• Nenhum resultado encontrado

Sobre as campanhas destinadas à prevenção das Doenças Sexualmente Transmissíveis

Mulheres

Para além das questões da maternidade, existem campanhas de prevenção das DSTs e das Hepatites Virais que se destinam ao público feminino em geral. Novamente há um foco muito grande em relação aos cuidados que a mulher deve ter em relação ao próprio corpo. Uma questão interessante aqui é que a noção de “autocuidado” e “proteção” é algo que se dá desde muito cedo, como se a prática da prevenção fosse algo intrínseca à constituição da mulher.

Como exemplo disso, temos as campanhas do HPV que se destinam às meninas da faixa etária entre os 9 e 13 anos: “Proteção para a menina, saúde para a mulher / Meninas de 9 a 11 anos devem ser vacinadas” / “A melhor forma de prevenção é vacinar as adolescentes e seguir fazendo o exame preventivo (Papanicolau) na vida adulta. Além, é claro, do uso do preservativo quando iniciada a vida sexual”15 / “Cada menina é de um jeito, mas todas precisam de proteção” / “Toda menina e toda mulher precisam de proteção” / “Meninas de 11 a 13 anos devem ser vacinadas” / “É preciso tomar a 2ª dose para estar protegida contra o câncer do colo de útero” / “Fique atenta ao período de vacinação na escola da sua filha ou procure uma unidade de saúde” / “É importante prevenir o câncer de colo de útero. Por isso, se você tiver entre 25 e 64 anos, faça os exames preventivos. E, se sua filha tiver entre 11 e 13 anos, deve ser vacinada contra o HPV. Fique atenta ao período de vacinação na escola ou vá

15 Campanha Vacinação contra o HPV (2015)

a uma unidade de saúde” / “Vacinação para quem precisa de mais proteção. Um direito seu assegurado pelo SUS”16.

As principais estratégias adotadas para a identificação e prevenção das DSTs são, respectivamente, a realização de testes rápidos e o uso da camisinha: “Eu me previno. Eu me testo. Eu brinco o carnaval. #partiuteste” / “O carnaval está aí e com ele a alegria e a responsabilidade também. Faça o teste de HIV em uma unidade do SUS. Ele é rápido, gratuito, seguro e sigiloso. Se o exame der positivo, comece já o tratamento. Assim, você e as pessoas com quem se relaciona ficam protegidas”17 / “#partiuteste. 30 anos de luta contra a AIDS” /

“Prevenir > Saber < Viver” / “Eu me previno, eu me testo, eu sou livre” / “Para se prevenir contra o HIV, vírus da AIDS, use camisinha sempre. Faça o teste de HIV em uma Unidade de Saúde do SUS, ele é rápido, gratuito, seguro e sigiloso. Se o exame der positivo, comece já o tratamento. Assim, você e as pessoas com quem se relaciona ficam protegidas”18 / “Eu me amo, eu me previno, eu tomo a vacina” / “Se você se ama tanto assim, proteja-se”19 / “Chegou a hora de mudar essa história. Andar com camisinha na bolsa, fazer o exame de aids (mesmo sendo casada) e usar preservativo feminino são atitudes de uma mulher preocupada com o seu bem-estar”20.

No entanto, o uso da camisinha é algo que suscita outras problematizações. Em 2009, o Ministério da Saúde lançou uma campanha21 destinada a mulheres da faixa etária dos 50 anos, com o seguinte slogan: “Clube da mulher madura. Use camisinha. É coisa de mulher segura.

Sexo não tem idade para acabar. Proteção também não” (Figura 9). Interessante que um ano antes, em 2008, foi lançado uma campanha22 para a mesma faixa etária (a partir dos 50 anos), só que para homens. O slogan da campanha era: “Camisinha depois dos 50: Experimenta”

(Figura 10). Há um tom de possibilidade nesta última. Ou seja, se ele quiser experimentar, ok.

Mas se não quiser, tudo bem também, pois a decisão é dele. Já no slogan da campanha das mulheres, há um tom imperativo na forma da escrita.

16 Campanha de Prevenção contra o HPV (1ª e 2ª Dose) (2014)

17 Campanha de Carnaval (2015)

18 Campanha Dia Mundial de Luta contra a AIDS (2014)

19 Campanha do Dia Mundial de Luta Contra as Hepatites Virais (2015)

20 Campanha do Dia Mundial da Luta Contra a AIDS (2004)

21 Campanha de Carnaval – Use camisinha. É coisa de mulher segura (2009)

22 Campanha de Carnaval – Camisinha depois dos 50: Experimenta (2008)

34

Figura 9 – Campanha de Carnaval: Use camisinha. É coisa de mulher segura (2009)

Fonte: Portal sobre Aids, Doenças Sexualmente Transmissíveis e Hepatites Virais.

Figura 10 – Campanha de Carnaval – Camisinha depois dos 50: Experimenta (2008)

Fonte: Portal sobre Aids, Doenças Sexualmente Transmissíveis e Hepatites Virais.

As campanhas também sugerem a responsabilização da mulher pela contracepção e pela prevenção do contágio da aids, sífilis e das hepatites virais: “Sem camisinha, não dá” / “Seja qual for a fantasia, use sempre camisinha” / “Use camisinha e curta o melhor da vida sem preocupação” / “A camisinha protege da aids e da hepatite. Usando-a corretamente, evita também a gravidez e outras doenças sexualmente transmissíveis” / “Mulheres podem e devem exigir que seus parceiros usem sempre camisinha. Sem ela, não rola”23 / “Quem tem amor próprio usa. Camisinha, um direito seu” / “Quem tem respeito por si mesma usa. Camisinha, um direito seu / “Quem dá valor à vida faz o teste de aids”. “A camisinha protege você da aids, das hepatites virais e de outras DSTs (Doenças Sexualmente Transmissíveis). Usando-a corretamente, você evita também a gravidez” / “Conversa. A melhor forma de negociar o uso da camisinha com o seu parceiro” / “Com relações estáveis ou não, todos nós somos vulneráveis ao vírus da aids e a outras doenças sexualmente transmissíveis. Optar pelo sexo seguro não é questão de confiança, é preocupação com a sua saúde e a do seu parceiro.

Converse com ele sobre esse e outros assuntos que fazem parte do relacionamento. Só a camisinha garante a sua proteção”24.

Temos que, ao mesmo tempo em que se responsabiliza a mulher pela prevenção das DSTs, pela contracepção e pela negociação com o parceiro para o uso da camisinha, não a instrumentaliza com recursos que efetivamente lhe dariam o poder de decisão, tais como a camisinha feminina. Esta, ainda que mencionada em alguns materiais, não recebe nenhum destaque nas mesmas. Veicula-se apenas a imagem da camisinha masculina nas campanhas, não incentivando, nesse sentindo, a discussão à respeito de outros métodos preventivos também passíveis de uso pelo público feminino (Figuras 11 e 12).

23 Campanha de Carnaval (2011)

24 Campanha: Camisinha, um direito seu (Campanha direcionada às mulheres beneficiárias do Programa Bolsa Família (2010)

36

Figura 11 – Campanha da AIDS direcionada às mulheres beneficiárias do Programa Bolsa Família (2010)

Fonte: Portal sobre Aids, Doenças Sexualmente Transmissíveis e Hepatites Virais.

Figura 12 – Campanha de Carnaval (2015)

Fonte: Portal sobre Aids, Doenças Sexualmente Transmissíveis e Hepatites Virais e Portal da Saúde.

Travestis e profissionais do sexo

A figura das travestis e das profissionais do sexo está vinculada quase que exclusivamente às campanhas de prevenção da aids e das hepatites virais, sugerindo, nesse sentido, que a questão das DSTs é uma das únicas demandas em saúde dessa população (Figuras 13, 14, 15, 16 e 17). É possível dizer, ainda, que tanto a imagem da travesti quanto das profissionais do sexo está muito ligado a noção de promiscuidade e adoção de condutas de risco: “Travesti, não deixe a sua saúde para depois. Faça o teste de aids” 25 / “Travesti, não fique na dúvida. Faça o teste de aids. Fique sabendo. O teste é gratuito, rápido, seguro e sigiloso. Aproveite também para fazer os testes de sífilis e de hepatites B e C. E use sempre camisinha. Procure uma unidade de saúde”26 / “Prostituta que se cuida, usa sempre camisinha” / “Um beijo pra você, que usa camisinha e se protege das DST, aids e hepatites virais” / “Eu não posso ficar sem camisinha meu amor”/ “Todo dia a gente tem que fazer educação e prevenção de aids”27.

Figura 13 – Campanha do Dia Mundial de Luta Contra a AIDS (2012)

Fonte: Portal sobre Aids, Doenças Sexualmente Transmissíveis e Hepatites Virais.

25 Campanha Dia Mundial de Luta contra a AIDS (2013)

26 Campanha do Dia Mundial de Luta Contra a AIDS (2012)

27 Campanha de Prevenção para Profissionais do Sexo (2013)

38

Figura 14 – Campanha do Dia Mundial de Luta Contra a AIDS (2014)

Fonte: Portal sobre Aids, Doenças Sexualmente Transmissíveis e Hepatites Virais.

Figura 15 – Campanha de Carnaval (2015)

Fonte: Portal sobre Aids, Doenças Sexualmente Transmissíveis e Hepatites Virais e Portal da Saúde.

Figura 16 – Campanha de Prevenção para Profissionais do Sexo (2013)

Fonte: Portal sobre Aids, Doenças Sexualmente Transmissíveis e Hepatites Virais.

Figura 17 – Campanha de Prevenção para Profissionais do Sexo (2013)

Fonte: Portal sobre Aids, Doenças Sexualmente Transmissíveis e Hepatites Virais.

40

Documentos relacionados