das narrativas.

As professoras participantes tiveram esclarecimento sobre a finalidade de suas narrativas e assinaram um documento, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), autorizando a utilização dessas narrativas na pesquisa. Estavam cientes de que as textualizações construídas a partir de suas entrevistas seriam apresentadas a elas e de que seriam solicitadas a assinar uma carta de cessão de direitos da entrevista (APÊNDICE F), da transcrição e da textualização. Isso, com efeito, aconteceu posteriormente, como será apresentado no capítulo 5.

As dez textualizações que elaboramos são apresentadas, em ordem cronológica de sua realização, no capítulo a seguir.