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A língua pomerana é considerada uma língua de imigração. É falada no Brasil pelos pomeranos em comunidades no Espírito Santo, Minas Gerais, Rondônia, Santa Catarina e Rio Grande do Sul em decorrência da migração. É importante frisar que na Alemanha e na Polônia o pomerano é praticamente desconhecido, sendo falado no Brasil e Estados Unidos (TRESSMANN, 2005). No Brasil, maioria dos falantes são bilíngues em pomerano e português.

Nos municípios de Santa Maria de Jetibá, Vila Pavão, Pancas, Domingos Martins e Laranja da Terra é comum ouvir os descendentes de pomeranos se comunicando na língua pomerana e em locais como: em casa, no comércio, na igreja, na lavoura e nas festas realizadas nas comunidades. Grande parte das crianças aprende a língua oficial (Língua Portuguesa) na escola. Essa realidade é fato na zona rural do município; já na zona urbana o pomerano é menos falado, sendo que a maioria se expressa melhor em português.

Assim como todas as línguas que são formadas e atravessadas por inúmeros discursos, o pomerisch ou o pomerano é uma língua que foi formada a partir da influência de outras línguas, porém Tressmann faz questão de destacar que esta língua não descende do alemão. Essa afirmação é muito salientada em seus estudos e palestras. A ênfase é justificada pelo fato de que historicamente, a língua pomerana foi considerada “dialeto alemão” ou uma “língua-baixa”, por não possuir escrita e ser falada por pessoas humildes “alemães da roça”. Para contrariar essa ideologia, o etnolinguista Tressmann explica:

O pomerano é uma língua da família germânica ocidental e da subfamília Baixo-Saxão Oriental. Também fazem parte desta subfamília lingüística o saxônio, o holandês, o flamengo, o vestfaliano, o afrikâner, o plattdeutsch que é falado no sul do Brasil. Já o alemão, bastante presente no sul do país, pertence a um outro grupo de línguas que descendem do alto alemão. Alto porque são regiões altas ou montanhosas da Alemanha e da Suíça e que, portanto, se originou do gótico. Ele não tem esse mesmo parentesco... parentesco geral com o pomerano sim, lógico! Mas ele tem essa subfamília um pouco diferente. Isso é possível demonstrar mediante estudos da história da língua pomerana. Gostaria de frisar que a língua pomerana, ela descende do Saxão, das terras baixas e não do alemão. O pomerano não é uma língua que descende do alemão, como muitos ainda pensam. O pomerano é uma língua autônoma, verdadeira sim, assim como o inglês e o português (Pomersul 19, novembro de 2011).

O povo pomerano, por muito tempo, se considerou e foi considerado pelos outros como alemães, porém com uma concepção de uma cultura alemã inferior, já que a língua pomerana falada era concebida como dialeto, pois não possuía uma escrita oficial. Conforme visto no capítulo que trata especificamente sobre o termo cultura, as diferenciações entre alta cultura e baixa cultura são fruto de uma ideologia monocultural e idealista que naturaliza a divisão entre o corporal e o mental, entre o material e o espiritual (CANCLINI, 2007). Com o objetivo de romper com essa ideologia, Ismael Tressmann explica a diferença entre língua e dialeto:

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O I Pomersul foi um seminário sobre Cultura e Diversidade ocorrido nos dias 05 e 06 de novembro de 2010, no pólo UAB (Universidade Aberta do Brasil) – São Lourenço do Sul - RS. Na programação do dia 06, às 10:15 da manhã, foi realizada a Web Conferência: Interfaces entre RS e ES. Conexão on-line: Pólos São Lourenço do Sul e pelos Pólos São Lourenço do Sul e pelo UAB Santa Teresa – ES. O evento contou com a seguinte programação:

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Prrooff..DDrr..IIssmmaaeellTTrreessssmmaann--FFAARREESSEE--EESS:: A língua pomerana: dicionário etnolinguístico.

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A diferença entre dialeto e língua é muito fácil de fazer. A questão da compreensão mútua que é o teste central para se distinguir uma língua da outra, ou seja, duas variedades de falas são consideradas duas línguas distintas e os falantes não podem entender um ao outro. Por exemplo, o Francês e Russo são duas línguas incompreensíveis entre si. O francês para entender o russo vai ter que estudar essa língua de maneira formal. A mesma coisa acontece com um pomerano e um alemão. Se um pomerano quer falar alemão, ele precisa de alguém para ensinar em casa ou fazer um estudo formal e vice-versa. Um alemão que venha para o Espírito Santo vai ter que aprender pomerano, senão ele não vai poder falar alemão, as pessoas não vão entender (Pomersul, novembro de 2010).

Desse modo, Tressmann explica que a língua pomerana possui gramática, classes de palavras como, adjetivos, substantivos, adverbios, verbos, complementos, e que o pomerano passou a contar com uma escrita padrão, a partir de 2005, com a implementação do Proepo, assim essa língua passa a ser ensinada em escolas de cinco municípios do Espírito Santo.

A história nos ensina que uma das formas de dominação de um povo sobre outro se dá pela imposição da língua. Esse é o modo mais eficaz, apesar de que é um processo lento, para impor toda a sua cultura, incluindo valores, tradições, modelo socioeconômico e o regime político e com os pomeranos isso não foi diferente.

No ano de 1530, a Reforma Luterana é introduzida na Pomerânia (ROELKE, 1996), assim, a língua alemã foi imposta e estabelecida nas igrejas, escolas e repartições públicas desta região. Depois da imigração do pomeranos, os pastores luteranos enviados para as comunidades realizavam os cultos nas igrejas e ministravam aulas nas primeiras escolas também na língua alemã. Em 1930, com a nacionalização do ensino, a política de Getúlio Vargas instituiu a proibição da língua alemã, e a obrigatoriedade do uso da língua portuguesa. Porém, mesmo à margem da sociedade, os praticantes da língua pomerana falada, por inúmeras vezes, optaram por estratégias de transgressão ideológica e recusa à opressão mantendo sua língua materna em diálogos com seus próximos.

Os pomeranos, marcados por uma atitude de rebeldia e violação em relação às regras impostas pelo dominador, representam vozes liminares, as quais, em nossa opinião, nunca poderão desaparecer (Diário de Campo, I Seminário de Educação do Norte do Espírito Santo20 em agosto de 2010).

Consideramos, então, que a publicação do dicionário pomerano contribui para reafirmar o reconhecimento da legitibilidade da cultura e da língua pomerana, já que historicamente foram negadas.