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3. ANÁLISE DAS CONJUNTURAS POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESPÍRITO

3.2 Sobre a importância de Cachoeiro de Itapemirim no cenário político

Conforme Zorzal, a institucionalização do regime republicano foi muito importante para o Espírito Santo, entre outros motivos, pelo fato de ter “forjado e engajado lideranças políticas comprometidas com interesses distintos daqueles que,

tradicionalmente, dirigiam os destinos do Estado”. Nesse período, o palco das

lutas pela direção política estadual foi ampliado e refletia as novas clivagens sociais e territoriais, que emergiram em decorrência da expansão da economia

cafeeira85. Agora além dos partidos liberais e conservadores, tradicionais

representantes dos grupos ligados às atividades mercantis e dos segmentos burocrático-militares situados essencialmente nas regiões centro-norte, acrescenta-se as forças republicanas, ligadas, sobretudo, ao capital agrofundiário,

principalmente da região Sul do Espírito Santo86.

Visto que muitos dos interesses das elites capixabas estavam em consonância com os das oligarquias cafeicultoras da região centro-sul do Brasil, o Espírito Santo não ficou excluído da dinâmica da político-econômica nacional. Na verdade, “a política espírito-santense gravitava em torno dos interesses das oligarquias estaduais de outras unidades mais poderosas da Federação”, com

destaque para as de Minas Gerais e São Paulo87.

Portanto, a elite capixaba era conivente com as articulações instituídas pela Política dos Governadores, que, em última análise, objetivava consolidar a hegemonia do bloco cafeeiro na direção do poder político central, por meio de arranjos políticos com as elites locais88. Dentre as famílias mais poderosas do Espírito Santo nesse período merece destaque, os Cunha, que integravam uma

85

SILVA, Marta Zorzal. Espirito Santo: Estado, interesses e poder. [Vitória, ES?]: Fundação Ceciliano Abel de Almeida: UFES, Secretaria de Produção e Difusão Cultural, 1995. p. 68.

86

Ibid., p. 69

87

ACHIAMÉ, Fernando A. M.; SALETTO, Nara. op. cit., pp. 87-88.

88

vasta parentela atuante na região de São Mateus; os Calmon, que dominavam a política no território de Linhares e Colatina; a família Monjardim, em Vitória; na região Sul, os diversos membros de famílias como a Marcondes de Souza, a Vivacqua, que enriqueceram com o comércio de café; e principalmente a família Souza Monteiro, a qual praticamente dominou a vida política capixaba a partir da

eleição de Jerônimo Monteiro, em 1908, até o final da década de 192089.

Antes de Jerônimo assumir o governo, seu irmão, Dom Fernando de Souza Monteiro, foi empossado, em 1902, como bispo do Espírito Santo, o comandante da Igreja Católica no Estado; Marcondes Alves de Souza, tio de Jerônimo, governou o Estado entre 1912 e 1916. Desse ano até 1920, assumiu Bernardino de Souza Monteiro, irmão de Jerônimo. Entre 1920 e 1924, Nestor Gomes comandou o Estado, indicado por Bernardino e, entre 1924 e 1928, Florentino

Ávidos, cunhado dos irmãos Monteiro90. Com isso, a oligarquia sulista,

proveniente de Cachoeiro de Itapemirim, governou o Estado do Espírito Santo por cerca de 20 anos91.

Vale lembrar, no entanto, que, durante a Primeira República no Espírito Santo, “as

divergências intra-oligárquicas eram resolvidas, de modo geral, no seu próprio

âmbito”. Conforme Achiamé, “o grupo que controlava a “máquina” do Partido

Republicano Espírito-santense – único a existir no Estado em boa parte da

República Velha – ditava os rumos no processo de alternância dos nomes no

poder92”. De modo geral, as eleições eram fraudadas em proveito do

situacionismo político. Os opositores limitavam-se a se conformar com a deliberação do partido para aderirem ao situacionismo ou para buscarem alguma outra vantagem política.

89

ACHIAMÉ, Fernando A. M.; SALETTO, Nara. op. cit., p. 89.

90

LIMA JÚNIOR, Carlos Benevides; GURGEL, Antonio de Pádua. Jerônimo Monteiro. [Vitória, ES?]: Contexto, 2005. p. 36.

91

É importante destacar que essa hegemonia dos Monteiros não se deu forma harmoniosa, isenta de conflitos políticos. Muito pelo contrário, ela foi por vezes perturbada pela oposição, como no caso da Revolta do Xandoca, em que Alexandre Calmon, a princípio companheiro de chapa de Bernardino Monteiro, como candidato à vice-presidência, rompeu com os antigos correligionários, aliando-se a Pinheiro Junior na tentativa de formar um novo governo em Colatina, proclamada capital do Estado. Outro evento importante foi a tentativa de golpe para impedir o reconhecimento da candidatura de Nestor Gomes, o qual havia sido indicado pelo então presidente Bernardino Monteiro, sendo necessário a intervenção federal para apaziguar a situação.

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Conforme Derenzi

“Na chamada “República Velha” no Espírito Santo, só havia o Partido Republicano Espírito-santense. [...] A oposição, diminuta e desarticulada, atuava na esfera municipal, sem grande influência perturbadora na ação do governo. No mais das vezes, as facções antagônicas apoiavam o presidente do Estado. Não havia líderes, que congregassem os opositores sobre uma só bandeira. Quem rompesse com o governo ficava no ostracismo e, dificilmente, se reelegia, se exercesse mandato eletivo. O eleitorado se agrupava em torno de chefes distritais, “coronéis”, sob cuja proteção moral aguardava promessas raramente cumpridas. A oposição poucas vezes chegava à Assembléia Legislativa ou Câmara dos Deputados. (DERENZI, 1965, p. 234)

Com efeito, “as raízes do coronelismo no Espírito Santo estão na monocultura cafeeira, a partir dos grandes proprietários de fazendas que se instalaram principalmente no Sul do Estado, e nos comerciantes proprietários de “vendas” na área rural93”. Por isso, os interesses dos grupos agrofundiários e mercantil- exportadores predominaram nas políticas dos presidentes do Espírito Santo durante a maior parte da Primeira República.

No entanto, como o poder político dos cafeicultores estava alicerçado sobre seu poder econômico, à medida que as crises do café se intensificavam, o raio de influência política das oligarquias se estreitava, chegando até tornar-se insustentável. Assim, os movimentos políticos contrários aos interesses dos grupos oligárquicos se tornaram cada vez mais intensos, sendo o ponto culminante desse processo a Revolução de 1930.