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SOBRE O PROBLEMA DA TRADUÇÃOSOBRE O PROBLEMA DA TRADUÇÃO

SOBRE O PROBLEMA DA TRADUÇÃO

SOBRE O PROBLEMA DA TRADUÇÃO

SOBRE O PROBLEMA DA TRADUÇÃO

SOBRE O PROBLEMA DA TRADUÇÃO

Os dois fragmentos aqui apresentados sobre o problema da tradução, são originários de: Friedrich Nietzsche, Obras em três volumes 3ª Edição, Munique (Hanser) 1962, volume 2. I. A Gaia Ciência , § 83, p. 91s. - II. Além do Bem e do Mal, § 28, pp. 593s.

I.

Traduções. – Pode-se avaliar o senso histórico de uma época pelo modo como nela são realizadas as traduções e pelo modo como se incorporam o passado e os livros. Os franceses da escola de Corneille, e também os da Revolução, se apropriaram da Antigüidade romana de um modo hoje inadmissível graças à nossa compreensão histórica superior. E mesmo a Antigüidade romana: de que modo, ao mesmo tempo violento e ingênuo, ela põe a mão sobre tudo de bom e elevado da Antigüidade grega! Como traduziam adentrando a atualidade romana! Como espanavam de propósito e sem cuidado o pó da asa do momento da borboleta! Assim Horácio traduziu aqui e acolá Alceu ou Arquilóquio, da mesma forma como Propércio e Calímaco e Filetas (poetas do mesmo nível de Teócrito, se nos é permitido julgar): o que lhes interessava que o verdadeiro autor tivesse vivenciado isto ou aquilo e que tivesse escrito sobre essas experiências no seu poema! – como poetas eles eram avessos aos espíritos perscrutores da Antigüidade que se antecipavam ao sentido histórico; como poetas eles deixavam de considerar as coisas muito pessoais, nomes e tudo mais que era próprio de uma cidade, de uma paragem, de um século, com roupagem e máscara próprias, colocando, porém, no seu lugar prontamente o que lhes era contemporâneo e romano. Eles parecem nos perguntar: «Será que não devemos renovar o antigo e nos inserirmos nele? Não nos deveria ser permitido dar a nossa alma a este corpo inerte? Pois morto está: como é feio tudo que está morto» – Eles não conheciam o prazer do sentido histórico; o passado e o que

den Genuß des historischen Sinns nicht; das Vergangene und Fremde war ihnen peinlich, und als Römern ein Anreiz zu einer römischen Eroberung. In der Tat, man eroberte damals, wenn man übersetzte – nicht nur so, daß man das Historische wegließ: nein, man fügte die Anspielung auf das Gegenwärtige hinzu, man strich vor allem den Namen des Dichters hinweg und setzte den eignen an seine Stelle – nicht im Gefühl des Diebstahls, sondern mit dem allerbesten Gewissen des Imperium Romanum.

II.

Was sich am schlechtesten aus einer Sprache in die andre übersetzen läßt, ist das Tempo ihres Stils: als welcher im Charakter der Rasse seinen Grund hat, physiologischer gesprochen, im Durchschnitts-Tempo ihres “Stoffwechsels”. Es gibt ehrlich gemeinte Übersetzungen, die beinahe Fälschungen sind, als unfreiwillige Vergemeinerungen des Originals, bloß weil sein tapfres und lustiges Tempo nicht mit übersetzt werden konnte, welches über alles Gefährliche in Dingen und Worten wegspringt, weghilft. Der Deutsche ist beinahe des presto in seiner Sprache unfähig: also, wie man billig schließen darf, auch vieler der ergötzlichsten und verwegensten nuances des freien, freigeisterischen Gedankens. So gut ihm der Buffo und der Satyr fremd ist, in Leib und Gewissen, so gut ist ihm Ari- stophanes und Petronius unübersetzbar. Alles Gravitätische, Schwer- flüssige, Feierlich-Plumpe, alle langwierigen und langweiligen Gattungen des Stils sind bei den Deutschen in überreicher Mannig- faltigkeit entwickelt, – man vergebe mir die Tatsache, daß selbst Goethes Prosa, in ihrer Mischung von Steifheit und Zierlichkeit, keine Ausnahme macht, als ein Spiegelbild der “alten guten Zeit”, zu der sie gehört, und als Ausdruck des deutschen Geschmacks, zur Zeit, wo es noch einen “deutschen Geschmack” gab, der ein Rokoko- Geschmack war, in moribus et artibus. Lessing macht eine Ausnahme, dank seiner Schauspieler-Natur, die vieles verstand und sich auf vieles verstand: er, der nicht umsonst der Übersetzer Bayles war und sich gerne in die Nähe Diderots und Voltaires, noch lieber unter die römischen Lustspieldichter flüchtete – Lessing liebte auch im Tempo die Freigeisterei, die Flucht aus Deutschland. Aber wie vermöchte die deutsche Sprache, und sei es selbst in der Prosa eines Lessing, das Tempo Macchiavells nachzuahmen, der, in seinem principe, die

lhes era estranho lhes era constrangedor e, sendo romanos, viam-se estimulados à conquista romana. De fato, naquela época se conquistava, quando se traduzia – não somente deixando de lado o que era histórico: não, incluía-se uma insinuação à atualidade, eliminava-se antes de tudo o nome do poeta e colocava-se no seu lugar o próprio – não no sentido de um furto mas com a melhor das consciências do Imperium Romanum.

II.

O que há de pior para se traduzir de uma língua para a outra é o tempo do seu estilo: aquele baseado no caráter da raça, ou dito de modo mais fisiológico, no tempo médio do seu “metabolismo”. Existem traduções com intenções honestas que são quase falsificações e vulgarizações involuntárias do original, somente porque o seu alegre e corajoso tempo não pôde ser traduzido – tempo que, providencial- mente omitido, supera tudo que é perigoso em coisas e palavras. O alemão é quase incapaz ao “presto” em sua língua: portanto, como se pode concluir de imediato também o é em relação às nuances variadas dos pensamentos mais prazerosos e ousados da liberdade de pensamento. Tal como lhe são estranhos o bufo e o sátiro, em corpo e consciência, assim também lhe são intraduzíveis Aristófanes e Petrônio. Tudo que é gravitacional, denso, celebradamente grosseiro, todas as variantes demoradas e tediosas do estilo estão desenvolvidas no alemão em excessiva diversidade – me perdoem o fato de que mesmo a prosa de Goethe, com sua mistura de rigidez e graça, não constitui exceção como um retrato “dos bons velhos tempos”, a que pertence, e como expressão do gosto alemão numa época em que ainda existia um “gosto alemão”, que era um gosto rococó, in moribus et artibus. Lessing constitui uma exceção, graças à sua natureza de ator que muito compreendia e que se fazia compreender: ele, que não era sem motivo o tradutor de Bayle e que gostava de se refugiar nos meios de Diderot e Voltaire e, ainda mais, entre os comediantes romanos – Lessing apreciava também, no seu tempo estilístico, a liberdade de pensamento, a fuga da Alemanha. Mas como seria possível para a língua alemã, mesmo através da prosa de um Lessing, imitar o tempo de Maquiavel, que faz respirar no seu Príncipe o ar fino e seco de Florença e não sabe como evitar a apresentação do assunto mais sério num alegrissimo indomado: talvez não sem um sentimento artístico malévolo, cujo

trockne, feine Luft von Florenz atmen läßt und nicht umhin kann, die ernsteste Angelegenheit in einem unbändigen allegrissimo vorzutragen: vielleicht nicht ohne ein boshaftes Artisten-Gefühl davon, welchen Gegensatz er wagt – Gedanken, lang, schwer, hart, gefährlich, und ein Tempo des Galopps und der allerbesten mutwilligen Laune. Wer endlich dürfte gar eine deutsche Übersetzung des Petronius wagen, der, mehr als irgendein großer Musiker bisher, der Meister des presto gewesen ist, in Erfindungen, Einfällen, Worten – was liegt zuletzt an allen Sümpfen der kranken, schlimmen Welt, auch der “alten Welt”, wenn man, wie er, die Füße eines Windes hat, den Zug und Atem, den befreienden Hohn eines Windes, der alles gesund macht, indem er alles laufen macht! Und was Aristophanes angeht, jenen verklärenden, komplementären Geist, um dessentwillen man dem ganzen Griechentum verzeiht, daß es da war, gesetzt, daß man in aller Tiefe begriffen hat, was da alles der Verzeihung, der Verklärung bedarf – so wüßte ich nichts, was mich über Platos Verborgenheit und Sphinx- Natur mehr hat träumen lassen als jenes glücklich erhaltene petit fait: daß man unter dem Kopfkissen seines Sterbelagers keine “Bibel” vorfand, nichts Äpyptisches, Pythagoreisches, Platonisches – sondern den Aristophanes. Wie hätte auch ein Plato das Leben ausgehalten – ein griechisches Leben, zu dem er Nein sagte - ohne einen Aristophanes!