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CAPÍTULO 4. RESULTADOS OBTIDOS

4.2 Resultados da reconstrução das Trajetórias de Transição

4.2.3 Situação atual

4.2.3.10 Sobre a comunidade

Procurou-se levantar dados em relação à infraestrutura básica da comunidade, como segue abaixo:

a) Saúde

No item saúde, os agricultores disseram que já teve época que o serviço prestado era bom, com médico da família e agente de saúde que faziam visitas nas casas, mas que atualmente o serviço é precário: quando precisam de médico, não tem, e se querem um atendimento de qualidade têm que pagar particular.

28 Marca dos produtos orgânicos comercializados com exclusividade nas lojas Pão de Açúcar, Extra, Sendas e Compre Bem. Informações prestadas pelos agricultores e confirmadas no site

Alguns depoimentos ilustram bem a qualidade do serviço de saúde que é prestado para os agricultores do Verava, como podemos acompanhar a seguir:

- “O posto não funciona, estão bem devagar, quando no máximo tem uma enfermeira ali só para fazer a ficha da pessoa; o médico vem dois dias por semana, quatro horas de atendimento, se ele puder fazer em duas horas, ele faz. Médico do SUS é aquela história: Onde que dói? Nem olha a pessoa, toma esse remédio aqui, vai lá e marca uma consulta e que se dane” (Agricultor 11). - “Você tem que ter dinheiro, isso não tá muito de acordo não, se você tiver doença, como eu que tenho pressão alta, ou o filho precisar de uns exame, não tem aqui, você tem que ter dinheiro para pagar. Não está muito bom, precisa melhorar mesmo. O médico atende duas vezes por semana, isso tá errado, se você precisar de médico depois do almoço, já não tem mais médico, aí tem que ir na cidade” (Agricultor 8).

E um agricultor completou, dizendo: “O vereador disponibiliza transporte para levar as pessoas no médico da cidade, por conta disso não se preocupa em melhorar o atendimento no posto de saúde”.

b) Educação

Em relação à educação, alguns agricultores disseram que é boa, outros disseram que está mais ou menos e tivemos casos que disseram que é ruim. Os agricultores que se disseram satisfeitos, justificam com o fato de que, antes, os filhos tinham que ir para Ibiúna, e agora estão tendo aula no Verava. Como eles ajudam na “lida”, trabalhavam até as cinco horas, chegavam em casa, tinham que tomar banho e pegar o ônibus das seis horas para ir para Ibiúna. Voltavam para casa meia-noite e meia, sendo que no dia seguinte tinham que acordar cedo.

Os que disseram estar mais ou menos colocam que escola tem, mas “há horas em que a professora é boa e outras não”, têm alunos que estão na 4ª série com “menos conhecimento” que os alunos da 2ª série.

E os agricultores que alegaram estar ruim afirmam que tem muito consumo de drogas e bebidas alcoólicas por parte dos jovens e que os alunos

fazem o chamado “paredão”, que consiste em não deixar entrar na escola quem quer assistir às aulas.

Salientamos que esta comunidade contou, por pouco tempo, com a EFAI, que tinha em seu Regimento Interno, art. 2º, os seguintes objetivos: 1) Promover a educação do jovem agricultor, capacitando-o a exercer suas atividades na propriedade familiar, diminuindo o êxodo rural; 2) Levar o jovem a refletir a sua própria realidade, junto aos pais e ajudar a transformá-la como um todo; 3) Minimizar o empobrecimento da zona rural pela perda de seus elementos mais capacitados; 4) Descobrir a primazia da vida sobre a escola, porque a vida, com seu ritmo próprio, faz crescer e amadurecer mais que a própria escola; 5) Envolver os pais e a comunidade na educação dos jovens locais; 6) Fomentar o espírito comunitário; 7) Desenvolver no jovem o gosto pela educação permanente; 8) Oferecer ao meio rural uma liderança motivada e tecnicamente orientada que possa estimular o desenvolvimento técnico e comunitário do mesmo; 9) Dar possibilidade ao jovem de desenvolver-se dentro de sua realidade e de acordo com suas potencialidades; e 10) Levar o jovem a aprender a aprender.

Atualmente a EFAI está desativada enquanto escola, sendo que sua área e infraestrutura estão sendo utilizadas da seguinte maneira: a) as terras foram arrendadas para um agricultor, que desenvolvia a prática agrícola e morava nas dependências que serviram antigamente de alojamento para os alunos; este agricultor recentemente parou com a atividade, devido às dificuldades financeiras encontradas após a falência do sistema de intermediação empresarial pioneiro, por conta da dívida não paga, não tendo condições nem recursos para seguir mantendo a família e desenvolver a atividade; b) as dependências onde funcionavam a cozinha, e o refeitório para os alunos, hoje abrigam a sede da COAGRIS, espaço também usado por seus associados para o beneficiamento dos produtos; e c) as antigas salas de aula e biblioteca são utilizadas para reuniões da COAGRIS e da Associação dos Amigos da escola Família Agrícola de Ibiúna (AAEFAI), e de cursos e atividades oferecidas para a comunidade.

c) Acesso ao crédito

Sobre o acesso ao crédito, alguns agricultores disseram que está bom, nunca tiveram problemas e melhorou um pouco em 2008; outros já colocaram que para uns está fácil e para outros está difícil, depende da “coragem do produtor”, pois pegar empréstimo é um risco, tem que estar com tudo “certinho”, senão não consegue e assim vão se virando só com o que tiram da “roça”. Os que conseguiram crédito foram credenciados pelo Banco do Brasil, e só conseguiram porque são filiados ao sindicato.

Eis um caso a destacar, em que o agricultor declara: “Peguei o PRONAF, paguei rapidinho para pegar outro, mas entrei como fiador de outro agricultor, que não pagou, e não consegui mais” (Agricultor 10).

d) Infraestrutura (energia elétrica e estradas)

Em relação à energia elétrica, comentaram que a mesma está muito cara no meio rural e isso aumenta os custos por conta do uso da bomba de irrigação. Já as estradas internas, estradas externas e rodovias para escoamento da produção, na opinião geral dos agricultores, estão péssimas, sem manutenção, e ficam piores quando chove.

4.2.3.11 Futuro dos filhos e da atividade produtiva

Segundo os agricultores, os filhos estão acompanhando as dificuldades pelas quais os pais estão passando e, com relação ao futuro dos filhos, no geral, pensam que eles irão continuar com o “orgânico”, alguns permanecendo no Verava e outros indo para outros lugares. Isso irá depender de como as coisas seguirão daqui para frente. Os filhos, em sua grande maioria, já ajudam os pais na atividade; outros já constituíram família e estão tocando suas próprias “roças”, e outros ainda são muito novos, para se pensar em termos de futuro.

Mas tivemos caso específico em que o agricultor afirma: “Meu filho pretende continuar com a agricultura, mas se as coisas continuarem difíceis assim, não sei se vai continua com o orgânico, talvez volte para o convencional ou comece com o cultivo hidropônico” (Agricultor 5).

Destacamos o depoimento de um agricultor, em relação ao futuro dos filhos: “o que a gente tem, se sobrar alguma coisa, será deles. Agora, o que eles vão fazer, não tenho como dizer” (Agricultor 10).

Em relação ao futuro da atividade produtiva e segundo os depoimentos, tivemos casos de agricultores que pretendem aumentar a área de produção, inclusive comprando mais terra e continuar com a agricultura de base ecológica, por gostarem do que fazem, por gostarem de morar no Verava e por alegarem que só sabem “fazer isso”. Têm a consciência de que, aumentando as áreas, aumentarão a produção e talvez precisem investir em equipamentos e compra de veículos.

Um agricultor comentou: “Tenho um grande sonho de comprar de volta as terras que eram dos meus avós, ou pelo menos parte delas. Mas, para isso precisaria melhorar a quantidade de venda, ou seja, aumentar a área e aumentar a produção também“ (Agricultor 6).