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6 Análise e discussão

6.1 Sobre gestão criativa

Para Hardt e Negri (2012), Florida (2011), Nicolaci-da-Costa, dentre outros autores, a gestão tradicional é baseada em vários níveis hierárquicos e burocracia excessiva, além de uma liderança controladora. Agora algumas condições são necessárias para que um contexto possa ser considerado incentivador da criatividade organizacional. Destacam-se a abertura e tolerância à diversidade, o interesse por diferentes pontos de vista, a possibilidade de interação entre pessoas, a busca do aprendizado, aceitação de abordagens múltiplas e excêntricas na resolução de problemas, como características de uma gestão criativa.

Visto isso, os participantes e as participantes do estudo foram questionadas sobre o que eles entendiam como gestão criativa e gestão tradicional. Para estas pessoas, a primeira é vista como aquela capaz de dar mais liberdade e a possibilidades de assumir riscos em busca de diferenciais, de incentivar a criatividade. A que procura colaboração entre os diversos atores envolvidos na produção de um bem ou serviço, tendo o gestor o papel de organizar as atividades, não tanto de controle, como outrora. Outra característica apontada foi a relação desta gestão com a geração Y e os modelos de negócios que quebram as formalidades apresentadas pelas gerações anteriores. Já a gestão tradicional é enxergada como a que predomina os vários níveis hierárquicos, a formalização excessiva, além de uma série de

H – Em pr esa de G am e Educ at ivos

Formado em Ciência da Computação, estagiou em algumas empresas do ramo de tecnologia no Recife, na área de programação digital. Trabalhou em uma empresa de Publicidade e Propaganda com sede em São Paulo, mas com filial na capital

pernambucana. Depois surgiu a oportunidade para trabalhar como gestor de projetos na empresa atual, onde está há um ano e meio. A organização da qual ele faz parte é da área de tecnologia, trabalhando com jogos educativos para alunos da rede pública do ensino fundamental há mais de oito anos.

documentação dentro da organização, onde tudo deve ser seguido à risca. Este tipo de gestão é ainda entendida como aquela pautada na produção em série, e também caracterizada por lançar um foco, traçar um plano e buscar o objetivo. Acompanhe alguns relatos:

Eu vejo as coisas são meio engessadas (sobre a gestão tradicional), o pessoal tenta formalizar demais, seguir muito a documentação à risca, e acaba inibindo muitas variáveis que num primeiro momento muitas pessoas podem classificar como uma loucura, como desnecessário, e são justamente esses pontos fora da curva que podem nos surpreender e gerar cenários alternativos e extremamente criativos. Então eu acho que a diferença principal no cenário de uma gestão criativa ela dá mais liberdade e ela assume riscos maiores para que a gente consiga ter um pouco dessa linha criativa do negócio. (H)

Gestão tradicional seja uma gestão que venha de nível hierárquico de cima pra baixo. E uma gestão criativa ela está muito mais relacionada com esses novos modelos de negócios e até mesmo dessa nova mão-de-obra, que é jovem, a geração y. O gestor ele tem que tá horizontalmente em todas as atividades da empresa, ele tem que estar a par do que acontece. O papel do gestor é muito mais de organização, não de controle. (E)

Pode-se argumentar a dúvida e o questionamento se este novo tipo de gerenciamento não é apenas um reflexo da configuração social atual, a qual predomina a entrada e consolidação dos trabalhadores da geração Y, ávidos por liberdade e reconhecimento de seu potencial. Um fato a ser encarado é que se o mundo muda, suas organizações e a forma como elas são geridas vão refletir esta transformação. Nota-se também que os relatos inferem mais sobre aspectos subjetivos, como liberdade, criatividade, risco, quando se trata da gestão criativa, do que quando se referem à gestão tradicional.

Uma das entrevistadas comentou sobre a dificuldade de entender o valor que a sociedade percebe como sendo da economia criativa. Segundo ela, na compra de um produto físico você põe embaixo do braço e leva para casa, todavia, questiona-se quando essa mesma pessoa precisa investir capital num produto que ela vai receber retorno em forma valor. “Como você mede esse valor? A gente tem uma dificuldade muito grande que as pessoas entendam o valor do nosso negócio.” (A) O que, a meu ver, reforça o contraponto dos aspectos subjetivos e objetivos expostos acima. Isso pode ser compreensível pelas mudanças na compreensão da produtividade (HARVEY, 1989), esta não apenas se baseando nas capacidades cognitivas e comunicacionais, mas também na mobilização e apropriação de um conjunto de valores e estilos de vidas diferenciados, no entanto, o consumidor muitas vezes não participa desta nova configuração produtiva, e seus valores e premissas estão calcados em

algo mais seguro, mais objetivo, características que não são as principais na economia criativa.

Quando questionados sobre sua atuação enquanto gestores de organização da economia criativa, um entrevistado apontou que isso nunca lhe passou pela cabeça, não importando o fato de serem deste setor da economia ou não, e outro que não se via no papel de gestor:

Sinceramente eu nunca me parei para perguntar isso, e nunca achei isso relevante para mim. Eu encaro como um problema que eu tô tentando resolver. A gente não tá preocupado em ser criativo, se é economia criativa ou não. (D)

Eu gestor? Não. Eu acho que não. (Comenta rindo). (F1)

Ao mesmo tempo houve quem assumiu que ainda não alcançou um nível de gestão desejável, no próprio entendimento, colocando suas habilidades técnicas e/ou artísticas como num nível acima de suas capacidades gerenciais.

Eu me enxergo uma artista gestora (B); e

Tenho muito a aprender. Eu considero que eu aprendi muito nestes últimos dois anos e meio. [...] Eu ainda me atrapalho com a administração. (A).

E ainda quem percebesse sua atuação frente a incentivar a criatividade dentro da organização, o que é condizente ao apontado por Florida (2011) e Muzzio e Paiva (2015) ao destacarem que o papel do gestor criativo seria ser um facilitador para que os trabalhadores possam desenvolver e incentivar a criatividade.

Eu tento fazer o máximo para alimentar esse sentimento aqui dentro, de criatividade. Eu tenho que saber, eu tenho que identificar os momentos que a gente precisa acender essa chama da criatividade, extrair mais, ter coragem para assumir riscos, incentivar a opinião de todos, ter muita calma e muita coerência na hora de tomar decisões, e conseguir muitas vezes até deixar um pouco de lado aquilo que você acha que certo em prol da discussão alí, e dá oportunidade para se gerar um pensamento diferente. Eu acho que eu tenho que ser um incentivador disso aqui dentro. (H)

Neste ponto, enxergo que o modo de encarar a gestão reflete o repertório de vida de cada um. Quem nasceu, formou-se ou cresceu artista e precisou ou optou pela atuação no mercado, não obstante a razão para tal. É compreensível que para alguém que foi empurrado por uma conjuntura socioeconômica a ser gestor não se identificar com o papel desse ator

social, mas sim com aquele que respalda suas vivências e experiências. É possível supor que talvez a carência de experiências em cargos de gestão possa ajudar nessa identificação, pois quem já tinha atuado em atividades assim não mostrou tal comportamento. Ou ainda que este gestor esteja com sua concepção acerca desta figura como a de um gestor tradicional, o que não reflete seu modo de atuação.