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Sobre o desenvolvimento da fossilização no aprendizado da LE Desde o seu surgimento (em 1972), o conceito de fossilização já

Capítulo 1 AQUISIÇÃO/APRENDIZADO DE LÍNGUA ESTRANGEIRA

1.1 A Interlíngua

1.2.2 Sobre o desenvolvimento da fossilização no aprendizado da LE Desde o seu surgimento (em 1972), o conceito de fossilização já

sofreu profundas alterações em sua definição. Inicialmente, era abordado como uma falha relativa, que Selinker nomeou de “backsliding”, o que significa uma falha ao tentar manter um certo nível na Interlíngua. De fato, pode ser considerada uma maneira um tanto negativa de prever sua definição, pois o estado final da Interlíngua era visto como uma gramática, que se diferenciava da variedade da língua- alvo, dentre outros modos, em sua relação permanente de regras e formas distintas daquela, em vez de se considerar a oportunidade adequada de o falante poder melhorar o seu desempenho nesta língua. Assim, havia formas que reapareciam insistentemente no desempenho da LE, muito tempo depois de já terem sido dadas como substituídas. Nesse sentido, a fossilização era interpretada como produto, uma vez que, como processo, era permeada pela transferência da L1 e considerada como parte da estrutura psicológica subjacente individual do falante. (LONG, 2006, p. 487; tradução nossa) Temos, assim, a primeira definição do que vem a ser fossilização:

Um mecanismo que existiria na estrutura psicológica latente... Fenômenos linguísticos fossilizados são itens, regras e subsistemas linguísticos, que falantes de uma língua-nativa particular tenderão a produzir em suas Interlínguas (IL) relativas a uma língua-alvo particular, não importando qual a idade do falante ou a quantia de explicação e instrução que ele recebe na língua-alvo... Um fato crucial, que qualquer teoria adequada de aprendizado de língua-estrangeira terá de explicar é o reaparecimento regular ou a re-emergência no desenvolvimento produtivo das estruturas linguísticas da IL que foram dadas por erradicadas. Esse reaparecimento comportamental é o que me conduziu a postular a realidade da fossilização e das ILs. (SELINKER, 1972, p. 215

apud LONG, 2006, p. 488; tradução nossa)

A priori, pensamos que esta definição já apresenta duas inadequações, que consideramos cruciais para esta pesquisa: A questão maturacional do falante, ao contrário do que foi abordado por Selinker (1972), é uma variável evidente para a aquisição, tanto da L1 quanto da LE, pois basta nos referirmos ao Problema de Platão, também conhecido como Período Crítico ou, no nosso caso da LE, à idade máxima de 10 anos do falante, segundo Riehl (2004), denominado recentemente de Período Crítico Sensitivo, que delimita e restringe a possibilidade de o falante não possuir mais sotaque estrangeiro, por exemplo, em uma determinada LE; a outra questão, que para nós constitui outra variável também relevante, diz respeito ao número de horas/aula que o falante desenvolveu nas suas aulas de língua- estrangeira.

A segunda definição para o fenômeno, proposta seis anos depois, foi apresentada por Selinker & Lamandella (1978, p. 187 apud LONG, 2006, p. 488-489; tradução nossa). Agora, fossilização é definida como:

A cessação permanente do aprendizado da Interlíngua (IL), antes de o falante atingir as normas da língua-alvo em todos os níveis da estrutura linguística e em todos os domínios do discurso, em vez de abordar a possibilidade positiva do falante e a oportunidade ou a motivação de aprender ou de se aculturar na sociedade-alvo. (tradução nossa)

Nesta nova definição, notamos a inclusão da expressão “todos os níveis da estrutura linguística” e do termo “domínios do discurso”, o que altera de fato a forma como o fenômeno pode ser encarado. Segundo Long (2006, p. 489; tradução nossa), a inclusão desse termo considera a fossilização de uma maneira mais fácil de abordar e de verificar em que nível ou “onde” na gramática a fossilização ocorreu.

Um ano depois, Selinker sugere uma nova definição para o conceito, na qual a fossilização não é mais dependente do domínio, mas sim, do contexto e, então, poderia ser evidenciada uma variabilidade pelos contextos, e não somente pela uniformidade no desempenho através de contextos, além de ser significativamente submetida a condições de exposição natural, isto é, nos contextos linguísticos da LE, em oposição a contextos de língua estrangeira. Novamente, segundo Long (ibid), contexto estava indefinido e, na prática, difícil de se operacionalizar. Assim sendo, fossilização passou a ser considerada como:

Uma situação em que o falante pode produzir uma forma da língua-alvo corretamente em um contexto, porém, não em outro. Assim, evidenciando uma variação no desempenho da Interlíngua. A fim de qualificar a fossilização, essa variação teria de persistir na fala do falante por um longo período no tempo (talvez, de dois a cinco anos) – em vez de uma cópia de interação com falantes nativos em um ambiente, em que a LE é falada como língua-materna. (SELINKER, 1989, citado por Bean & Gergen, 1990, p. 206

apud LONG, 2006, p. 489; tradução nossa)

Esta terceira definição parece ser mais flexível em relação às anteriores, no sentido de que o falante pode produzir uma forma ou uma

estrutura gramatical, citada como correta pelo autor, em um contexto tal, o que por sinal lhe oferece mais liberdade no que diz respeito ao aprendizado da sua Interlíngua. Ele consegue se mover mais nela, dado que essa última definição não é tão radical como as primeiras. No entanto, isso não exclui a possibilidade de a estrutura, que foi realizada gramaticalmente em um determinado contexto, ser realizada da mesma maneira em outros. Isso significa dizer, em outras palavras, que o falante fica sujeito a variações (lembrando-nos analogicamente o movimento de um pêndulo) durante o aprendizado da língua-alvo, o que nos leva a afirmar que ele não possui intuição linguística4 para essa determinada língua, assim como possui para a sua língua-mãe e, por isso, este pode ser um fator que condicionaria tal variação, nos termos de Selinker (1989). Além disso, o autor propõe um tempo mínimo de dois a cinco anos para que haja fossilização. Porém, qualquer estudante de linguística pode indagar o seguinte: Quais são os parâmetros encontrados por ele para tal delimitação? Em que se baseou o autor para afirmar isso? Realizamos, aqui, uma crítica en passant ao autor por não nos fornecer bases para tal, o que deixa a sua teoria com uma lacuna a ser preenchida. Contudo, reforçamos, nesta pesquisa, que este não vem a ser o nosso objetivo. Lembramos, assim, que nosso objetivo é o de fazer uso da teoria da fossilização e da estabilização como uma das possibilidades teóricas para análise dos dados encontrados a partir da fala das informantes que participaram desta pesquisa.

A quarta definição, a mais recente proposta por Selinker (1996 apud LONG. Ib., p. 519; tradução nossa), considera o fenômeno da fossilização como “uma explicação geral de diferenças relacionadas tanto à idade quanto à capacidade de se aprender uma língua- estrangeira”. Eis a definição:

Fossilização é um processo, através do qual o falante cria uma cessação no aprendizado da interlíngua, estagnando-a definitivamente... Isto significa dizer que o aprendiz, a partir deste instante, não conseguirá jamais falar a língua estrangeira como um nativo (SELINKER, 1996, citado por Han, 2000b, p. 5 apud LONG, ib.; tradução nossa)

4

Para fins de definição de conceito, intuição linguística no PB é equivalente aos termos - feeling, no inglês, e à Sprachgefühl, no alemão padrão.

Esta definição é criticada por Long (ib.), pois aborda a questão maturacional do aprendizado como um fator geral e crucial. Por isso, a autora propõe que haja outra explicação adicional a ela, e sugere a falta de habilidade (do falante) para adquirir uma LE, assim como também a falha em adquiri-la, que estão intrinsecamente relacionadas à oportunidade inadequada de aquisição, à falta de motivação, etc. Tudo isso contribuiu, portanto, para que o falante estrangeiro não se torne relativamente competente numa certa LE comparado a um falante nativo.