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CAPÍTULO II: UM ESTÁGIO NUM MUNICÍPIO

CAPITULO 3: O MUNICÍPIO E A AGREGAÇÃO DE AGRUPAMENTOS

2. Apresentação e discussão de resultados

2.3 Sobre impactos na organização escolar

Um dos aspectos mais focados neste ponto, pelos entrevistados, foi a quantidade de alunos pertencentes a um mesmo agrupamento: “(…)Com um universo tão vasto acaba por tornar as coisas difíceis de serem conseguidas.” (E4); “(…)É preciso haver uma relação entre os agrupamentos e a escola…e têm que ser funcionais” (E4); “(…)numa escola secundária, tenho um departamento com de mais de cinquenta professores, se juntar tudo, fico com um departamento na ordem dos oitenta ou noventa professores e depois é difícil trabalhar.” (E4). Este aspecto demonstra que existe uma ambiguidade entre a necessária redução de custos e a perda de qualidade no ensino.

A posição do município sobre a reorganização escolar não foi transmitida oficialmente às escolas, pelo que este aspecto foi referido frequentemente: “(…)A posição não tem sido transmitida a não ser oralmente, por conversas e diálogos entre as partes quando estão presentes”(E3).

Deste modo, este foi um ponto incomodativo para estes gestores das escolas, pois se esta tivesse sido tomada claramente as escolas saberiam com que contar.

Nestas entrevistas são postas em evidência as dificuldades sentidas na gestão da vida escolar. Desde logo pela sua complexidade natural, de um universo que agrega diferentes indivíduos: “(…)Diariamente a gestão desta escola é muito complicada.” (E2). Também pela imensidão de tarefas a executar: “(…)agora não sei se é possível ter 4000 alunos num agrupamento, 300 professores, 150 funcionários, não sei se é funcional(…)Isto assim já é uma média empresa com um orçamento já considerável”(E3).

Ao nível da aprendizagem, também as metas definidas pelo programa de aprendizagem para 2015 podem não ser conseguidas tão facilmente como se pensa. Os principais objectivos deste programa visavam a elevação das competências básicas dos alunos portugueses; assegurar o cumprimento da escolaridade obrigatória de 12 anos e ainda reforçar o papel das Escolas. Neste sentido teriam que ser revistas e adaptadas e esta nova reorganização escolar: “(…)Tinha que haver alterações para termos as mesmas metas, uma série de objectivos comuns ao agrupamento”(E1). Não facilitando o seu cumprimento, os mega-agrupamentos poderiam ajudar as escolas secundárias a alcança- los mais facilmente: “(…)estando no agrupamento os números são mais fáceis de cumprir, se calhar, mas isso não significaria que a nível do sucesso real se concretize.”E1

Os impactos na organização escolar podem também ser analisados ao nível da redução de custos e optimização de recursos, prosseguindo os objectivos da medida. Isto pode ser ao nível da redução de funcionários pois com a agregação dos agrupamentos com escolas secundárias, haveria uma duplicação de funções e de chefias: “(…)Há aqui uma concentração, duplicação de funções que não faz sentido manter”(E4). De qualquer modo é importante também perceber que as vivências dos agrupamentos e das escolas secundárias são diferentes, tal como a sua organização administrativa: “(…)A EB 2.3. tem uma secretaria, a secundária tem uma secretaria e elas funcionam de forma autónoma e se juntarem têm que funcionar como uma só. Claro (…) o chefe que ficar tem mais trabalho obviamente. Para tratar do sector dos alunos, não chega um

funcionário ou dois, preciso de mais, ou para tratar dos registos biográficos ou para dar andamento aos processos, não chegam o número de funcionários que tinha porque se o número de professores aumentou para o dobro, há mais serviço, mas de uma forma geral não é duplicar, portanto haverá menos gente…agora mais burocracia, penso que é exactamente a mesma coisa. Tenho é que ter gente especializada em todo o tipo de funções. As particularidades do ensino secundário é uma coisa que as pessoas que trabalham numa EB 2.3 nunca vivenciaram.” (E4)

Mais uma vez, neste assunto é posta em causa a gestão com tão elevado número de alunos: “(…)Até ao nível da gestão não sei se será muito fiável ter uma agregação deste tamanho”(E3).

Assim, a redução de custos será residual ao nível do pessoal administrativo, pois o trabalho continuará a ser igualmente exigente.

Já ao nível dos corpos de chefia esta redução de recursos humanos pode ser realizada. A escola sede passará a ter um só director, apoiado por outros elementos que compõem a direcção do novo mega-agrupamento: “(…) Mesmo nesta escola, por exemplo, para a próxima gestão tenho que prescindir de um dos meus adjuntos…e este é um assunto que me vai dar alguma dor de cabeça, a forma de comunicar isso”(E4); “(…)Nos serviços administrativos eu preciso só de ter um tesoureiro em vez de dois; preciso de um chefe de serviços em vez de dois ”(E4). Ao nível dos outros recursos humanos das escolas é referido que existe um número que não pode diminuir, o de professores “(…)Menos professores nem tanto”(E4), sendo que nas opiniões recolhidas surge uma vontade de serem as escolas a terem a competência de contratar os seus docentes. Já no caso das assistentes operacionais, a cargo do município, estas devem manter o seu número, até porque como foi referido muitas vezes estão abaixo do rácio definido para cada escola: “(…)Especificamente (…) nas auxiliares de acção educativa, agora assistentes operacionais, não pode haver redução…não faz sentido…porque os espaços são os mesmos e neste momento a maior parte das escolas já está aquém daquilo que necessita”(E4). Este problema acentua-se pelo facto de não ter conhecimento do que se passará com as assistentes operacionais das escolas secundárias com estas agregações. De momento, estas são competência do Ministério da Educação, no que diz respeito ao ensino secundário, mas existe a preocupação evidente de como se vai processar a passagem destas para o município ou mesmo se esta irá acontecer. Como será que o município lidará com esta situação de situações laborais diferentes? Foi uma das

questões mais enfatizadas pelos entrevistados, e que não ficou esclarecida com esta investigação.

Em relação aos documentos estruturantes das escolas (regulamento interno e projecto educativo) todos são unânimes em concordar que estes têm que ser revistos e reformatados: “(…)Sim, penso que no primeiro ano terá que haver um reajustamento em todos os documentos de orientação da vida escolar, assim como a colaboração das direcções no sentido que se encontrar o rumo certo para se realizar o trabalho esperado” (E2).

Também a readaptação da oferta educativa de cada agrupamento é necessária de modo a não existir uma duplicação de oferta entre escolas e agrupamentos, visto quase todas possuírem diversas modalidades e ofertas de ensino: “Sim, teria que ser adaptada.”(E2); “(…)Sim, terá que existir um reajustamento até porque nós temos Novas Oportunidades, que por sinal têm bastante procura, e a secundária oferece este tipo de percursos formativos, por isso terá que ser tudo revisto.” (E2)

Principalmente as escolas secundárias terão de aprender a conviver na comunidade escolar, isto é, apesar de estarem perfeitamente integradas no sistema de ensino local, estão muito habituadas a estarem separadas e esse sentimento de autonomia terá de desaparecer: “(…)E claro que as escolas secundárias estão habituadas a trabalharem sozinhas, o que não facilita um processo destes.” (E2)

Todas estas mudanças, na opinião dos entrevistados devem ser realizadas de um modo ponderado e preparadas atempadamente, sem que se exijam mudanças drásticas e imposições adversas: “(…)não vale a pena impor nada a ninguém, as coisas não se podem impor, por exemplo, num projecto educativo, em que o trabalho depende sempre das pessoas e para já tem que…quando penso num projecto educativo a nível de uma escola temos que pensar se as pessoas aderem ou não ao projecto, temos que as ganhar como parte integrada do mesmo, porque se não aderem é termos uma coisa que não se envolvem por gosto”(E4). Todos devem estar envolvidos num projecto comum: “Há aqui uma série de especialidades diferentes que eu tenho que ter gente adaptada a trabalhar. Fica tudo mais complexo, mas tem que tudo estar adaptado à complexidade dessa função. Agora reduzir aleatoriamente o número de pessoas pode complicar”(E4). A questão da identidade foi bastante focada porque com esta reestruturação torna-se necessário construir uma nova identidade comum, que agregue todas as idiossincrasias da comunidade escolar. Esta contribui para o modo de criação do ambiente escolar instituído em cada organização: “Sim interfere”(E1), “Também não estou seguro em

absoluto que interfira negativamente (…) pode interferir positivamente” (E1). O clima de cada escola poderá ficar influenciado pela perda de identidade, pelo facto de existirem escolas com bastante reconhecimento por parte da comunidade educativa, no concelho e fora dele. É o caso, por exemplo da escola profissional agrícola da Paiã: “(…)É uma escola, pelo menos no meio agrícola e nas áreas envolventes é uma escola que é conhecida, tem alguma tradição e peso ao nível da formação profissional e portanto, isto para dizer, que a integração num agrupamento poderia ter um impacto”(E1).

Assim, esse receio torna-se legítimo e latente: “(…)O clima das escolas, como há alunos que daqui vão para as secundárias no caso de ser a secundária a que ficamos agregados, e com quem nós já temos relação, não só entre professores, alunos e até funcionários não sei se isso vai melhorar, piorar ou ficar na mesma”(E3); “(…)Esta escola é uma escola muito antiga, tem uma tradição muito grande, tem muito reconhecimento no país”(E1).

No quadro seguinte ( quadro 1) estão sintetizados os impactos mais relevantes para as escolas, provocados por esta agregação, obtidos através das respostas dos entrevistados, bem como possíveis estratégias a desenvolver pelos gestores escolares, para minimizar esses impactos.

Quadro 1- Impactos evidenciados para as escolas

Impactos para a escola Estratégias para minimizar os impactos

Rever órgãos de gestão Incluir elementos representativos de todos os

ciclos de ensino

Delinear procedimentos uniformes de forma a existir

uma maior articulação entre todos os ciclos de ensino

Perda de autonomia Criação de projectos educativos que unifiquem os

estabelecimentos de ensino

Perda de Identidade Adopção de medidas práticas que fomentem a identidade

própria de cada mega- agrupamento

O impacto na organização da rede educativa do município pode prever-se com a constituição de cenários possíveis para as agregações dos agrupamentos e das escolas não agrupadas do concelho. Para a elaboração da tabela de cenários possíveis (quadro 2) foram utilizados os únicos critérios que me pareceram utilizáveis, embora tenham sido sugeridos outros pontos de análise, como os previsíveis fluxos escolares dos alunos e o apoio dado aos mesmos, que não foi possível considerar, fosse pela falta de dados disponíveis ou então pela impossibilidade de analisá-los no âmbito do estágio curricular.

Assim os critérios utilizados foram: o número de alunos e a proximidade geográfica, sendo que no caso deste último, as actuais configurações dos agrupamentos do concelho já tinham seguido este mesmo critério.

Os dados sobre o nº de alunos foram retirados da tabela de frequência da população escolar para o ano lectivo de 2010/2011. (Anexo VII)

Ficariam constituídos seis ou sete agrupamentos de escolas, sendo que só cinco incluiriam uma escola secundária.

O primeiro seria constituído pelo Agrupamento de Escolas Avelar Brotero e a Escola Secundária de Odivelas com uma previsão total de número de alunos de 2604, ficando abaixo do número máximo definido nos documentos legais de 3000 alunos por agregação. Encontra-se no quadro 2 com a cor azul.

O segundo seria constituído pelo Agrupamento de Escolas de Caneças e a Escola Secundária de Caneças com uma previsão total de número de alunos de 2295, ficando abaixo do número máximo definido nos documentos legais de 3000 alunos por agregação. Encontra-se no quadro 2 com a cor verde.

O terceiro seria constituído pelo Agrupamento de Escolas da Pontinha, a Escola Secundária de Pontinha e a Escola Profissional Agrícola da Paiã. Nesta perspectiva ficaria um conjunto de um agrupamento e duas escolas secundárias (a escola agrícola da Paiã é equiparada a uma escola secundária, com uma vertente de ensino profissionalizante na área específica da agricultura) com uma previsão total de número de alunos de 3024, ficando acima do número máximo definido nos documentos legais de 3000 alunos por agregação. Encontra-se no quadro 2 com a cor laranja.

Esta previsão não é do agrado nem do director do agrupamento de Escolas da Pontinha: “(…)Este agrupamento não se agregaria com nenhuma” (E3) “(…) Já somos um mega- agrupamento sem escola secundária”(E3). O director da escola Agrícola da Paiã, devido à especificidade dos alunos que frequentam a sua escola “com vocação…e rejeitados

pelo ensino «normal»”(E1) e também pelo facto de os cursos se equipararem ao ensino secundário, preferia agregar-se à Escola Secundária da Pontinha, com quem mantém relações mais próximas. Neste caso o número de alunos seria de 2382, abaixo do número máximo definido nos documentos legais de 3000 alunos por agregação. Encontra-se no quadro 2 com a cor lilás.

Por outro lado refere também a possibilidade de se constituir sozinho, na criação de um agrupamento só vocacionado para percursos profissionalizantes, no concelho.

O quarto seria constituído pelo Agrupamento de Escolas Vasco Santana e a Escola Secundária da Ramada com uma previsão total de número de alunos de 3077, ficando acima do número máximo definido nos documentos legais de 3000 alunos por agregação. Encontra-se no quadro 2 com a cor salmão.

O quinto seria constituído pelo Agrupamento de Escolas a Sudoeste de Odivelas, o Agrupamento de Escolas D. Dinis e o Agrupamento de Escolas Moinhos da Arroja com uma previsão total de número de alunos de 3633, ficando muito acima do número máximo definido nos documentos legais de 3000 alunos por agregação. Encontra-se no quadro 2 com a cor castanha.

O sexto seria constituído pelo Agrupamento de Escolas D. Dinis e o Agrupamento de Escolas Moinhos da Arroja com uma previsão total de número de alunos de 2456, ficando abaixo do número máximo definido nos documentos legais de 3000 alunos por agregação. Encontra-se no quadro 2 com a cor branca.

Quadro 2 - Cenários possíveis para as agregações de agrupamentos e de escolas não agrupadas

Agrupamentos / Escolas Nº de alunos 2010/2011 Estabelecimentos de ensino agregados Previsão  Agrupamento de Escolas Avelar Brotero 1070 1 Eb 2.3 3 Eb 1 1 Eb1 + 1 JI 1 Sec + 2 JI 1 CNO 2604 < 3000  Escola Secundária de Odivelas 1534  Agrupamento de Escolas de Caneças 1308 1 Eb 2.3 1 Eb 1 2 Eb1 + JI 1 Sec 2295 <3000  Escola Secundária de Caneças 915

 Agrupamento de Escolas da Pontinha 2107 1 Eb 2.3 3 Eb 1 4 Eb1 + JI 1 JI 2 Sec 3024> 3000  Escola Secundária da Pontinha 917 2382 <3000  Escola Profissional Agrícola da Paiã 275  Agrupamento de Escolas da Póvoa de Santo Adrião 1456 1 Eb 2.3 3 Eb1 + JI 1 CNO 1 Sec 2656 <3000  Escola Secundaria Pedro Alexandrino 1200  Agrupamento de Escolas Vasco Santana 1833 1 Eb 2.3 3 Eb1 1 Eb1 + JI 1 Sec 3077> 3000  Escola Secundária da Ramada 1244  Agrupamento de Escolas a Sudoeste de Odivelas 1177 1 Eb 2.3 2 Eb1 2 Eb1 + JI 3633 > 3000  Agrupamento de Escolas D. Dinis 1293 2Eb 2.3 1Eb1 1 Eb1 + JI 1 JI 1 Sec 2456 < 3000  Agrupamento de Escolas Moinhos da Arroja 1163

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