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SOBRE A FENOMENOLOGIA E A TENTATIVA DE FUNDAMENTAÇÃO DE UMA CIÊNCIA RIGOROSA.

Ou seja, de maneira pública, total e suficiente.

SOBRE A FENOMENOLOGIA E A TENTATIVA DE FUNDAMENTAÇÃO DE UMA CIÊNCIA RIGOROSA.

Estanislau Fausto (Bolsista COPES – UFS.

Membro do NEPHEM.)

RESUMO:

Edmund Husserl tentou realizar a fundamentação da filosofia como ciência rigorosa. Mas a que se deve esse fato, por que ele trabalhou com tamanho empenho nessa obra? Nosso presente texto é uma pequena explanação sobre essa questão, e sobre as respostas dadas por Husserl para tal questionamento.

Palavras-chave: Husserl, fenomenologia, ciência rigorosa, eu transcendental.

ABSTRACT:

Edmund Husserl tried to find in philosophy as rigorous science. Why he worked with such commitment on this issue? Our present text is a little explanation about this issue, and on the answers given by Husserl for such questioning.

Keywords: Husserl, phenomenology,absolute science, transcendental self.

Edmund Husserl é, sem dúvida, o maior expoente filosófico nascido na Morávia (atual República Tcheca). Tornou-se uma das figuras mais proeminentes da filosofia do século XX, quiçá o grande filósofo desse século. Se não era o maior, ao menos foi uma árvore bastante frondosa que, fez germinar ente seus frutos, de forma direta ou indireta, Heidegger, Gadamer, Lévinas, Sartre, Foucault, Flusser, Miguel Reale e Merleau-Ponty,

fazer uma pequena explanação, é a sua busca pela fundamentação da fenomenologia como ciência de rigor. Aqui, especificamente, propomo-nos a um estudo sobre essa fundamentação; e, sobre a proposta de Husserl de um eu transcendental, que é necessário para melhor compreensão da tese fenomenológica. As Meditações Cartesianas,obra especialmente satisfatória para a compreensão da analítica transcendental, será o nosso grande ponto de apoio para o presente texto. O que ocorre devido ao fato de que a análise dessa obra parece ser adequada para a iniciação de tal percurso.

O primeiro e importante ponto que servirá para introdução das Meditações Cartesianas, será o da designação da problemática fenomenológico-transcendental e como ela se encontra na história da filosofia. Para sermos mais claros, a pergunta central é: qual seria genealogia do método fenomenológico? Husserl expressa o método como oriundo da filosofia cartesiana. Desta forma, o fenomenólogo iniciará suas Meditações esclarecendo-nos sobre a problemática cartesiana. Mas qual problema será este? Husserl nos indica que é em Descartes que poderemos encontrar a primeira grande tentativa moderna de fundamentar a filosofia como ciência rigorosa; ou seja, a primeira ciência, a ciência que tem todas as demais como membros do seu grande corpo, e, até por isso, membros dependentes de sua verdadeira fundamentação. É por tal fato que Husserl eleva Descartes ao papel de: “o maior pensador francês”.2

Como se daria, então, o encontro da contenda filosófica cartesiana com o da fenomenologia? A resposta seria que a fenomenologia, como estudo dos fenômenos, ou seja, estudo do que nos aparece à consciência, não poderia ser limitada à ciência particular; na verdade, a fenomenologia teria que ser o fundamento das demais ciências, por ser, justamente, a que lida com o conhecimento do fenômeno em si. Husserl deseja, com isso, encontrar o ponto inicial para a construção da possibilidade das ciências. E terá como base, a saber, a reflexão sobre a reconstrução filosófica iniciada por Descartes. Assim como o filósofo francês, Husserl tenta oferecer a cada nova etapa de sua investigação, verdades intelectivas seguras, para possibilitar a construção de uma verdadeira universalidade e autenticidade para a filosofia. Segundo os dois filósofos,

1 Para mais informações ver: Nytamar de OLIVEIRA, Husserl. In: Pecoraro ROSSANO,Os filósofos.

Clássicos da Filosofia., vol. II,Petropolis:Vozes/PUCRJ, 2008, p. 231-253.

PIDCC, Aracaju, Ano II, Edição nº 03/2013, p.185 a 189 Jun/2013 | www.pidcc.com.br

para atingirmos um ponto seguro, é necessário o retorno ao ego, pois o próprio eu se torna o lugar central para o estabelecimento de verdades intelectivas. Esse retorno é o próprio retorno às cogitações puras iniciadas por Descartes. Husserl toma, como pressuposto metódico, justamente a dúvida hiperbólica, o ceticismo realizado pelo filósofo francês; põe todas as coisas de que se pode duvidar em suspensão, para buscar a fundamentação primeira, a absolutamente evidente. A dúvida, no presente caso, é um momento a ser superado, servirá para o alcance da verdade. A verdade que, por isso, torna-se não apenas uma forma discursiva de expressar que as coisas são como elas realmente são, mas a que, em sentido metafísico, explana a busca de uma validade universal. O encontro desta evidência se dá de forma subjetiva, entretanto, por ser realizável por qualquer homem, tal evidência deve ser universalizada.

Para Descartes,a evidência primeira será o fundamento do que podemos denominar de ego puro, ou seja, que é impossível de ser suprimido em meio às cogitações; sendo assim, a partir da subjetividade, se constituirão as bases para o surgimento de outras verdades decorrentes dessa primeira meditação. No entanto, Husserl nós dirá que o grande problema filosófico consiste na perda de uma unidade da própria filosofia. No século de Husserl, em vez da busca da unidade entre razão e experiência, tem-se apenas uma fragmentária literatura filosófica, algo muito familiar ao nosso próprio século. É por isso que Husserl fez a seguinte pergunta:

Não estamos nós, neste desditoso presente, numa situação semelhante aquela que Descartes encontrou na sua juventude? Não estaremos, portanto, no tempo oportuno para recordar aquele seu radicalismo de filósofo incipiente e também para submeter a uma subversão cartesiana essa literatura filosófica enorme a perder de vista, (..) e, de começar com novas Meditationes de

prima philosophia?3

Encontramos, então, o ponto oportuno para a recuperação do sentido mesmo das Meditações Cartesianas: é novamente necessária restituir o ponto primário da filosofia, torná-la ciência de rigor, pois só assim termos a possibilidade de descoberta do real.

A fenomenologia, enquanto ciência, necessitaria também segundo Husserl, de um fundamento apodítico que surge a partir do próprio ego, mas não apenas o ego cartesiano; e sim (neste momento se dá a tentativa de superação do cartesianismo pela

3 Ibid, p. 54.

por Husserl para alcançar o eu transcendental.Com isso, a fenomenologia prpõe a epoché, ou seja, a colocação entre parênteses de todo o conhecimento que possa ser posto em dúvida, para levar-nos à verdadeira essência, à subjetividade inicial da própria consciência. Destarte, as verdades que inicialmente pareceriam óbvias (como, por exemplo, o mundo exterior ao eu, que não é nada mais que aquilo que sempre perpassou nossa experiência) não podem ser vistas como fundamentos, pois, ainda essas podem ser postas em dúvida. É devido a isso que, para Husserl, a grande limitação da filosofia cartesiana vai ser a tentativa de salvar um pedaço do mundo, sem, no entanto, propor o que levaria à verdadeira filosofia rigorosa :o sujeito transcendental.

O que seria então o sujeito transcendental? O sujeito transcendental é justamente a saída da subjetividade do puro conhecimento ególatra, para a ideia de conhecimento que seja válido para toda a espécie humana. Desta forma, podemos expor que o ego transcendental é uma formulação bem mais profunda que o ego alcançado pelo cartesianismo, pois a formulação de Husserl pretende encontrar a própria causa estrutural do pensar:o eu transcendental. O eu já não é mais o eu estrito, o que pertence somente a mim, mas é o eu puro, que é a causa inicial do conhecimento. É o eu que perpassa todos os homens, e que dá a todos a mesma possibilidade de observação do mundo. Ou seja, este é o eu que encontra o sentido válido de uma estrutura transcendental da possibilidade de conhecimento do mundo pelo homem. Este eu é o eu unificador da vivência humana, talvez do conhecimento que se encontra nos homens e que nos permite, por exemplo, ao observar um cigarro, saber que aquilo é o fenômeno que denominamos cigarro. Sendo assim, esta estrutura não está apenas em mim, não pertence apenas à minha consciência, mas à consciência humana em geral.

Enquanto consciência particular, eu sei a possibilidade da consciência dos demais homens. Destarte, a fenomenologia torna a própria subjetividade fundamento para o conhecimento, ultrapassando, segundo o filósofo da Morávia, a objetividade das ciências empíricas. Assim, a possibilidade de conhecimento do mundo torna-se válida; o mundo, ou o ser do mundo, também é transcendente ao homem; pois o mundo, ou qualquer objeto que nele esteja, não é um uma parte do meu eu,4 da mesma forma que o eu não é um pedaço do mundo. Com isso, a consciência, na estruturação dada pelo eu

4 Ibid, p. 74.

PIDCC, Aracaju, Ano II, Edição nº 03/2013, p.185 a 189 Jun/2013 | www.pidcc.com.br

transcendental, enquanto consciência sempre de algo, poderá ter a pretensão de conhecimento da essência mesma das coisas. Poderíamos, com essa estrutura realizada por Hussel, superar a própria dúvida a respeito da existência do mundo, ao percebermos que ele não é um pedaço do nosso eu, mas um ser de existência própria e transcendental. Concluindo que, superaríamos, também, a dúvida a respeito possibilidade da existência das demais consciências, quando percebermos que todas as consciências participam de uma mesma estrutura transcendental.

Referência Bibliográfica:

OLIVEIRA, Nythamar de. Husserl. IN: PECORARO, Rossano (ORG). Clássicos da filosofia, v. II: de Kant a Popper. – Petrópolis, RJ: Vozes; Rio de Janeiro: PUC- Rio, 2008.

HUSSERL, Edmund. Meditações Cartesianas. Trad. Pedro M. S. Alves. Lisboa: Phainomenon. ,2010.

Publicado no dia 22/06/2013 Recebido no dia 10/06/2013 Aprovado no dia 13/06/2013

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