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Sobre cidades médias

No documento UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS (páginas 38-41)

1. O CENTRO DAS CIDADES:

1.2. DIFERENTES ESCALAS, DIFERENTES APONTAMENTOS

1.2.1. Sobre cidades médias

Em síntese, como afirma Sposito (2007), cidades médias são aquelas que possuem funções de intermediação entre cidades maiores e menores em diferentes redes urbanas, logo, possuem forte relação com a área em que se inserem.

Segundo Corrêa (2007), a origem desse tipo de cidade data da segunda metade do século XIX, período em que áreas urbanas da Europa ocidental e do nordeste dos Estados Unidos experimentaram um considerável crescimento demográfico e econômico durante a fase industrial do capitalismo, passando por uma desconcentração que traduzia-se na integração e diferenciação demográfica, criando uma rede urbana mais conectada e diferenciada funcionalmente, distinta do padrão anterior – caracterizado por cidades de diversos tamanhos e pouco articuladas entre si.

No contexto brasileiro, a partir da década de 1970, com a centralização das políticas púbicas urbanas10, as cidades médias se colocaram como uma solução para o problema da concentração populacional nos grandes centros11 o que contribuiu para a concretização do desenvolvimento econômico e social delas. Diante disso, passaram a receber maior atenção e

10 Conforme Steinberger e Bruna (2001, p.41), ainda que desde a década de 1960 já houvesse a intenção de que uma política urbana nacional fosse formulada, só no fim de 1973 que esse desejo começou a ser atendido a partir da elaboração de um documento acerca da Política Nacional de Desenvolvimento Urbano, que apontava quatro tipos de áreas de intervenção: “de contenção [...]; de disciplinamento e controle [...]; de dinamização (pólos de

desenvolvimento) [...]; e de promoção”. Sendo que as cidades médias estão incluídas nas áreas de dinamização por

serem consideradas verdadeiros polos de desenvolvimento e estarem aptas para receberem impulsos. O documento, portanto, se preocupava com os desequilíbrios e é a partir dele que se observa a importância das cidades médias no Brasil as quais poderiam servir de ponto de apoio e como alternativa as metrópoles.

11 No quadro brasileiro, os anos de 1950 e 1960 assistiram uma crescente migração da população para as cidades e como consequência elas se viram passar por uma concentração e um superpovoamento urbano, caso semelhante ao de cidades norte-americanas, que acabaram por produzir um inchaço metropolitano (STEINBERGER e BRUNA, 2001). Como reforça Souza (2009), as cidades não estavam preparadas para isso e logo problemas de ocupação de morros e encostas, de ausência de condições básicas para o bem-estar para população, de transporte, de violência, de desemprego, entre outros, começaram a surgir e como essa situação não se restringia apenas ao cenário brasileiro, a Organização das Nações Unidas, em 1974, promoveu uma conferência na Romênia sobre População onde se recomendava a criação e o reforço de uma rede mundial de cidades pequenas e médias para amenizar o crescimento excessivo das grandes aglomerações.

sofreram diversas alterações, sendo alvo de investimento e adquirindo novos papéis no sistema interurbano.

Mas, até então, nesse cenário da década de 1970, no campo do recém-criado sistema de planejamento, onde as ideias de reordenamento apareceram nas ações dos Planos Nacionais de Desenvolvimento (PNDs)12, o conceito de “cidade de porte médio” era utilizado baseando-se apenas em um recorte demográfico, critério que só conbaseando-segue indicar um faixa na qual pode haver cidades médias, termos antes utilizados como equivalentes, mas que já não possuem o mesmo significado (LUZ, 2009).

Portanto, é importante destacar que número de habitantes não é suficiente para explicar a complexidade que envolve a temática, ainda mais porque, “os limiares demográficos mudam bastante, de um país para outro, dentro de um mesmo país ou com o passar dos anos” (SOUZA, 2009, p. 76), por exemplo, “[...] considerando-se o território brasileiro, uma cidade com 100 mil habitantes no interior do estado da Bahia não é igual a uma cidade com o mesmo contingente populacional no estado de São Paulo [...]” (MAIA, 2010, p. 19).

Logo, para classificar uma cidade como média, é preciso levar em consideração grau de urbanização, funções, influências, cotidianos, inserção regional, organização territorial do trabalho, qualidade de vida. É necessário também compreender o papel que esta cidade desempenha na rede urbana em que ela está inserida, assim como as relações que ela estabelece. Para tanto, é fundamental frisar que aquelas cidades que “compõem uma área urbana estruturada funcionalmente, com grau significativo de integração ou coesão interna e, por isso, não podem ser estudadas, com base nas divisões político administrativas que orientam a coleta dos dados populacionais” (SPOSITO, 2001, p. 627), bem como uma cidade “local de concentração de atividades controladas externamente, cujos capitais sejam externos [...] (CORRÊA, 2007, p. 32), não podem ser caracterizadas como cidade média.

Corrêa (2007) aponta, então, três elementos essenciais para a construção de um quadro teórico acerca de cidades médias, que são a (1) elite empreendedora, visto que é esta que firma uma certa autonomia econômica e política e cria interesses locais e regionais; a (2) localização relativa, por ser lugar central na hierarquia viária e nó de tráfego, abrangendo tanto pessoas quanto capitais, mercadorias, serviços e informações; e as (3) interações espaciais por

12 Os PNDs tinhas seus objetivos voltados para o equilíbrio das discrepâncias existentes na organização espacial do território nacional por meio de ações estratégicas de desenvolvimento econômico, maior eficiência de ramos produtivos, distribuição de renda mais equitativa, contenção da migração rumo as metrópoles entre outros, o que não quer dizer que tenham sido totalmente efetivas e abrangentes (LUZ, 2009).

meio das quais a cidade se conecta à rede global, essas que são intensas, multidirecionais e multiescalares.

Desta maneira, o que se observa entre os diversos autores que trabalham no sentido de conceituar as cidades médias é que elas são como nós da rede urbana; lugar de referência e poder, detentoras de uma área de influência; condicionadas por relações espaciais com outros espaços urbanos de diferentes hierarquias – próximos ou não –; fomentadoras de bens e serviços, como exemplo podemos citar: Uberlândia (MG), Anápolis e Rio Verde (GO), Presidente Prudente (SP) e Sobral (CE). Sintetizando,

As cidades médias, contemplam diferentes temporalidades, a acessibilidade, fruto de uma localização privilegiada, permite que as inovações cheguem com rapidez, além de garantir a mesma fluidez para o escoamento da produção. As cidades médias, em geral, representam centros comerciais e industriais de projeção regional. Sendo dotadas de um mercado consumidor expressivo, estas cidades apresentam uma realidade que se destaca pela qualidade de vida e diversidade de atividades e serviços ofertados. (LUZ, 2005, p. 9)

Essa concepção de cidade média nos leva a entendê-la como locus onde a concentração e centralização econômica são expressivas e a influência que exercem na rede urbana em que se inserem é grande. E a partir da compreensão dessas características gerais, com base em Corrêa (2007), podemos distingui-las em: (a) lugar central, aquelas detentoras de grande concentração de bens e serviços e de uma elite comercial, convencionalmente denominada de capital regional; (b) centro de drenagem e consumo de renda fundiária, caracterizadas pelas grandes propriedades fundiárias, a partir das quais a cidade domina econômica e politicamente um considerável espaço regional; (c) centro de atividade especializadas, identificadas pelo desenvolvimento de interações a longas distâncias, já que suas atividades se voltam para o mercado nacional e internacional.

Frente a isso, as cidades médias podem transformar o espaço territorial em que se inserem levando a crer que Estado, população e iniciativa privada ganham com a sua existência em virtude de seus indicadores econômicos e sociais; das variadas formas de capitais que dispõe, até mesmo internacionais; da alta competitividade; da oferta de serviços – escolas, hospitais, lazer, cursos, etc.; do trabalho qualificado; dos índices menores de criminalidade; entre outros (GUIMARÃES, 2017).

Nesse sentido, as cidades médias “[...] têm sido apontadas como locais privilegiados para se morar pela qualidade de vida que oferecem, para se investir pela competitividade relativa que possuem e para se gerir porque ainda possuem um tamanho considerado governável”. Mas há que se ponderar até que ponto as ações de intervenção do Estado não estariam levando-as para o mesmo caminho das metrópoles e, consequentemente, para um

cenário de problemas equivalente. Para tanto, talvez, da mesma forma que ações promoveram a aceleração do processo de urbanização, seria importante estratégias para que a deterioração não ocorresse (STEINBERGER e BRUNA, 2001, p. 72).

No documento UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS (páginas 38-41)