PARTE III APRESENTAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS
CAPÍTULO 6 APRESENTAÇÃO E INTERPRESENTAÇÃO DAS ENTREVISTAS
6.5. Sobre Interculturalidade
“O multiculturalismo crítico focaliza não só a diversidade cultural
e identitária, mas também os processos discursivos pelos quais as
identidades são formadas”.
Ana Canen (s/d:96).
Categorias de Sentidos / Sobre Interculturalidade
Portugal
Brasil
Que caminhos?
“… a questão da diferença cultural é uma questão
antropológica e é uma questão ontológica também
porque nós não somos iguais nem biologicamente, nem
socialmente, nem culturalmente e portanto a questão
da diferença é qualquer coisa com o que nós temos que
lidar”.
“…eu penso que o caminho passa pelo reconhecimento
da diferença. O reconhecimento da diferença não no
sentido de achar que todas as diferenças são iguais.
Não. É no sentido de reconhecer que as diferenças são
diferenças e que nós só temos a ganhar juntos o que
perdemos separados”.
“…para aceitarmos o outro também temos que ganhar
consciência de que temos vulnerabilidades e que temos
fragilidades, (…), o caminho passa pelo caminho do
reconhecimento mas este caminho do reconhecimento
supõe que se estabeleçam relações de austeridade”.
“…é o caminho do respeito da diversidade, da
reciprocidade das diferenças”.
“…uma sociedade percebe que ela ganha com a
existência do outro, do outro sendo diferente, não
explorando o outro, eu me torno muito mais rico”.
“O sitio do pica pau amarelo foi um espaço lúdico
ambientação de brasilidade, feita dentro de uma
perceção do Brasil ideal que Lobato desenvolveu uma
família de personagens que estava aberta para o
mundo, mas ela estava aberta para o mundo para
receber o mundo, dialogar com o mundo e aprender
com o mundo”.
Que dificuldades?
“…entre grupos de etnias diferentes se pensarmos que
há grupos étnicos que de facto do ponto de vista social
são grupos minoritários e que faz a cultura dominante
não só são discriminados como são mesmo excluídos
(…)”.
“O que é grande dificuldade é todo trabalho do
reconhecimento da diferença e do reconhecimento da
diferença como sendo uma diferença legitima e valida,
(…)”.
"A dificuldade, é dificuldade do etnocentrismo e a
dificuldade das relações de dominação na medida em
que isso torna difícil a partir do momento em que eu
me posiciono no meu grupo cultural e considero que ele
é o centro do mundo e julgo a partir dali todos os
outros, (…)”.
“…a construção de hegemonias ela é muito danosa,
(…) porque ela tem como fim, vamos supor, por um
motivo econômico, social, ela destruiu o diferencial do
outro para poder ter naquele outro não uma sociedade
com quem dialogar, mas uma sociedade prá
consumir”.
“…a descaracterização das culturas que não é uma
coisa nova, ela vamos dizer assim, é um problema
pior”.
“…ta se desenhando um novo mundo e dentro desse
novo mundo se a gente não quer que ele realmente vá
pra bancarrota, a gente tem que aprender a respeitar as
diferenças, conviver com as diferenças em prol de um
mundo melhor prá+ todos. E só dá prá construir
respeitando”.
Quadro 9 - Sobre Interculturalidade
Na análise e interpretação da categoria sobre interculturalidade (caminhos e dificuldades)
constatamos que ambos os entrevistados consideram-na de elevada importância.
108
É, pois, evidente que habitamos numa sociedade complexa, plural e desigual, fato este que
acabar por originar diversas e singulares culturas. Esta diversidade expressa-se de forma límpida e
marcante nos dias que se seguem desaguando em uma percetível desigualdade social, que acaba por
gerar conflitos sociais entre as diferentes classes, que lutam pela conquista de seus direitos e pelo
respeito à diferença. O inerente trajeto histórico da multiplicidade cultural é em si mesmo o grande
problema para se discutir o papel a ser desempenhado pelas políticas públicas no combate as
desigualdades fundamentadas em diferentes etnias, género, gerações entre outras (Gonçalves e Silva,
1998:32).
Quanto maior for a nossa cultura maior será a capacidade que temos de aceitar o novo e o
diferentes. Como bem enuncia (Paiva, 2009:156) “a formação de uma sociedade de leitores é a
preparação para o autoentendimento para a inquietação diante da realidade, para despertar a
importância da interpretação e da transmissão do olhar”. É por meio desta visão ampla, aberta,
humana que começa o caminho, aceitar e respeitar as características próprias de cada grupo ou
sociedade entendendo que a diferença acaba por ser uma forma de ganho, como teoriza Hall (2005)
“os estudos culturais insistem na necessidade de enfrentar as questões centrais, urgentes e
preocupantes de uma sociedade e de uma cultura da forma intelectual mais rigorosa ao nosso
alcance”.
A globalização cultural como os demais processos globais vai além das fronteiras em seus
efeitos. Suas pressões lugar/tempo acelerado pelas modernas tecnologias reduzem os vínculos entre
“a cultura e o lugar”. Apesar de as culturas terem seus locais é difícil apontar suas origens (Hall,
2006:36). Neste contexto é imprescindível alcançarmos que a cultura local e global se entranham, por
isso se faz necessários que reconheçamos a cultura do outro tão legítima quanto a nossa, apesar das
diferenças, dessa forma aprendemos não só a respeitar o outro com é, como também conviver em
harmonia com o outro e com tudo que nos envolve. É com esse prisma de visualização que antevemos
com esperança a construção de um mundo mais humanizado.
6. 6. Descrição e análise da pesquisa de estudo - Análise Documental
A pesquisa bibliográfica e a revisão da literatura auxiliaram na definição e clarificação da
moldura teórica e concetual do presente trabalho face à natureza e aos objetivos propostos.
109
A revisão bibliográfica dirigiu-se não só para os conceitos do jogo e da cultura, como também
para aspetos metodológicos e culturais, no sentido de encontrar os processos de recolha de
informação mais adequados.
No sentido de investigar a conceção e os conceitos gerais de funcionamento do jogo e da
cultura, foram elaboradas algumas questões tocantes a esse aspeto. Verificou-se que a educação
através do jogo em geral propicia o desenvolvimento do pensamento e conhecimento, que, por sua vez,
caracteriza o modo individual de dar sentido às experiências das crianças. Por meio deste, a criança
amplia a sua sensibilidade, perceção e reflexão, desenvolvendo suas capacidades cognitivas
fundamentais para ao ensino-aprendizagem. E que a cultura projeta-se a partir da representação da
vida social, ou seja, o modo como pessoas de um determinado grupo atua, pensa e modifica o mundo
e a si mesma.
CAPÍTULO 7 - CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES