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Sobre a inserção em campo, a seleção da amostra, a construção e análise dos dados no estudo de caso da fronteira

Paraguai-Brasil

Foz do Iguaçu (Brasil), Puerto Iguazú (Argentina) e Ciudad del Este (Paraguai) constituem uma tríplice fronteira, estando as cidades separadas umas das outras pelos rios Paraná e Iguaçu. Nesse complexo fronteiriço, as atenções se voltam constantemente para Ciudad del Este, que segundo os sentidos atribuídos pelos pelos moradores locais é responsável por metade do Produto Interno Bruto (PIB) paraguaio e é a terceira maior zona de comércio franca do mundo, só ficando atrás de Miami e Hong Kong. De acordo com os fronteiriços, o comércio de Ciudad del Este pode atrair entre vinte e cinquenta mil pessoas por dia, e conforme observamos, as quartas e os sábados são os dias de maior movimento.

A fim de iluminar nossa perspectiva de aprendizado, conseguimos nos órgãos executivos municipais de Ciudad del Este e de Foz do Iguaçu – as duas cidades onde desenvolvemos este estudo de caso – algumas informações que consideramos úteis. Assim, contextualizamos que Ciudad del Este é uma cidade paraguaia localizada a cerca de 226 Km de Assunción, capital do Paraguai. Ciudad del Este foi fundada em 3/2/1957 e é a capital de um departamento do Paraguai chamado Alto Paraná. Atualmente, sua população é estimada em 350 mil habitantes. Quem nasceu ou vive nessa cidade é denominado esteño ou esteña. Foz do Iguaçu é uma cidade brasileira localizada a aproximadamente 645 Km de Curitiba, capital do estado do Paraná, estado ao qual pertence, e cerca de 1.565 Km de Brasília, capital do Brasil. Foz do Iguaçu foi fundada em 10/6/1914 e atualmente sua população é estimada em 325 mil habitantes. Quem nasceu ou vive nessa cidade é denominado iguaçuense.

Viajamos 1.028 Km de São Paulo para Foz do Iguaçu, em outubro de 2009, e permanecemos lá por dez dias. Retornamos em 2010, para continuar a pesquisa, desta vez ficando em campo por 25 dias. Estabelecemos nossa base em uma pensão, na cidade brasileira de Foz do Iguaçu e de lá nos

124 deslocávamos para Ciudad del Este quando necessário. Até formarmos nossa amostra, cruzávamos a fronteira todos os dias a fim de encontrar brasileiros e paraguaios transitando entre os dois países. Depois, a travessia dependeu da disponibilidade das pessoas que acabaram fazendo parte de nossa amostra paraguaia e brasileira.

Entre nossas primeiras observações de campo, vale registrar que em Ciudad del Este o tempo dos entrevistados parecia ser escasso para tratar de assuntos que não resultassem em negócios, era difícil manter sua atenção e estender os diálogos. Nós mesmos acabamos por comprar comida sem ter fome e adquirir um estoque de meias na tentativa de manter alguns diálogos em andamento e, mesmo assim, recebemos várias negativas até conseguir formar essa amostra.

Expomos nosso procedimento com transparência porque foi, de fato, como conseguimos “situar-nos” (Geertz, 1978) naquele contexto para poder realizar nosso trabalho. Estávamos tentando construir nossa relação sujeito- objeto e, como nosso objeto de pesquisa também é sujeito, não é possível eliminar deste relato o encontro de subjetividades desta relação, pelo menos não de acordo com o que aprendemos também com Roberto Da Matta (1978).

Observando Ciudad del Este, na tentativa de encontrar paraguaios que pudessem colaborar com a pesquisa, percebemos muitos brasileiros trabalhando no comércio como vendedores. Observamos também uma grande quantidade de chineses, árabes e argentinos trabalhando no comércio da cidade paraguaia. Vale registrar também que os brasileiros que encontramos transitando pela ponte internacional vinham de todas as partes, mas especialmente da região sul, de São Paulo e de Pernambuco. O objetivo deles, de modo geral, era o de fazer compras para revenda e não para o próprio uso. Conversamos com vários deles em nossa imersão em campo, mas viemos a compor a amostra com brasileiros residentes em Foz do Iguaçu.

Também nos chamou a atenção a diversidade de origem dos habitantes que encontramos em Foz do Iguaçu. Havia paraguaios residindo na cidade brasileira, trabalhando com comércio, transportes e comunicações. Vimos também argentinos vivendo do lado brasileiro da fronteira, absorvidos nas

125 atividades de comércio e de indústria, prestando serviços, por exemplo, como corretores de imóveis. Também identificamos asiáticos morando em Foz do Iguaçu, trabalhando no setor de comércio – de acordo com o Censo Demográfico, realizado pelo IBGE no ano 2010, em Foz do Iguaçu, os principais fluxos migratórios são mesmo de paraguaios e asiáticos.

Numa de nossas primeiras travessias, fomos para o Paraguai de ônibus e voltamos a pé pela Ponte da Amizade, acompanhando um sacoleiro transeunte. Andando pelas ruas de Ciudad del Este, parávamos para conversar com comerciantes informais ou com comerciários que ficavam nas portas de suas lojas tentando atrair clientes, chamando a todos: “Senhor turista!”. As pessoas nos ofereciam suas mercadorias e parávamos para ouvi-las. Aí então dizíamos porque estávamos ali – para realizar uma pesquisa sobre a televisão brasileira – e perguntávamos se elas assistiam telenovela ou telejornal do Brasil. Tentávamos ser rápidos na abordagem a fim de não atrapalhar o trabalho dessas pessoas. Só falávamos depois de lhes dar toda a atenção que demandavam na apresentação de suas mercadorias, tentando desse modo criar empatia e cativar a “amostra”, fazendo uso, portanto, das técnicas descritas por Da Matta (1978) sobre a inserção em campo.

As respostas vinham rapidamente. Numa loja, por exemplo, três moças logo se envolveram com o assunto que levantamos: “Novela? Sim, sim, eu assisto. Um pouco de jornal também vemos”. Um comerciante informal ou camelô nos respondeu “acompanhamos o futebol”; um sacoleiro brasileiro que fazia compras com ele se envolveu no assunto dizendo “e as nossas mulheres seguem as novelas”. Algumas pessoas demonstraram interesse pela pesquisa e imediatamente reconheceram que a pesquisadora não era dali. O sacoleiro nos perguntou se sabíamos voltar a pé para o Brasil, e como nunca tínhamos feito isso, disse que poderíamos retornar com ele – o sacoleiro iria “paletear”, isto é, carregar as mercadorias nas costas durante a travessia da ponte.

Ao final desse dia, voltamos para o Brasil a pé, acompanhando o sacoleiro, seu “laranja” e o assistente do laranja e realizamos a nossa primeira entrevista. Explicamos que, a fim de despistar a fiscalização, é comum os sacoleiros pagarem para alguém atravessar a fronteira com parte de suas

126 mercadorias, este é o papel do laranja. Quando há muitas mercadorias, quem presta o serviço de laranja paga pelo auxílio de um assistente. O sacoleiro nos pediu que ajudássemos a carregar mercadorias, mas recusamos a solicitação. Porém, na tentativa de manter a empatia e a entrevista em andamento, nos desculpamos alegando um problema de saúde, uma vez que era nosso objetivo colocarmo-nos no lugar do outro e não tornarmo-nos o outro, conforme, novamente, os ensinamentos de Da Matta (1978) e Geertz (1978) acerca da pesquisa de campo.

Além de ter certeza que não era nosso papel nos tornarmos o objeto pesquisado e de que queríamos continuar o trabalho em campo, estivemos o tempo todo tentando exercer o movimento antropológico de transformar aquilo que nos causava estranhamento em algo familiar (Velho, 1978). Todavia, admitimos que inicialmente sentimos uma certa apreensão em circular naquele espaço. Percebemos que por mais que tivéssemos experiência de campo em outros cenários, os estereótipos relacionados à falta de segurança na fronteira Foz do Iguaçu-Ciudad del Este estavam internalizados em nós também e tínhamos que questioná-los quando nos deparávamos com situações como essa, em que decidimos acompanhar um sujeito em nosso primeiro contato, retirando-nos do centro comercial de Ciudad del Este com o qual já estávamos nos familiarizando, e onde tentávamos fazer nossa presença conhecida.

Voltamos a encontrar as pessoas com quem estabelecemos contato nesse dia, a fim de entrevistar quem tivesse interesse e disponibilidade de participar da pesquisa. Elas mesmas nos indicaram outras – era comum alguém nos dizer algo como “olha, vai na loja da próxima quadra e conversa com a Soraia, ela também vê TV brasileira” – e assim fomos formando uma rede de contatos que não só viabilizou este estudo como também permitiu que a pesquisadora não sentisse o desamparo do anonimato em solo internacional.

No dia seguinte, voltamos de Ciudad del Este de ônibus e vimos um contrabandista contratado para passar mercadorias colocando placas de computadores presas debaixo dos bancos de nosso ônibus. Quando chegamos a Foz do Iguaçu, descobrimos que havia uma dessas placas embaixo do nosso próprio banco porque o homem nos pediu licença para retirá-la. Soubemos que

127 ele era contratado não porque o interpelamos, mas ele mesmo dizia a todos “gente, é só o meu trabalho” e o motorista nos confirmou que o rapaz trabalhava para alguém e que “esse tipo de coisa” era comum de acontecer. Aos poucos, fomos nos familiarizando com esse cenário estabelecendo contato com seus protagonistas, ora conversando com os profissionais informais que ali estavam, ora dando atenção para outras pessoas que, por serem participantes ocasionais daquela dinâmica, não pareciam acostumadas com as cenas desse mercado fronteiriço.

Foi nessas travessias cotidianas, dentro de um ônibus que ia da rodoviária de Ciudad del Este à de Foz Iguaçu, que recrutamos outra parte de nossa amostra. Durante o episódio das placas de computadores, por exemplo, estabelecemos contato com duas brasileiras que voltavam de Ciudad del Este. No decorrer do acontecimento, essas duas mulheres entreolharam-se e trocaram olhares com a pesquisadora, como quando pessoas que se sentem deslocadas reconhecem-se umas às outras, essa foi a deixa para conversarmos quando saímos do ônibus. As duas eram mãe e filha, tinham ido comprar perfume no Paraguai e estavam um pouco amedrontadas e agitadas com a situação vivida no ônibus. Uma delas nos disse: “Não está mais dando para pegar esse ônibus!”. Daí seguiu falando que costuma fazer a travessia de ônibus porque acha mais seguro do que ir de carro, mas que agora estava mudando de ideia. Nesse contexto, nos apresentamos, explicamos o nosso propósito e acabamos conseguindo a colaboração de duas brasileiras que vieram a integrar nossa amostra. Mais tarde, elas nos apresentaram o restante de sua família, permitindo que aprofundássemos esse estudo de caso com a participação de uma família brasileira.

Em solo brasileiro, fomos até um mercado para comprar algumas garrafas de água e percebemos quatro pessoas olhando para a televisão que estava ligada no canto, atrás do balcão, e nela estava passando a telenovela Sinhá Moça, no meio da tarde. Aproveitamos a oportunidade para conversar sobre nossa pesquisa e conseguimos a colaboração de mais três brasileiros e um paraguaio, que mais tarde trouxe o filho para participar das entrevistas –

128 este, por fim, nos apresentou outros familiares, permitindo uma investigação mais apurada do estudo de caso com uma família paraguaia.

Uma vez formada a nossa amostra, realizamos as entrevistas deste estudo de caso. Ao todo foram 18 delas, com 9 paraguaios e 9 brasileiros, sendo 4 com membros da família paraguaia e 5 com integrantes da família brasileira. Pelas entrevistas, levantamos vários aspectos dos perfis de nossos entrevistados, entre os quais seus hábitos de consumo dos meios de comunicação de massa.

Ao realizar as entrevistas, exploramos as representações elaboradas por paraguaios e brasileiros acerca do cotidiano na região de fronteira, do convívio com pessoas de diferentes nacionalidades e grupos étnicos, das suas relações com o meio rural e da estratificação socioeconômica daquele contexto. Investigamos também as representações televisivas referidas a esses mesmos aspectos, a partir do ponto de vista de nossa amostra. Durante esse processo, eles mencionaram os temas abordados na televisão e se posicionaram em relação ao modo como se viam representados nela. Isso nos forneceu pistas sobre como as representações televisivas são relevantes no tecer do cotidiano e da memória dos fronteiriços e como participam do jogo identitário naquele contexto. Além disso, as famílias assistiram conosco parte do material televisivo, permitindo que esmiuçássemos as entrevistas com algumas representações televisivas consideradas mais frequentes.

Assim, criamos um banco de dados relacionando o material televisivo brasileiro mencionado ou comentado ao longo das entrevistas e aprofundamos nosso estudo convidando a família paraguaia e a família brasileira para assistirem conosco pelo menos parte deste material. Como constatamos que a emissora de televisão brasileira Globo é a mais consumida pela nossa amostra, procuramos o material citado pelos entrevistados no site da Rede Globo, o Globo.com, exceção feita às novelas Viver a Vida e Sinhá Moça, que por estarem sendo transmitidas, poderiam ser assistidas com eles se fosse necessário – o que não encontramos lá, buscamos no maior site de vídeos da internet, o Youtube. Entre outubro de 2009 e abril de 2010, realizamos o acesso e o uso de todo o material audiovisual disponível nos sites Globo.com e

129 Youtube acerca dos temas que se tornaram relevantes nesta pesquisa. Os arquivos audiovisuais que citamos e utilizamos ao longo desta tese, encontram- se também em anexo, em DVD. Ao todo, o material televisivo que coletamos neste estudo de caso tem cerca de três horas de duração e é constituído principalmente por reportagens e cenas de novela que foram veiculadas nos telejornais e nas narrativas ficcionais da emissora Globo.

Perguntamos ainda aos entrevistados se o que consomem na televisão brasileira gera interação social, se provoca diálogos na esfera pública e/ou privada. Brasileiros e paraguaios apontaram que as representações televisivas mencionadas por eles ao longo de nossas entrevistas foram pauta de diálogos na época em que foram veiculadas pela televisão e que, em alguns casos, ainda repercutem no cotidiano por serem reincidentes. A apropriação e utilização das representações televisivas acontecem em casa e na rua ou no comércio. A casa a que se referem é o lugar onde moram e interagem com o núcleo familiar ou a moradia de outros parentes, vizinhos e amigos. Quando se referem à rua ou ao comércio, falam de momentos vividos no próprio local de trabalho, onde se relacionam com colegas, ou no local de trabalho de outros, com quem os entrevistados mantêm contato nas suas trajetórias cotidianas, tais como foram citados, o restaurante, o bar, a confeitaria, o mercado, a banca de jornal, o ônibus, o táxi e o banco. Entre os estudantes, também foram mencionadas a universidade e a escola, como locais onde interagem com colegas.

Ao descrever e analisar os dados neste estudo de caso, utilizamos as entrevistas e o material televisivo. Além disso, também recorremos às anotações realizadas em diário de campo, acerca da observação participante – essas informações não são necessariamente relativas aos sujeitos entrevistados, mas por vezes confirmam ou servem de contraponto aos depoimentos que compartilharam conosco. A fim de iluminar o fluxo do discurso social que apreendemos neste estudo, seguimos a orientação teórico- metodológica que apresentamos na introdução, utilizando a bibliografia especializada para contextualizar teórica e historicamente determinados aspectos.

131 3.1. Conhecendo a realidade particular de paraguaios

e brasileiros que vivem na fronteira

Fizemos nossas entrevistas com o objetivo de traçar um perfil dos entrevistados, identificando inicialmente seu consumo de meios de comunicação de massa e relacionando os programas televisivos mais assistidos.

Primeiro, apontamos os meios de comunicação de massa que a nossa amostra destacou imediatamente na região de Ciudad del Este e Foz do Iguaçu, que possui uma complexa rede de comunicações. Foram citados por brasileiros e paraguaios os jornais impressos de Foz do Iguaçu, a Gazeta do Iguaçu e o Jornal do Iguaçu, bem como o jornal Gazeta do Povo – que tem uma sucursal na cidade e é o maior jornal impresso do Paraná –, e os jornais impressos de Ciudad del Este, Diário Vanguardia e TNPress, assim como os jornais de circulação nacional do Paraguai que têm sucursais na cidade, o ABC Color, o Diário La Nación, o Crônica Popular e o Última Hora.

A nossa amostra apontou diversas emissoras de radiodifusão na fronteira, tais como as rádios Rede Aleluia (FM), a 98 (FM), a Rádio Foz (AM) e a Rádio Cultura (AM), em Foz do Iguaçu, e as rádios Parque (AM), La Voz (AM) e Itapiru (AM), em Ciudad del Este. Os entrevistados destacaram ainda que existem outras rádios clandestinas, com as transmissões sendo realizadas em português a partir de Ciudad del Este.

A amostra indicou as emissoras de televisão de Foz do Iguaçu, listando como emissoras de sinal aberto a RPC/TV Cataratas (Globo), a TV Tarobá (Bandeirantes), a TV Naipi (SBT) e a RIC TV, e entre as de sinal fechado nacionais, a TV Educativa Paraná (Canal 6), a Foz TV (Canal 7), a TV Exclusiva (Canal 21), a TV Comunitária (Canal 20) e a TV Social (Canal 72). Dentre as emissoras de televisão de Ciudad del Este, foram destacadas como de sinal aberto o Sistema Nacional de Televisión (SNT, Canal 9), a Red Privada de Comunicaciones (Canal 13), a Telefuturo (Canal 4), a Paravisión (Canal 2), a TV Guarani (Canal 18) e a La Tele (Canal 16).

132 A partir das entrevistas, pudemos depreender que a televisão aberta brasileira é massivamente consumida pelos paraguaios e brasileiros, em especial a Globo, por meio de sua afiliada, a RPC TV Cataratas6 – muitas vezes os paraguaios citaram programas da televisão brasileira como os de sua predileção. Descobrimos também que o consumo comum de televisão brasileira já se fazia notar em 1977, quando jornalistas paraguaios escreveram uma matéria sobre o assunto e destacaram o crescente peso dela na cidade fronteiriça paraguaia – no artigo fica claro que na época a televisão brasileira era preferida pelos habitantes da cidade paraguaia pela qualidade da transmissão em cores e pela variedade da programação (ABC, 17/4/1977, apud Rabossi). Assim como as programações brasileiras de televisão e de rádio via sinal aberto estão disponíveis em Foz do Iguaçu e Ciudad Del Este, também o sinal da televisão paraguaia, bem como o de rádios paraguaias, estão presentes nas duas cidades. Porém, o cenário contemporâneo já é mais complexo do que o de 1977 porque a variedade de opções de consumo é maior e a qualidade do sinal paraguaio é de melhor qualidade do que na época. Tanto é melhor a qualidade do sinal de televisão paraguaio, que alguns entrevistados nos explicaram que houve tempo em que só os canais brasileiros eram captados.

Neste cenário que oferece diversas opções de consumo, encontramos paraguaios vendo regularmente a televisão brasileira; no entanto, não houve relatos de consumo da televisão paraguaia por parte dos brasileiros. Também apuramos que os paraguaios consomem rádios de ambas as nacionalidades, já os brasileiros entrevistados sublinharam que ouvem apenas ocasionalmente a rádio paraguaia. Em ambas as cidades há o consumo de televisão a cabo, em que destacam-se os canais americanos.

Agora, vamos expor um breve perfil de nossos entrevistados, especificando também mais detalhes do consumo da televisão brasileira que constitui o recorte desta pesquisa. Procuramos relatar e incluir na análise o

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Entendemos que a Rede Paranaense de Comunicação (RPC) constitui o grupo que domina regionalmente o mercado de comunicação. De acordo com o site RPC.com.br, trata-se de um grupo de mídia paranaense, com matriz em Curitiba, que existe desde o ano 2000 como resultado da união de oito emissoras afiliadas à Rede Globo, das editoras que publicam os jornais impressos Gazeta do Povo e Jornal de Londrina, da rádio 98 FM e do portal TudoParaná.

133 consumo de outros bens simbólicos quando estes participaram dos processos de significação ao longo das entrevistas.

Entrevistamos nove brasileiros residentes em Foz do Iguaçu, cinco mulheres e quatro homens, as idades variando de 19 a 72 anos. Entre as mulheres, as entrevistadas foram Amanda (19 anos), Paula (26), Flávia (31), Carmem (47) e Estela (72). Entre os homens, os entrevistados foram Diego (23), Davi (38), João Paulo (51) e Adilson (58).

Carmem (mãe), João Paulo (pai), Diego (filho), Amanda (filha) e Estela (avó) constituem a família que participou de nossas entrevistas e ainda colaborou conosco assistindo parte do material televisivo que é citado ao longo deste estudo, permitindo assim que aprofundássemos as entrevistas. A família considera-se parte da classe média e isto se sustenta de acordo com o parâmetro de classificação da ABA/ABIPEME7. Os cinco membros dela têm-se como de origem italiana. Carmem e João Paulo viveram no campo quando eram crianças e estudavam na cidade. Carmem nos conta que seus pais moraram muito tempo no interior do Paraná, em Medianeira, uma cidade vizinha de Foz do Iguaçu. Ela mudou-se para Foz do Iguaçu para cursar faculdade e reside na cidade há 27 anos, onde namorou o marido, que também era de Medianeira, e formou sua família. Estela, mãe de Carmem, mudou-se de Medianeira para Foz do Iguaçu a fim de morar com a filha porque depois do falecimento de seu esposo, Francisco, ela passou a precisar de atenção médica mais constante e a cidade, nesse sentido, oferece mais recursos. Diego e Amanda, com seus pais, costumavam visitar os avós e ainda hoje frequentam outros parentes que vivem no campo, tendo desse modo mantido algum contato com a vida rural.

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